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    Splash!

    O barco avançava lentamente, cortando as ondas iluminadas pelo brilho das estrelas.

    — Ei, parece que os monstros não vêm mais atrás de nós. Parece que não temos mais nenhum aggro na gente.

    — Baekho, o que significa ‘aggro’?

    — Ah, quantas vezes eu vou ter que te explicar pra você lembrar?

    O barco estava tão tranquilo que era difícil imaginar que estivéssemos em um perigo tão grave há pouco tempo.

    — Fico aliviado que esteja bem, Lorde Barão.

    — Sim. É um alívio que você também esteja.

    Com seu MP recarregado, o GM veio checar minha condição e conversar, mas Lek Aures soltou uma risada alta e interrompeu.

    — Hahaha! Eu sabia que ele ia acordar bem! Não há como o Gigante Imortal morrer em um lugar como este!

    — O que você quer dizer com… Gigante Imortal?

    — Ah! Esse é seu apelido que acabei de inventar! Não é legal? E combina perfeitamente com você!

    — Ele tá só tagarelando de novo. Por que você leva ele a sério? Só ignora.

    O GM assentiu de maneira desajeitada ao conselho de Baekho, e Aures abaixou a cabeça como se tivesse sido magoado pelo comentário.

    Claro que isso não durou muito.

    — Deuses! Por que entrei em uma equipe assim? Nenhum lugar trata pior os guerreiros do que aqui!

    Aures fez um escândalo novamente, como se abaixar a cabeça só tivesse servido para acumular energia.

    O arqueiro, observando atentamente os arredores na frente do barco, mudou de assunto. — A propósito, são duas pessoas dessa vez.

    Não era necessário perguntar o que ele queria dizer com ‘duas pessoas’. A sacerdotisa Jaina e o Vovô Caído. Ambos tinham adormecido devido ao efeito do campo.

    — Baekho, vamos continuar nossa busca desse jeito?

    — Bem… Não sei. Vai perguntar pro barão ali. Ele é nosso novo líder super legal e radical.

    — Radical…? O que você quer dizer?

    — Ah, tanto faz. Só vai e pergunta pro barão.

    — …Se você observar bem, tenho a sensação de que Baekho é ainda mais sem noção do que Aures.

    — O quê? O que você disse?

    — Nada — respondeu rapidamente o arqueiro, parando de resmungar sobre as palavras esquisitas de Baekho e se aproximando de mim. — E então, quais são seus planos, Lorde Barão? Vamos continuar investigando o Lago dos Sonhos, como planejado inicialmente?

    “Hmm, bem…”

    Para ser sincero, era algo em que eu já vinha pensando há um tempo…

    “Está decidido.”

    — Vamos adiar nossa investigação. Acho que o melhor será investigarmos as Montanha Crânio de Dragão primeiro.

    — Montanha Crânio de Dragão… — O arqueiro caiu em contemplação por um momento e então assentiu. — Não é uma escolha ruim. E nosso barco também acabou de alguma forma perto da área montanhosa.

    — E, já que o Draizen apareceu perto das cachoeiras, teremos dificuldade em investigar lá. Diria que investigar as Montanha Crânio de Dragão primeiro e voltar aqui quando as coisas acalmarem um pouco será a melhor escolha.

    Olhei para Baekho com olhos que diziam que ele devia expressar alguma queixa se tivesse alguma sobre o plano, mas ele apenas deu de ombros, como quem diz que eu podia fazer o que quisesse.

    “Ele está se achando demais.”

    Se ele tivesse outra coisa que quisesse fazer, teria se oposto à minha decisão sem hesitar.

    De qualquer forma, após decidirmos nosso destino, tudo progrediu tranquilamente. Continuamos guiando nosso barco em direção às Montanha Crânio de Dragão, e como não nos movíamos muito rápido, não havia monstros aparecendo ao nosso redor.

    — …Hmm?

    No entanto, houve momentos de perigo durante a viagem.

    — Parece que todos, exceto você, adormeceram — notou o Vovô Caído.

    Exceto nós dois, todos os outros membros do grupo haviam adormecido devido ao efeito do campo.

    “Qual será a probabilidade disso?”

    Não pude evitar ficar nervoso. Ter mais da metade do grupo dormindo ao mesmo tempo, era muito raro nas Cachoeiras dos Sonhos.

    Isso seria… um presságio sombrio?

    Permaneci atento aos arredores e continuei guiando o barco.

    Mas, para ser honesto, o constrangimento era o que estava me matando. O silêncio era tão desconfortável que quase desejei que monstros surgissem para que pudéssemos lutar.

    No fim, fui eu quem falou primeiro.

    — Ei!

    Quando o chamei com uma palavra simples, Vovô Caído se virou de onde estava. Eu me perguntava se ele deveria ao menos dizer algo em resposta ao invés de só me encarar, mas se esse velho soubesse dessas coisas, não estaríamos nessa situação em primeiro lugar.

    Decidi aproveitar a oportunidade para fazer uma pergunta que vinha segurando.

    — O que é o destino?

    — Essa é uma pergunta bem genérica — ele comentou.

    — Quando você viu Erwen da última vez, disse que ela tinha o maior destino depois de mim. Estou curioso sobre o que você quis dizer com isso.

    — Agora, ela perdeu boa parte de sua luz depois de ficar perto de você.

    — Chega. O que é essa coisa de destino que você continua mencionando?

    Quando não cedi, Vovô Caído olhou para as águas estreladas que fluíam abaixo de nós.

    — Existem muitos poderes diferentes no mundo. Poder mágico, poder divino, mana. Não só esses que são convencionalmente conhecidos, mas até mesmo raiva, amor e outras emoções podem se tornar origens de poder que têm potencial para serem consideradas ‘recursos’.

    — …E daí?

    — O destino tem uma qualidade difícil de definir, mas acredito que o destino também é um desses poderes que podem ser usados. Ainda mais porque ele se desgasta quanto mais você o utiliza.

    — Ele se desgasta?

    Vovô Caído assentiu. — O destino não é infinito. A maioria das pessoas vive com apenas alguns destinos em seu nome. E até esse número diminui com as escolhas que fazem.

    Hmm, estava prestando atenção porque pensei que ele tinha algum ponto, mas isso parecia um sermão de um culto qualquer.

    Protestei — Espera, acho que você está desviando do assunto.

    — Mas foi você quem perguntou o que era o destino.

    — Estou apenas curioso sobre o que você disse sobre Erwen.

    Quando enfatizei mais uma vez o ponto principal da conversa, Vovô Caído finalmente respondeu o que eu queria saber.

    — Erwen Fornacci di Tersia, é isso…?

    — Sim. O que você quis dizer com o que falou pra ela?

    — Foi exatamente o que disse. Ela tinha o maior destino depois de você. Por isso tentei eliminá-la, se fosse possível.

    — Mas você falhou.

    — Exatamente. E a elfa que não consegui matar naquele dia se tornou uma pessoa poderosa, com o título de Espírito de Sangue.

    — Você está dizendo que isso é tudo o poder do destino?

    — Correto. A maioria das pessoas não recebe um destino dessa magnitude. Se tornar um cozinheiro ou se tornar um estudioso. O destino da maioria das pessoas é apenas nesse nível. Elas nunca podem se tornar um rei ou alguém que deixe seu nome registrado na história. — O Vovô Caído tirou os olhos das águas e se virou para me olhar. — Diferente de você.

    Apenas o olhei com um semblante confuso em resposta.

    — Com o tamanho do seu destino, você pode fazer qualquer coisa e se tornar qualquer pessoa. Até mesmo o rei desta cidade, não seria impossível para você… Claro, isso apenas sob a condição de que você sobreviva com aquele destino que pesa tanto sobre você.

    — O que você quer dizer com ‘aquele destino’? — perguntei, inclinando a cabeça.

    Vovô Caído soltou uma risada. — Haha, você não sabe? Você tem o destino de um dia abrir o Portão do Abismo. Não importa o quão poderoso seja seu destino, você não pode mudar o que está escrito nele. Bem, você sabe disso melhor do que ninguém, pois já experimentou isso.

    Já experimentou isso…

    Parecia que o Vovô Caído sabia que eu tinha voltado do mundo de vinte anos atrás.

    “Bem, ele realmente passou os últimos anos junto com Baekho.”

    Foi uma admissão que nossa curta conversa me permitiu captar.

    Aproveitei a oportunidade para dar uma rápida olhada ao redor. Parecia que o resto do grupo estava profundamente adormecido, inclusive Baekho, sem sinais de acordar.

    — Belbev Ruingenes.

    — Faz muito tempo que não me chamam pelo nome completo.

    — O que você está tramando com Baekho Lee?

    — Não há trama alguma.

    Pra ser sincero, mesmo enquanto perguntava, não esperava obter uma resposta. — Não acredito nisso. Achou que eu não perceberia que você está tentando me usar para algum propósito seu?

    — Hmm… Eu não sei o que Baekho Lee pode estar pensando, mas pelo menos eu não estou tentando te usar de forma alguma. O motivo pelo qual estou com Baekho Lee é apenas porque nossos objetivos se alinham em outro aspecto.

    — Então… qual é esse objetivo que vocês têm em comum?

    Apesar de eu deixar claro que estava tentando arrancar algumas respostas dele, o Vovô Caído respondeu sem se incomodar. — É voltar ao mundo original sem abrir o Portão do Abismo. Baekho Lee chama isso de Plano B.

    — Ah… — Eu me lembrava de Baekho mencionando o Plano B algum tempo atrás. Agora, ouvindo isso da boca dele, parecia que o Vovô Caído realmente não se importava comigo e estava focado apenas em completar um plano secundário.

    — Voltar sem o Portão do Abismo… Isso é realmente possível? — questionei com cautela.

    Ele respondeu sem hesitação. — É possível. Em teoria.

    — Em teoria?

    — Ainda não consegui tentar, pois isso exige bastante preparação. E essa preparação é o motivo de eu estar me movendo junto com Baekho Lee.

    — …Entendo.

    — De qualquer forma, não sei se você vai acreditar ou não, mas não estou tramando nada contra você, nem tenho intenção de fazer isso. Embora isso possa mudar se meu plano falhar.

    — Ainda assim, já que você está junto com Baekho, deve saber algumas coisas sobre o plano dele, certo?

    — Não particularmente. Embora Baekho Lee certamente tenha seus próprios pensamentos, eu não perguntei sobre eles. É um assunto que diz respeito somente a mim. Mesmo que ele me pedisse ajuda, eu não planejo ajudar.

    — Se ajudar não avançar seus próprios planos, certo?

    — É como você diz.

    Ele poderia ter simplesmente não respondido a essa última parte, mas o fato de ter me respondido honestamente me fez confiar um pouco mais nele. Parecia realmente que ele não tinha interesse em mim.

    Era como um jogo de atração e repulsa em um relacionamento. Agora que ele havia voltado o olhar para as águas e se perdido em pensamentos, me vi inadvertidamente mais curioso sobre sua mente.

    “Agora que penso nisso… Esse Vovô também é um espírito maligno.”

    Para ser mais preciso, ele era um espírito maligno de uma geração anterior. Eles vinham de um mundo diferente da Terra e foram chamados aqui por um método diferente do jogo. Como nossas gerações eram distintas, eu não tinha interagido muito com eles pessoalmente.

    — Ruingenes, como era o mundo em que você viveu?

    — O mundo em que vivi…

    O Vovô Caído olhou para o horizonte, como se processasse a pergunta antes de me dar uma resposta que eu jamais esperaria.

    — Eu não lembro. Fui chamado para este mundo quando era muito jovem.

    — …O quê?

    — Eu descobri um livro no fundo de uma caverna escura, e lia esse livro quase todos os dias. Essas são as únicas duas lembranças que ainda consigo lembrar adequadamente.

    Era esse o motivo pelo qual, vinte anos atrás, na comunidade, ele tinha a aparência de uma criança?

    Independentemente disso, ele continuou — Quando abri os olhos, estava no corpo de um adulto, e usei o conhecimento daquele livro para sobreviver. Isso me trouxe até onde estou agora.

    Era a primeira vez que eu via um método de possessão como esse. A maioria das pessoas ficava mais jovem ao possuir um corpo na casa dos vinte anos, mas este era o cenário oposto.

    Embora eu tivesse ficado interessado na história do Vovô Caído, surgiram novas perguntas em minha mente.

    — Por que você está tão obcecado em voltar, então?

    Se as memórias dele daquele mundo eram vagas, então sua nostalgia e desejo por aquele lugar também seriam menores. Por que, então, ele ainda tentava voltar ao seu mundo?

    O Vovô Caído apenas sorriu diante da minha curiosidade genuína. — Eu te devolvo a pergunta. Por que você não está tentando voltar?

    Ah, bem… — Porque eu gosto mais desse mundo?

    Embora eu pudesse pensar em vários motivos, esse era o fundamental.

    O mundo que eu antes considerava brutal e selvagem já não parecia tão selvagem para mim. Na verdade, ao pensar no mundo dos sonhos que experimentei, modelado após o mundo moderno, o mesmo pensamento me vinha à mente repetidas vezes:

    “Como um mundo tão irreal pode existir?”

    — Eu sou o oposto.

    — Hmm? — murmurei, distraído.

    — Eu não gosto deste mundo. Por isso estou tentando voltar.

    Não consegui sentir nenhuma emoção em seus olhos ou em sua voz. O que havia acontecido com esse homem?

    Embora minha curiosidade só aumentasse, infelizmente, nossa conversa terminou ali.

    — Ugh…

    — Parece que estão começando a acordar — disse o Vovô Caído.

    Droga, provavelmente conseguiria tirar mais dele no ritmo em que estávamos indo.

    — Vou cuidar de Bryat, então cuide de Baekho Lee.

    Não podia ser em pior hora.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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