Capítulo 678: Sonho (5/7)

O sonho interminável continuava.

— Eu vim te ver de novo hoje, Hansu.

Hyeonbyeol vinha quase todos os dias me visitar e contava várias coisas.

— Eu mesma pesquisei porque achei que ajudaria você a voltar à realidade. Sinceramente, não achei que encontraria só procurando… mas tive sorte.

Nesse mundo de sonho, Hyeonbyeol não tinha sido arrastada para o jogo, e agora ela estava aqui, me visitando com frequência depois de ouvir a notícia pela minha mãe.

— É aquele soldado dispensado de quem você falou, Baekho Lee. Fui até o fórum comunitário daquele jogo Dungeon and Stone que você jogava bastante, e ele acabou respondendo. Perguntei se podia encontrá-lo e conversar, e ele perguntou se eu era mulher ou não. E ele aceitou depois que eu disse que era… Pelo jeito que agiu e o que disse, acho que ele é doido por mulheres.

Hyeonbyeol suspirou.

— Ah, me distraí. Enfim, o importante é que ele também não foi arrastado para o jogo. Hm… Você ficou decepcionado?

“Decepcionado com o quê?”

Eu já esperava isso. Dentro desse mundo de sonho, ninguém havia sido arrastado para o jogo. Foi também por isso que me dei ao trabalho de escrever aquela carta para aquele amigo canadense, porque comecei a questionar seriamente se eu tinha perdido a sanidade. Mas felizmente, o resultado sairia amanhã.

Independentemente dos medicamentos ou das mentiras que me empurravam, minha cabeça não tinha nada de errado. Não faltavam detalhes que me faziam duvidar, junto com uma série de coisas desnecessariamente realistas. Mas isso era definitivamente um mundo de sonho.

Pode ser um pouco estranho dizer isso, mas esse mundo de sonho era bem generoso comigo.

“Pensando bem, a polícia também era estranha.”

Mesmo que eu fosse considerado mentalmente instável, tinha causado todo aquele alvoroço. No entanto, o Líder de Equipe Kang ainda me visitava de vez em quando e desejava minha recuperação.

“Só isso?”

— Hansu, quando você melhorar, vamos juntos a Namsan¹. Você gosta da vista noturna de lá, não é?

Hyeonbyeol estava devotada demais a mim, o cara que era apenas seu ex.

— Hansu… É minha culpa, é minha culpa… Se eu não tivesse feito aquilo, você não teria acabado assim…

Até minha mãe, que passou a vida me desprezando, agia de forma incomum. Era como se ela estivesse dizendo todas as coisas que eu desejava ouvir lá no fundo do meu coração.

Nesse sentido, esse mundo realmente era um sonho.

“Talvez seja por isso.”

Pensando agora, isso pode ter tido um impacto maior em mim do que o remédio. Me fez duvidar, me perguntar se talvez essa fosse a realidade e eu tivesse perdido a cabeça. Era como o abraço quente de uma cama macia da qual eu nunca queria sair.

“Mas é hora de acordar.”

Usando a carta do meu amigo canadense como base, reforcei minha determinação enfraquecida e comecei a elaborar um plano de fuga novamente. Estudei a planta do hospital, observei os comportamentos e horários dos funcionários, enquanto agia como se estivesse me curando e atraindo-os para uma falsa sensação de segurança.

— Sr. Hansu. Na verdade, embora eu não tenha contado a ninguém sobre sua história… acredito que o que você me contou pode ser verdade.

Interrompendo minhas diligentes preparações, o Líder de Equipe Kang, que tinha vindo sob o pretexto de uma investigação, apareceu inesperadamente e jogou essa bomba em mim.

Como eu estava agindo como se estivesse me desvencilhando de pensamentos delirantes, isso representava um problema.

— Como? — perguntei, sem dar pistas. — Mas eu não inventei tudo aquilo? É o que acredito agora…

— Me desculpe… Pensei muito sobre se deveria te contar isso enquanto você vinha mostrando melhoras na sua saúde mental… Mas uma vez só não faz mal. Pode dar uma olhada nesse vídeo?

O líder de equipe pegou seu telefone e me mostrou um vídeo.

“O que é isso…?”

O vídeo era uma gravação da delegacia onde eu havia sido levado para interrogatório. A câmera estava sobre uma mesa e filmava um monitor.

— Você vê isso? Essas palavras no monitor.

Havia registros misteriosos escritos no monitor. A qualidade do vídeo não era boa, então era difícil para mim ler, mas felizmente o líder de equipe leu em voz alta para mim.

— Sincronização completa. Informações do personagem e entradas no diário foram registradas e enviadas ao administrador. A cerimônia de maioridade foi completada com sucesso. Novo equipamento foi equipado. O nível total de equipamento aumentou…

Ele fez uma pausa e então se virou para mim. — Essas mensagens do jogo foram registradas nos mínimos detalhes. E eram atualizadas com certa regularidade. De vez em quando, as informações do personagem também eram exibidas, e o nome do personagem era ‘Bjorn Yandel’. É o nome que você me deu.

Aquilo me acertou em cheio, justamente quando eu estava me preparando para escapar desse lugar dentro de um sonho.

— Então… — hesitei com uma expressão preocupada. — O que está tentando dizer?

O Líder de Equipe Kang apertou ‘play’ no vídeo novamente.

— Pode olhar perto do monitor? Isso, bem ali. Você deve perceber… O monitor não está conectado a nada, nem mesmo ao console principal. Ele nem sequer está ligado a uma fonte de energia.

Isso era verdade. Minha cabeça começou a girar. O que isso significava?

— É um fenômeno que a ciência moderna não consegue explicar. É por isso que estou começando a acreditar que o que você me disse é verdade.

— …Então está dizendo que sou são?

— Não, não posso ter certeza disso ainda. Mas uma coisa eu sei… As circunstâncias aqui são muito suspeitas.

— Suspeitas? — Inclinei a cabeça.

O líder de equipe olhou ao redor antes de abaixar a voz. — Não muito depois de pegarmos esse monitor, ele desapareceu do armário de provas… É como se alguém quisesse se livrar das evidências.

Que diabos estava acontecendo?

As palavras do Líder de Equipe Kang só me deixaram mais confuso.

Eu finalmente tinha aceitado que esse mundo estava dentro de um sonho, então por que ele veio agora e me mostrou aquele vídeo? O que era real e o que era falso?

Talvez o Líder de Equipe Kang tivesse sido enviado para me mostrar o vídeo para que eu acreditasse que esse mundo era real.

“Não, se é isso que o sonho queria fazer, ele poderia ter simplesmente feito minha carta para o amigo canadense falhar.”

Com cada inconsistência que eu tentava racionalizar, outra inconsistente tomava seu lugar.

Minha cabeça latejava com esse pensamento, então decidi adotar uma abordagem mais simples.

No final, a fé era a única coisa importante. E eu poderia escolher no que queria acreditar.

“Vou executar meu plano em quatro dias…”

Com isso, meu plano de fuga estava finalizado. Eu já tinha até decidido o horário.

Naquele dia, eu escaparia do hospital e sairia. Só depois disso eu poderia pensar em como escapar do sonho.

“Por algum motivo, sinto que o método de Dungeon and Stone ainda vai funcionar…”

Claro, era só uma teoria. Eu ainda não estava completamente seguro. No entanto, mesmo que o hospital permitisse quase tudo, eles, suspeitosamente, me proibiram de jogar Dungeon and Stone, argumentando que isso atrapalharia meu tratamento.

“Completar Dungeon and Stone mais uma vez. Talvez esse seja o gatilho.”

Valia a pena tentar. O importante agora era conseguir escapar na minha primeira tentativa.

“Vamos fazer uma última rodada, só para garantir.”

Enquanto esperava o dia prometido, continuei a rodar a simulação de fuga na minha cabeça e procurava qualquer falha no meu plano.

Um dia, dois dias, três dias…

Era um dia antes do horário decidido.

— Sr. Lee! Você tem visitas!

Alguém veio me visitar no hospital.

Hyeonbyeol, Mãe, Líder de Equipe Kang, eu imaginei que seria um dos três, mas quando fui ver quem era, a pessoa que me cumprimentou era um homem velho que eu não reconhecia. Ele era caucasiano e vestia um terno elegante. Andava com uma bengala de alta qualidade que não parecia uma arma.

“Apesar de ter um cajado, provavelmente não é um mago.”

Era um hábito que aprendi em Rafdonia, analisar estranhos assim que…

— Então você é Hansu.

Para ser honesto, o homem me pegou completamente desprevenido com seu coreano fluente. Eu tinha presumido que o jovem ao lado dele era seu tradutor. Ele era apenas um acompanhante?

De qualquer forma, uma coisa era certa ali.

— Sou, mas… Quem é o senhor?

Não tive uma boa sensação dele. Dava para perceber à primeira vista que ele era rico e ocupava uma posição alta na sociedade. Alguém como ele não tinha motivos para me visitar, certo?

Minha reação instintiva foi suspeitar automaticamente desse estranho que vinha me visitar no hospital. Naquele momento, o velho homem branco tirou o chapéu fedora que cobria seu rosto e o colocou na mesa.

Quando finalmente vi seu rosto, não precisei mais da sua introdução.

— Meu nome é Auril Gavis.

Ba-dum!

— Eu sou a pessoa que desenvolveu o jogo Dungeon and Stone que você jogou.

Eu nunca esperei que o Velho aparecesse. Talvez fosse porque isso fosse um sonho? Eu realmente não podia prever o que iria acontecer.

— A propósito.

Seus olhos profundos se fixaram nos meus com um movimento afiado. Era como se eu estivesse sendo dominado apenas pelo olhar dele.

— Pelo que vejo, você já me conhece?

Bem, acho que não havia motivo para tentar esconder as coisas do Velho. Nem nesse mundo, nem no outro.

— Parece que você já viu outro eu daquele lado?

— Outro você…? — ecoei.

— Hmm, parece que você ainda não entendeu isso…

Talvez eu já estivesse acostumado demais à vida moderna. Ouvir o Velho estalar a língua em desapontamento fez com que meus antigos sentidos tomassem conta do meu corpo, me dizendo o seguinte:

Eu seria morto se não me concentrasse.

Abaixei minha voz e encarei-o diretamente nos olhos. — Tudo bem. Vá direto ao ponto.

O Velho deu um sorriso misterioso. Parecia satisfeito com algo. — Sou a única pessoa que sabe que você não perdeu a sanidade. E posso ajudá-lo a sair deste lugar também. No entanto, vendo que você não está reagindo de forma alguma… Presumo que já tenha um plano de fuga?

Hah, como o Velho conseguia perceber tudo aquilo tão facilmente quanto respirar?

— Qual o seu ponto? — rosnei.

O Velho assentiu lenta e finalmente foi direto ao assunto. — Vou te perguntar diretamente.

Ele veio até mim com apenas uma pergunta.

— Você encontrou aquela criança?

— Que criança? — Embora eu tivesse uma ideia de quem ele estava falando, decidi bancar o inocente.

O Velho balançou a cabeça em resposta. — Bom, então. Vou mudar a pergunta.

O quê? Mas agora eu estava subitamente curioso.

— Como você conseguiu voltar? — ele perguntou. — O Portão do Abismo nem deveria ter se aberto.

— …Se você veio até mim, já deveria ter feito toda essa pesquisa.

— Ah, está falando sobre a declaração que deu para a polícia e aquele médico? Se for sobre isso, já verifiquei… — O Velho interrompeu-se, tentando conter um sorriso que acabou se transformando em uma risada estrondosa. — Hahaha! Ahaha! Você realmente acredita que este mundo é um sonho?

Eu não queria recompensar o tom zombeteiro dele com uma resposta. No entanto, se eu simplesmente ficasse em silêncio, não conseguiria extrair nenhuma informação dele.

— Parece que você não pensa assim, Vovô?

— Hansu, não importa no que você acredita, isso é realmente a realidade. Talvez uma que seja diferente de onde você estava antes.

— Diferente de onde eu estava? O que quer dizer?

— Neste mundo, aquele ‘modo de trapaça’ de que você falou não existe. É por isso que você é a única pessoa que abriu o Portão do Abismo para ir a Rafdonia. No entanto…

O Velho fez uma pausa e então revelou: — Isso não significa que isso não seja realidade. Mesmo que seja difícil para você acreditar, é verdade. Até sua mãe, que está pedindo seu perdão, e aquela que te ama, que é tão devotada a você.

Passava de difícil de acreditar. Era impossível acreditar.

— Então… me dê alguma prova — exigi, ousado.

O Velho apenas deu um sorriso de lado e balançou a cabeça. — Não, tudo bem. Não há necessidade disso.

— Você está dizendo isso porque não tem prova para me dar?

Eu queria irritá-lo, mas ele não me deu a reação que eu esperava.

— Pense o que quiser. Você já acredita que isso é um sonho. Se realmente quer voltar para aquele lugar, não adianta tentar convencê-lo.

“Hah… Então é assim que você vai agir?”

Apesar do estresse crescente, eu não podia nem dar um soco nele, já que estava planejando fugir em breve.

— Então, vou deixar você com isso. Eu oro pelo seu sucesso.

O Velho realmente apenas se levantou e se virou para sair depois de dizer tudo que tinha vindo dizer.

Claro, eu poderia simplesmente ter deixado ele ir…

— Espere.

Mas senti que havia algo errado e o parei.

— Tem algo a dizer? — ele provocou.

Uh… Eu não o parei exatamente com um plano em mente, foi mais porque senti que não podia deixá-lo ir assim.

Como era tarde demais para voltar atrás, decidi pelo menos fazer essa pergunta.

— Como posso acordar desse sonho? — perguntei.

— Hmm?

— Se quer que eu volte, não pode simplesmente me dizer como?

O Velho me olhou por um momento antes de sorrir novamente. — Você precisa desejar isso.

— …O quê?

— Se realmente deseja voltar, então isso acontecerá, queira você ou não. No entanto, vendo que ainda está aqui… Ao contrário do que diz, parece que este lugar é do seu agrado.

Hã? Tudo que eu queria, até mesmo naquele momento, era voltar.

— Ah, e cuidarei do hospital e da polícia para que você possa fazer o que quiser.

Não importava o que acontecesse, eu não iria vacilar.

1. Namsan é uma montanha no centro de Seul, Coreia do Sul, conhecida por suas vistas panorâmicas da cidade, especialmente à noite.[↩]