Índice de Capítulo



    A sala escura e sinistra pulsa de vida morta, de lamentos baixos e intermináveis de monstros esqueletizados que se arrastam pelo chão como sombras quebradas, condenadas a um perpétuo sofrimento. 

    A atmosfera é densa, opressiva; o ar saturado de um odor pútrido que adere a cada parede e pedra, como uma lembrança incessante do horror que ali habita. E, em meio a esse caos abafado, Evangeline lentamente recobra sua consciência, sentindo a cabeça pesar como se o mundo girasse ao seu redor.

    “Ah… que dor de cabeça…”, murmura, abrindo os olhos rubros, seu olhar desfocado adaptando-se à penumbra espectral. 

    A visão confusa gradualmente se ajusta, revelando a extensão mórbida daquela masmorra, e ela percebe estar sentada com as pernas cruzadas, apoiadas sobre uma caixa fria e áspera, feita de um metal negro que parece roubar a luz ao invés de refletir qualquer brilho.

    A familiaridade do local a atinge como uma onda gélida, um déjà vu desconcertante. 

    “Este lugar… a sala da masmorra… mas, por quê? Por que estou aqui novamente?” Seus pensamentos se voltam para a última memória que possui daquele espaço escuro: o confronto com a guerreira. 

    Aquela lembrança enche seus sentidos com uma amargura e uma frustração aguda. Ela se recorda da decepção ao ser reconhecida como majin, um símbolo de desgraça e maldição para o continente. 

    Tudo que tentara, incluindo um oferecimento de cura, foi rejeitado sem hesitação.

    Mas antes que qualquer golpe fosse desferido, antes que o embate pudesse explodir, ela fora puxada para longe, transportada para o etéreo Reino de Metatron. 

    Meses haviam se passado naquele reino onírico e enigmático, onde Evangeline passou um tempo indefinido tentando decifrar sua nova situação, lutando contra o peso de uma existência suspensa e controladora. 

    A aceitação fora amarga, mas inevitável: ela acreditou que nunca mais recuperaria o controle de seu corpo, e que a verdadeira “dona” deste corpo enfim a suplantaria. 

    E então… o inexplicável aconteceu. Ela voltou, a consciência clara, a visão límpida. Algo, ou talvez alguém, fez com que Linn abandonasse a posse que exercia.

    “Eu não entendo… pensei que este seria o fim, que ela havia finalmente decidido assumir de vez…” A confusão se enrosca nela, densa e esmagadora. “O que a fez desistir? Por que me permitir este retorno?”

    De repente, sua atenção é puxada para a frente, onde a silhueta da guerreira se materializa em meio às sombras. 

    O olhar de Evangeline endurece, os traços de suas feições lentamente obscurecendo-se em ressentimento. 

    “Foi ela quem começou tudo… Eu apenas estava ajudando, protegendo-a daquele pseudo-golem, e ela devolveu agradecimento com ódio, com aquela maldita hostilidade, querendo me matar apenas porque sou uma… uma majin!” A palavra queima na língua, reverberando pela mente como uma maldição arcaica. 

    Seu corpo reage quase por instinto, a mão indo à adaga em um movimento fluido, intenso, enquanto a raiva, fria e constante, faz seu coração acelerar e sua respiração pesar.

    O ambiente parece corresponder ao seu estado, as sombras se arrastando de maneira mais sombria, o ar se tornando mais denso ao seu redor, como se todo o espaço respirasse sua indignação. 

    É uma tensão muda, gélida, que toma a sala com a força de uma tempestade prestes a eclodir, uma manifestação da alma ferida de Evangeline, transbordando em cada recanto daquele espaço

    A sala sombria respira o silêncio úmido e antigo, envolta em uma penumbra inquieta que se desdobra em sombras dançantes. 

    Ali, cercada pela quietude espectral e o peso implacável da própria decisão, Evangeline fixa o olhar assassino na guerreira que permanece imóvel à sua frente. 

    A adaga em sua mão brilha com um reflexo frio e letal, eco de sua determinação para aniquilar a ameaça que se ergue, muda, mas pulsante de potencial perigo.

    “Tal obstáculo não pode continuar impedindo meu progresso…”, ela sussurra mentalmente, a voz uma lâmina tão afiada quanto a arma em sua mão. 

    Seu coração martela no peito, mas a mente permanece em um estado gélido e calculista. 

    “Se eu a deixar viva, ela poderá se voltar contra mim novamente… E, além disso, não está sozinha nessa masmorra…” Seus dedos apertam o punho da adaga, prontos para cortar o que precisa ser cortado, eliminar o que ameaça sua passagem.

    Mas então, como um vendaval invisível, uma torrente de imagens e sons surge em sua mente, atropelando seus pensamentos. 

    Evangeline cambaleia, solta a adaga com um clangor metálico, e leva as mãos à cabeça, tentando conter a dor excruciante que a atravessa. 

    — Merda…! O que é isso…?! — O grito sufocado escapa de seus lábios, e seus joelhos quase cedem sob a intensidade da enxaqueca que se espalha como uma tempestade elétrica.

    Imagens — não suas, mas fragmentos de outra consciência — começam a se desenrolar em sua mente. 

    Pequenos flashes dançam à sua visão interior, compondo-se em uma narrativa que ela não viveu, mas que sente como se fossem ecos de uma outra vida dentro dela mesma. 

    E então, ela compreende. 

    “Essas memórias… então… foi isso que aconteceu aqui…” Lentamente, as peças se encaixam, revelando o quadro completo. A “dona” deste corpo, Linn, havia conseguido controlar a situação, derrotando a guerreira, sim, mas não terminando o confronto com a morte, como Evangeline faria. 

    Ao invés disso, a promessa de cura foi cumprida — o braço da guerreira foi restaurado, algo que ela própria jamais teria permitido.

    O entendimento brota, mas junto a ele, uma incerteza inquieta serpenteia em seu peito. 

    “Mesmo que minha outra alma tenha resolvido o problema do confronto, a guerreira continua viva…” Os pensamentos são fragmentados, hesitantes. “Ela poderia ter matado a ameaça… mas não o fez. E para complementar, ainda curou sua inimiga…” A ideia é perturbadora, quase insuportável. 

    A mente de Evangeline se enche de uma mistura de descrença e desaprovação. A guerreira, apesar da hostilidade, está ali, intocada pela crueldade final que Evangeline acreditava ser necessária.

    “Talvez… talvez a ideia dela fosse que essa garota me auxiliasse na masmorra”, pondera, sentindo as memórias de Linn sussurrando possibilidades não exploradas, soluções menos destrutivas. 

    Mas mesmo enquanto considera isso, seu coração endurece. 

    “Não posso confiar nela, não depois do que ela tentou fazer…” A ameaça ainda pulsa no ar entre ambas, como uma ferida aberta que Evangeline se recusa a ignorar. Mesmo que o caminho à frente pareça mais simples com essa aliada improvável, sua guarda não cede.

    “Além disso…” Ela espreme as têmporas, tentando processar a sobrecarga de informação que flui, incessante, e que traz consigo um toque de desconforto particular. 

    Entre as lembranças absorvidas, um detalhe cintila em sua mente: a imagem vívida de Linn executando o Corte de Raios de uma maneira que jamais pensara. 

    Em vez de disparar a energia elétrica, sua contraparte imbuíra a lâmina com a força dos relâmpagos, cada golpe ressoando com uma violência amplificada, uma maestria crua que Evangeline sequer havia imaginado. 

    A verdade pesa em sua mente, uma admissão amarga, engolida com uma hesitação incomum.

    “Ela… conseguiu ser melhor do que eu…?” A frase a fere mais do que qualquer golpe físico. “Quem imaginaria que eu poderia utilizar meu lightning cut desse jeito… usando a força dos raios na lâmina para intensificar o impacto…” Ela suspira, coçando a cabeça com frustração e, talvez, um toque de ironia. 

    Aprender “consigo mesma”, como um espelho de habilidades que desconhecia, torna-se um fardo e um lembrete de que, embora dividam o mesmo corpo, os caminhos de ambas divergem.

    Evangeline suspira, descontentamento se esgueirando entre seus lábios, enquanto pequenos murmúrios de desgosto escapam involuntários.

    “Parece que a outra alma pode melhorar minhas habilidades ao me observar…” Seus pensamentos açoitavam a mente com uma sensação desconfortável, como se uma estranha a tivesse superado usando o corpo que era dela. 

    “Foi isso… ela aprendeu rápido, talvez só de me assistir…” A suspeita toma forma, preenchendo-a com um incômodo reconhecimento: a “dona do corpo” estava absorvendo, cada movimento, cada erro, aprimorando-se em ritmo surreal. 

    Como Shirogane, Evangeline começa a captar o potencial latente daquele corpo majin que compartilham — um potencial selvagem e avassalador, como uma força que desafia qualquer limite conhecido.

    No canto oposto da sala, o sussurrar de pensamentos de Evangeline perturba a meditação inquieta de Vívika, que desperta com um estremecimento. 

    Ela ergue o rosto, com o corpo ainda ressentindo o descanso forçado, enquanto estica os ombros e sussurra consigo mesma. 

    — Bem… parece que recuperei minhas forças. Observá-la absorver mana da atmosfera… foi útil. Nunca imaginei que pudesse aprender com… uma majin. — Os olhos de Vívika encontram Evangeline, que a encara com uma expressão severa e intensa, carregada de emoções contidas, como se um furacão de ressentimento e autoanálise residisse no fundo de suas pupilas. 

    Vívika hesita, confusa com a expressão que vê; há algo ali que parece estrangeiro ao próprio rosto de Evangeline, como se o semblante não pertencesse à mulher que ela enfrentara.

    Tomando fôlego, Vívika se aproxima, o coração tamborilando com um misto de medo e hesitação, o mesmo pulsar que sempre a acompanhava ao confrontar inimigos. 

    Ela limpa a garganta, puxando as palavras à tona, como uma confissão arrancada à força.

    — Ei, majin… digo… — Em um gesto repentino, Vívika curva-se, sua voz baixa de arrependimento e relutância, com uma honestidade quase dolorosa. — Sei que não sou boa com isso… mas… peço desculpas pelo que fiz antes. Ataquei você sem qualquer razão, mesmo após ter sido tão generosa ao ponto de curar meu braço.

    Silêncio. 

    Evangeline permanece imóvel, olhos fixos em Vívika, mas sem emitir som algum. A ausência de resposta aumenta o peso do momento, e Vívika sente o rosto aquecer de embaraço e uma angústia que a prende como uma corrente invisível. 

    Mas ela prossegue, vasculhando as memórias que há tanto escondia, puxando-as das profundezas como quem escava um túmulo.

    — Quando eu era jovem… meu vilarejo… foi tomado pelos majins… — Sua voz se quebra, os lábios tremem ao tocar nas feridas do passado, e ela pausa, tentando conter o turbilhão de lembranças cruéis que a cercam. 

    Ela engole em seco, a amargura acumulada transbordando em cada palavra. 

    — Eles… eles devastaram tudo. A minha vida inocente foi ceifada, despedaçada, naquele dia. E tudo que restou foi o desejo de vingança… de fazer justiça com as minhas próprias mãos.

    Uma dor contida se reflete em seus olhos, um ódio caloroso, desabrochando na superfície como uma chama que tenta resistir ao apagar. 

    — Sei que você não fez parte daquele massacre… que não estava lá. Mas… — Seus punhos se apertam, e ela ergue o olhar, um misto de arrependimento e desespero, — quando soube que você era uma majin, tudo que eu quis foi descarregar essa vingança em você.

    O silêncio volta a reinar entre elas, mas não é o mesmo de antes. É um silêncio denso, envenenado pelas emoções não ditas, pela história sangrenta que Evangeline agora entende sem nunca ter vivido. 

    Ela vê na guerreira não apenas como uma oponente, mas um reflexo amargurado de seu próprio destino trágico, ambos moldados por forças que sequer entendem por completo.

    A sombra da sala envolve as duas figuras, criando um véu de tensão e silêncio entre elas, como se o próprio ar hesitasse em interromper aquele momento. 

    Vívika curva-se ainda mais, a espinha dobrada em um arco de arrependimento, um gesto que emana humildade e remorso, quase ao ponto de parecer um fardo que pesa sobre os ombros da guerreira. 

    Sua voz, baixa e vacilante, ressoa na sala como um eco distante.

    — Sei que fui cabeça dura, porém peço… que encontre um meio de me perdoar pelo que fiz a você!

    Evangeline, imóvel, a observa de cima a baixo. Seus olhos rubros, intensos e afiados, fixam-se em Vívika como lâminas, reluzindo sob a tênue luz, sondando cada linha da postura curvada da guerreira. 

    É como se ela tentasse ver além da pele, como se quisesse dissecar a sinceridade nas palavras de Vívika. 

    Cada nuance é avaliada: o pulsar dos músculos tensos, a ligeira inclinação do queixo, e até mesmo o ritmo imperturbável do coração que bate, calmo e constante. Não há falsidade ali, nada que sugira intenção oculta ou má-fé.

    Contudo, algo dentro de Evangeline permanece inquieto, uma velha ferida aberta que pulsa como uma cicatriz na alma. 

    “Nada em seu gesto diz que ela mente… mas a mesma história se repete. Sempre… os majins… aqueles que desencadearam o caos no passado…” Os pensamentos de Evangeline se entrelaçam, uma melancolia silenciosa a envolve, como um espectro que se recusa a deixá-la.

    — Haah… — Um suspiro longo e pesaroso escapa de seus lábios, quebrando o silêncio. O som ecoa pelas paredes de pedra, um murmúrio abafado que parece ressoar no próprio coração da masmorra. 

    Evangeline ergue o queixo, seus olhos percorrem a figura de Vívika mais uma vez, antes de passar por ela, avançando em direção à pesada comporta da sala sem dizer uma única palavra.

    Vívika, confusa pela frieza de sua resposta, sente o peso do silêncio que a majin deixou para trás. Um sentimento de vazio preenche o espaço que antes fora ocupado por sua esperança. 

    Em sua mente, as palavras de Evangeline — ou a ausência delas — reverberam. 

    “Mesmo me desculpando agora… o que fiz a ela não pode ser facilmente perdoado…” Ela estreita os olhos, o queixo firme, e os punhos cerrados como se agarrasse um pedaço de sua própria determinação. “De fato, tentei matá-la. Uma desculpa não apaga o ato.”

    Enquanto Evangeline avança, seus passos ecoam com uma cadência firme, quase ritualística, como se cada movimento cravasse sua presença naquele lugar sombrio. 

    Vívika, por sua vez, observa cada passo da majin com renovada determinação, seus próprios pensamentos ardendo com uma promessa silenciosa. 

    “Minhas palavras podem soar vazias agora, mas vou provar meu valor ao lado dela, enfrentando cada perigo desta masmorra, seja qual for o preço.” Ela visualiza os rostos dos amigos que, como ela, caíram em armadilhas e foram capturados. “Se eu puder conquistar sua confiança… talvez ela me conceda a força para ajudá-los.”

    As memórias de sua batalha com Linn surgem, como fragmentos de um sonho vívido e distante. Ela se lembra da expressão séria e implacável que a outrora exibia, o olhar afiado de quem calcula cada movimento como se o combate fosse um jogo estratégico onde nada é deixado ao acaso. 

    Havia uma precisão e uma intensidade quase sobrenaturais em seus ataques, mas, ao mesmo tempo, um certo cuidado… uma escolha deliberada de subjugá-la sem lhe tirar a vida.

    “Mas agora… não vejo mais aquela aura feroz nela,” Vívika pondera, franzindo o cenho, refletindo sobre a mudança que parece envolver Evangeline. “Será que sua mentalidade muda durante a luta, como se uma outra essência tomasse o controle… ou algo semelhante?” 

    A ideia a intriga e a alarma ao mesmo tempo. Evangeline — ou talvez aquela que a domina no combate — é um enigma ainda mais profundo do que imaginava.

    O ar denso da masmorra parece envolver Evangeline como um manto sombrio, impregnando-se em sua pele enquanto seus dedos deslizavam pela superfície polida da comporta. 

    Sob o toque de suas mãos, a estrutura metálica revela-se fria e impessoal, emanando um gelo profundo que parece ressoar até o núcleo de seus ossos. 

    Apesar disso, Evangeline insiste, pressionando os dedos contra o metal, procurando com uma determinação cega qualquer sinal de abertura, uma fenda mínima, um ponto vulnerável que pudesse lhe conceder uma saída.

    Seus pensamentos correm rápidos, cruzando suas memórias e conjecturas. 

    “Nada… absolutamente nada,” ela conclui, os olhos estreitos fixos na porta, como se pudessem transpassá-la. “Uma brecha, um buraco, uma fechadura secreta… qualquer coisa. Mas só sinto essa superfície lisa, fria como um túmulo.”

    De repente, a voz de Vívika rasga o silêncio pesado, seu tom ecoando pelo espaço oco.

    — Não existe nada do lado de dentro que possa abrir essa comporta.

    As palavras parecem cravar-se na mente de Evangeline como uma faca fria, e seu olhar se volta lentamente para a guerreira, carregado de desconfiança. 

    Suas sobrancelhas se contraem numa expressão de ceticismo, uma sombra de raiva ainda latente queimando em seus olhos.

    — O que está insinuando?

    Vívika hesita por um momento, mas logo ergue o queixo, as feições determinadas. 

    — Quando fui capturada pelo Golem de Ossos, vi, ainda que de relance, o momento em que ele abriu essa porta. Do lado de fora, há um mecanismo específico que só pode ser acionado de lá.

    As palavras de Vívika mergulham fundo nos pensamentos de Evangeline, e ela respira fundo, forçando-se a controlar o ressentimento que ainda pulsa em seu peito. 

    “Não posso deixar que isso me distraia,” pensa, reprimindo as brasas de raiva que queimam baixo. Com um leve murmúrio de desagrado, ela se afasta da porta e deixa o olhar vagar sobre a estrutura, seus olhos percorrendo cada detalhe, como se cada linha, cada reflexo pudesse revelar algum segredo.

    Com um braço cruzado sobre o peito e a outra mão apoiando o queixo, Evangeline permanece em silêncio, perdida em seus pensamentos. 

    “Se ela está certa e o mecanismo só pode ser ativado pelo lado de fora… o único ser que entrou e saiu dessa sala foi o Golem,” ela raciocina, a lógica se revelando lenta e inevitável. “Mas como abrir essa maldita coisa enquanto estou aqui dentro?”

    A questão paira no ar, como uma ameaça velada, e a masmorra parece se fechar ao redor dela. 

    O peso das paredes de pedra e o frio da porta conspiram para sufocar qualquer esperança de fuga, um lembrete de sua própria vulnerabilidade ali. 

    Cada segundo passado é uma agulha no véu da paciência de Evangeline, e a presença de Vívika ao seu lado torna tudo ainda mais incômodo.

    Seus olhos retornam à guerreira por um instante, a expressão suavizada por uma compreensão amarga. 

    “Ela não mente… e o que diz faz sentido. Mas que ironia,” reflete Evangeline, “precisar da ajuda dela agora, como se o destino tecesse suas teias para tornar tudo ainda mais… desafiador.”

    Aproximando-se com passos lentos e contidos, quase como se cada movimento pesasse mais do que o anterior, Vívika quebra o silêncio, chamando a atenção de Evangeline com uma única palavra carregada de surpresa e um resquício de familiaridade estranha.

    — Linn!

    A palavra ecoa, e Evangeline sente o impacto do nome como um golpe inesperado. 

    Seus olhos, de rubi feroz, arregalam-se ligeiramente, surpresa tocando suas feições. 

    “Como ela sabe esse nome?” A pergunta invade sua mente como um sussurro urgente, enquanto ela revira as memórias que recebeu da troca de almas. 

    Ela reconhece, com um lampejo de entendimento, que sua contraparte havia se apresentado como Linn para Vívika. A perplexidade dissipa-se lentamente, substituída por uma prudente aceitação. 

    “Heh…! Então, é isso… Para ela, eu sou Linn. Talvez seja melhor assim. Meu verdadeiro nome é uma chave poderosa demais para ser confiada a alguém cuja lealdade ainda é incerta.”

    Vívika, animada pelo breve lampejo de reconhecimento nos olhos de Evangeline, prossegue, sua voz firme, mas com um toque de tensão que revela a intensidade das lembranças que a percorrem.

    — Linn, deixa eu revelar algo. Quando entrei nesta masmorra com meus companheiros mercenários, nos encontramos perdidos num corredor espiralado, um labirinto traiçoeiro que parecia se mover conforme andávamos. Mesmo com um guia, éramos presas fáceis para os perigos do caminho.

    As palavras dela se arrastam, a respiração tornando-se irregular enquanto evoca o peso do que está para dizer. 

    Evangeline percebe a pausa e observa com atenção, como se pudesse ver através da armadura de Vívika até os medos que ela tenta esconder.

    — Um dos meus companheiros de artes marciais… Ele tentou romper as paredes do labirinto. Com um golpe poderoso, ele abriu caminho, mas nesse momento… três Golems de ossos surgiram, acompanhados de outros pseudo-Golems, e eles nos emboscaram.

    A narrativa é interrompida bruscamente quando Evangeline ergue a mão, com um movimento seco e imperioso. 

    Vívika detém-se imediatamente, surpresa e confusa, enquanto o silêncio cai pesadamente entre as duas. 

    A meio-elfa não demonstra paciência; em vez disso, seus olhos afiam-se ainda mais, a voz gélida cortando o ar como uma lâmina de aço puro.

    — Olha aqui, “garota das artes da espada”, não estou nenhum pouco interessada nas suas histórias de fracasso ou nos desafios patéticos que enfrentou ao entrar aqui. Pouco me importa como o seu grupo desastrado conseguiu acesso a este lugar. Eu sei que a entrada pela qual cheguei até aqui tem um selo complexo — um selo que só uma pessoa muito específica poderia desfazer…

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