Índice de Capítulo


    O sol vagamente cede sob o horizonte enquanto estrelas cintilantes começam a surgir logo atrás. O céu, com uma aparência mista de azul, roxo e laranja, chama a atenção de muitos, surpreendidos em seguida pela grande lua vermelha que ascende no ocidente. 

    Nakkie, uma cidade comercial, que nunca cessa suas compras e vendas, parece estar menos movimentada neste momento. 

    O ataque imprevisto de um filhote de dragão terrestre chamou muita a atenção, além do escape feito pela majin, que intensificou em muito o medo dos cidadãos.

    Para eles, um possível ataque de raios poderia acontecer a qualquer momento por parte da criminosa. Porém isto fora apenas uma invenção criada pelo prefeito para não se aproximar muito dela e descobrir a verdade. Todavia, por impregnar este medo no povo, os fez ficaram paranoicos com este possível ataque imaginativo.


    Um pouco mais ao norte, nas terras dos Hanatsu, Moira finalmente chega em sua moradia com o auxílio de sua carruagem, — antes usada para ir para a casa de seu colega. 

    Ninguém aparentemente está junto a ela no carro, e tudo que ela carrega consigo no veículo é uma expressão completamente angustiada por não ter tido a chance de descobrir o que queria.

    A locomotiva então para.

    O cocheiro do lado de fora, — ao abrir a janela que mostra o interior da carruagem, avisa para a jovem mulher que seu destino já está a pouco metros.

    — Madame Hanatsu, chegamos! A senhorita já pode descer, assim levarei a carruagem para os estábulos junto dos cavalos.

    — Muito bem.

    Sem ao menos olhar para o cocheiro, Moira, carregando consigo um semblante de indiferença, abre as duas portas laterais da carruagem e se apressa em sair dela.

    Ainda com seu traje de trabalho, a mulher começa a caminhar em direção a sua residência, enquanto na parte de trás, o veículo segue em direção ao local dos estábulos, um pouco mais ao oeste da região.

    Durante os passos apressados que dá, Moira é cumprimentada por diversos empregados e guardas, algo que ela responde com alguns acenos, — uma ação altamente suficiente para os homens, que se encantam com a beleza da jovem mulher.

    Avistando sua casa logo a frente, a mulher para seu movimento para observar os arredores da residência. De esquerda a direita, na sua retaguarda e frente, de cima a baixo. Ela visualiza cada canto possível, de estátuas e pequenas árvores que enfeitam o local.

    Esta é uma prática em particular adotada por ela há muito tempo. Logo após a morte incomum de seu marido, Moira se sentira muito impotente, contratando muitos guardas e empregados para poder protegê-la e sua família.

    Mesmo não possuindo um título acima de Lady, um pouco mais acima de cavaleiro, — título de seu sobrinho Bentley, Moira, por ser dona da companhia que move completamente a cidade, é um alvo altamente importante. Em sua cabeça, toda cautela é algo viável, pois a qualquer momento um assassino, ou um sequestrador pode aparecer e arruinar a sua vida. Então, sua prática diária de observar os arredores de casa se torna uma das precações que ela adota antes de entrar nela.


    Do lado de dentro de sua moradia, a jovem mulher passa por uma estátua peculiar de serpente. Esta é a fonte de água que fica no centro de seu salão de entrada, entre as duas escadas em forma de arco que dão ligamento ao piso superior da casa.

    Passando pela fonte e ignorando as escadas ao lado, Moira entra em um corredor completamente iluminado e preenchido com um extenso tapete vermelho. No mesmo momento que passa pelo corredor, diversos outros cômodos são vistos por ela, que abrigam diversas empregadas que fazem seu trabalho de limpeza, alguns soldados que vigiam as redondezas, além é claro, de esbanjar suas inúmeras mobílias requintadas, feito dos mais variados tipos de madeiras e metais.

    Olhando para sua posição norte, ela avista o final do corredor e nele está uma porta branca com detalhes pretos, — a entrada do seu escritório particular.

    Enquanto se move até a porta, uma silhueta masculina um pouco acima do peso chama a sua atenção.

    O homem possui um bigode abaixo de um nariz batata. Seu rosto rechonchudo esbanja soberba junto do seu sorriso falso. Ele veste-se com smoking cinza de calda e calças da mesma cor. Segurando uma espécie de bengala com uma pedra vermelha na ponta, — Algust, dirige-se para sua irmã, ao caminhar junto a ela pelo corredor.

    — Bem-vinda, minha irmã.

    Completamente estressada com os eventos recentes, Moira ignora a saudação do seu irmão e continua seu percurso.

    Totalmente indignado com a falha que Moira apresentara no comando das investigações, dado a fuga da majin para fora da cidade, — Algust, sem muitos rodeios, a preenche com suas declarações inconsistentes e presunçosas.

    — Soube de um dos meus empregados que falhara em capturar a majin… Além, é claro, daquele therraniin que apareceu… Como uma mercante de “primeira linha”, imaginei que teria o capturado, contudo percebo que sua falha abranja muitas categorias… 

    Os passos cessam. 

    A movimentação de Moira para abruptamente após escutar as palavras de seu irmão. Porém, mesmo com uma raiva imensa dentro do seu ser, ao ser bombardeada com muitas complicações e imprevistos, ela escolhe terminar de escutar o que ele tem a dizer.

    — Agora percebo que sua falta de palavra confirma os rumores. Certamente uma decepção, minha irmã. Esperava mais de você… Eu tinha certeza que conseguiria cumprir o seu papel como supervisora e líder de guarda da cidade, todavia não só estava errado em lhe dar este dever, como percebo que até meu falecido cunhado esteve errado em lhe entregar este trabalho de mercan…

    O homem para abruptamente a declaração. Ele sente que algo está errado, Moira não apresenta nenhuma fala, contudo, algo inquietante desce sob seu ser. Uma sensação gelada e angustiante. Um sentimento que ele descobrirá em breve.

    Coberta inteiramente de fúria, Moira vira completamente a postura para encarar o prefeito. Seu olhar azul-marinho é transformado em uma lâmina, que perfura totalmente a coragem do homem perto dela.

    Ela dá um passo em direção a Algust. O som deste passo não fora algo tão alto, porém para ele fora mais alto que uma explosão, tão alto que fez seus ouvidos zumbirem. 

    Sem demonstrar um pingo de hospitalidade com a pessoa repulsiva em sua frente, Moira finalmente o responde:

    — O que… você disse? Pensei ter ouvido algo sobre meu marido…

    Mesmo demonstrando insegurança no momento presente, Algust, engolindo uma  boa dose de saliva, tenta intimidar a sua irmã mais nova, ao tentar impor sua vontade. Com um sorriso um tanto forçado, — pelo medo iminente, o homem desfere sua última cartada.

    — Isto mesmo que ouvira! Você, alguém que lhe dei o mais precioso cargo de supervisora, fracassara miseravelmente em capturar uma única criminosa. Antes eu tinha em mente que conseguiria fazer isso. Eu me esforcei ao máximo neste caso, liberei muitas áreas para os soldados e participei na linha de frente na luta contra a majin antes dela fugir… Mas vejo que me enganei em depositar esta tarefa em você, assim como Wagner te escolheu como herdeira de seus negócios…

    Movendo a mão para o rosto, Moira começa a balançar a cabeça em negação. O que ela acaba de ouvir a deixa surpresa.

    Enquanto observa as ações de sua irmã, Algust, aflora um sorriso contente no rosto, pois pensa que conseguiu submetê-la, porém, ele se arrepende friamente de ter tido este breve sentimento.

    Retirando vagarosamente a mão do rosto, Moira expõe finalmente sua frustração em todo o local.

    Uma densa aura mágica preenche completamente o corredor, — cobrindo não só a região onde ambos estão, mas todos os cômodos das entradas ao longo. O ar respirável se tornar mais pesado que uma bigorna e, em contrapartida, a gravidade se torna duas vezes mais intensa que o normal.

    Com muita dificuldade de se manter em pé e respirar, Algust, eleva o rosto para visualizá-la, porém o que observa é algo se formando atrás da bela mulher.

    Um ser, mais parecido com um mostro serpente, surge atrás dela. Tão alta quanto o topo do corredor, e tão grande quanto o tapete que percorre ele. Suas escamas altamente enrijecidas são albinas e os olhos da fera são azuis, — semelhantes ao de Moira.

    Enquanto se depara admirando tal criatura, Algust é surpreendido pelo rabo escamoso da serpente, que se enrola em seu pescoço, o impendido de respirar corretamente.

    No mesmo momento que luta para retirar aquilo de si, Moira, com passos vagarosos, aproxima-se do homem impotente, que antes havia a desafiado.

    Com completo desprezo de seu irmão neste momento, devido às falas dele e as ações de seu filho, Moira despeja os fatos para cima dele, para fazê-lo sair do seu mundo ilusório de prefeito.

    — Se esforçou? Se colocou na linha de frente? Do que está falando seu gordo asqueroso!? Você não fez nada! Como pode abrir a boca para me encher de suas mentiras sem fundos! Eu estava a pá de tudo que estava ocorrendo na investigação, cedi meu local de trabalho para os soldados e fiquei na linha de frente de todo o caso, enquanto a você? Quem é você mesmo? Não se ache seu escroto imundo! Você e seu filho imbecil tem esta mania de impor a própria vontade sobre os outros, ignorando as consequências, mas comigo você não fará isto, eu cansei!

    — Não me encha mais o saco com suas bobagens! Não quero saber mais nada sobre esta majin e os soldados com certeza podem concordar com isto. E, mais uma coisa… nem tente me dar ordens. Você pode ser o prefeito, porém lembra-se. Só recebera este cargo por eu recusar a oferta do conde, caso não fosse a minha indicação, não passaria apenas de um miserável nas ruas da cidade, como os ratos que correm por aí.

    Logo, ao finalizar sua declaração, Moira recolhe sua presença novamente. A densa pressão no local cessa. O ar retorna para como era antes e a gravidade se estabiliza. A grande serpente atrás de si some, pois não passara de apenas uma ilusão na mente do homem. 

    No decorrer do corredor, barulhos de talheres e objetos caem sob chão. Aparentemente, igual a Algust, alguns empregados foram preenchidos com o mesmo sentimento de pesar, algo que o surpreende com o poder liberado por sua irmã.

    Com dificuldade em levantar do chão, após ser pressionado com a densa presença de um simples olhar, Algust, ao observar sua irmã ir embora de perto dele, além de não possuir nenhum contra-argumento para se livrar daquelas palavras, arruma suas roupas amarrotas, rebate os joelho, e segue caminho para fora da residência, — demonstrando um semblante altamente enraivecido.

    Após ter espantado o encosto que a perseguia pelo corredor, Moira continua seu percurso até o escritório.

    Bem a frente da porta, ela a abre sem muita dificuldade.

    O local interior está completamente escuro, não dando para ver nenhum palmo a frente. Todavia, para ela isto é normal, visto que ela avança sem muitos rodeios.

    Pondo o pé para dentro, pequenas luzes brancas surgem do piso. As pequenas luzes de uma a uma entram em estruturas de vidro, acendendo-se uma por uma, — ao que ilumina pouco a pouco a região.

    De um instante para o outro, o escritório se torna totalmente iluminado por estas luzes que mostram os mais refinados itens da bela mulher.

    O piso, — feito exclusivamente de madeira refinada e lubrificada por resina, esbanja o belo brilho das lampadas, suspensa no belo lustre no teto. Sob o chão, um grande tapete felpudo circular, da cor vermelho, estende-se, com alguns desenhos brancos circulares no seu centro.

    Nas paredes do escritório, alguns quadros bem importantes estão presentes. De pequenas paisagens que pertencem à família Hanatsu, por parte de seu falecido marido a rostos dos próprios, desenhado como retrato. 

    Fechando a porta, ela caminha em direção ao centro, onde localiza-se uma bela escrivaninha de mogno preta. Uma mesa altamente bela, que reflete seu brilho em todas as direções, coberta com diversas gavetas na parte inferior, guiada de um assento feito exclusivamente de couro, algo certamente confortável.

    Em cima da escrivaninha, destaca-se um grande excesso de papelada, alguns envelopes, cartas e um tinteiro com uma pena fincada ao lado.

    Movendo-se em direção ao assento, ela vislumbra o excesso de trabalho que lhe aguarda após demorar muito tempo em realizar suas tarefas, — ao acumulá-las devido ao tempo escasso que possuía como supervisora.

    Com um semblante que esbanja depressão e cansaço, Moira senta-se em seu assento, aproxima-se da mesa e, alisando a parte superior dos documentos, expõe sua frustração.

    — Bem… parece que eu não tenho escolha… terei que ficar está noite inteira resolvendo isto… De novo…

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