Capítulo 66 ❃ O atrito entre Irmãs.

Uma corrente de ar gélida começa a percorrer o corredor. A causa desse vento é desconhecida, pois devido a uma barreira que impede a jovem de ver a parte inicial do corredor, não consegue identificar a origem exata.
Mesmo não estando mais cercado pela escuridão interminável de outrora, a sensação de solidão ainda persiste no local. Contudo, diferente de antes, os sons de passos e grunhidos retiram o silêncio tranquilo, — quase mórbido, de toda região.
Após algumas horas de concentração na sua técnica de absorção de mana, um dos últimos fragmentos da mana que brilha no ambiente, entrega-se por completo ao se dirigir e adentrar com tudo no corpo da meio-elfa.
Em seguida a este momento, ela abre os olhos e um cintilar de luz carmesim pisca em suas órbitas, — indicando que sua mana está completamente regenerada, até tento mais que antes.
Removendo-se da sua posição de lótus sem mesmo se levantar do chão, a jovem, ainda com as pernas cruzadas, eleva a palma da mão até o queixo. Naturalmente, ela começa a questionar-se sobre a técnica de absorção de mana.
— Eu já havia testado uma vez ou duas na sala da mestra Áurea está técnica, mas não esperava que demoraria tanto para encher toda a minha reserva. Contudo, eu me surpreendo mais com a eficiência dessa técnica… Não só recuperei o que eu esgotei na minha corrida, mas também parece que eu aumentei levemente minha capacidade de armazenamento de mana…
Liberando um leve sorriso de satisfação com a nova capacidade ganha, Evangeline encara novamente a entrada para a sala com uma expressão ponderativa.
— Até esse momento não consegui sentir nenhuma partícula de mana dentro daquela sala, algo que é meio estranho. No momento que eu lutei com o monstro taelho e aquela lacraia, eles liberaram mana inconscientemente. Concluo que seja usado para fortalecer seus ataques, igual ao que o Lukas disse sobre os fortificadores…
Removendo a mão do queixo e movendo-o para a perna ao se apoiar em uma posição torta, a jovem continua sua suposição.
— Se for para pensar nessa lógica, mesmo que o animal ou humano não use mana, a mana presente no núcleo, no centro desse ser, ainda irá jorrar, mesmo que seja em pouca quantidade. Entretanto, ainda que eu tenha esse fato em mãos, naquela sala… eu não sinto nada.
Nesse momento, Evangeline olha para o teto cavernoso do corredor e relembra da presença inexistente de Teldra e sua força surreal.
Uma pequena gota de suor de insegurança escorre no canto do seu rosto ao realizar um sorriso amargo.
— Espero que eles não sejam tão fortes quanto a Teldra. Por que se forem…
De repente, um som metálico se ressalta no interior da sala iluminada, — chamando a atenção da meio-elfa para a entrada, que a encara sem piscar.
Poucos segundos se passam dela encarando a entrada, até que uma silhueta humanoide, — ainda encoberta por sombra, surge e coleta uma espécie de lâmina curta do chão, — distanciado-se em seguida do local.
Ao presenciar a figura humanoide nitidamente, Evangeline realiza outra de suas expressões ponderativas ao se questionar sobre este ser envolto em sombras.
”O que será que é aquilo?”
Do lado de fora, mais precisamente na entrada da masmorra amaldiçoada pela deusa, uma jovem mulher com aparecia madura, de olhos dourados, cabelos verdes e vinhas que sobem da sua canela até o topo do pescoço como um belo vestido, começa a suspirar, — demonstrando um semblante de culpa.
Dando a volta ao ficar de costas com o portão negro, que absorve toda e qualquer luz do saguão, Teldra começa a caminha para fora do local, — em passos vagarosos, ainda demonstrando um semblante amargo.
A cada passo que ela dá em direção a saída, pequenos flashs de memória sobre sua amiga meio-elfa cruza a sua mente. Contudo, a que ela presta mais atenção nessa cadeia de imagens soltas é o embate que Evangeline realizou com o gigante Ulagg na floresta.
Naquele momento, um forte sentimento de raiva e ódio estava presente em seu coração e uma tristeza enorme pairava em seu semblante. Visto que, a qualquer momento naquela luta poderia resultar na morte de sua amiga. No entanto, ao perceber que Evangeline ainda estava viva, ficou feliz, — extinguindo completamente suas emoções anteriores e, freando o ataque do gigante no último segundo.
Nesse momento, ao se relembrar de tais emoções, a dríade morde o canto do lábio com grande fúria e frustração.
Após alguns minutos, a bela dríade sai por completo da caverna, — sentindo de imediato os calorosos raios solares que chovem da copa das árvores, algo que a faz querer olhar para cima e presenciar a vista com os próprios olhos. Todavia, antes mesmo dos seus olhos dourados se encontrarem com as folhas esmeralda da copa das árvores, duas silhuetas, uma de uma mulher e outra de uma criança, prende sua visão
Esta mulher é bem semelhante a ela, porém o destaque em seu ser é seus longos e belos cabelos verdes, envoltos e vinhas e galhos. E, Em sua cabeça, há uma grande vitória regia com uma flor de lótus, simulando um belo chapéu.
Com um vestido lima bem grande que se arrasta pelo chão, esta bela mulher, que pertence a mesma raça de Teldra, a encara com uma expressão enraivecida, — complementando com sua fala.
— Fracamente, Teldra. Como você consegue confiar naquele troço!? E ainda chamar de “amigo”?
— Não sei do que está falando, minha irmã mais velha…
Revelando um sorriso zombeteiro no rosto, Teldra finge bancar a idiota ao não entender a pergunta de sua igual.
— Você… é uma tola!
— Ah… eu sou, é…?
Uma grande aura tirânica de atrito começa a colidir entre as duas, até que de repente…
— Minhas irmãs, por favor, se acalmem!
A voz da pequena dríade ao lado tenta apaziguar as duas beldades.
— Hmph!
Bufando ainda com raiva de Teldra, a dríade vira o rosto para o lado, enquanto a pequena realiza um sorriso sem graça pelas ações infantis dela.
— Hehe…
Dando um passo para a frente, Teldra, diminui sua aura para tomar a iniciativa na conversa e questionar as duas sobre a sua aparição.
— Treeni e Treena, o que estão fazendo nesta área? Vocês duas sabem que o lado norte da Floresta de Arrow é a minha jurisdição!
Revelando uma carranca séria, tentando repreender a aparição das duas dríades no seu recinto, Teldra as questiona sobre suas presenças sem aviso prévio.
— Hmph!
Contudo a Treeni, bufando com grande raiva, recusa-se a revelar. Em contrapartida, a pequena dríade ao seu lado, ao olhar a maturidade duvidosa de sua irmã com uma expressão decepcionada, responde rapidamente à questão.
— Bem, me desculpe por aparecer sem avisar, irma mais velha, Teldra. E desculpe por trazer a irmã Treeni comigo, mas esse assunto é importante e, eu estava prestes a contatar você um pouco antes, mas aquela majin estava com você na hora. E, a propósito, este assunto envolve vocês duas, — Treeni e Teldra…
— Envolve nós duas? O que você quer dizer com isso?
Ressaltando um semblante confuso, Teldra repete a última sentença de sua irmã em sentido de pergunta.
— Sim… Aconteceu a poucos dias na área sul, no meu recinto. Um grupo de pessoas acabou rompendo o selo da irmã Treeni e o selo do mestre no interior da caverna. Além disso, eles conseguiram entrar na masmorra amaldiçoada, mesmo com o empecilho dos atributos no portão…
— Então você está me dizendo que tem mais pessoas dentro da masmorra, além da…
Antes de finalizar sua sentença, Teldra olha rapidamente para a entrada da caverna com um semblante preocupado. Se ela soubesse que havia invasores dentro da masmorra, certamente avisaria Evangeline antes dela mesma entrar. No entanto, ao aprender disso horas após, a deixa angustiada com o que pode acontecer a ela.
Observando a expressão aflita de Teldra, — que encara sem descanso a entrada da masmorra com uma ânsia crescente de entrar, Treeni, bufando raivosamente para esta ação, tenta adverti-la
— Hmph! Sabia, você está mais se preocupando com aquela coisa que você chama de amiga, do que com o rompimento do selo do mestre. Se o mestre tivesse aqui… com certeza ele a puniria por isto!
Retornando o olhar para sua irmã Treeni, Teldra, — ressaltando um olhar de raiva, a retruca.
— Não chame ela de coisa… ela é minha amiga! E se não fosse por causa dela, eu e… toda a região norte da floresta estaria infestada de monstros descontrolados.
— Então foi por isso que você fundiu dois espíritos na alma dela, não é? Além de dar o que nós, dríades, temos de mais poderoso, uma bênção? O que está planejando? Você acha que pode…
— Calada! Não venha encher a boca para falar o que quiser! Sei muito bem que foi você que trocou a rota dela para ela se encontrar com a aldeia dos gigantes! Você sabia muito bem que ela é importante para mim! E sim, ela tem minha benção, algo que nenhum espírito pode violar, e mesmo assim tentou matá-la com os meus próprios marcados?
— Hmph! Não sei do que está falando… E mesmo que eu tivesse envolvida nisso… seria melhor que eles se matassem e parassem de infestar a floresta do mestre com sua prole desprezível…
— Sua…
Elevando novamente sua pressão tirânica por toda a floresta, — espantando de imediato todos os animais da região que correm por suas vidas, devido à pressão imensurável e a sede de sangue no ar, Teldra tenta avançar contra sua irmã. Todavia, a pequena dríade de aparência infantil, para novamente o atrito entre as duas, porém dessa vez, ela usa sua aura mágica junto as suas falas.
— Por favor, minhas irmãs, acalmem-se!
Neste momento, diferente de sua doce voz infantil, uma aura extremamente imensurável cobre completamente toda a Floresta de Arrow. Dos confins do solo até o alto das árvores, todos os seres vivos dentro da região ficam paralisados com tamanho poder, — chamando a atenção de Teldra e Treeni no processo.
— Treena…
Levemente assustadas com o poder além de suas capacidades, ambas as dríades encaram a pequena com grande admiração e temor.
— Certo… Agora que tenho atenção de vocês duas. Irmã Teldra, por favor, peço que me ajude na vigília na região sul, e irmã Treeni, ficará na região norte na sua ausência até nos encontrarmos novamente com aquele grupo. Afinal, ela é a única de nós que não tem jurisdição nesta floresta.
Levantando as sobrancelhas em resposta a surpresa de como Treena se adaptou ao conflito com a calma, além de colocar novos objetivos para as duas, Teldra e Treeni assentem, um pouco desconfortáveis em levar sermão de sua irmã mais nova.
— Tudo bem…
— Claro, por que não?
Revelando um sorriso satisfeito em seu semblante, Treena desfaz sua aura tirânica no local, que no mesmo momento faz com que metade dos animais em volta desmaiem de exaustão.
Aproximando-se de Teldra, a pequena dríade, segura a mão dela e, em um piscar de olhos, um clarão branco acende entre ambas, que no momento após, as faz desaparecer do local, — deixando Treeni no local sozinha.
Nesse momento, ela começa a encarar a entrada da caverna com os olhos estreitos ao lembrar da imagem de Evangeline.
”O que será que tem nessa majin que faz a Teldra a protegê-la tanto assim?”
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