Capítulo 64 ❃ Um corredor aparentemente Interminável.

Um corredor supostamente interminável de pura escuridão. Nada além do mais puro ar respirável e o tato do solo é sentido aqui. Semelhante a um caminho que guia a alma para o submundo do vazio, Evangeline percorre o enorme túnel sem luz, — e sem fim.
Som de passos em um chão granulado, gotas de água que parecem gotejar de um local alto, além de um aroma doce distinto. Similar a uma gruta ou interior de caverna, a jovem começa a caminhar por esse percurso enquanto pondera na sua visão mais recente.
Logo após adentrar por completo no interior da masmorra desconhecida, Evangeline, — no mesmo momento que caminha sem uma sequer luz a seguindo, pondera sobre as expressões distintas de Teldra. O fato dela tanto avisar sobre os perigos da masmorra, além de até ter feito algum tipo de teste para provar sua força, deixa a jovem completamente confusa.
Mesmo que não tenha uma relação digna entre ambas para ser categorizado como uma amizade inigualável, durante todo o momento que ficaram juntas, Teldra não deixou de se preocupar com ela nem por um único instante, — a perguntando sobre tudo que poderia está lhe ocorrendo, tanto físico quanto mentalmente. E isso fez com que Evangeline enxergasse como uma amiga além dos que tem no vilarejo. Todavia, o semblante preocupado dela ainda a deixa sem entender.
”O que será que ela estava pensando quando olhou para o portão? Ela parecia muito triste, mesmo que ela tentasse não mostrar uma feição desse tipo, a atmosfera ao redor dela me deixou saber… E aquele mestre que ela mencionou? Nunca pensei que Teldra reconheceria alguém como mestre, mas talvez eu esteja subestimando esse ‘alguém’… afinal, se um espírito do calibre dela reconhece uma pessoa como mestre, certamente não deve ser um mortal… talvez, um tipo de espírito…?”
”No entanto, o sofrimento dela para com esse lugar… parecia até que ela já esteve aqui ou… perdeu alguém que entrou aqui…”
— Bom….
Balançando a cabeça agitadamente para se livrar dos pensamentos que estão sobrecarregando seus sentidos, Evangeline decide abordar este tema especifico para depois.
— Se eu ficar focando nisso agora, não serei capaz de me concentrar no que estar por vir…
Parando por um momento no meio da escuridão, Evangeline concentra parte de sua mana espiritual nos olhos, — e os estreita, com o intuito de tentar enxergar o final do túnel. Todavia, falha.
— E falando o que estar por vir… quando é que esse túnel vai acabar?
Ressaltando sua dúvida no local, — aparentemente vazio, a jovem cria uma espécie de bola de fogo com sua magia para iluminar o local. Contudo, a luz emanada da chama da bola de fogo mal consegue iluminar a região.
— Mmm… interessante… A luz não consegue propagar apropriadamente nesse lugar… é bem similar ao portão de antes que não refletia uma luz sequer das tochas… Bom, se não há como enxergar além de dois passos na frente, terei que tomar cuidado se algo aparecer do nada.
Então, ao recomeçar sua caminhada, Evangeline guia outra parte de sua mana espiritual para a pele e ouvidos, para intensificar seus sentidos, caso algum inimigo a ataque.
Durante a caminhada, a jovem percebe que o local é bem similar a uma espécie de gruta. Com paredes, teto e chão com características cavernosas.
— Que local curioso, parece até que um verme gigantesco fez esse corredor. As paredes, teto e chão são de pura rochas, e parecem que foram moldados para ser um corredor simples. Porém me pergunto o quão grande é este corredor… Já estou andando a um bom tempo e até agora não vejo um fio de luz sequer no final…
No mesmo momento que caminha, a jovem move a palma da mão até o queixo ao simular um semblante ponderativo.
”Se é o que tô pensando, é bem provável que aqui haja um tipo de magia espacial, bem similar ao que tem no Sephyra…”
Em Worldland Sephyra Online, magias espaciais são comumente usados para gerenciar masmorras autônomas, — criados pelos próprios jogadores. Para não depositar muitos recursos em um local pequeno, ao invés de expandi-lo manualmente, utilizam a base da magia espacial para aumentar seus parâmetros internos. Algo que Evangeline pensa que é o caso do corredor.
”Se for realmente uma magia espacial, isso explicaria o fato daquele pequeno morro do lado de fora abrigar um saguão da entrada tão maior que o normal. Afinal, se não estiver equivocada, o pequeno morro tem aproximadamente dez metros de altura com quinze de comprimento. Porém, o salão tem o triplo disso… sem contar esse corredor enorme que abranja muito mais espaço retilíneo…”
Removendo a mão do queixo ao voltar se concentrar nos arredores, Evangeline conclui sua ponderação com uma expressão intrigada.
”A cada momento que me deparo com as magias deste mundo, percebo o quão próximo esse lugar está do Sephyra…”
Caminhando por um longo período que se parece uma extensa hora, Evangeline perde a concentração dos seus sentidos aumentados. O fato desse porém é devido a sua impaciência com o local interminável.
Com apenas uma pequena luminária a seguindo constantemente, — que mal ilumina três passos a frente e atrás, Evangeline revolta-se com o corredor, aparentemente sem fim.
— Mas que diabos?! Tenho certeza que estou caminhando faz duas horas sem parar, mas o corredor não demonstrar ter final algum! Faria mais sentido se fosse uma decida, porém, o local é completamente reto, sem relevos ou curvas… Então… como!?
Parando no local para tentar pensar em algo que possa adiantar seu percurso, a jovem encara sua belas pernas, bolando um esquema que não havia pensado antes.
— Espera aí! Já sei!
”Parando pra pensar agora, a bola de fogo mal ilumina alguns passos na minha frente, porém, devido ao meu controle de fogo, consigo guiar a bola de fogo sem ter que concentrá-la na minha mão. Com isso em mente, se eu invés de fazê-la me seguir, arremessá-la na minha frente?”
Olhando diretamente para a frente ao observar o escuro interminável, enquanto o mesmo faz o mesmo de volta até ela, Evangeline monta um plano.
”Arremessando a bola de fogo, a visão iluminada não ficará limitada apenas alguns passos. Além, é claro, conseguirei ver mais além, e com a minha velocidade será mais rápido de chegar no final deste corredor!”
Ao finalizar sua cadeia de plano, Evangeline guia a mão diretamente para a bola de fogo flutuando ao seu lado. De um segundo ao outro, a jovem concentra mais chamas na esfera, — a deixando um pouco mais forte e iluminada.
No momento seguinte, ao finalizar o fortalecimento de chamas, a meio-elfa a arremessa diretamente para o nada em sua frente, fazendo a pequena e concentrada bola de fogo voar rapidamente em uma trajetória reta, — iluminando de acordo como ela ponderou.
— Então, vamos lá!
Ao perceber que a esfera de fogo começa a iluminar os pontos que estavam cegos anteriormente e aprender que não há buracos ou obstáculos nessas partes, a jovem se apressa a ativar sua habilidade de movimento ao ir alcançá-la, diminuindo a intensidade da velocidade, para não apagar a esfera por acidente.
Cerrando os punhos ao jorrar determinação do seu ser, Evangeline esboça um sorriso confiante ao declarar animadamente sobre o sucesso do seu plano.
— Desse modo, certamente chegarei no final mais rápido do que antes…
Ou foi o que ela pensou.
Segundos… minutos… horas… Durante longas e massivas horas de puro movimentos excessivo que percorrera no aparentemente corredor infinito e escuro, Evangeline freia seu movimento para recuperar seu fôlego, quase esgotado.
— Haaaa…! Haaaa…! Haaaa…!
Sons de respirações contantes e pesadas ecoam por todo local e, como resposta a parada repentina da jovem, a bola de fogo continua seu percusso sozinha. Com o intuito de desbravar o mais puro nada, — ao sumir da vista da jovem em poucos minutos.
— Haaa…! Cara… não é… possível que esse… lugar! Que esse lugar seja tão grande assim…!
Com uma certa dificuldade em proferir suas palavras devido à exaustão aparente, a jovem cai de bunda no chão para tentar se recuperar.
— Oito… não… doze horas! Corri por doze horas direto! E ainda não vi um sequer final nesse corredor! Não pode ser possível que tenha uma magia espacial tão imensa aqui… É praticamente impossível!
Completamente descrentes dos fatos, Evangeline tenta negar a realidade em sua visão, para tentar se consolar de sua impotência.
— Droga! Gastei muita mana correndo! Ainda bem que não tem nada nesse lugar além do ar respirável… É melhor eu meditar para recuperar minha mana… Quando estiver cheia novamente, penso em outro meio de encontrar o final disso…
Endireitando sua postura no chão, ao realizar a posição de lótus, Evangeline começa a meditar para recuperar a mana gasta, ao realizar a técnica de absorção de mana da atmosfera.
No processo de fechar os olhos, a jovem se entrega por completo pela exaustão, ao sentir, o que se chama de ‘prazer’, ao finalmente ter um bom momento para descansar. Contudo, algo torna a chamar sua atenção.
Uma silhueta retangular bem conhecida por ela surge em sua mente.
Como um ato de reflexo, após notar a figura em sua mente, a jovem abre os olhos em resposta, para confirmar que não estava dormindo por acidente em um local desconhecido.
”Estranho… o que era aquilo? Por um momento achei que tinha dormido… mesmo estando cansada agora, dormir em um lugar desses é muito perigoso…”
Fechando novamente os olhos, — vagarosamente, a jovem começa a se concentrar novamente em observar a mana da região. Todavia, a silhueta novamente surge em sua mente.
Um pouco mais calma que segundos atrás, ao confirmar que não está dormindo, Evangeline começa a observar as características dessa silhueta em sua mente, — que, de um momento ao outro, começa a ficar ainda mais nítido.
”Uma… porta?”
Visualizando completamente a silhueta retangular em sua mente, a jovem concluir ser uma espécie de porta. No entanto, as características não param por aí. Tendo por volta dos seus 200 centímetros de altura para 60 centímetros de largura, — a porta, que possui uma coloração braco quartzo, com maçaneta de puro ouro, emana uma presença simpática que parece chamá-la para perto.
”Que curioso, que sentimento é este que essa porta está liberando…? Parece que ela está me implorando para ser aberta… Então, se eu abri-la… Não! E se for uma armadilha e…”
Ponderando sobre o que pode ser tal porta que surgira em sua cabeça, a jovem inicia uma questão.
”Se essa porta for realmente uma armadilha, o que será que pode acontecer? Se ela está em minha mente, não tem como me ferir se tiver algum tipo de armadilha ou mostro do outro lado… E, também…”
Levantando-se do chão ao fazer um percurso em volta da porta, a jovem conclui que a tal não tem ligamento em lugar algum.
”… Essa porta não tem fixação em nada… Ela simplesmente está no centro. Porém, ela também pode ser algum tipo de dica… Se eu posso considerá-la como armadilha, ela também pode ser um tipo de saída…”
Nesse momento um sentimento mais abrangente emana da porta. Como em resposta aos pensamentos de Evangeline, a porta em questão, começa a emanar um sentimento suplicante para ela, pedindo-a para abri-la.
”Não entendo… esse sentimento… será que é para realmente abrir isso?”
Um grande dilema percorre o ser de Evangeline. O fato de tal porta ser um tipo de armadilha começa a assombrá-la e, em simultâneo, o sentimento que suplica para a abrir também começa a atormentá-la.
”Aaaah…! Que coisa! Quer saber? Não ligo! Já estou aqui sei lá quantas horas sem nenhuma opção de saída… e essa bendita porta aparece só para me atazanar com isso! Não tô nem aí, se é para abrir a porta, que se dane!”
Ignorando completamente os perigos que possam haver no outro lado da porta, Evangeline inicia uma caminhada até ela.
Bem próximo da bela porta de quartzo, a jovem agarra a maçaneta dourada com afinco. Contudo, antes de girá-la para abrir a porta, abre os olhos e o que percebe a deixa surpresa.
Enquanto sente no seu aperto a forma da maçaneta, em seu olhos não enxerga nada além do vazio, — concluindo em seguida que isso pode ser algo referente a este lugar.
— Estranho… eu consigo sentir a maçaneta, porém, não consigo enxergar nada além do escuro… Talvez essa porta faça parte de um tipo de teste… Então, se eu abri-la.
Com grande convicção, Evangeline gira fortemente a porta e a puxa para abri-la. E, pela surpresa dela, não encontra nada do outro lado.
— Mas… o quê…
Completamente confusa após aprender não ter nada do outro lado, a jovem atravessa a entrada para tentar entender o que aconteceu. Entretanto, ao abrir os olhos para pensar corretamente, percebe que não se encontra mais na imensidão escura interminável, mas um corredor parcialmente iluminado com um final visível!
— Então era isso mesmo! Como não pensei nisto antes? Nunca foi uma magia espacial e sim uma ilusão… ou, talvez, as duas coisas?.
Ao aprender por completo que toda a trajetória feita anteriormente não se tratava só de uma magia espacial e sim uma de ilusão em conjunto, Evangeline fica completamente aliviada em sair do corredor que aparentemente não possuía fim.
Virando a visão em direção ao final do corredor, a jovem observa uma espécie de entrada, parcialmente destruída, que emite uma luz forte.
Caminhando até o local, nota algumas sombras perambulando numa espécie de sala. E, ao ficar bem próximo da entrada, percebe algo e instantaneamente se distancia em resposta.
Olhando fixamente para entrada como se esperasse algo sair de lá, Evangeline murmura algo, após concluir o que viu dentro da sala iluminada.
— Então, aquilo lá dentro é…
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