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    Naquela sala sombria, onde o cheiro nauseante e pútrido de cadáveres reina impiedosamente, o ambiente é sufocante, e cada respiração parece ser uma batalha contra o ar contaminado. 

    Evangeline, com um movimento quase imperceptível, invoca sua magia, revestindo o local escuro e desolado com uma luz esmeralda que dança nas paredes cobertas de musgo e ossos. 

    As pilhas enigmáticas de corpos em decomposição e ossos parecem pulsar com uma energia sinistra, um lembrete macabro dos perigos que espreitam a cada sombra.

    A guerreira loira, com os olhos fixos na chama vívida que agora se espalha pela lâmina de Evangeline, sente uma mescla de fascínio e surpresa. 

    O calor da chama esmeralda contrasta com a frieza da sala, criando um paradoxo entre a esperança e o desespero que permeia o ambiente. 

    Evangeline, por sua vez, sente o peso do olhar da guerreira sobre si, um olhar que transcende a simples curiosidade, carregado de algo mais profundo — uma mistura de admiração e cautela.

    ”Argh…!” Ela suspira.

    Apesar de suas intenções pacíficas, Evangeline sabe que a batalha é inevitável. As frustrações da guerreira, alimentadas pela desconfiança e pela raiva acumulada, se manifestam de maneira imprevisível. 

    ”Parece que isso não pode ser mais evitado…” Talvez seja a má sorte de Evangeline, uma Majin, a raça mais odiada do continente, ou o carma de quase ter deixado a guerreira ser morta pelos esqueletos anteriormente, por puro desejo de sobrevivência e ganância. 

    Essa realidade amarga é algo que Evangeline carrega em seu coração, um fardo que pesa sobre seus ombros.

    Evangeline, com movimentos calculados, alisa a lâmina com a palma da mão, infundindo-a com a chama vívida, forte e tremeluzente, de uma cor esmeralda hipnotizante. 

    『Emerald Sphere of Desolation: Hellblade Purgatio』! — O brilho das chamas reflete nos olhos das garotas, iluminando brevemente o caos em que estão mergulhadas. 

    A guerreira, ao ver as capacidades da meio-elfa, é surpreendida. 

    “Como eu havia pensado antes… ela consegue conjurar esse feitiço de chamas sem proferir encantamento nenhum… com certeza ela não é alguém que possa ser ignorado… Além de tudo, ela sabe a arte de imbuir armas com atributos elementais, algo que aquela adaga foi criada para suportar.”

    ”Parece que a subestimei…” Talvez por ser precipitada antes, não havia notado por completo a força latente que Evangeline possuía. 

    A Majin cruzara a masmorra sozinha, sobrevivendo apenas com sua astúcia e força de vontade. 

    Diferente da guerreira, que contava com o apoio de seus companheiros, Evangeline enfrentara o terror daquela masmorra em solidão, e ainda assim, emergira vitoriosa até aquele momento.

    Um sorriso sutil escapa do rosto da guerreira. Ela reconhece a habilidade e a resiliência na Majin à sua frente.

    ”Suas habilidades são impressionantes, é como se ela fosse uma prodígio em sua área. Até magos renomados não teriam a fluidez de conjurar seus feitiços sem proferir encantamentos…”  A capacidade de conjurar uma magia tão poderosa sem sequer proferir um encantamento era algo que desafia as convenções, algo que a guerreira, apesar de sua própria força, não poderia ignorar. 

    ”Bem, já está na hora de começar.” No exato momento em que a lâmina da adaga de Evangeline é envolta pelas chamas esmeraldas, uma sensação familiar e perturbadora se apodera dela. ”Espera… o que… isso de novo não! Não agora!” O peso dessa energia desperta algo dentro de si, algo que a faz hesitar. 

    ”Merda… meu corpo…” Seus movimentos, antes fluidos e precisos, tornam-se erráticos, como se uma força invisível estivesse tomando controle de seu corpo. 

    O coração acelera, a respiração se torna mais pesada, e a frustração cresce em seu peito. Ela sabe o que está por vir — a segunda alma, aquela a verdeira dona desse corpo que habita seu ser, está prestes a interferir novamente.

    ”Merda, ela realmente vai querer nos matar? Eu até entendera antes, mas porque agora?” Antes que possa resistir ou tentar recuperar o controle, sua visão se desfaz em uma névoa turva.


     

    As sombras da masmorra, com seu cheiro pútrido e ambiente opressivo, desaparecem em um instante, substituídas por uma visão que contrasta violentamente com o cenário anterior. 

    Evangeline encontra-se agora em um local que parece saído de um sonho, um lugar onde a natureza se revela em toda sua magnificência.

    O ar aqui é puro, quase doce, carregado de mana que envolve tudo como um manto úmido. A brisa suave acaricia sua pele, trazendo consigo o aroma fresco de terra molhada e flores silvestres. 

    Quando ela ergue o olhar, depara-se com um céu azul profundo, adornado por nuvens brancas que flutuam preguiçosamente, como pedaços de algodão dançando ao vento. 

    Ao redor, criaturas fantásticas e irreais movem-se com graça, compondo uma cena de vida selvagem tão intensa que parece pulsar em sincronia com o próprio mundo.

    O solo, coberto por um tapete de grama verdejante e flores de cores impossíveis, estende-se até onde a vista alcança. 

    Pequenos riachos serpenteiam por entre as colinas, criando uma melodia suave e tranquilizadora que complementa a sinfonia natural ao redor. 

    Cada detalhe deste lugar parece feito para encantar, para aprisionar os sentidos em uma teia de beleza quase sufocante.

    Evangeline, no entanto, não se deixa levar completamente pela serenidade que a cerca. Sua mente está em conflito. 

    ”Não, não, não… de novo, não!”

    Embora a paz e a harmonia deste mundo a envolvam, a urgência de sua situação real permanece. 

    ”Novamente vim parar no reino de Metatron, mas qual o motivo disso novamente? Estou sendo arrastada para cá sem minha intensão e essa não é a primeira vez e nem a segunda.”

    Por que ela foi trazida aqui novamente? Por que este lugar, criado por Metatron, sempre a convoca nos momentos mais inoportunos? Essas perguntas ecoam em sua mente enquanto ela caminha lentamente por aquele paraíso, cada passo fazendo a grama ceder suavemente sob seus pés.

    — Apesar de tudo, esse lugar não deixa de me surpreender sempre que entro, porém… — Ela sabe, por experiência, que este é um domínio de recuperação, um refúgio onde sua mana pode ser restaurada. Mas a frustração cresce à medida que percebe que, mesmo sem meditar, foi atraída para cá. 

    ”… Porém, isso não é momento para admirar a beleza desse lugar…” A sensação de impotência aumenta. 

    Evangeline respira fundo, buscando clareza em meio à confusão, enquanto o mundo ao seu redor continua a pulsar com uma vida própria, misteriosa e encantadora, mas também inquietante e desconcertante.

    Evangeline relembra, com crescente angústia, todas às vezes que foi puxada para o mundo de Metatron, sem sequer iniciar a técnica meditativa de absorção de mana. 

    ”Depois que saí de Nakkie… não, foi logo depois que entrei na masmorra que tudo começou a desandar… Quando recuperei minha mana na masmorra eu não fui levada para este lugar, e foi daí que tudo mudou…”

    ”Mas essa questão não resolve minha situação atual. Se realmente fiquei desacordada, o meu corpo pode estar inerte, dando brecha para aquela guerreira…”

    — Tsk…! — Um estalo de língua junto ao desconforto se aprofunda ao perceber que, mais uma vez, deixou seu corpo para trás — desta vez, no meio de uma luta onde cada segundo importa. 

    ”Se eu não retornar a tempo, o que vai acontecer comigo? E se eu… morrer naquela masmorra?” O desespero a consome ao considerar a possibilidade de uma morte iminente em sua forma física, enquanto está presa nesse paraíso ilusório.

    ”Argh… certo, certo, vamos parar de entrar em pânico. Preciso me concentrar e achar a minha ligação com meu corpo para siar desse lugar.” Sentando-se sobre a grama úmida, tenta, com todas as suas forças, concentrar-se para sair deste mundo, buscando a conexão com sua forma física. 

    Mas nada acontece.

    — O quê? Como…? Eu não sinto nada!? —  A frustração e o medo se misturam, formando um nó em sua garganta. 

    — Merda, isso não é bom… Outra saída… talvez…! Sim, sim, quando eu saí daqui pela primeira vez, tinha outro método de saída, eu preciso encontrá-la! —  Incapaz de permanecer parada, ela se lança em uma corrida frenética, o vento soprando forte contra seu rosto enquanto avança pelo terreno vasto e desconhecido. 

    As árvores passam como borrões ao seu redor, os animais dispersando-se em pânico, fugindo para as profundezas da floresta com sua presença tempestuosa.

    Conforme avança, percebe que o mundo de Metatron expandiu-se de maneira incompreensível, agora maior do que qualquer lugar que já conheceu. 

    ”Esse lugar parece maior do que quando vi aqui pela última vez. Sei que o mundo de Metatron tem a capacidade de se expandir, mas, quanto tempo se passou para crescer a este ponto…?” A vastidão assombra, mas Evangeline não cede ao cansaço. 

    — Esquece! E daí, se isso aqui é grande, é só eu continuar correndo que encontrarei o limite desse mundo, para depois sair. — Determinada a encontrar o limiar deste mundo, corre por horas sem descanso, o céu tingindo-se lentamente de um alaranjado crepuscular, depois de um roxo profundo que anuncia o fim do dia.

     A exaustão ameaça dominá-la, mas a rica atmosfera em mana revitaliza seu corpo o suficiente para continuar, mesmo que seu espírito comece a fraquejar.

    Finalmente, ao alcançar o topo de uma colina, a vastidão do mundo se revela em toda a sua glória e mistério. 

    — Harh… harh…~! Mer… Merda… mas que… merda…! Esse lugar parece milhares de vezes maior que antes… Não dá para… continuar assim…! —   Ela se deixa cair no chão arenoso arfando de cansaço, os olhos fixos no horizonte onde o sol se despede lentamente. 

    ”Espera… essa presença…” A compreensão a atinge com a força de uma revelação silenciosa — Metatron esteve ao seu lado durante todo o tempo, observando-a em seu desespero silencioso.

    ”Tsk…!” O cansaço e a frustração se misturam em um sorriso cansado que surge em seus lábios. 

    ”Mas que situação, hein, Metatron… Me acompanhar esse tempo todo e nem ao menos dizer nada… heh…heh… mas tá tudo bem… não sou sua aprendiz e nem nada para sempre pedir sua ajuda…” Evangeline reconhece que tem se apoiado demais em Metatron, talvez além do que deveria. 

    As palavras de pedido de ajuda ficam presas em sua garganta; seu orgulho e sua vontade de superar seus próprios limites a impedem de pronunciá-las. 

    — Argh…! Bom, eu tento de novo amanhã. — Ela inclina-se para trás, deixando-se envolver pela frescura da brisa noturna que traz consigo a promessa de um novo começo. 

    As estrelas começam a brilhar, pontilhando o céu com seu brilho ancestral, enquanto Evangeline se perde na sinfonia de emoções que a rodeia. 

    Paz e inquietação, beleza e urgência — todas essas sensações se entrelaçam, criando um momento de pura contemplação enquanto o mundo ao seu redor pulsa com vida, misterioso e irresistível.

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