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    Eu não conseguia entender o que nenhum dos dois queria dizer com aquela conversa. Nem Baekho, que de repente perguntou se ela queria matá-lo, nem Jaina, que respondeu sem nem pensar duas vezes.

    Qual era o relacionamento entre esses dois?

    — Oh, olhando para mim com esses olhos de novo?

    — P-Pare, Baekho… Se lutarmos nessa situação, só será bom para quem nos prendeu aqui! — Aures apontou, tentando aliviar a tensão no ar com uma rara pontada de lógica.

    — Apenas cale a boca e fique de lado. Achou que eu não saberia que você ainda conversa com o castelão?

    — O q-que você q-quer dizer?! Eu…!

    — Ei, você sabe que não pode mentir aqui, certo? Ainda assim, já que você disse que não contou a ninguém que sairia desta vez, estou deixando isso passar.

    — O-Obrigado…

    Algo na conversa deles me deu a sensação de que aquele idiota do Aures estava realmente tramando algo por trás.

    “Por que esses caras trabalham juntos se é para serem assim?”

    Parece que minha ideia de ‘aliados’ era completamente diferente da de Baekho.

    — Lorde Barão — o GM pediu. — Talvez você devesse dizer algo. Se o grupo se desmanchar por causa disso…

    — Fique quieto por enquanto. Farei algo se isso ficar mais sério — neguei, decidindo apenas observar a situação por ora.

    “Quer dizer, no início, eu não entendia por que Baekho desconfiava dos aliados. Mas, sim, é compreensível se isso é o que acontece nos bastidores.”

    Eles pareciam tão amigáveis uns com os outros que quase me enganaram, mas no final, todos eram iguais. Só estavam trabalhando juntos porque seus objetivos se alinhavam.

    Esses caras não eram ‘aliados’ de verdade.

    — Velho… — Baekho começou a dizer algo para o Vovô Caído, mas soltou um suspiro e balançou a cabeça. — Tudo bem. Já sei que você está tramando algo desde o começo.

    Eu não sabia por quê, mas podia perceber que ele parecia cansado de tudo aquilo. Será que tinha levado um choque de realidade de repente?

    Clack.

    Independentemente da razão, a duração da Confiança Equivocada terminou.

    O Vovô Caído falou: — Qualquer coisa além disso será um desperdício. Isso já deveria ter provado que não há traidores entre nós.

    Mesmo com tudo resolvido, Baekho parecia cauteloso enquanto guardava a Confiança Equivocada de volta no subespaço. Ainda assim, acrescentou seu comentário desnecessário no final.

    — Ainda bem. Até eu me sentiria um pouco mal se tivesse que matar algumas pessoas com quem viajei pelos últimos anos. Mas não preciso mais fazer isso. — Então Baekho olhou para Jaina com um sorriso provocador. — Ah, mas acho que você não sabe como é isso, né? Já que nem conseguia se lembrar das coisas direito naquela época.

    Eu não sabia os detalhes, mas podia sentir instintivamente que essas palavras tinham a intenção de atingi-la profundamente.

    O corpo inteiro de Jaina começou a tremer enquanto ela dava um passo, depois outro, em direção a Baekho, antes de parar.

    — O quê? — ele provocou. — Vai me bater?

    Jaina rangeu os dentes, encarando Baekho enquanto murmurava: — Baekho… Não somos brinquedos para você descontar sua raiva… Então, se vai agir como uma criança, vá fazer isso com sua mãe.

    Foi uma resposta dolorosa que fez até o GM e Aures se encolherem onde estavam.

    — Ah, acho que você não pode, né? Já que nunca vai conseguir voltar para o seu mundo original…

    Foi aí que Jaina o empurrou para o limite.

    O corpo de Baekho de repente desapareceu…

    Boom!

    E um som estrondoso cortou o ar enquanto a poeira subia.

    — Heh, isso é divertido.

    Simplificando, Baekho tentou atacar Jaina, mas Aures pulou ao lado dela e o parou com seu escudo.

    — O quê? Você estava falando sobre recuperar suas memórias ou algo assim, mas já conseguiu alguém para grudar em você?

    Mesmo como um observador de fora, era algo vergonhoso, digno de um vilão de terceira categoria. Parecia que eu tinha sido confrontado com o ponto mais baixo desse homem chamado Baekho.

    — Baekho, entendo que isso é um problema, mas controle-se. Isso não é típico de você — argumentou Aures.

    — E o que é típico de mim?

    — Você sempre é imprevisível e uma dor de cabeça, sim, mas pelo menos não é alguém que causa problemas como esse.

    Mesmo parecendo que Baekho ia atacar de novo, Aures o enfrentou com confiança e disse o que precisava ser dito.

    “Sim, isso é ser um tanque.”

    Não existem tanques ruins no mundo.

    Baekho demorou a responder. Finalmente, suspirou.

    — Vou esfriar a cabeça.

    Ele então saiu da sala como se estivesse fugindo, e Aures soltou um suspiro profundo. Parecia que a situação finalmente o atingira.

    — A intenção assassina de Baekho sempre é uma experiência assustadora. Achei mesmo que ia morrer asfixiado.

    — Haha, mesmo assim, você não mostrou sinais de recuar. Passei a te ver com outros olhos.

    — Ahaha… É para proteger um aliado. Como poderia recuar?

    Em tom baixo, Jaina disse: — Obrigada.

    Aures coçou a nuca, visivelmente embaraçado.

    — Então, querem ir na frente? — perguntou a sacerdotisa. — Eu os acompanho depois de esfriar a cabeça um pouco.

    — Ah… Certo! Vamos?

    “Como assim, vamos?”

    Antes que Aures pudesse dizer mais alguma coisa, eu rapidamente intervi: — Não vou permitir que ninguém aja sem minha permissão. Não há garantia de que estamos seguros só por estarmos aqui.

    — Uh… Mas o Baekho acabou de sair sozinho?

    “Ei, não me questione. Acha que Baekho e a sacerdotisa são a mesma coisa?”

    — Não é não.

    Embora eu tenha sido firme, Aures perguntou de novo: — Se o problema é ela estar sozinha, então eu fico com ela. Isso resolve, certo?

    “Ah… Quando ele fala assim, não tem muito que eu possa dizer para rebater. Será que esse cara sempre foi tão lógico e só não usava isso?”

    Apesar da surpresa, não ia permitir. — Não.

    — Por quê?

    Havia alguns motivos. Primeiro, deixar a sacerdotisa só com ele não me dava nenhuma confiança.

    — Você disse que estar sozinha era o problema. Então qual o problema se eu ficar com ela?

    O segundo motivo era o próprio cara. Se outro problema surgisse entre eles, com as coisas já tão instáveis, algo irreversível provavelmente aconteceria.

    — Me responda. Se não, nunca mais volto…

    “Cara, cala a boca.”

    — Você pode ir primeiro, então. Eu fico com ela. — Já que senti que ele não ia desistir só com um ‘não’, decidi tomar o lugar dele.

    Como esperado, Aures ficou desconcertado. — Ah… Hã? V-Você não precisa…

    — Está tudo bem. — Jaina interveio. — Eu vou logo depois, então não se preocupe.

    — Entendido.

    Com Jaina apoiando, Aures não tinha mais o que dizer e saiu com os ombros caídos. Quando restamos apenas nós dois na câmara de pedra, Jaina se virou para mim.

    — Ele é engraçado, não é? — comecei.

    — Ele tem sido assim há um tempo. Mesmo brincando, continua me olhando de lado.

    — Você sabia?

    — Como não saberia? Ele é tão direto.

    “Suponho que sim?”

    Para ser honesto, não tinha notado até hoje.

    — A propósito, estamos só nós dois de novo.

    — Sim, acabou acontecendo. Vou ficar quieto aqui, então pode organizar seus pensamentos. — Sentei-me de pernas cruzadas perto da entrada, enquanto Jaina se encostava em uma parede a alguma distância.

    O silêncio caiu.

    Enquanto mastigava carne seca e pensava em algumas coisas, Jaina falou novamente.

    — Você… não vai perguntar sobre isso?

    Embora parecesse um comentário aleatório, não alterou o tom da conversa.

    — Você não precisava de um tempo sozinha? — questionei.

    — Mas eu não estou sozinha, de qualquer forma.

    Hmm, isso era verdade.

    — Então você vai me contar se eu perguntar?

    Eu não coloquei muito pensamento nessa pergunta, e Jaina respondeu no mesmo tom.

    — Não é como se eu não pudesse te contar. Não é algo que eu traria à tona por conta própria, mas também não é algo que eu precise esconder. E você não disse que ficaria comigo porque estava curioso sobre isso?

    Bem, essa era uma das razões. — A principal razão é outra.

    — Qual?

    — As coisas podem ficar complicadas se a afeição entrar em jogo na situação em que estamos — respondi honestamente, sem esconder nada.

    Jaina riu, parecendo não ter esperado ouvir isso, antes de mudar de assunto. — Não, pensando bem, não vou contar.

    — O quê? De repente?

    — Só porque sim. Não é uma história tão interessante assim.

    — Sério? Faça como quiser.

    Tsk, me animei à toa. Senti a tensão sair do meu corpo enquanto suspirava.

    No entanto, ela pareceu sentir um pouco de culpa ao ver minha reação.

    — Ainda assim, vou pelo menos te contar isso. Eu menti para você antes, Barão. Não, para ser precisa, omiti uma parte de propósito.

    — O que foi?

    — A pessoa que salvei ao desistir das minhas memórias para o Lorde Karui. Eu fui quem a matou. Bem, talvez você já tenha adivinhado ao ouvir o que Baekho disse.

    — Posso saber como isso aconteceu?

    — Não é nada grandioso. Karui pediu que ela fosse uma oferenda. Prometeram-me uma nova autoridade, então eu a matei.

    Eu não respondi.

    — É uma autoridade poderosa que já salvou minha vida algumas vezes, mas… Eu não deveria ter feito isso. Se soubesse que me sentiria tão frustrada agora, nunca teria…

    Um profundo arrependimento permeava a voz de Jaina, então não fiz mais perguntas e dei a ela algum tempo.

    Dez minutos, vinte minutos…

    Cerca de trinta minutos depois, Jaina se levantou e disse que estava bem antes de voltar para as escadas.

    — Está se sentindo melhor agora?

    Quando entrei novamente nas ruínas, vi Aures se aproximar de Jaina. Os dois estavam conversando, mas eu não fiz questão de escutar.

    Quando me aproximei do GM para perguntar onde Baekho estava, ele apenas disse que ele ainda não havia voltado.

    Suspirei. Esse cara estava na puberdade ou algo assim?

    — Devemos procurá-lo?

    — Está tudo bem. Não adianta. Ele vai voltar se continuarmos esperando.

    — Ainda assim, não poderia haver uma entidade desconhecida aqui nas ruínas conosco?

    — Podemos esperar mais um pouco, e se ele não voltar antes disso, não será tarde para procurá-lo.

    Mais importante, havia uma conversa que eu precisava ter enquanto Baekho estava longe. Deixei minha conversa com o GM por ali e me aproximei do Vovô Caído.

    — Ei.

    — O que foi, Lorde Barão?

    — Quero consultar algo com você.

    — Fale.

    Como o velho não era de falar muito, fui direto ao ponto.

    — Sobre Baekho, ele pareceu normal para você?

    Essa era uma sensação que eu vinha tendo há algum tempo. Mesmo Baekho não sendo uma pessoa normal, ele não era alguém que agisse de forma tão impulsiva. Ele só fazia algo que lhe trouxesse benefício.

    — Ele provavelmente não está em seu juízo perfeito se você também está dizendo isso.

    — Então você também sentiu algo estranho nele?

    — O ponto de referência dele não é algo como bem e mal. Não importa a situação, ele pensa e tenta agir racionalmente. No entanto, as coisas que ele fez hoje foram muito emocionais.

    — Qual a possibilidade de ele estar assim porque se sente pressionado pelo tempo?

    — Essa teoria é risível. Se ele ficasse impaciente por algo assim, não teria conseguido perseguir seu único objetivo por quase vinte anos.

    — Entendi…

    Então o que fez Baekho agir dessa maneira? Havia algum efeito ambiental em jogo que não percebemos? Mas todos, exceto Baekho, estavam normais demais para esse ser o caso.

    Enquanto eu refletia, o Vovô Caído se aproximou cuidadosamente e apresentou outro tópico.

    — Estou mais curioso sobre outra coisa.

    — Sobre o quê?

    — É algo em que pensei ao revisitar o que aconteceu. Como imaginei, a única explicação é que há alguém no grupo vazando nossas informações.

    — Já não resolvemos isso? — Usamos a Confiança Equivocada para verificar não apenas os companheiros de Baekho, mas também o GM. Bem, Baekho não pôde usá-la em mim porque não funciona comigo, mas por que o Vovô Caído está trazendo isso agora?

    Havia apenas uma conclusão que eu podia tirar.

    — Você… está desconfiando de mim e do Baekho? — perguntei, abaixando a voz.

    O Vovô Caído sorriu de leve. — Não é isso. Claro, você certamente tem motivos para nos atrapalhar… Mas há alguém que eu desconfio mais do que de você.

    — Não enrole. Vá direto ao ponto.

    — Há mais uma pessoa de quem não ouvimos respostas.

    Do que esse velho estava falando? Se ele continuasse com isso…

    — É Bryat.

    Pausei. — O quê?

    — Não ouvimos de Bryat que ele não foi quem vazou as informações.

    — Você… acha que ele está vivo?

    — Bem, como alguém que viu o corpo dele pessoalmente, vejo essa possibilidade como muito baixa… Mas sua morte não prova sua inocência. — o Vovô Caído continuou com um tom completamente neutro: — Cheguei à mesma conclusão várias vezes, mesmo refletindo sobre isso… Se um de nós é o traidor, então não pode ser ninguém além de Bryat.

    Eu não sabia que provas ele tinha, mas o Vovô Caído parecia convicto de que o Bryat era o traidor.

    Com isso, também tirei um tempo para pensar.

    “A sacerdotisa quer matar Baekho, o guerreiro é um peão do castelão, o mago está tramando algo diferente. E o arqueiro agora era o traidor… Será que Baekho tentou mesmo montar um time?”

    A essa altura, eu já nem me surpreendia mais.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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