Capítulo 81.1 ❃ A Interminável Horda.

Em um ambiente impregnado de trevas, onde sequer uma luz consegue abraçar e expressar sua existência, grunhidos animalescos tornam-se aparentes.
Esses grunhidos, diferentes de monstros incompreensíveis, parecem sussurrar algo, como um ser que murmura seus últimos suspiros, impregnando um desejo após sua morte.
Cada som parece revelar um sentimento único, carregando um poder imponente. No entanto, algo muda, fazendo com que esse ambiente escuro também se torne silencioso.
O local, revestido por esse sussurro incomum, torna-se tão tranquilo quanto um cemitério de madrugada; nem sequer um grilo ou uma cigarra está presente para quebrar tal quietude.
No meio da escuridão, dois orbes de luz se manifestam, brilhando em azul-turquesa como uma luz gélida em meio às sombras do ambiente. Esses orbes movem-se em aparelhamento, como se estivessem conectados a algo que as emitisse.
Nesse momento, começam a perambular pelo lugar escuro, que, se alguém adentrasse, se perderia na imensidão, sem saber se é um local pequeno ou tão vasto quanto outro mundo.
Enquanto se movem pelo local, o som de passos pesados, como se fossem de botas de couro, junto a um granulado de terra e grama, se manifesta.
Dessas pegadas, o som se restaura, não apenas de sussurros, mas de grunhidos e mais grunhidos, como uma cacofonia proferida por um vespeiro zangado, realizado por monstros macabros.
Na escuridão, uma silhueta sombria emerge, acompanhada por outras duas em suas costas, avançando até um ponto determinado.
De repente, no local, uma luz que surge do lado oposto se revela quando uma porta se abre. A luz começa a adentrar pouco a pouco, enquanto a abertura daquele lugar se revela gradualmente.
Enquanto a luz penetra, finalmente abraçando todo aquele ambiente mórbido impregnado de trevas, as silhuetas antes vistas juntas se revelam.
Uma delas porta um grande manto negro azeviche. Suas mãos esqueléticas, ainda com pequenas camadas finas de carne podre e pele, — carregam em suas mãos acabadas pela presença onipotente do tempo um orbe roxo emitindo uma aura ameaçadora.
Seu semblante macabro carrega a mesma característica de suas mãos, porém com um sorriso deformado e macabro de um morto-vivo, junto aos seus olhos ausentes que revelam nada mais que duas órbitas de luz que se movem de um lado para o outro.
Em suas costas, mais duas entidades portando o mesmo manto se revelam, com capuzes, mas sendo por completo esqueletos, soltando rangidos agudos de ossos se colidindo entre si, além do raspar de dentes macabros.
A figura central encara sua orbe com olhos maliciosos, quando nesse instante, seus olhos, antes azuis como o oceano, tornam-se vermelhos como o sangue.
O local inteiro começa a tremer com a mudança sutil da cor de suas órbitas, como se uma coisa colossal começasse a emergir daquele espaço, que antes era infinito nas sombras, mas agora limitado com a invasão da luz.
Por fim, a porta se abre por completo, revelando o interior deste ambiente. Cada canto da sala portando pilhas e mais pilhas de ossos.
Se um lobo selvagem adentrasse nesse ambiente, estaria satisfeito por toda a sua vida, com ossos quase que infinitos para se deleitar.
No entanto, com um simples gesto de mãos, a figura, portadora do orbe, faz com que uma pilha de ossos comece a tremer raivosamente.
O ambiente se torna mais sinistro à medida que os ossos se agitam, como se algo obscuro estivesse prestes a emergir desse montante de restos mortais.
Uma sensação de terror envolve todo o espaço, como se o próprio ambiente respondesse ao despertar de uma presença sombria.
A energia, antes presente no orbe, começa a se impregnar em uma das pilhas de ossos.
A cada segundo, essa energia se lança e desliza entre cada osso, como um líquido vil que parece lavá-los. Nesse momento, a energia some, deixando apenas presente a pilha, mas algo acontece.
Na pilha, ossos e mais ossos começam a se remexer, erguendo-se ao ar como se possuíssem vida própria.
A cada segundo, esses ossos começam a se empilhar e se formar, criando dedos, mãos, braços, torsos, pernas, pés e, por fim, encaixando um crânio no topo, — formando um esqueleto.
A cena se repete no resto da pilha, sobrando nada mais que um pequeno amontoado de esqueletos que parecem respirar, mas sem sair sequer um barulho de respirações, apenas grunhidos bizarros de ossos rangendo.
Com um brilho maligno, agora em seus olhos com orbes vermelhos, a figura move sua mão em direção à saída daquele lugar, e como se fossem ordenados, os esqueletos movem-se para fora do ambiente, marchando como um pequeno exército indo para a guerra.
Cada passo tremendo o chão com o peso de seus corpos, que mesmo parecendo frágeis por serem feitos exclusivamente de ossos, movem-se imponentemente como soldados treinados destinados a marchar infinitamente em uma guerra até seu derradeiro fim.
As figuras encapuzadas, antes inertes, telespectadores do poder vil da figura em sua frente, movem-se a cada lado desta, erguendo suas mãos esqueléticas em direção ao orbe roxo na posse da mão dele.
O orbe brilha com mais intensidade, revelando um círculo mágico com gravuras complexas e runas mágicas, que giram em anéis ricos em poder vil. Outro anel surge no solo, próximo aos pés dessas figuras, e dele, mais ossos surgem, como uma invocação de outro mundo.
Quando mais ossos surgem naquele local, virando outra pilha, dessas pilhas, mais outro pequeno grupo de esqueletos começam a se montar e seguir rumo à saída, marchando todos com afinco e imponência em direção a um local ainda desconhecido.
O ambiente vibra com a energia sombria dessas criaturas ressuscitadas, deixando um rastro de terror e desolação por onde passam.
Num ambiente que parece gritar em inspiração de uma cultura nunca vista, com construções e estruturas ricas nessas características, uma sala, antecâmara do desafio, revela-se imersa em desordem e caos, testemunha da luta antes travada entre uma imponente desafiadora e seus guardiões cuja força foi sobrepujada.
Cada canto e recanto, revelando colunas, feitas para sustentações, destruídas pela luta e desordem no anterior, inertes e jogadas ao solo, como soldados cujo destino foi traçado.
Nas paredes, enormes rachaduras tão grandes quanto uma enorme serpente, revelam um interior de tijolos e poeira, junto a um odor destes mesmos.
Também presente, grandes crateras e enormes buracos, no chão e paredes, onde antes em perfeito estado, agora em caos após a explosão de impactos de armas e feitiços lançados.
No centro, uma figura de orelhas pontudas e um rabo de cavalo rubro, revela-se exausta após a batalha, suas mãos presentes nos joelhos, inclina a frente em respirações fortes e lentas, como um corredor novato após participar de uma maratona intensa.
— Huff… huff… phew…! Está… feito…
Em suas mãos cerradas pelo cansaço, suas armas, adagas de suas inúmeras lutas na masmorra, acabadas após o derradeiro confronto do último inimigo.
Gotas de suor, que parecem carregar grande gordura, escorrem por sua testa, descendo por sua bochecha que possui um pequeno corte, seus lábios um rosado natural tentam capturar o ar respirável do local, em busca de saciar sua labuta anterior impregnada em seu corpo como um cansaço aterrador.
Rapidamente, ela se ergue, encarando a sua frente, seus olhos rubis inertes visualizando uma pilha de ossos, agora um amontoado, antes seus desafiantes de vida e morte.
Seu semblante estoico, cansado pela luta, manchado de poeira e sangue, encara o local em que estão, junto a alguns focos de chamas esmeraldas que parecem tentar queimá-los, mas não conseguindo por completo.
”Nem mesmo a minha Emerald Sphere of Desolation tem o poder de incinerar seus ossos por completo, apenas algumas queimaduras aqui e ali. Até compreendo o fato das chamas carmesins não terem feito dano neles, mas não entendo por que, logo, as minhas chamas esmeraldas, as que eles sentiram temor naquele momento, ainda não é forte o bastante para derrotá-los por completo…”
Sem acreditar em tal coisa, a meio-elfa encara, tentando entender o que está acontecendo. Mesmo que os esqueletos se mostrem resistentes às suas chamas carmesins, a situação é compreensível.
Ela avançou para o próximo estágio da masmorra, onde monstros com força e resistência superiores são de se esperar.
Contudo, mesmo esses esqueletos, que deveriam temer suas chamas esmeraldas, não desaparecem após serem envolvidos por elas; em vez disso, desmontaram-se como peças de uma vitrine bizarra.
— Argh…! Tanto faz… pelo menos eles não podem mais se mexer… devido à minha burrice, acabei libertando esses esqueletos e agora… minhas adagas estão nesse estado… — Evangeline encara suas adagas, cujas lâminas exibem rachaduras incríveis, tornando-as inúteis para futuros combates.
Por alguns segundos, ela as observa, lembrando-se de como Anastácia as apresentou junto ao conjunto que veste.
”É uma pena. Anastácia deve ter se esforçado muito para criar tal arma para mim. Ela parecia muito feliz quando me apresentou todo o seu trabalho naquele dia, ela realmente parecia muito alegre por ter feito-as. Mas, apesar disto, elas não conseguiram resistir por muito tempo nesse lugar… e eu nem sei quantas salas terei que adentrar para encontrar o que eu quero…”
Apesar do esforço da ferreira para criar algo capaz de enfrentar os perigos da masmorra, as adagas mostraram-se incapazes de resistir por muito tempo.
Com cuidado e ternura, Evangeline guarda as adagas em suas bainhas, amarrando-as firmemente à sua cintura.
Ao olhar para suas costas, observa quatro esferas de fogo verde-esmeralda girando em sentido horário.
Seu feitiço, agora um pouco mais dominado, faz com que ela sorria, pois poderá invocá-las com mais rapidez em futuros combates.
No entanto, enquanto contempla suas esferas de fogo, sua mente volta-se para o arco também amarrado em suas costas.
— Opa, eu quase me esqueci de você! Cabei me focando de mais nas minhas lutas, mas nem sequer levei um tempo para ver como você é direito… — Hábil, ela o retira, deslizando os dedos pela superfície da arma e sentindo suas deformações.
A mão percorre a corda do arco, notando nuances semelhantes à sua mana, usada anteriormente para restaurá-lo.
— A habilidade de restaurar a corda do arco quando ela arrebente é bem impressionante, porém o que me chama a atenção é que a corda parece ser feita exclusivamente de minha mana… Me pergunto se terá mais armas como essas, ou… monstros tão capazes quanto…
Evangeline relembra o esqueleto anterior que empunhava tal arma, utilizando mana para invocar flechas. Também recorda sua luta recente, o esqueleto que empregou uma de suas antigas habilidades de fortalecimento físico, o Berserker.
”Aquele esqueleto arqueiro conseguiu utilizar mana, mesmo sem ter um núcleo mágico ou um corpo vivo. E também esse ultimo esqueleto conseguiu utilizar habilidades físicas, como o Berserker que eu tinha um pouco antes. Até agora foram apenas esses dois que tinham essa característica diferente, além de serem os únicos até agora em seus respectivos andares… me pergunto se mais para frente terá mais monstros como esses dois…”
Questionamentos inundam sua mente sobre o que a aguarda à frente e se mais monstros poderão usar mana e habilidades nas futuras lutas.
Em um ambiente solitário, com apenas sua presença, como prosseguirá se encontrar muitos monstros com capacidades semelhantes ou um grande grupo com tais habilidades?
— Argh…! Certo, certo… tô pensando de mais. — Nesse instante, ela chacoalha a cabeça, tentando afastar as dúvidas que parecem mergulhá-la em um sentimento sombrio.
— Monstros com habilidades não são o verdadeiro problema, mas sim minha mente vaguear durante tal situação. Não posso perder o foco e nem o objetivo que me fez vir aqui. Preciso ficar mais forte e conseguir uma cura para a Karenn!
Foco é essencial, e incertezas como essas são fatores que podem transformar-se em fraqueza, tanto agora quanto no futuro.
Erguendo o arco à frente, puxa a corda até o limite, visualizando uma flecha se formando. Ao soltar a corda, no entanto, nada se projeta, pois sequer injetou sua mana na arma.
— Agora sem minhas adagas, preciso encontrar um modo para utilizar esse arco nas próximas batalhas… Heh…! Seria interessante se eu pudesse manejar isso sem sequer eu ter aprendido nada… mas isso não é um jogo ou uma novel onde recebo poderes do nada… — Um sorriso surge em seu semblante sério, questionando se conseguirá dominar esse arco mágico.
Embora tenha adquirido um arco ao chegar a esse mundo, caçar coelhos em uma floresta difere muito de enfrentar mortos-vivos, trolls e ogros.
A destreza e proficiência necessárias são fatores cruciais.
— Argh…! Quem dera eu tivesse proficiência em arcos só por eu ser metade elfa, como nos jogos e historias que contavam na Terra… — Rapidamente, ela move a mão vaga para suas orelhas pontudas, recordando que, em seu antigo mundo, os elfos, em jogos e histórias de fantasias, eram retratados hábeis na caça e no manejo de arcos. No entanto, no corpo de meio-elfa, questiona se essa habilidade coletiva de seu mundo anterior realmente se aplica aqui e se ela possui tal destreza.
— Hah…! Tô perdendo muito tempo aqui, é melhor eu prosseguir. — Um suspiro escapa de seus lábios, percebendo que está parada há muito tempo.
Com agilidade, realoca o arco em suas costas, voltando sua atenção para outra passagem.
— Que eu me lembre, quando estava no ar naquela vez… conseguir visualizar uma passagem para fora desse lugar… acho que era naquela direção…
Subitamente, todo o local treme, revelando uma grande cortina de poeira.
— Droga! O lugar está cedendo logo agora?! Preciso sair daqui! — Evangeline encara o lugar com olhos arregalados, ciente de que pode desmoronar a qualquer momento, agradecendo por encontrar uma saída.
Correndo velozmente, desvia de placas pesadas de pedra que se desprendem do teto, caindo à sua frente e bloqueando seu caminho.
A cada três passos, uma placa descola, impedindo sua rápida progressão. O local despedaça-se ainda mais, com as últimas colunas rachando e cedendo ao peso do teto que começa a desabar.
”Isso tá muito perigoso, preciso ser rápida, se não serei enterrada nesse lugar!”
— A-ali está! — Evangeline vislumbra a passagem rapidamente e se lança em sua direção, sua mana concentrada nos pés invocando o atributo de ar em um impulso veloz.
Em um único salto, ela dispara pelo espaço, aterrissando de barriga no chão ao alcançar a saída da antecâmara. Esta, por sua vez, desaba e se desfaz, inundando a saída com uma grande cortina de poeira.
O colapso da antecâmara reverbera como um sinistro eco, ecoando pelo corredor recém-aberto.
O impacto contra o solo desencadeia uma onda de dor e desconforto através do corpo de Evangeline.
— Huff… huff… cof! Cof! — Sua respiração fica momentaneamente prejudicada pela pancada, e ela sente uma ardência incômoda na região do estômago.
A poeira levantada pelo desabamento obscurece momentaneamente sua visão, criando um ambiente de suspense e tensão.
Evangeline, ainda deitada, percebe a atmosfera densa ao seu redor.
O ar está impregnado com partículas finas de poeira, criando uma aura de mistério e opressão. A meio-elfa, com sua visão já comprometida, tateia o solo áspero em busca de apoio para se levantar.
‘’Droga… maldita poeira… não consigo enxergar nada, nem uma sequer luz nesse lugar…’’
A cortina de poeira, densa e sufocante, torna a atmosfera ainda mais angustiante.
A sensação de claustrofobia paira no ar enquanto Evangeline se esforça para se orientar na escuridão temporária.
O ambiente parece ter absorvido o som, criando um silêncio momentâneo que amplifica a tensão do momento.
Enquanto a poeira começa a assentar, revelando contornos vagos da passagem recém-aberta, Evangeline lentamente se coloca de pé, pronta para enfrentar o desconhecido que aguarda além da antecâmara colapsada.
O eco das últimas ruínas desvanecendo-se adiciona uma nota de finalidade à sua fuga, mas o desconhecido que se estende diante dela promete novos desafios e horrores inexplorados.
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