Capítulo 63 ❃ Entrando na Masmorra.

Após o pequeno embate marcado por sua amiga dríade como um modo de teste, Evangeline corre pela floresta em direção a entrada da caverna que abriga a masmorra e, ao seu lado, uma figura de uma mulher madura, com longos cabelos verdes, com vinhas que sobem de sua canela até o limite do pescoço em forma de um belo vestido, — a acompanha ao lado.
Olhando com admiração para a beldade ao seu lado, Evangeline impressiona-se com a velocidade de movimento de Teldra. Mesmo que ela não esteja tocando um sequer centímetro no chão, — por flutuar durante todo o percurso, Teldra consegue acompanhá-la com a velocidade atual sem demonstrar uma sequer dificuldade nisso.
— Pensei que você não era tão rápida quanto eu…
— Huh? O que te fez concluir isto?
— É que toda a vez que você se locomove, você meio que se teleporta para o local…
Guiando o dedo indicador até a parte inferior dos lábios, Teldra pondera sobre esse acontecimento. Logo após, demonstrando um sorriso apogético, ela retruca a sua amiga.
— Não, não… Eu não chamaria aquilo de teleporte. Está mais como uma realocação… bem similar ao que estou fazendo agora. Não sou tão boa com magia espacial igual à minha irmãzinha…
— Espera, o quê!? Aquilo não era um teleporte e sim um movimento?
— Pode se dizer que sim.
— Impossível…
Completamente admirada com a velocidade mencionada por Teldra, que a princípio, fez parecer ser um teleporte, Evangeline quase tropeça em uma das raízes das árvores com empolgação. Entretanto, algo durante a frase dela chama a sua atenção.
‘’Irmãzinha?’’
— Espera, Você tem uma irmã, Teldra?
Olhando diretamente para Evangeline, Teldra estufa o peito e com um sorriso vicioso no rosto, — similar a uma criança que mostra suas pequenas vitórias, assente com a pergunta.
— Claro! Ela é muito mais talentosa do que a mim. Poderia dizer que ela é até mais forte.
— Mais forte…
Nesse meio tempo, Evangeline relembra da cena em que Teldra parou o golpe de Ulagg com as mãos nuas e, antes desse embate, não só reconstruiu completamente a área devastada da floresta como remodelou tudo quando fez.
”Se o que a ela tá dizendo for realmente verdade, essa irmã dela pode fazer algo muito além do esperado, talvez até destruir uma cidade inteira com facilidade…”
De repente, Evangeline lembra-se da presença completamente tirânica e pesada que sentira na sua conversa com Teldra.
— Não… se eu não consigo sentir a presença da Teldra, certamente a irmã dela também deve ser algo parecido…
— Você disse alguma coisa?
Olhando de um modo preocupado para sua amiga meio-elfa, a dríade a questiona sobre o que ela está murmurando com uma expressão curiosa.
— Eh?
Notando a aproximação dela para perto de si após a pergunta, Evangeline tenta mudar de assunto ao não informar a ela sobre a presença anterior.
— Ah! Nada não… só estou murmurando alguns absurdos que pensei. Só isso.
Coçando a parte traseira da cabeça demonstrando um sorriso no rosto, com o intuito de enganar a dríade, Evangeline omite a informação.
”Bem, é melhor não contar ainda. Talvez ela até já saiba, então, mesmo que eu conte, não mudará nada.”
— Então, quanto tempo até chegarmos? Pois já…
Antes mesmo de finalizar sua sentença, Teldra segura fortemente sua gola e a freia forçadamente.
Ao tentar entender essa ação imprevisível de sua amiga, Evangeline encara sua frente e nota um pequeno amontoado de pedras e rochas, — deixando completamente surpresa. Afinal, se não fosse parada por Teldra a tempo, teria virado o que se chama de panqueca de carne com o impacto iminente.
— Essa foi por pouco, hein…
Olhando para a pequena formação de pedra em sua frente, Evangeline relembra da vez que tentou destruir a entrada com um soco e quase quebrou o punho na tentativa. Entretanto, diferente de antes, a entrada está completamente reconstruída, nem mesmo dando indícios de sua presença anterior.
— Bem como eu desconfiava… Realmente a Teldra remodelou toda a floresta até a entrada da masmorra…
Após ajudar a sua amiga a não se transformar em uma pasta de carne, Teldra, em passos vagarosos, se afasta dela ao se aproximar do amontoado de pedras.
Bem próxima do local, ela estende a palma da mão ao ar, apontando diretamente no amontoado a sua frente. No momento seguinte, pequenos brilhos dourados invadem o local, similares pequenos vaga-lumes de ouro puro. Essas pequenas luzes começam a se amontoar um em cima do outro e, por fim, realocam-se para a mão de Teldra.
Tal cena majestosa impressiona Evangeline no processo, contudo, o que chama mais a sua atenção é a cor que a aura de Teldra emite nesse momento. O que antes parecia com diversas cores de um arco-íris, agora uma cor dourada destaca-se no lugar, — afugentando toda e qualquer outra cor em sua aura.
Nesse breve momento outra pessoa com uma aura similar surge na mente de Evangeline.
”Metatron…”
No momento em que Metatron adquiriu sua verdadeira aparência, uma aura tirânica porém suave emergiu do seu ser com uma cor dourada, mais vívida que o próprio ouro mais reluzente existente, algo que chamou muito a atenção da meio-elfa na época. Porém…
”Mesmo que pareça com a aura dele, é muito mais inferior, talvez até mais fraca… Como será que se chama esse tipo de aura…?”
Com o braço esticado coberto do brilho dourado, Teldra em uma única ação gira o para a esquerda, — no sentido anti-horário, ao pronunciar…
— 「Desativação do Selo, Niftenn」!
Logo após entoar o feitiço, um poderoso som de fechadura é emitido em toda a floresta, que no momento seguinte some, como se nunca estivesse existido.
— Que barulho é este…?
Olhando para os lados, Evangeline tenta achar a fonte do som, todavia, mesmo com a mana espiritual nos olhos e ouvidos, — para amplificar seus sentidos, não consegue designar a origem. Como se o barulho não estivesse no plano físico e sim um superior.
Após o selo ser rompido, o amontoado de pedras torna a cair e deslizar uma sob a outra, caindo todas de uma vez e liberando uma espécie de passagem para dentro da caverna. Porém, depois de todas as pedras caírem, tornam-se poeiras em seguida, assustando Evangeline no processo, que realiza uma carranca preocupada.
Observando a expressão curiosa no semblante de sua amiga meio-elfa, Teldra realiza um sorriso costumeiro e a responde para retirar a dúvida dela.
— O que acabou de presenciar é o debloqueio do selo que estava presente nessas rochas. Além, é claro, elas só vaporizaram por que estavam aqui há muito tempo, mais tempo do que estou viva.
— E-e… a quanto tempo você está viva, Teldra…?
— Bom, é um desrespeito perguntar a idade de uma donzela, mas já que somos amigas, eu posso responder para você. Porém você não deve dizer a mais ninguém, certo?
Assentindo com a proposta da dríade, a meio-elfa concorda.
— Vejamos…
Mirando o dedo indicador no queixo ao olhar para cima com um semblante ponderativo, Teldra, por fim, se lembra.
— Acho que uns… 1300 anos? Todavia, nem mesmo estou madura o suficiente.
— M-mil e tr-trezentos a-anos!?
Após aprender a real idade de Teldra, Evangeline tem uma leve queda de pressão, ficando um tanto tonta após.
— Claro. Porém eu sou a segunda mais jovem entre as dríades do reino espiritual.
— E-entendo…
”Se ela é a segunda mais nova com mil e trezentos anos, nem imagino quem é o mais velho…”
— Bom, agora que o selo foi desfeito, me siga para o saguão da masmorra.
Assentindo com sua amiga, Evangeline abandona a ideia de tentar descobrir a idade dos outros espíritos, e segue Teldra para dentro do local.
Cruzando o interior da caverna, a meio-elfa começa a relembrar da luta que teve com o mostro lacraia, uma ação que resultou na destruição de boa parte do interior. E, ao olhar para frente, observa a parede totalmente destruída, — a parede que possuía uma porta com um selo mágico.
Passando por toda a destruição, ambas adentram no salão de entrada da masmorra.
Em todo local se enxerga destruição. Paredes, colunas e até rastros de chamas estão presentes após o embate com o mostro. Boa parte do salão fora destruído pelo monstro lacraia na sua repentina evolução e, se não fosse morto, todo o local estaria em ruínas.
Bem próximas da entrada, Evangeline observa um grande portão negro, — tão negro que não reflete luz alguma, como se toda a luz que chegasse próximo o bastante fosse absorvida pelo portão.
No inferior do portão, algumas vinhas prateadas se ressaltam após a luz emitida pelas tochas cintilarem.
Porém, o que mais se ressalta naquela estrutura são cinco pedras perfeitamente posicionas em uma estrutura pentagonal no centro do portão.
Observando o rosto de Teldra que encara o portão com bastante apego, Evangeline a questiona sobre o local.
— Teldra… você parece mais apegada com esse lugar do que com a floresta em si. Por acaso foi você que colocou essas pedras nessa porta, além dos selos anteriores?
Liberando um sorriso apogético no rosto, Teldra balança a cabeça e nega as suspeitas dela.
— Não… Na verdade, quem colocou esses selos, foi meu mestre, aquele que quis proteger toda a floresta.
— Huh? Mestre!?
Ela assente com outro sorriso e continua a declarar com muito afeto.
— Sim… Eu o via como meu mestre, mesmo que ele não tenha me ensinado nada, o poder dele me superava infinitamente. E, aquele poder me fez parecer alguém normal, alguém…
Balançando a cabeça para tentar se livrar da situação que provocara com suas expressões, Teldra tenta mudar de assunto.
— Bem… mesmo que eu não tenha criado esses selos, não significa que não posso rompê-los!
Guiando até a parte frontal do portão, Teldra com bastante cuidado, encosta no pentágono que abriga as cinco pedras.
No momento seguinte, as cinco pedras começam a brilhar em cores distintas. Ciano, Vermelho, Marrom, Cinza e, por fim, Dourado. Todas as cinco pedras que abrigam os cinco atributos acendem em sintonia.
Alguns segundos após tocar e acender as pedras, Teldra remove a palma da mão de cima da superfície do portão e, em seguida, o pentágono começa a girar em anti-horário, — rachando-se e caindo no chão em fragmentos.
No momento após, o grande portão negro começa a ranger. Similar a uma grande estrutura metálica, um rangido enferrujado fica aparente a cada momento que um centímetro do portão abre-se.
E, por fim, o portão inteiro se abre, liberando uma poderosa corrente de ar fria de dentro do lugar, — empurrando Evangeline para alguns passos atrás, algo que a impressiona com o poder da despressurização do local.
Virando-se novamente para a posição de Evangeline, Teldra uma vez mais a pergunta se isso é o que ela quer fazer de verdade.
— Evangeline, agora que não há mais selos a impedindo… me responda novamente. É realmente isso que você quer fazer?
Um longo silêncio fica aparente no lugar, Evangeline exita em responder de imediato, pois não entende que tipo de perigo há dentro deste lugar e, também, sente-se um pouco desconfortável, visto que os olhos cheios de alegria que brilhara no rosto de Teldra não estão mais presentes.
— Eu…
Antes de poder responder, Evangeline lembra-se do fato de está naquele lugar. Não é apenas para se fortalecer e vingar as pessoas opressoras que negaram a felicidade de sua irmã, mas também para achar uma cura!
— Eu… tenho certeza!
Cerrando os punhos com extrema força, ela afugenta o medo para o lado e aceita o que está por vir.
Um sorriso amargo surge no semblante de Teldra após entender a convicção de sua amiga. Se ela fosse alguém mais confiável ou mais a favor de se abrir para os outros, certamente a impediria de entrar, — mesmo que isso significasse a morte da pessoa mais importante para Evangeline, a irmã dela.
Provavelmente, ela seria odiada por Evangeline por isto, mas a impediria de se arriscar. Contudo, ela entende muito bem que isso não possível e nem a faria desistir e, por isso, que ela desejou que ela fosse sua amiga, pois a força da determinação dela a enche de coragem.
— Muito bem… Não posso lhe oferecer outra bênção, mas lhe desejo a mais pura sorte que os céus têm para te oferecer. E espero que nada de ruim passe pelo seu caminho, Evangeline.
Bem próximo da entrada, Evangeline encara o imenso escuro dentro da masmorra por um pequeno tempo com um semblante ponderativo.
”Agora não tenho mais volta. Tudo que aprendi, tudo que pratiquei foi para esse momento. Não posso recuar, não posso desistir.”
Cerrando os punhos fortemente, ela dá um passo para dentro, e quando dá por si, sumira da entrada da masmorra, ao caminhar em uma escuridão sem um único fio de luz.
Em contrapartida do lado de fora da masmorra, Teldra com um semblante preocupado, encara a entrada da masmorra e o interior sem luz.
Esticando a mão com o intuito de colocá-la para dentro da masmorra, um poderoso raio carmesim a impede de continuar avançando, — caindo diretamente em sua mão e, afugentando sua vontade de continuar se aproximando.
Dando um passo para trás com o susto do ataque imprevisível, porém, esperado por ela, Teldra murmura algo para si com o semblante aparentemente triste.
— Seu eu pudesse entrar… com certeza iria ao seu lado, Evangeline…
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