Capítulo 57.4 ❃ Antes da Masmorra.

Nas regiões sul da extensa planície de Althemar, mais precisamente no vilarejo, que faz periferia com a Grande Floresta de Arrow, — um pequeno movimento de crianças e alguns jovens está presente em frente a loja de Anastácia.
Ao todo são três pré-adolescentes e dois jovens. Eles estão observando algo dentro da loja pela vidraça, como se esperassem alguém sair de dentro da oficina. De repente, Anastácia e sua filha Isabel saem de dentro de lá, frustrando-os por alguns segundos e os fazendo voltar a observar novamente.
Notando a pequena comoção do lado de fora da loja de sua mãe, Isabel, os encara com grande raiva e vergonha e, ao dirige-se até a porta, a abre e com um poderoso grito, os expulsa do local.
— Caiam fora daqui!
Algo que os surpreendem e os fazem saírem do local as pressas.
— Ahh! A guardiã de prata arrancará nossos corações! Corram!
Após completar sua afronta contra os garotos do lado de fora, Isabel retorna com um sorriso satisfeito no rosto. Contudo, Trevor, Lukas e Anastácia, que presenciaram aquilo, entranham o apelido que ela possui.
— Isabel, que apelido é este?
Completamente envergonhada por seus mentores e mãe, por ouvirem aquele nome, Isabel, com as bochechas completamente rosadas e um semblante que desce cada vez mais com o peso da timidez, tenta explicá-los sobre o que se trata aquele apelido.
— B-bem… é que no outro dia eu…
Todavia ela é interrompida por Evangeline que finalmente sai da oficina, trajando a mais nova obra-prima de Anastácia, — uma armadura criada exclusivamente para ela adentrar na masmorra.
Com uma temática que facilita a velocidade, dada a sua destreza como rogue, a armadura adota particularmente as características desta classe.
Feita exclusivamente de couro, — com detalhes avermelhados que ressaltam seu belo cabelo ruivo, a armadura cobre precisamente cada ponto vital da meio-elfa. Na parte do busto, uma camada de pano, semelhante à malha, protege os seios de possíveis ataque que vão diretamente ao coração. Na região de sua cintura, há uma fileira de quatro cintos, que abrigam suspensões para algibeiras.
Com o intuito de preservar a velocidade da meio-elfa, a armadura não possui nenhuma cobertura longa nas pernas, tendo apenas uma ligeira saia curta de couro e com detalhes avermelhados, mostrando moderadamente as coxas, — que são parcialmente tampadas por uma longa bota de couro preta. E, na região traseira de sua costas, a duas bainhas, que abrigam duas adagas.
Enquanto ambos os rapazes se impressionam como Evangeline veste a armadura, Anastácia toma a liberdade para explicar cada característica que pôs nela.
— Como podem ver, pela senhorita Evangeline se destacar mais com mobilidade, pensei em elaborar uma armadura baseada na classe rogue. Mesmo que ela use magia e não seja tão furtiva como um, seus movimentos não serão afetados por isso. Graças as partes mais abertas, a velocidade de movimento que ela está acostumada a realizar será mais fácil, dada a… bom… a falta de armadura nessas partes…
— Anastácia!
Demonstrando um pouco de vergonha pelas falas de sua amiga ferreira, Evangeline tenta repreendê-la.
Ao perceber que a meio-elfa está esboçando uma expressão envergonhada com o que dissera, Anastácia, com um sorriso ligeiramente indecente no rosto, continua sua explicação para os rapazes, — com a finalidade de brincar mais com os sentimentos dela.
— Ah, sim! Lukas e Trevor. Creio que já perceberam que as coxas da senhorita Evangeline estão bem expostas não…?
Ambos os rapazes ficam desconcertados com a situação e a pergunta da ferreira. Trevor, que abriga um certo sentimento para com a meio-elfa, fica hipnotizado ao presenciar tamanha exposição de pele por parte dela, em contrapartida Lukas, apenas endireita os óculos para tentar fingir que não está vendo nada.
No meio desse tempo, Evangeline, elevando parcialmente sua aura mágica, chama a atenção de Anastácia, com o intuito de parar com aquela cena constrangedora.
— Anastácia, vamos parar com a palhaçada, certo? Eles já entenderam a funcionalidade da armadura…
Arrependida pelo que fez a sua amiga, — não totalmente, ainda demonstrando um certo interesse em atazanar mais ela, Anastácia desculpa-se por suas ações.
— Perdoe-me, e… senhorita Evangeline.
Notando que o sorriso na face da ferreira não foi extinto, a meio-elfa cede, e libera outro sorriso em resposta, ao perceber que tudo não passara de uma brincadeira.
Demonstrando um certo interesse por parte desta apresentação, Lukas, lembra do projeto que Anastácia fez questão de omitir de todos. Então, movendo o óculos em sua face, — para intensificar sua ação, o rapaz a questiona para finalmente retirar a dúvida que paira sobre sua mente há um certo tempo.
— Mmm, presumo que esta armadura seja o seu tão aclamado, “projeto secreto”. Ou estou enganado, Anastácia?
Movendo o olhar em direção a pergunta do rapaz, Anastácia, com um descontraído sorriso no rosto, assente em resposta a pergunta dele.
— Sim, sim. Você tem razão… Por quê, há algum problema nisto?
Balançando a cabeça em forma de negar o mal-entendido, Lukas, acrescenta sua questão com palavras para explicar o que pensara nesse curto espaço de tempo.
— Não. Só andei me questionando isto. Se o seu projeto era apenas esta armadura, pensada para Evangeline entrar na masmorra, por que não nos disse desde cedo? Veja bem, creio que não havia motivos para omitir algo assim, dado ao conhecimento das ações que aconteceram em Nakkie com…
O rapaz freia suas palavras ao perceber que Evangeline está prestes a falar.
Tomando uma certa liberdade, ao se aproveitar da questão levantada pelo professor referente a Nakkie, a meio-elfa prepara-se para explicar tudo que lhe acontecera na cidade, antes dela finalmente adentrar na masmorra.
— E… me desculpe interromper esta questão, mas, me aproveitando deste assunto, quero contar algo para vocês, na verdade, explicar o que me fez retornar mais cedo para o vilarejo…
Anastácia, Trevor e Lukas a observam com uma certa dúvida com expressões sérias, enquanto Isabel, mergulhada em conversa de adultos, fica totalmente deslocada no assunto, ao demonstrar uma ligeira confusão em sua face.
— Eu sei que vocês já se perguntaram por que eu cheguei mais cedo, e creio que algum momento iriam me perguntar o motivo. A ideia era realmente eu ficar em Nakkie durante 7 dias, mas algo muito ruim aconteceu lá. E preciso contar a vocês tudo isto…
Exalando uma certa aura impotente perante todo o local, Evangeline inspira o máximo de ar aos pulmões, com o intuito de se livrar da lâmina da insegurança que arranha seu coração e que a impede de revelar seus pensamentos.
Soltando todo o ar de hesitação presente em seu ser, Evangeline, com uma certa confiança perante seus amigos, começa a explicar a razão de sua chegada adiantada. E, durante este processo, todos a encaram com a intenção de não perderem uma sequer letra solta em sua explicação.
— Bem… é claro que vocês já sabem o que me ocorreu em Nakkie. Que eu saí as pressas do vilarejo, tive um desentendimento com o cocheiro, encontrei a Karenn… naquele estado…
Por um curto período, a meio-elfa fecha seu semblante ao virá-lo para o lado.
Todos os presentes constatam que aquela ação é devido à tristeza que ela sente ao lembrar daquela cena. Todavia, a maioria das coisas que pairam sobre a mente da jovem, é o ódio que ela sempre revitaliza ao lembrar daquilo. Evangeline não quer perder este sentimento, pois o seu maior objetivo é se vingar dos agressores de sua irmã.
Retornando para o assunto, a meio-elfa desculpa-se pela interrupção para poder continuar.
— Me… perdoem, eu tive um pequeno devaneio e…
Contudo é interrompida por Anastácia que, em uma ação imprevisível, — por parte dela, aproxima-se e abraça com muita força.
Confusão sobrevoa a face da meio-elfa ao perceber a ação da ferreira. Porém, antes mesmo dela perguntar o que está acontecendo, Anastácia adianta-se com suas palavras, demonstrando uma certa tristeza no tom de voz.
— Não, senhorita Evangeline, você não precisa se desculpar por isto. Você tem sido muito forte para não nos preocupar, mas sabemos como deve ser difícil aguentar tudo isto sozinha…
— Ma-mas… eu…
Evangeline tenta contra-argumentar as falas da ferreira, para explicar sua pausa, que não está inteiramente relacionada àquilo, contudo ela é interrompida por um forte aperto que Anastácia faz no abraço, e completa com mais de suas declarações simpáticas.
— Tudo bem… senhorita Evangeline, não precisa guardar todo esse peso para você… Compartilhe, nos conte como você se sente. Liberte-se dessa responsabilidade que afugenta sua liberdade. Não guarde apenas esse sentimento e obrigação sozinha, nos conte, deixe-nos aliviar esse peso, deixe-nos dividir este fardo…
Após estas falas de muito esmero, uma forte tensão preenche todo o ser de Evangeline.
Desde que chegou neste mundo, Shirogane não teve tempo de se relacionar corretamente com todos e muito menos criar amigos que pudesse compartilhar essas coisas. No entanto, isto foi apenas em sua cabeça, pois a todo momento, os amigos que ele tanto almejava estavam mais perto do que imaginava.
De um momento ao outro, — ao perceber que finalmente possui amigos nesse lugar, uma tensão em forma de nó enrola em seu pescoço e uma forte adrenalina percorre seu coração. O ar fica mais pesado e lágrimas começam a surgir em seus olhos, — ela despenca em choro.
Perdendo as forças de suas pernas, tanto Evangeline, quanto Anastácia, — acompanhando o movimento de sua amiga, se ajoelham no chão. Trevor e Lukas, que observam a cena em sua frente, liberam um singelo sorriso em sintonia a forte emoção de sua amiga, enquanto Isabel, ainda confusa com toda a situação, permanece em silêncio.
Alisando os longos cabelos ruivos de sua amiga, — semelhante uma mãe para com sua filha, Anastácia, tenta confortar os sentimentos de Evangeline. Toda a insegurança, desconfiança e desespero, que fora aprisionada em seu ser por está ocupada demais com seu treino e fuga, a fez liberar de uma vez por todas esses sentimentos em uma única vez.
Ainda chorando, a meio-elfa estranha a quantidade de lágrimas que jorram de suas órbitas. Ela não esperava que possuía tamanho sentimento guardado dentro de si. E, ao não se importar mais com a vergonha de chorar em público, libera em fim todo esse sentimento de dentro de sua alma para fora do seu corpo, — retornando em fim o abraço em Anastácia.
Alguns minutos se passam e o forte peso, que estava fincado nas costas de Evangeline é retirado. O fardo de salvar sua irmã fora compartilhada e a alegria, de finalmente encontrar amigos que possa confiar é aparente em sua face.
Enxugando as lágrimas com a mão, Evangeline começa a se levantar com ajuda de Anastácia. Por um curto espaço de tempo, ela fica completamente vermelha de vergonha por chorar muito perto de sua aprendiz, porém ela é removida desse sentimento após observar a expressão alegre que Isabel realiza.
— Minha mestra! Você parece mais leve que antes e sua aura não está mais confusa.
Após liberar seu forte peso para fora de si, a desordem provocada por seus atributos em sua aura mágica é extinto. Todo o poder presente nela está controlado.
Entendendo que a pertubação em seu poder era devido aos sentimentos negativos que estavam presos em sua alma, Evangeline sorri em resposta as declarações de Isabel, algo que a faz retornar o largo sorriso em resposta.
Com seus sentimentos mais calmos e leves, Evangeline tenta retornar para seu assunto de antes.
— Me desculpe por isso. Parece que… chorei que nem um bebê… heheh… que constrangedor… mas referente ao assunto de antes. Eu…
Todavia, antes que pudesse retornar ao assunto do seu retorno, uma silhueta feminina adentra na loja, — ao entoar o sino na porta e chamar a atenção de todos para ela.
Tendo por volta dos seus 25 anos, pele ligeiramente clara, longos cabelos castanhos, — presos em uma espécie de rabo de cavalo, e olhos castanhos, tão simpáticos como de uma criança, — uma aldeã, adentra completamente no local.
Seriedade e certeza é transbordada na expressão desta aldeã ao encarar todos no local. A pressão que ela impõe em todos é surreal, dado o sentimento que ela abriga em sua aura.
Percebendo que interrompera algo importante no local, ao visualizar os olhos inchados da meio-elfa, além das pessoas em volta dela, — a jovem aldeã, inclinando-se em resposta a sua grosseria, curva-se para falar.
— Perdoe-me minha intromissão! Compreendo que a loja da ferreira ainda não está aberta, mas não tive escolhas… Por favor, me perdoem…!
Aproximando-se vagarosamente para próximo da aldeã, Evangeline, pondo a mão em seu ombro, a questiona o que ela veio fazer naquele lugar, além de estranhar os massivos pedidos de desculpas que ela pede.
— Relaxe, está tudo bem, não há motivos para nos estressarmos com você só por isso. A loja da Anastácia abrirá a qualquer momento, então não a motivo para se desculpar por entrar um pouco antes disso. Não é mesmo, Anastácia?
Assentindo fortemente com a pergunta de sua amiga meio-elfa, Anastácia confirma as palavras.
— Claro, não vejo problemas. Então, o que você vai querer? Alguns talheres ou quer que eu conserte sua panela?
Levantando vagarosamente a cabeça, a aldeã recusa as sugestões da ferreira, pondo na frente seu real motivo naquele lugar.
— Não, não… Me desculpe! Mas o assunto não é com a senhorita, ferreira Anastácia! Vim até aqui para pedir algo para a guardiã do vilarejo, a senhorita Evangeline!
— Guardiã do vilarejo?
Estranhando por um momento o título dito pela aldeã, Evangeline a questiona.
— Sim! A senhorita nos protegeu dos ataque dos monstros na floresta, enquanto os guardas, que disseram que vieram nos livrar deles, não fizeram nada!
— Certo, certo… entendi o apelido… contudo, como eu disse antes, relaxe um pouco… Eu já estou aqui, pode me dizer com calma, okay?
Inspirando uma grande quantidade de ar para os pulmões, e os liberando rapidamente em seguida, a aldeã, tenta se acalmar e explicar finalmente o que quer com a Evangeline.
— Fusss…! Me… desculpe por isso… Eu estava muito apressada para chegar aqui e falar com a senhorita, que não tive tempo de me apresentar a você.
Curvando-se novamente em sintonia com sua apresentação, a aldeã finalmente revela seu nome.
— É finalmente um prazer conhecê-la pessoalmente, guardiã do vilarejo, Evangeline. Eu me chamo Kamila Archdooel, sou neta de sangue do chefe do vilarejo, Bezel Archdooel. Venho até a senhorita para pedir um favor… Por favor, antes de entrar na masmorra, venha festejar com todos do vilarejo sua chegada.
— Eh?!
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