Índice de Capítulo


    Num lugar ermo, bem longe da passagem que liga o corredor inicial da masmorra, jaz o corpo de um soldado, — todo encolhido e revirando-se em meio a um ambiente escuro, cercado por sombras densas e turvas. 

    O motivo de seu movimento desordenado e desconcertante é óbvio como a luz do dia, — trata-se de um grito agudo e melancólico que o acorda abruptamente de um sono profundo.

    Os olhos do soldado se abrem de repente, e um brilho vermelho e sinistro, que parece carregar uma certa inteligência, se espalha pelo ambiente escuro ao seu redor.

    Porém, nada faz sentido para o soldado agora desperto. 

    Quem é ele? Onde se encontra? E de quem partiu aquele grito que o arrancou do sono profundo? 

    Sua mente em branco não é capaz de trazer à tona qualquer lembrança do passado, e ele sequer consegue imaginar como conseguiu abrir os olhos naquele momento.

    Naquele lugar mergulhado em trevas, onde a luz é inexistente, o soldado contempla apenas a composição do seu próprio corpo, através dos seus olhos vermelhos. 

    Uma pele fina e decomposta recobre seus ossos esqueléticos, que se destacam nus e sem músculos aparentes. Os ligamentos que unem seus membros são frágeis e permitem a exposição dos nervos. 

    A armadura que um dia o protegeu agora está completamente corroída pelo tempo.

    Embora um ser humano desperto nesse ambiente tenebroso entraria em pânico ao observar a deplorável condição do próprio corpo, o soldado morto-vivo não é capaz de sentir tais emoções como medo ou preocupação. Ou assim se pensa. Mas, estranhamente, ele treme visivelmente, como se estivesse apavorado com algo invisível. Afinal, se não sente medo… 

    … Por que sua forma trêmula e descompassada contradiz essa ideia?


    Enquanto o zumbi permanece imerso em dúvida e incerteza, a poeira densa paira no ar, agitada pela explosão de uma das colunas da sala. 

    O estrondo é resultado de uma batalha entre o soldado morto-vivo e outro ser, portador de um círculo de esferas de fogo, que agora jaz imóvel no local, — observando seu próximo alvo. 

    Lentamente a poeira começa a assentar, revelando uma cena de devastação deixada pelo confronto. 

    O solo está marcado por pegadas, a parede oposta é rachada e pedaços de pedra estão espalhados pelo chão. O zumbi olha ao redor, tentando compreender o que aconteceu e, sobretudo, quem é ele e qual é seu propósito.

    A densa nuvem de poeira começa a se deslocar para fora da sala, seguindo em direção ao corredor escuro que leva à saída do lugar. Pouco a pouco, a duna de partículas levantadas pela explosão segue adiante, avançando por entre as paredes de pedra bruta e as trevas cavernosas.

    O controle habilidoso de Evangeline sobre seu atributo de ar torna a tarefa de movimentar toda a poeira para fora da área uma mera brincadeira em seus olhos. Para alguém como ela, cuja habilidade mágica é capaz de criar e manipular gases complexos, a ação de controlar um pouco de poeira é trivial.

    No meio desse tempo, um sorriso demoníaco aflora no rosto belo e jovial de Evangeline, enquanto a figura do zumbi surge vagarosamente em seus olhos. 

    Mesmo portando a técnica do sentido espiritual, que lhe permite aumentar exponencialmente todos os seus sentidos até certo ponto, ter visão de sua presa através da poeira que se move lentamente com seus próprios olhos deixa-a animada com o embate que se aproxima.

    No entanto, mesmo com suas habilidades, ela espera ansiosamente pela batalha contra o zumbi. Com um sorriso demoníaco nos lábios, ela aguarda o confronto com uma mistura de antecipação e excitação.

    Enquanto os últimos vestígios de poeira começam a ser arrastados para fora da sala, Evangeline volta a focar na questão da missão surpresa do sistema, que se torna o centro da sua atenção.

    — Então… eu tenho que matar 25 desses figurantes… não é? Ah, não! Erro meu. Um já foi, só me resta eliminar mais 24 para ganhar o bônus de experiência…

    Numa explosão momentânea de lucidez, um sorriso sádico se abre nos lábios de Evangeline, seus olhos rubros irradiando uma intenção assassina que transmite um arrepio gelado ao soldado zumbi. 

    A expressão demoníaca em seu rosto se intensifica a cada segundo, enquanto ela encara a criatura morta-viva com um desejo insaciável de destruição.

    Apesar de nunca ter experimentado tais sentimentos, o zumbi sente um calafrio percorrer toda a sua carne morta e tenta ignorá-lo para avançar contra Evangeline. 

    Porém a cada passo que dá em direção a ela, a tensão se torna mais palpável e pesada, fazendo com que o monstro pareça caminhar no fundo do mais profundo oceano. 

    Sua mente zumbificada luta para entender o que está acontecendo, mas sua natureza instintiva o faz continuar avançando, — ignorando as dúvidas e o medo que agora o afligem.

    Apesar de não demonstrar um controle consciente sobre a pressão imposta por sua base mágica, Evangeline já havia exibido tais habilidades anteriormente ao lidar com os cavalos roubados do cocheiro. No entanto, naquela situação, sua mana estava completamente suprimida. Porém agora, todas as suas forças estão libertas e ela usa seu poder para forçar o monstro a lutar contra ela em igualdade de condições. 

    É como se a jovem tivesse finalmente encontrado seu verdadeiro potencial, seu poder latente finalmente liberado. O resultado é uma sensação de força invencível, emanando de seu corpo como uma aura de fogo ardente, — pronta para incinerar tudo em seu caminho.

    Agitando a cabeça parcialmente carbonizada para se livrar do medo prematuro, o zumbi se dirige para o lado da sala, perto da coluna derrubada, e se aproxima dos restos do seu companheiro, que agora não está mais lá. 

    Finalmente, ele agarra a espada, que está jogada ali perto, como se estivesse buscando uma chance para se defender.

    Nesse instante, o zumbi solta seu escudo da mão esquerda com um movimento brusco, arremessando-o para longe do campo de batalha. Em seguida, ele rapidamente pega a espada próxima a ele, empunhando-a com ambas as mãos e deixando de lado qualquer tipo de defesa para se concentrar apenas no ataque.

    Com olhos atentos e ansiosos por algo inovador, Evangeline observa as ações do zumbi, que demonstra comportamentos peculiares. 

    Ao contrário do outro morto-vivo que atacara por impulso, este analisa o embate meticulosamente, como se treinasse seu entendimento para uma oportunidade futura. Evangeline percebe imediatamente o que ele planeja ao observá-lo adotar uma postura completamente aberta, pronta para receber o ataque da jovem.

    — Então você decidiu abandonar sua defesa e apostar tudo no ataque? A cada momento você me surpreende com suas ações. Você deixou seu companheiro perder só para aprender meus movimentos, não é?

    Após o questionamento, uma expressão de surpresa, mas não de medo, aparece no rosto putrefato do zumbi. É como se ele tivesse compreendido as palavras da jovem, apesar de não conhecer nada do que ela fala. Talvez tenha sido algum instinto que o guiou ou talvez… 

    Algo mais inexplicável?

    — Não sei quão rápido e habilidoso você é quanto o outro, mas não vá pensando que serei tão mole quanto antes. Afinal, a minha luta de antes me deixou claro que não posso subestimar sacos de ossos como vocês, ainda mais quando vocês fingem não saberem andar direito…

    Assim que termina sua declaração, Evangeline rapidamente guarda as duas adagas nas respectivas bainhas e, em seguida, aperta os punhos com força, concentrando uma pequena quantidade de poder mágico bruto em seu interior. 

    A tensão em seu corpo aumenta à medida que ela se prepara para programar seu ataque.

    Passados apenas alguns minutos, uma corrente de partículas de água começa a se aglomerar e a tomar forma ao redor das mãos dela, criando uma esfera de água que, mesmo sólida como gelo, ainda é capaz de fluir.

    A bolha de água que se forma em torno das mãos da meio-elfa começa a ganhar vida própria. Partículas da substância líquida se aglomeram e se condensam em uma massa compacta, dando origem a uma estrutura esférica, sólida como gelo. 

    Mas algo está acontecendo dentro dessa esfera. 

    Bolhas menores começam a fervilhar e borbulhar, criando ondulações e ondas que se propagam para todas as direções. É como se a água estivesse em ebulição, mas sem evaporar, — uma cena espetacular e inédita aos olhos do zumbi.

    As bolhas de água fervente, — em um processo gradual e constante, crescem em tamanho e se esticam em uma forma característica, alcançando um ponto máximo de expansão. E assim, pouco a pouco, uma nova forma é moldada, até que ela esteja completamente definida e pronta para ser usada.

    Evangeline abre suas mãos, revelando em cada uma delas um chicote de água que começa a se formar. 

    A água estica e se molda em um chicote de cerca de quatro metros de comprimento, com três seções distintas nas pontas. Nestas seções, pequenos construtos sólidos de gelo seco brilham, — emitindo uma sutil energia de poder espiritual.

    Subitamente, uma brisa suave e morna sopra pelo local, — acariciando delicadamente uma das mechas da franja da meio-elfa.

    Evangeline imediatamente arruma sua franja, penteando-a com as costas da mão, e nota algumas gotas de suor em sua testa. Ela se sente exaltada por conseguir escapar e esquivar-se dos ataques do primeiro zumbi, e por isso, decidiu usar armas de longo alcance como os chicotes de água que acabara de criar.

    Com um sorriso confiante no rosto, Evangeline se prepara para o duelo iminente, sentindo a ansiedade crescer a cada segundo. Ela se pergunta como esse monstro irá lutar, considerando seu comportamento peculiar em comparação ao zumbi anterior que atacara por puro impulso. 

    Com essa incerteza em mente, ela se concentra ainda mais, pronta para enfrentar o desafio que se aproxima.

    O semblante confiante de Evangeline é recebido com um lampejo de alegria que percorre os olhos vermelhos do zumbi, que retribui com um sorriso satisfeito. 

    — Hoh… O que será isto?

    A jovem fica perplexa diante dessa reação, se questionando o motivo pelo qual ele estaria sorrindo para ela.

    Esta é a luta que ele anseia há tanto tempo, é tudo que ele conhece e está enraizado em sua essência desde a sua criação no interior da masmorra. E agora, ter a chance de lutar, mesmo que seja para a sua própria morte, traz-lhe uma sensação de felicidade incomparável. 

    No entanto, como um morto-vivo pode expressar emoções como essas?

    Essa questão invade a mente de Evangeline, que observa com empolgação e curiosidade a atitude incomum do zumbi. Talvez haja algo mais do que apenas instinto animal nesse ser, algo que a meio-elfa ainda não consegue compreender. Mas uma coisa é certa, ela não pode deixar sua guarda baixa, pois esta é a luta mais perigosa e desafiadora que já enfrentou.

    — Isso vai ser bem interessante…

    Evangeline segura com toda a força os cabos dos chicotes, assumindo uma postura de combate com os braços abertos e o peito inflado. Ela balança freneticamente os chicotes, — como se estivesse tentando acordar duas serpentes de um profundo sono. 

    Enquanto isso, o morto-vivo também se prepara para a batalha, apertando com firmeza suas armas curtas em cada mão. Em seguida, avança rapidamente em direção a meio-elfa, — pronto para o confronto.


    PLAFT!

    PLEFT!

    Um padrão de arcos de água acompanhados de partículas brilhantes enfeita toda a sala, criando uma imagem hipnotizante.

    Os chicotes, ao serem impulsionados contra o chão com grande força, provocam um estalo agudo que ressoa por toda a sala, ecoando por todos os cantos e alcançando até mesmo o corredor cavernoso. 

    O som se espalha como um trovão, reverberando nas paredes e preenchendo o ambiente com uma vibração intensa.

    A cada chicotada desferida no solo, o impacto ressoa com um estalar penetrante e abrasivo, ecoando pela sala e fazendo com que o chão trema e ceda sob a força dos golpes. 

    Mesmo sendo rocha pura, o solo racha e se fragmenta como se fosse um amontoado de areia seca, cedendo a cada golpe desferido pela meio-elfa. 

    As rachaduras vão aumentando de tamanho e se espalhando em todas as direções, transformando-se em amontoados de pedras que se espalham pelo chão.

    Enquanto mais destroços se acumulam no chão com cada golpe dos chicotes, Evangeline aproveita as pontas de gelo seco para lançá-las ao ar e, junto com elas, pedaços de móveis se elevam no ar com cada movimento. Mas esses detritos voam em uma direção precisa, convergindo para o único ponto que interessa… 

    … A posição do zumbi que avança implacavelmente em sua direção.

    Cada fragmento de pedra, madeira e solo voa em direção ao soldado morto-vivo, não deixando nenhuma área livre para que ele possa se aproximar e golpeá-la. 

    A batalha é unilateral, favorecendo a pessoa que porta a arma mais longa, já que Evangeline mantém uma distância segura durante todo o embate. 

    Enquanto isso, o monstro tenta avançar contra ela, mas é impedido pelos destroços que são arremessados em sua direção.

    Cada destroço que se aproxima do zumbi é uma ameaça em potencial, e ele se defende desajeitadamente, com suas duas espadas. Porém, a defesa não é tão efetiva quanto um escudo, e isso fica evidente nos momentos em que ele falha em bloquear um objeto que o atinge. Mas quando os destroços seguem trajetórias mais previsíveis, o morto-vivo é capaz de cortá-los rapidamente com suas armas.

    Enquanto seu colega que se mostrara desajeitado e pouco estratégico, este zumbi parece possuir uma inteligência além do esperado para um morto-vivo. 

    A cada golpe que ele falha em esquivar ou bloquear, na próxima investida ele se mostra mais astuto e evita ser atingido pelo mesmo tipo de ataque. Evangeline percebe que precisa manter a distância segura, evitando o confronto direto com o inimigo e buscando novas táticas para neutralizá-lo. 

    A cada rodada, ela se afasta um pouco mais do zumbi, que se mostra cada vez mais perigoso e imprevisível.

    ”Interessante, esse monstro parece mais inteligente que o primeiro… Mesmo não sendo tão rápido quanto o outro, ele se move e defende conscientemente, além de aprender com os erros no processo… Ele parece agir como um humano… Será que ele é um tipo de variante? Ou talvez um… draugr?”

    Evangeline acredita que, como aventureiros que morreram dentro da masmorra e foram presos em seus corpos devido à maldição da deusa Frua, os draugrs deveriam ter uma certa inteligência ou até mesmo a capacidade de falar. 

    Essa hipótese é baseada na lógica de que, mesmo depois de mortos, eles ainda possuem suas almas e memórias intactas, e, portanto, ainda devem ser capazes de raciocinar. No entanto, até agora, nenhum dos mortos-vivos com quem ela se deparou mostrou alguma evidência de habilidades cognitivas.

    Até agora.

    Evangeline salta habilmente da esquerda para a direita, em movimentos de zigue-zague, enquanto continua arremessando destroços do chão em direção ao zumbi com seu chicote. 

    A cada lançamento, ela calcula com precisão o tempo e o ângulo de sua jogada para que a pedra ou mobília atinja o alvo com precisão.

     A cada objeto destruído, ela o recolhe rapidamente e o arremessa novamente no monstro, repetindo o processo diversas vezes. 

    A sua precisão é incrível, acertando o zumbi uma vez e outra, mas é a ponta do chicote que emana um poder sutil de energia espiritual que torna esses destroços muito mais fatais do que meros escombros soltos.

    Inesperadamente, enquanto se movia de forma errática, Evangeline perde o equilíbrio e tropeça em um dos buracos criados por ela mesma no chão. Porém, ela rapidamente recupera a estabilidade e, apesar de não conseguir arremessar outro lote de escombros no zumbi, consegue voltar a se movimentar. 

    Essa pequena margem de abertura criada pelo seu momento de desequilíbrio oferece uma chance para o soldado morto-vivo tentar avançar na batalha.

    Aproveitando a pequena margem de abertura, o zumbi avança rapidamente em direção a meio-elfa, com os dois braços ligeiramente dobrados e as duas pontas das espadas apontando para frente, — parecendo um touro enfurecido ansiando pelo vermelho. 

    Assim como seu companheiro, ele deseja terminar a luta com um único e preciso golpe, demonstrando uma determinação assustadora em seus olhos vermelhos.

    O zumbi se aproxima lentamente, com passos vacilantes. 

    Apesar de não sentir fadiga por estar morto, os ligamentos de suas juntas estão todos rompidos devido aos destroços que o atingiram, tornando seus movimentos ainda mais instáveis e desajeitados.

    A apenas alguns passos de distância da jovem, o zumbi interrompe sua investida e desloca-se rapidamente alguns passos para o lado, esquivando-se habilidosamente de uma nova série de arremessos de destroços que agora vêm com muito mais força e velocidade. 

    Embora consiga desviar da maioria dos objetos, alguns deles atingem seu ombro direito com tanta força que o deslocam e o fazem recuar momentaneamente.

    Ao perceber que seu braço direito está imobilizado, o zumbi não hesita em tomar uma decisão drástica; — com um rápido movimento da outra espada, ele decepa seu próprio membro, eliminando o peso que poderia prejudicar sua agilidade nas esquivas. 

    É um ato insensível, mas eficaz para aumentar suas chances de sucesso no combate.

    Qualquer pessoa que estivesse presente no mesmo ambiente que Evangeline certamente ficaria chocada ao testemunhar um monstro de masmorra usando uma de suas espadas para cortar o próprio braço, a fim de obter mais agilidade em seus ataques. 

    Embora esse tipo de ação seja comum para essas criaturas, pois elas não têm preocupações com dor ou danos físicos, a decisão de sacrificar uma parte do próprio corpo para melhorar sua eficácia de combate é verdadeiramente notável e incomum. No entanto, a meio-elfa já identificou o zumbi como uma variante e, portanto, não se surpreende tanto com essa atitude, apesar de parecer desapontada com algo.

    O braço do zumbi então cai sob o chão.

    Com o braço do zumbi decepado, Evangeline tem uma excelente oportunidade de atacar e finalizar esse combate longo o mais rápido possível. Todavia, ela espera pacientemente enquanto o morto-vivo se apronta novamente para continuar a batalha. 

    Embora sua espera possa parecer arrogante para o monstro, que acabou de se mutilar para obter uma vantagem tática, essa luta não é mais uma simples luta entre um monstro de masmorra e uma pessoa, — é um duelo que demonstra a capacidade de ambos.

    ”E agora? O que será que ele fará sem o outro braço?”

    A questão paira rapidamente na mente da jovem, mas logo é dissipada quando o monstro responde com uma ação inesperada.

    Imediatamente após a espada cair no chão, o zumbi rapidamente se abaixa e agarra-a com a mão livre, recuperando-a para seu uso. Essa ação surpreende Evangeline, uma vez que é incomum ver um monstro de masmorra ter uma habilidade manual tão precisa e rápida, e mais ainda, usando-a para pegar uma arma.

    Ainda agachado, o zumbi que apanhara a espada, segurada pelo braço recém-cortado, a põe na boca, apertando com os dentes. Ele então se levanta e fixa seu olhar na jovem, emitindo um grunhido suave de confirmação, que parece quase um sorriso.

    — Grrrh!

    Um sorriso amargo se desenha no rosto de Evangeline, enquanto ela observa a atitude do monstro com admiração. É fascinante testemunhar a capacidade de comunicação desta variante, o que a torna ainda mais rara e única do que ela imaginava anteriormente. 

    A meio-elfa é tomada por um misto de sentimentos, enquanto encara o zumbi que segura a espada com os dentes, demonstrando uma habilidade impressionante.

    — Droga… que desperdício…

    Com uma expressão apreensiva no rosto, Evangeline aperta firmemente o cabo dos chicotes, se preparando novamente para o combate. 

    Para ela, matar algo tão raro com o intuito de conseguir apenas experiência é doloroso e parece um grande desperdício, como trocar dez mil moedas de ouro por uma única de cobre. Mesmo assim, ela sabe que deve lutar e dar tudo de si, afinal, esse é o propósito de uma batalha.

    Contudo, em comparação a Evangeline, o monstro parece não ter mais energia para continuar nesse combate. A maior parte de sua armadura já foi destruída durante a luta e não se encontra mais em seu corpo, — deixando-o vulnerável.

    Neste momento crucial, o monstro dá o seu máximo e avança impetuosamente em direção a jovem.

    Movido por um impulso desesperado, o zumbi corre em direção à jovem, utilizando as últimas forças que lhe restam para realizar um ataque suicida. O monstro concentra toda a sua força no braço que empunha a espada, pronto para desferir um golpe final.

    Apesar da ausência do peso do braço que lhe falta, a velocidade do zumbi ainda é significativa, embora tenha diminuído drasticamente devido ao desequilíbrio em seu peso corporal. Mesmo assim, ele não desiste de correr em direção ao seu alvo.

    — Argh…!

    Um profundo suspiro se espalha pelo ambiente, ressoando por toda a sala. É uma sensação pesada, dolorosa, que vem do fato de que precisar eliminar essa variante tão rara é de fato lamentável.

    ”Se eu tivesse encontrado isso no sephyra, eu o apreenderia e o levaria comigo para treiná-lo e lapidar suas habilidade de combate e cognitivas… porém nesse mundo… não tenho tais recursos que possam me ajudar a fazer tais coisas… tudo que me resta é matá-lo…”

    — Que seja… Nem sei por que estou sentindo pena de um monstro que quer me matar mesmo…

    Evangeline aperta com firmeza o cabo do chicote e o sacode com violência.

    Uma onda de energia é gerada a partir do chicote, que se manifesta em uma forma brilhante de água, correndo de ponta a ponta da arma com intensidade. 

    O poder contido nessa onda é tão forte que emite um brilho azul intenso. E assim, a jovem desfere um ataque de água letal.

    「Nykr water cutting」!

    Ao pronunciar o nome do feitiço, Evangeline rapidamente cria dois cortes azuis em formato de arco que voam em alta velocidade em direção ao morto-vivo. 

    Os cortes o atingem rapidamente, cortando-o ao meio em poucos segundos. 

    O som do impacto ressoa por toda a sala, seguido pelo som do corpo do zumbi caindo no chão, dividido em duas partes.

    Depois do impacto, a parte inferior do monstro cede aos joelhos, reconhecendo a derrota, enquanto a parte superior continua em movimento devido à sua inércia.

    Finalmente, a parte superior do corpo do monstro chega ao seu destino, caindo próximo de Evangeline com as costas viradas para o teto, inerte e sem vida.

    Evangeline se agacha perto do corpo inerte do zumbi e com cuidado coloca a mão em suas costas, girando-o com facilidade para deixá-lo de barriga para o teto.

    Os olhos do zumbi, antes cheios de consciência e intensidade, agora se encontram vazios e sem vida, sem nenhum traço de poder ou força restante.

    Enquanto mantém a mão sobre o corpo inerte do zumbi, Evangeline expressa com tristeza e pesar em sua voz.

    — Belo duelo…

    Após proferir suas palavras, o corpo do zumbi se transforma em uma densa fumaça negra, com pequenas partículas prateadas cintilantes, semelhante a uma noite estrelada. A carne, os ossos, os nervos e a armadura se dissipam nessa fumaça, que em seguida penetra no corpo de Evangeline.

    Conforme previsto, logo após a fumaça penetrar no corpo da jovem, a voz do sistema volta a ser ouvida.


    『Sistema』

    Monstro eliminado com sucesso!

    Experiencia Total obtida

    800 XPE.



    『Sistema』

    《Missão》

    Elimine 25/25 mortos-vivos ☠.

    Contagem: 2/25 Eliminados ☠.


    Contudo, logo após o desaparecimento da fumaça, um grito conhecido ressoa pelo local, cheio de tristeza e desespero, forçando Evangeline a cobrir seus ouvidos para protegê-los.

    — YAAAAAAAARRRHHHHH!

    Algum tempo após o grito, sons de passos pesados começam a ecoar pelo local, revelando a aproximação de um pequeno grupo de silhuetas humanoides cobertas por sombras.

    Os passos pesados ecoam com intensidade, anunciando a aproximação dos visitantes desconhecidos. 

    A medida que se aproximam, o som fica mais claro. Eles caminham na direção da sala onde se encontra a meio-elfa, aumentando a tensão e a expectativa sobre quem são e o que querem.

    Com um movimento ágil, Evangeline levanta-se do chão e retira as adagas da bainha. Em seguida, ela reativa as chamas na ponta de ambas as adagas, preparando-se para o próximo round de batalha que se aproxima. 

    A tensão no ar é palpável enquanto a meio-elfa se mantém em posição defensiva, pronta para lutar contra o que quer que seja que esteja chegando.

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