Capítulo 680: Sonho (7/7)
O mundo inteiro estava coberto pela escuridão.
Flash!
Como os primeiros raios da alvorada, a luz que surgiu no horizonte imediatamente começou a colorir o mundo.
Os ventos eram tão fortes que parecia que eu seria levado por eles. Meus ouvidos zumbiam com o barulho enquanto novas informações inundavam minha mente.
Bem, tecnicamente, não eram informações ‘novas’.
— Agora sim me sinto vivo — ofeguei, escorregando para o Rafdoniano. Os médicos me pediram para falar em Rafdoniano de volta no meu sonho, e quando não consegui, fiquei bem envergonhado de só ficar ali, mexendo a boca.
Bem, isso não importava, pois eu consegui voltar.
Olhei para baixo. Mãos de bárbaro musculosas e cheias de veias resistentes, tão diferentes das pequenas mãos de Hansu Lee, me saudaram. Fechei e abri os punhos várias vezes, verificando o estado do meu corpo.
Clack, clack.
Foi então que o som familiar de saltos entrou em meus ouvidos. E, ao olhar na direção do som, como esperado…
Clack.
A garota que vi quando estava sendo puxado para o mundo dos sonhos apareceu como um fantasma e se aproximava de mim.
— Elise Groundia.
Quando murmurei seu nome, a Bruxa da Terra parou de andar e me olhou diretamente.
— Eu sei que pedi para você não voltar. Por que voltou?
Por alguma razão, senti um pouco de tristeza na voz dela.
Respondi com um sorriso. — É aqui que preciso estar.
No entanto, essa resposta não parecia satisfazê-la. Pelo contrário, a garota parecia enfurecida enquanto discutia comigo. — Era o mundo onde seus sonhos eram realidade.
— Mas era falso.
— Você sabe que não era falso.
“Hmm, bem…”
Era verdade que, quanto mais tempo eu passava lá, mais percebia que não era um simples mundo de sonhos.
— Isso não importa — falei firmemente, decidido. — Aquele não era o lugar onde eu deveria estar.
A garota ficou sem palavras.
Os ventos passavam com força, e, conforme o tempo passava, mais da metade do mundo era tingida pela luz branca.
Crunch.
Com o som de algo se quebrando, uma fronteira de luz e escuridão foi criada entre mim e a Bruxa da Terra.
— Acho que já deixei meu ponto bem claro. Que tal me enviar de volta agora? — perguntei, encerrando aquele silêncio longo, porém de certa forma breve.
A Bruxa da Terra cerrou os punhos como uma criança pequena. — Você vai experimentar muito mais sofrimento e tristeza lá.
Ah, então ela iria por esse lado?
— Ainda quer voltar?
Era uma pergunta infantil, condizente com sua aparência, mas eu a respondi com seriedade e sinceridade.
— Sim. Ainda quero.
Eu não ia argumentar contra o fato de que esse era um mundo amaldiçoado, onde eu sempre precisaria me preocupar com minhas costas e com a vida dos meus aliados.
— Você vai perder algo precioso novamente. Vai experimentar um desespero tão grande que a tristeza que sofreu até agora parecerá nada em comparação.
E só ouvir isso já fez meu coração apertar.
— E daí?
Mas não era isso que significava viver?
As dificuldades e o sofrimento fariam com que eu quisesse fugir de tudo. No entanto, Hansu Lee, que sempre fugia da realidade, nunca soube disso: fugir não era a única escolha que ele poderia fazer.
Minha vida como guerreiro me ensinou isso.
— Não importa o quanto doa, eu vou continuar em frente. Não importa o que tente me impedir, eu vou lutar com todas as forças para sobreviver até o fim. Porque eu sou um bárbaro.
Eu pisei na fronteira de escuridão onde a garota estava, e ela deu um passo para trás.
Swoosh!
Por algum motivo, a escuridão recuou na mesma medida em que avancei.
“Ah, isso é bem divertido.”
Dei outro grande passo à frente.
A garota não recuou dessa vez. Ela apenas ficou onde estava e falou comigo.
— Então você…
Thomp.
— …escolheu a vida de Bjorn Yandel.
Thomp.
A bruxa, que me olhava o tempo todo, de repente exibiu um sorriso derrotado.
— No fim… você não era diferente de nós.
“…Hã?”
— Nós? — perguntei, parando de andar. — Do que você está falando?
Ela não me respondeu, dizendo apenas — Você age como se não estivesse fugindo, mas no fim, ainda está correndo.
— Não, então o que você está tentando…
Foi nesse momento, quando perguntei e dei mais um passo à frente.
— Sim, como pensei, estávamos certos.
A garota se virou e caminhou em direção à escuridão.
Clack, clack.
O som dos saltos foi se afastando cada vez mais. Com isso, a escuridão também começou a diminuir.
— Ei, espere!
Tentei segui-la, mas, por algum motivo, a distância entre nós nunca diminuía, mesmo ela andando lentamente.
Clack.
E, à medida que aquele som fraco de saltos desaparecia e o mundo inteiro era coberto pela luz…
— Yan… Bar… del… Barão…!
A voz de um homem reverberou pelo espaço como um trovão. A voz, distorcida por estática, ficou gradualmente mais clara em meus ouvidos.
— Ahh! Barão Yandel, seu desgraçado!
Suspirei. Aquela última foi um pouco rude.
— Ei, você! Acorde, por favor!
— Estou acordado, pare de me sacudir.
— …Hã?
Eu finalmente tinha voltado para onde precisava estar.
Para ser sincero, estava um pouco preocupado. Depois de zerar Dungeon and Stone outra vez, onde eu iria parar?
Talvez eu precisasse entrar no corpo de outro bárbaro e começar de novo a partir da cerimônia de maioridade. Ou talvez eu acordasse em um mundo décadas no passado, ou… talvez décadas no futuro. Talvez meus aliados tivessem desaparecido nos anais da história, e os poucos vivos no futuro me recebessem em seus corpos envelhecidos.
Bem, o resultado foi que essas teorias terminaram como teorias.
— Pare de me sacudir. Estou acordado.
Quando abri os olhos, estava no convés. Eu estava deitado de braços abertos e encharcado, enquanto Baekho estava acima de mim, me sacudindo com toda a força.
— Hã? Irm… Não, Barão? Uh! Ele está acordado! Está bem?
Por alguma razão, Baekho parecia surpreso por eu ter aberto os olhos enquanto recuava.
Verifiquei rapidamente e de forma concisa a coisa mais importante primeiro. — Qual é a situação? Estamos em perigo?
— N-não. O perigo passou.
Ah, que bom ouvir isso. Minha última lembrança era de ser perseguido pelo Draizen e cair na água. Eu também estava um pouco ansioso de ter acordado para nos encontrar em uma situação crítica por causa do desespero dele ao tentar me acordar.
— Quanto tempo eu dormi? — perguntei.
— Não foi muito tempo.
— O tempo exato.
— Uh… Cerca de trinta minutos?
“Trinta minutos…’
Embora estivesse aliviado, uma parte de mim também sentiu que desperdiçou algo. Eu tinha passado pelo menos meio ano naquele mundo.
— E os outros?
— Os magos estão cansados, então estão em meditação, e os outros, como pode ver, estão bem.
Certo, parecia que nada grande aconteceu enquanto eu estava dormindo. Relaxe um pouco.
— Conte-me o que aconteceu depois que caí na água. Não omita nada.
Baekho também parecia entender a importância da transferência de informações, pois imediatamente começou a me relatar. Em resumo…
— Assim que vi você cair na água, mergulhei atrás de você.
Baekho havia pulado na água para me salvar. No processo, foi atacado pelos monstros que tinham despertado e quase morreu de verdade…
“Vou só ignorar as partes desnecessárias sobre ele mesmo.”
Após adotar diferentes táticas e manobras, Baekho conseguiu me tirar da água antes que eu afundasse completamente.
Ele disse algo sobre como foi uma bênção o esqueleto do bárbaro em si ser pesado e eu estar usando minha armadura, porque, se não fosse assim, teria sido arrastado pela correnteza e caído pela cachoeira. Nesse caso, seria impossível me salvar.
— Depois disso, mal conseguimos subir no barco e escapamos rapidamente.
— Foi assim tão fácil…?
A explicação não foi suficiente para eu aceitar. Não importava o quanto de mana os magos usaram para ativar o círculo de defesa ao redor do barco, eu achava difícil acreditar que conseguiram se defender contra o chefe especial de primeiro nível, Draizen, até que eu fosse salvo com sucesso. E terminou assim — E então, todos escapamos rápida e seguramente?
— Para ser honesto, eu também não entendo. Mas juro, foi só isso que aconteceu. Fugimos o mais rápido possível, e os monstros só nos deixaram ir. E, quando estavam nos atacando no barco, só nos deram umas batidinhas e nada mais.
A descrição de Baekho sobre o comportamento do Draizen levantou muitas questões. Quero dizer, aquele simplesmente não era o tipo de monstro que seria tão dócil.
Mas, já que ele disse que foi isso que aconteceu, segui para o próximo ponto.
— Então por que você estava tentando me acordar tão desesperadamente? Pelo que vi, não havia motivo para você entrar em pânico daquele jeito.
A expressão de Baekho se contorceu. — Você está perguntando isso porque não sabe? Não… Ah, acho que você realmente não saberia.
— O que você está tentando insinuar aqui? — perguntei, um pouco ofendido.
Ele soltou uma tosse seca antes de responder como se não fosse nada. — Ahem! Era urgente, claro! Seu coração tinha parado naquela hora!
— …O quê?
— Fiquei tão surpreso porque achei que você realmente ia morrer!
Finalmente olhei bem para Baekho. Não parecia que ele estava exagerando ao dizer que quase morreu depois de mergulhar na água. Havia o fato de ele estar encharcado dos pés à cabeça, sem mencionar que o equipamento dele estava danificado em algumas partes. Eu podia até ver alguns ferimentos abertos nele.
“Ele chorou tanto assim só porque meu coração parou?”
Por um segundo, fiquei envergonhado de ter considerado seriamente jogá-lo para fora do barco quando tive a oportunidade.
“Ainda assim, ele me salvou porque precisa de mim para seu próprio objetivo. Não foi como se ele tivesse feito isso porque realmente se importa comigo, certo?”
Sob essa perspectiva, Baekho fez tudo o que pôde para me salvar porque isso era necessário para o plano dele. Então, decidi não ser muito grato.
É. Esse era o tipo de lógica absurda que combinava com Rafdonia.
— Baekho Lee. Tenho uma pergunta.
— O que foi?
— Não, está bem. Não é nada.
— Qual é a sua… Mano. Você só queria me irritar?
Estremeci ao ouvi-lo me chamar de ‘mano’ de repente, mas, felizmente, parecia que os outros não estavam prestando atenção em nós. Quero dizer, Baekho era do tipo que falava o que quer que fosse.
— O que é? O que é? O que é? Me diz! Me diz! Me diz!
— Eu disse que não é nada!
— Argh! Isso me irrita ainda mais!
Enquanto eu assistia Baekho fazer ainda mais birra do que de costume, pensei em mandá-lo calar a boca, mas parei ali, friamente.
“Por que você simplesmente não me deixou morrer?”
Essa era a pergunta que eu queria fazer originalmente. Esse era o cara que planejava me deixar morrer e me reviver com a Pedra da Ressurreição, afinal. Se eu tivesse morrido hoje, ele poderia usá-la para me reviver. Depois disso, como minha memória seria apagada, ele poderia me manipular à vontade.
“Então ele provavelmente não sabia.”
Pensando bem, não havia como ele ter certeza de que eu estava com a Pedra da Ressurreição. Missha poderia ainda estar com ela, e, se não estivesse, havia a possibilidade de eu tê-la entregue a alguém de confiança para guardá-la.
Bem, como ele é esperto, provavelmente sabia que as chances de eu ter a Pedra da Ressurreição comigo eram as maiores.
“Ele não consegue abrir meu subespaço a menos que me mate. É só uma aposta a tal ponto.”
Interrompi minha pergunta antes de expressá-la. No momento em que dissesse isso, ele ganharia a informação de que eu tinha a Pedra da Ressurreição comigo. Isso poderia se tornar uma variável que ele usaria contra mim mais tarde.
“Finalmente sinto que estou de volta.”
Sorri ao pensar nisso, o que fez Baekho me olhar com uma expressão de quem lembrava de algo.
— Ah, certo! Não me importo mais com sua pergunta, então posso te fazer uma?
— Vá em frente.
— Enquanto você dormia, estava sorrindo com bastante frequência…
— E daí?
— Que sonho você teve?
Parei um momento para pensar.
“O que sonhei…”
Se eu fosse honesto com ele sobre o que experimentei lá, ele só pensaria que havia algo errado com minha cabeça.
Assim como as pessoas daquele mundo pensavam sobre mim.
Mesmo que eu contasse a ele sobre a Bruxa da Terra ou o mundo paralelo, ele só descartaria e diria que vi uma alucinação devido ao efeito de campo.
“É até engraçado em retrospecto.”
Mas o mais engraçado era que nem eu sabia ao certo.
Tudo o que experimentei foi um sonho ou realmente retornei ao mundo real? A Bruxa que conheci no meio disso era real ou uma ilusão?
Ba-dum.
Eu ainda estava um pouco confuso. E, por algum motivo, as memórias daquele lugar começaram a desaparecer assim que acordei. Era como acordar de um sonho no qual você só conseguia se lembrar de algumas cenas impactantes.
— Hã? Por que você não está dizendo nada? Teve um sonho erótico, por acaso? Estou te dizendo agora, mas se você não conseguiu acordar porque ficou preso em uma ilusão de orgia…
— Não foi isso, então para com isso.
— Então o que foi? Não pode pelo menos me contar? Considerando nosso relacionamento.
Qual era nosso relacionamento?
Queria perguntar isso em resposta e cortá-lo, mas achei que só prolongaria a conversa, então resumi.
Algo de que eu não precisava. Algo que alguém experimentaria pelo menos uma vez na vida.
— Foi apenas um sonho sem significado.
Algo de que eu não precisava me arrepender.
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