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    Naquele ambiente escuro, impregnado de uma presença opressora e desconhecida, os ossos e dejetos pútridos espalham-se pelo chão, compondo um cenário macabro. 

    A luz esmeralda, quase fugaz, irradia sob a pele da face da guerreira de cabelos loiros, desenhando em seu rosto uma expressão de surpresa e assombro. 

    O brilho calorento da esmeralda reflete em seus olhos, que se arregalam diante do que acabara de presenciar.

    A pressão no ar parece pesar como um manto invisível, sufocando até o mais ínfimo suspiro. Evangeline, ergue-se imponente no centro da sala, sua aura cintilante se mesclando com a luminosidade verde que emana da esmeralda. 

    Cada passo seu ecoa como um sussurro antigo, perturbando a paz mortífera que reina no recinto. A guerreira loira, presa entre a admiração e a confusão, observa cada movimento de Evangeline com uma intensidade quase palpável.

    Há pouco, ao perceber a presença de Evangeline, a guerreira descobrira que ela tinha o poder de curar a fratura em seu ombro e consertar o ligamento de seus ossos, permitindo-lhe recuperar o movimento fácil de seu braço. 

    A fratura, intensificada pelo giro desenfreado de sua grande espada, poderia ser uma lembrança distante. Firmara-se em sua mente que Evangeline era, de fato, uma curandeira que, por algum motivo, estacionara naquela sala sombria.

    A mente da guerreira fervilha com perguntas não formuladas, a dúvida rasga sua consciência como um relâmpago em meio à tempestade. 

    “Por que uma curandeira consegue liberar chamas tão vorazes e hostis como essas?” A questão ecoa em seu interior, corroendo suas crenças. Como um curandeiro tem a capacidade de lançar um feitiço tão ofensivo? “Não era para os curandeiros serem apenas suporte, ou, em sua maioria, defensores?”

    “Uma… elfa…” A expressão de confusão aprofunda-se no rosto da guerreira, seu cenho enrugando-se a cada segundo que passa. No entanto, algo dentro dela responde rapidamente à sua questão momentânea. “Não… um elfo não consegue ter esse tipo de atributo elemental. Então, como um elfo que não tem contrato com um espírito elemental pode manusear um atributo de fogo desse nível, ainda mais sem conjurar nenhum encantamento?”

    “Exceto se…!” Como uma picada repentina de uma abelha em meio a um passeio no parque, a verdade sobre a natureza de Evangeline se revela. 

    Ainda sem se levantar do solo gelado, a guerreira desembainha outra de suas espadas e aponta para as costas de Evangeline, sem emitir nenhum som sequer.

    Aos olhos da meio-elfa, algo se revela após confirmar uma teoria que havia formulado antes de avançar e atacar o pseudo-golem. 

    “Como eu havia suposto antes… quando aquela garota atacou os esqueletos, ela liberou uma boa quantidade de energia mágica por toda a sala, além de ressoar um poderoso barulho ao arremessar os esqueletos para longe. Porém, em nenhum momento aquele golem de ossos apareceu. E, agora, confirmo que ele não aparecerá, não até ele trazer outra pessoa ou esqueletos defeituosos.”

    A dúvida que antes pairava sobre a mente de Evangeline agora se dissipa, como a névoa ao amanhecer. 

    Anteriormente cercada por esqueletos, ponderara sobre os riscos de alertar a monstruosidade que a derrotou ou até mesmo o Necromante. Como poderia haver uma luta equilibrada se tivesse que enfrentar um ou dois Golems de ossos além do necromante? Essa questão rasgava seu entendimento, mas graças ao movimento radical da guerreira que surgiu ali, ela finalmente compreende.

    — Bem, parece que ele não vai levantar de novo, não torrado desse jeito. — Evangeline tenta elevar o ânimo com um toque cômico, apesar do ambiente sombrio e mórbido que grita desespero e confusão. — Espero que não tenha se machucado muito agora. Como eu disse antes, se quiser, eu posso… — Sua frase é interrompida quando seus olhos se encontram com a lâmina apontada para ela.

    — O que você pensa que está fazendo? — Evangeline, ainda sem entender o motivo da espada apontada para ela, tenta manter a calma.

    — Não se mexa…

    — “Não me mexer”? Não era você, há pouco, querendo formar um grupo para sairmos desse lugar? Eu até me propus a curar seu ferimento, mas agora você está me apontando a lâmina de sua espada? Por acaso você é bipolar?

    — Tsk…! — O estalo de língua da guerreira ressoa, carregado de frustração, diante da pergunta cômica de Evangeline. — Não fale besteiras. Quando eu pedi para nos unirmos, foi para agregarmos forças como pessoas que acabaram nessa situação… — Erguendo-se lentamente do chão, ainda com a lâmina apontada para a meio-elfa, ela complementa, — mas não esperava que, bem aqui, nessa masmorra… não. Bem nessa sala, teria alguém como você…

    — Alguém… como eu…? Não sei onde quer chegar com isso, além de não entender o que está tentando dizer. — Evangeline, ainda mais alerta com os movimentos da guerreira, aguarda que sua dúvida seja solucionada.

    — Não se faça de besta na minha frente… Majin!

    “Então era isso…” Sua dúvida é respondida rapidamente, tão abrupta como uma chuva em um verão quente. Mas como? Como ela conseguiu descobrir? Tal dúvida vagueia na mente de Evangeline.

    “Não entendo como as pessoas conseguem diferenciar minha aparência de um elfo comum. Minhas orelhas, o padrão dos meus olhos, até meu cabelo, tudo é como de um elfo… então como eles sabem?”

    — Como você descobriu? — Ela questiona, buscando finalmente entender.

    — Argh…! Francamente… não achava que um Majin fosse tão sonso desse jeito… Como eu descobri? Isso não é óbvio? Sua altura, seu poder mágico imenso, além de tudo, o atributo que acabou de lançar em seu feitiço… Nenhum elfo consegue lançar um atributo elemental do fogo sem um contrato com um espírito.

    — Sem o contrato com um… — Ela vagueia na última sentença proferida pela guerreira até que se lembra rapidamente de algo.

    “Ken! Ele é meu espírito elemental do fogo! Teldra havia me entregue ele quando eu a ajudei anteriormente com aquele miasma! Então era isso, um mago pode usar outros atributos elementais se ele fizer contrato com um espírito elemental desse elemento… Mas por que ela acha que eu não tenho contrato com um desse elemento?”

    — Mas eu tenho!

    — Você? Então está me dizendo que você é uma elfa curandeira que, acidentalmente, se perdeu nessa sala e, antes de atacar aquele pseudo-golem, fez um contrato com um espírito elemental e o matou? Pfffh…! Não me faça rir com essa piada.

    — Eu… o quê?! Hã? Não diga absurdos, eu nunca disse que havia encontrado Ken nessa sala e…

    — Ken…? Olha só, até tem a capacidade de criar nomes aleatórios do nada. — Como uma brasa que surge em meio ao prelúdio do ascender de uma chama, ela prossegue, tornando-se cada vez mais irada com a presença de Evangeline. — Eu não me importo como você chegou nesse lugar, nem deveria me importar em responder qualquer diálogo que você aponte para mim. Tudo que sei é que você é um Majin, uma escória, uma aberração, algo que não deveria existir! E eu não virarei o rosto para isso!

    — E o que você planeja fazer? — a meio-elfa questiona. — Recentemente estávamos prestes a formar uma aliança para sair daqui, eu até disse poder curar seu braço, além de ter salvo sua vida agora mesmo. Porém, você está hostil só porque sou de uma raça diferente da sua?

    — Tsk…! Merda, não diga absurdos como se fosse natural sair de sua boca! Eu não supliquei sua ajuda contra aquele monstro, e muito menos tenho a intenção de abrir minha guarda para um Majin! — A guerreira ergue a lâmina na direção de Evangeline, sua postura exalando hostilidade.

    — Então vai ser assim… — Evangeline dá um pequeno pulo para se afastar da guerreira, retirando sua nova adaga da bainha e se preparando para um possível combate. Contudo, a nova arma da meio-elfa chama a atenção da guerreira.

    “Aquela adaga… não é a do Scotty? Merda, como ela conseguiu aquela coisa? Ele não estava segurando ela quando eu me separei deles? Merda… Droga! Se a arma dele estava jogada nessa sala, eu não fui a única a ser levada!” Atordoada com a possível situação do resto do seu grupo, a guerreira tenta se recompor.

    — Essa adaga, dê ela para mim.

    — Hah, até parece, e ficar sem uma arma para você me atacar? Vai sonhando.

    — Não diga besteiras! Essa adaga não te pertence, ela é de um colega meu. Se você me entregar, eu prometo que não irei te matar.

    “Como eu havia imaginado, essa adaga não era de um morto-vivo, mas sim de alguém que veio a esta masmorra também. Mas quem imaginaria que seria logo o colega dessa garota bipolar?”

    — É um ótimo acordo.

    — Que bom que entende. Então, jogue a lâmina para cá e… — Antes que pudesse complementar sua frase, a meio-elfa a interrompe.

    — É um ótimo acordo, de fato, porém, quem disse que vou me arriscar neste lugar sem uma arma, ainda mais com uma maluca bipolar como você por perto…

    Como uma resposta imediata à provocação de Evangeline, uma veia se ergue na têmpora da guerreira, revelando sua extrema irritação com a resposta recebida.

    — Ué, ficou com raiva? Você deveria ver esse seu temperamento, ouvi dizer que isso diminui o tamanho dos seios… heheh… — Balançando a cabeça para apontar para os seios da guerreira, que se mostram bem pequenos para variar, pequenos o suficiente para serem comparados aos de uma adolescente em fase de crescimento, faz a guerreira chegar ao seu limite.

    A tensão entre as duas aumenta, como uma corda prestes a se romper. 

    A guerreira, com o rosto contorcido de raiva, aperta ainda mais a empunhadura de sua espada, enquanto Evangeline mantém um sorriso provocador nos lábios. O ambiente ao redor parece vibrar com a energia acumulada, e cada movimento, cada palavra, carrega o peso de um confronto iminente.

    A atmosfera, carregada de ódio e desconfiança, se assemelha a um campo de batalha onde as palavras são tão afiadas quanto as lâminas. 

    Cada respiração é um desafio, cada batida do coração, uma contagem regressiva para o inevitável. 

    As sombras, testemunhas silenciosas, aguardam o desfecho, enquanto a masmorra se transforma no palco de um confronto onde razão e emoção colidem, forjando um momento que nenhum dos dois esquecerá tão cedo.

    — Morra! — A guerreira avança com um ímpeto feroz, sua lâmina brilhando enquanto desce em um arco mortal, na esperança de partir Evangeline ao meio. 

    Em um movimento fluido, ela se encontra frente a frente com a meio-elfa, tentando terminar a batalha em um único golpe. Contudo, Evangeline, ágil como uma sombra, esquiva no último segundo, sentindo o vento cortante da espada passar perigosamente próximo.

    Afastando-se rapidamente, Evangeline percebe que a guerreira é tão veloz quanto ela. Se não tivesse aumentado seus atributos antes, talvez já estivesse morta. 

    O coração dela bate acelerado, o corpo em alerta máximo, enquanto a mente rápida analisa cada movimento.

    “Não foi uma ideia sensata zombar do tamanho dos peitos dela… Para ser sincera, pensei que ela fosse um garoto antes de gritar… Qual é, era só uma piada…” Tentando se livrar da culpa de ser atacada, Evangeline se recompõe e foca na luta que começa a se desenrolar.

    — Você só tinha que me entregar essa adaga, Majin, que eu iria poupá-la. Mas agora, mesmo que implore para devolvê-la, eu juro por tudo que, se eu não te matar hoje, não dormirei nunca mais até que eu consiga! — Com extrema determinação, a guerreira firma seu agarro ao cabo da espada, os olhos brilhando com uma fúria contida.

    — Qual é… era só uma piada… E o que tem de ter peito pequeno? Alguns homens até curtem… ou até algumas mulheres…

    — Sua…! — A chama da ira começa a transbordar em seu ser. Ser ofendida por uma Majin, errar seu golpe e ser ofendida novamente foi o limite máximo de sua paciência. Contudo, a guerreira controla a raiva, a mente fervilhando com estratégias.

    “Mesmo que eu queira arrancar a cabeça dessa Majin e me deleitar em sua desgraça, eu acabei atacando-a impulsivamente. Não sei suas capacidades, e agora pouco, ela se mostrou mais ágil do que eu… Além de tudo, seus poderes… Ela disse que podia curar minhas feridas e demonstrou um grande feitiço de atributo fogo, que destruiu por completo aquele pseudo-golem… Tenho que pensar melhor em como derrotá-la e sair desse lugar…”

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