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    As palavras de Evangeline caem pesadas, com uma frieza que parece gelar o ar da masmorra. Vívika sente um arrepio percorrer-lhe a espinha, os pelos dos braços eriçando-se involuntariamente. 

    A hostilidade disfarçada nas palavras da meio-elfa é mais afiada do que qualquer lâmina, e algo sobre a segurança impassível de sua voz faz com que Vívika reflita, pela primeira vez, sobre quem realmente é essa misteriosa “Linn.”

    Além de que, a revelação de Evangeline traz à tona uma série de questionamentos em Vívika, que sente seu próprio coração acelerar, uma faísca de medo queimando em seu peito. 

    ‘’Quem é essa mulher, realmente?’’ ‘’E por que alguém como ela saberia tanto sobre os selos desta masmorra?’’ A guerreira sente-se confrontada com o peso do mistério, uma sensação opressiva que vai além da mera desconfiança.

    A presença de Evangeline torna-se mais imponente, mais carregada de segredos, como se um abismo entre elas começasse a se abrir.

    ‘Então, ela sabe a origem da pessoa que colocou o selo elemental na entrada do portão da masmorra, e entrou aqui com esta pessoa abrindo o lugar para ela… de fato, esta majin é uma pessoa bem curiosa.” Pensamentos entrelaçam-se em sua mente, revelando novas questões sobre a enigmática meio-elfa diante dela. 

    O mistério se adensa, e, de forma irônica, isso apenas alimenta ainda mais sua determinação em compreender o propósito de Evangeline.

    Evangeline, no entanto, parece indiferente ao que se passa na mente da guerreira. Seu olhar é frio, impenetrável, como o gelo de uma noite sem lua, e sua voz ressoa pela sala de pedra como o estalido de um chicote.

    — Tudo o que desejo saber é uma solução para este problema. Se tudo o que você pode oferecer são lembranças de como você e seus colegas perderam uma luta, deixe-me deixar claro que isso não me interessa nem um pouco. Se não tiver nada útil a acrescentar, poupe-me de falatórios desnecessários e, não interrompa meu raciocínio.

    Sua fala é firme, mas o ar gélido de desprezo que emana dá forma a uma raiva controlada e fria. 

    Evangeline mal esconde o desagrado que a presença da guerreira evoca. Uma parte de si quer a afastar, deixar para trás essa mulher, que para ela não passa de um estorvo.

    As palavras cortantes deixam Vívika em silêncio por um breve momento, o peito dela queimando com uma mistura de orgulho ferido e raiva contida. 

    No entanto, ela controla a fúria que deseja transbordar e toma uma inspiração longa e pesada, sentindo o ar gelado do local invadir-lhe os pulmões como mil agulhas. 

    Com a postura ereta e os olhos fixos na meio-elfa, responde com um tom que busca igualar a aspereza de Evangeline.

    — Olha aqui… não me entenda mal. Sei que você tem mil motivos para me desprezar, e posso até entender isso, mas você nem ao menos me deixou concluir o que tinha a dizer. — O ar em volta parece vibrar com a fricção de suas palavras. 

    — … — Um pouco surpresa com as falas da guerreira, e ainda revelando um certo peso de raiva em seu ser, a meio-elfa permite que sua “colega” termine sua fala com um pequeno aceno de cabeça.

    — Serei breve, então. O que eu tentava te dizer é que, quando o meu companheiro desferiu o golpe que abriu a passagem na parede, um som poderoso reverberou por todos os cantos daquele lugar. Aquele estrondo, é o que eu suspeito, foi o que atraiu os Golems até nós.

    — Então… era isso… — As palavras de Vívika parecem finalmente penetrar as defesas de Evangeline, cujas sobrancelhas se erguem ligeiramente, uma sutil hesitação refletida em seus olhos. 

    Uma gota de suor percorre sua bochecha, lenta e traiçoeira, sinalizando um vestígio de insegurança com um toque de vergonha em sua expressão contida. 

    Embora se esforce para manter uma postura impenetrável, internamente ela digere as implicações das palavras de Vívika, reconhecendo uma verdade escondida nas entrelinhas.

    “Um barulho, é isso?” A mente de Evangeline volta-se para o momento em que escapou da Antecâmara. 

    As lembranças trazem de volta o som retumbante que ecoou pelas paredes, atravessando o corredor em espiral e convocando um exército de esqueletos do Necromante em seu encalço. 

    ”Nas duas situações, um poderoso barulho alertou o Necromante, enviando seus lacaios para nos atacar… Porém, o som ainda não pode ser essa solução… lembro que nas memórias, também houve um poderoso som, mas até esse momento, nenhum monstro surgiu nessa sala…”  

    Uma conexão começa a se formar — um padrão repetido onde o som desperta a atenção do Necromante e convoca seus horrores contra os invasores.

    Descruzando os braços com um movimento leve, mas firme, ela absorve a ideia. 

    Sem dizer uma palavra, ela recua alguns passos, os olhos ainda cravados na comporta à sua frente, como se a peça final do enigma estivesse escondida ali, esperando para ser revelada.

    O silêncio que envolve Evangeline é denso, quebrado apenas pelo sussurrar de seus pensamentos, mergulhados na busca por uma solução quase impossível. 

    “Som,” ela pensa, “não pode ser qualquer som… precisa ser algo além, uma força bruta, devastadora, uma onda sonora que atravesse as paredes desta sala como uma lâmina explosiva e furiosa.”

    Ela fecha os olhos, e o plano se desenha em sua mente, cada detalhe tomando forma com uma precisão quase cruel. 

    “Se a colisão de lâminas não bastou, então algo mais… algo realmente poderoso…” A energia se acumula em seus dedos, mas ela pausa, calculando friamente cada passo.[Lightning Cut]… seria inútil, o golpe sumiria antes de ecoar além destas paredes. Preciso de algo que estoure, exploda… um verdadeiro tipo de bomba.”

    Mas o peso da ideia a detém. 

    ‘’Uma bomba, aqui?’’ O próprio espaço ao seu redor parece se contrair diante do pensamento, o eco de uma possível explosão pulsando no ar antes mesmo de ser real. “Seria… suicídio.” Ela abre os olhos e os direciona a Vívika, que, com olhar impaciente e taciturno, espera sua decisão. 

    Evangeline solta um suspiro involuntário, a irritação latente como uma sombra em seu olhar. 

    “E pensar que tudo o que essa guerreira oferece são músculos e…’’ Ela pausa, visualizando a moça de cabelos loiros de cima a baixo, e continua sua conclusão, ‘’emoções brutas.”

    Ainda assim, há uma centelha de reconhecimento por sua ajuda. 

    “Talvez eu não tivesse percebido essa pista sem sua intromissão…” No entanto, mesmo enquanto pondera sobre feitiços explosivos e cálculos de impacto, uma lembrança particular a invade. 

    “Talvez… algo que ainda não usei, algo que só utilizei em Sephyra.” Suas memórias a conduzem a um feitiço de magnitude incomparável, uma lenda de poder devastador e velocidade implacável: 『Penance of the King of Winds』

    “Rápido como o som… um golpe tão forte que ensurdeceria tudo ao redor, um vento mortal que devastava cidades… era perfeito.” Mas ao olhar para suas próprias mãos, a hesitação se instala. 

    Uma fissura de dúvida.

    “O espaço é mínimo, o impacto… poderia me despedaçar antes que qualquer som escapasse daqui,” ela pondera encarando a palma de suas mãos. E assim, a sombra do dilema paira em sua mente: ”A ideia é de fato interessante, mas… com este corpo talvez ainda não seja possível, além de tudo, o mesmo feitiço é uma enorme catástrofe, grande demais para este espaço pequeno.”

    Evangeline observa a comporta massiva à sua frente, os olhos semicerrados enquanto pesa as opções. 

    Cada linha da estrutura parece desafiá-la, como se estivesse ciente de sua impotência momentânea, zombando do seu esforço. 

    Ela suspira, resignada, a mente calculando o impacto necessário. 

    “Um tornado completo? Impossível,” ela conclui, sentindo a mana insuficiente pulsar em suas veias, relembrando suas limitações atuais. Ainda assim, sua determinação não vacila; adaptações são o caminho.

    “Não custa tentar,” murmura ela, os lábios se curvando num sorriso frio e determinado, antes de se aproximar de Vívika. 

    A guerreira observa cada movimento, o rosto endurecido, tentando decifrar as intenções da meio-elfa. Evangeline estende a mão, conjurando uma energia instável e desforme, um vórtice de mana bruta dançando entre os dedos. 

    Vívika, subitamente em alerta, recua, os olhos arregalados. 

    “Espera… O que ela pretende com isso?!” A tensão percorre seu corpo como um choque, o coração martelando no peito enquanto seu braço recém-curado se prepara instintivamente para a defesa. 

    “Ela vai… me atacar?”

    Mas o semblante de Evangeline não revela animosidade. 

    Antes que Vívika pudesse reagir, a mão de Evangeline se ergue e toca sua testa em um gesto surpreendentemente suave, quase trivial. 

    O som seco de um leve tapa ecoa, desarmando qualquer expectativa de agressão. A guerreira, ainda atordoada, sente algo estranho em suas orelhas.

    “Tam-pões…?” Ela leva um segundo para compreender o propósito daquele suporte mágico, que agora sela seus ouvidos do mundo exterior. 

    Um silêncio profundo a envolve, abafando até mesmo o som de sua respiração.

    Evangeline repete o ato consigo mesma, deslizando os tampões sobre as próprias orelhas pontudas. 

    A lembrança de sua mestra, Áurea, surge em sua mente — a habilidade da mestre em criar artefatos complexos que iam além desses simples abafadores de vácuo. 

    “Este é o limite do que posso conjurar,” pensa, com uma sombra de ressentimento pela própria inabilidade. Mas, por ora, os tampões são o suficiente.

    Respirando fundo, ela prepara o feitiço adaptado, canalizando o pouco de mana que possui em um redemoinho controlado. 

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