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    O ar em volta parece pulsar, cada partícula reverberando em uníssono, como se o espaço ao redor estivesse à beira de explodir, aguardando o comando de sua vontade.

    Evangeline lança um olhar afiado para Vívika, a guerreira, cujas feições revelam uma confusão quase infantil ao tocar o aparato translúcido em suas orelhas. 

    Sem hesitar, a meio-elfa projeta sua voz através do feitiço, que pulsa com uma suavidade inaudível, ressoando apenas nos ouvidos da guerreira, isolada do tumulto ao redor.

    — Estes tampões de mana bloqueiam qualquer som que queira nos atordoar — explica Evangeline, sua voz ecoando como um murmúrio distante, mas claro, nas orelhas de Vívika. — Vou realizar algo que produzirá um som ensurdecedor, capaz de nos deixar permanentemente surdas. Com isso, estaremos seguras.

    A informação atinge Vívika como uma lufada de ar gelado. 

    Seus olhos se arregalam, percorrendo a meio-elfa com uma mistura de espanto e admiração. 

    Evangeline não apenas desvendara um método para lidar com a situação atual; criara, num átimo, uma ferramenta mágica engenhosa, como se fosse um mero truque. 

    A guerreira quase tropeça nos próprios pensamentos, a mente se enchendo de delírios — imagina o uso dessa magia em masmorras, onde avisos de perigo e sons traiçoeiros poderiam ser avisados. 

    Um sorriso de admiração desponta em seu rosto.

    — Incrível…! — exclama ela, com um fervor que pretende ser apenas um murmúrio, mas que na realidade soa como um brado. 

    No silêncio absoluto criado pelos tampões, sua própria voz não lhe alcança os ouvidos, e, assim, ela desconhece o próprio entusiasmo.

    Para Evangeline, contudo, a palavra reverbera estrondosamente. 

    A meio-elfa ergue uma sobrancelha, surpresa com o entusiasmo gritante de Vívika. 

    “Euhem…?” pensa ela, revirando os olhos com um suspiro discreto, mas logo se concentra na tarefa que tem em mãos.

    A lembrança da primeira conjuração daquele feitiço poderoso — as 『Emerald Sphere of Desolation』 — pulsa na mente de Evangeline como um lampejo distante. 

    Ela se recorda do poder absoluto, das esferas vibrantes de destruição que dançavam ao seu redor, abastecidas pela mana incessante de seu espírito de fogo, Ken. Mas agora, abandonada ao limite de suas próprias forças, ela sabe não haver nada a depender senão sua própria conexão com o ar, sua própria vontade de moldá-lo.

    Respirando fundo, ela fecha os olhos e desenha na mente a imagem de um tornado monumental, um colosso de vento e força. 

    Com uma determinação que quase prende o ar em seus pulmões, Evangeline espalha os braços, e, com um leve movimento de mãos, sente as primeiras brisas começando a ondular em torno de seus dedos. 

    Pequenas correntes circulam, formando redemoinhos tímidos que logo se tornam mais selvagens e volumosos.

    Dentro de sua mente, ela se compromete a intensificar o giro do ar, mas algo lhe barra o progresso — a baixa pressão que, como em qualquer tornado, precisaria estar concentrada no centro. 

    Frustrada, ela respira profundamente e ajusta sua estratégia, atraindo o ar em um movimento descendente, afinando as espirais de vento em suas mãos em uma forma cônica, perfeita e afiada como uma lâmina invisível.

    Do lado de fora, Vívika observa a meio-elfa com olhos arregalados, o respeito e a incredulidade disputando espaço em sua expressão. 

    “Ela… ela está realmente criando ciclones com as próprias mãos? Isso… isso não é apenas magia; é um domínio quase absurdo sobre os elementos. E ela sequer… pronunciou algum encantamento…?” As palavras se perdem em sua mente, reverberando num assombro quase infantil. 

    “Que tipo de mestre poderia ter ensinado tamanha arte a ela?” pensa, enquanto seus olhos permanecem fixos nos ciclones que giram em cada palma de Evangeline.

    Mas, na mente da maga, há uma avaliação implacável: a visão dos dois ciclones formados, embora impressionante, ainda não é o suficiente. 

    Ela sente a necessidade de intensificar o poder, de alimentar a fúria do ar que cresce ao seu comando, forçando cada corrente de vento a girar mais rápido, mais forte

    Com os punhos cerrados e os músculos em tensão quase insuportável, Evangeline direciona os ciclones ao redor de suas mãos como um escultor determinado a moldar o caos. 

    O vento rodopia com um ímpeto crescente, cada rajada tornando-se mais feroz, cada giro mais voraz, enquanto ela adiciona mais ar a cada instante, compactando-o numa tempestade de força e velocidade. 

    Sente a pressão acumulando-se como um peso brutal que lhe aperta a pele, forçando-a a envolver seus braços com camadas de mana, construindo uma proteção quase artesanal, uma barreira invisível em forma de luvas.

    O esforço, no entanto, não a concede repouso. 

    A cada segundo, a pressão cresce; o ar denso e violento romperá seus antebraços, dilacerando as barreiras frágeis de mana que, uma após a outra, ela reconstrói em vão. 

    O ciclone, agora mais corpulento e ameaçador, tem uma presença quase viva, pulsando em seus braços, exigindo mais do que ela tem a oferecer.

    Os olhos de Evangeline cintilam com uma mistura de determinação e frustração, o suor escorrendo de sua testa enquanto mantém a concentração férrea. 

    “Merda, isso não está dando certo!” — o pensamento rasga sua mente como uma lâmina invisível. 

    A mana, como um rio que se esvai, sente-se drenada a cada instante, como se a própria essência de seu ser fosse sugada pelas forças elementares que ela invoca. 

    “Se continuar assim,” pondera com um olhar de pânico contido, “meu Mana se esgotará antes que eu possa terminar o feitiço. O plano… falhará.” Mais e mais sua confiança vai sumindo, sua visão para o futuro escurecendo, a esperança escapando rapidamente por seus dedos.

    Contudo, algo inesperado a retira do abismo de seus próprios temores. 

    Uma luz em meio a escuridão, um toque leve e gentil em suas costas. 

    A pressão, a luta, o desespero — por um instante, tudo cede espaço para a surpresa. 

    O toque é um alento, como um fio de calmaria em meio à tormenta, redirecionando seu foco para algo além da batalha interna.

    Ao se virar, Evangeline encontra o olhar penetrante de Vívika. As mãos firmes da guerreira repousam em suas costas, transmitindo uma energia quase palpável, um fluxo de mana que se infunde com sua própria essência. 

    A surpresa inicial de Evangeline cede rapidamente à compreensão. 

    O mana, antes tão esvaído, agora pulsa em seu corpo, revigorado como uma nascente que, depois de quase secar, transborda novamente. 

    “Ela está dividindo sua própria força comigo…” — O pensamento ecoa, e com ele surge uma gratidão genuína, misturada ao entendimento da coragem de Vívika. Jamais subestimaria aquele espírito novamente.

    Com um sorriso decidido, Evangeline retoma sua concentração no feitiço. A energia percorre seus braços, revestindo-os em uma camada ainda mais sólida de proteção. 

    As correntes de ar em seus punhos ganham corpo e velocidade, transformando-se em ciclones ferozes, como serpentes de vento ao redor de suas mãos. 

    O ambiente responde ao feitiço crescente; fragmentos do solo são puxados, girando em torno dela, dançando num redemoinho de destruição iminente. 

    O assobio do ar intensifica-se, cada giro empurrando os ciclones a uma velocidade estonteante, como turbinas de uma máquina infernal.

    No entanto, algo inesperado emerge — um esgotamento repentino e avassalador. A mana que antes fluía com vigor começa a drenar com uma urgência assustadora, como um rio que desaba em um abismo sem fim. “O que está acontecendo?” Evangeline sente o peso da drenagem rápida, a exaustão corroendo sua determinação.

    Em meio ao turbilhão de sons ensurdecedores e à pressão avassaladora que ameaça suas defesas, sua mente luta para manter o foco. 

    O som ao redor cresce, e a força que ela tenta domar ameaça escapar de seu controle, enquanto a mana desaparece a uma velocidade que ela mal consegue acompanhar.

    Evangeline olha para trás e vê Vívika exaurida, seu corpo marcado pelo desgaste. Gotas de suor escorrem pelo rosto da guerreira, refletindo a intensidade do esforço despendido. 

    Os olhos de Vívika, antes cheios de determinação, agora mostram sombras profundas, quase vazios, revelando o preço do consumo brutal de mana. 

    Para ajudar Evangeline, ela se entregou até o limite, e agora seu fôlego está disperso, sua resistência dissolvida em cansaço.

    A guerreira, mesmo ao sentir sua energia sendo sugada com avidez quase cruel, manteve-se firme, sem saber da verdadeira vastidão de mana que seria necessária. 

    “Maldição… achei que meu mana a ajudaria. Mas quem imaginaria que esse feitiço demandaria tanto… Como ela permanece tão firme? Quanto mana ela pode possuir?” O pensamento ecoa em sua mente enquanto suas pernas fraquejam e, com um último suspiro, ela cede ao cansaço, desabando ao solo. 

    Sua respiração é pesada, irregular, como se cada célula do seu corpo lutasse para se recompor.

    Observando-a, Evangeline sente algo florescer em seu peito — um misto de respeito e gratidão. 

    A guerreira, que fora sua adversária, agora jaz à beira do colapso por escolher ajudá-la, ao ponto de arriscar a própria consciência. 

    Esse sacrifício não será esquecido; o juramento que ela faz a si mesma é silencioso, mas gravado com firmeza em seu coração.

    — Vívika, não é? Seu me lembrarei do seu esforço — murmura, com uma serenidade sólida como o aço. — Agora, deixe que eu termine o que começamos.

    Evangeline fecha os olhos e sente o peso do momento ao recordar o monstro que a colocara nessa provação. 

    A imagem do Golem de ossos grotescos, um amontoado macabro de fragmentos de vidas passadas, preenche sua mente. 

    A visão do gigante é a faísca final de sua determinação. A respiração dela se torna estável, um ponto de calma no turbilhão de energia.

    E então, sussurrando como um juramento, Evangeline ativa o poder oculto. — Ativar 『Invencível』!

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