Capítulo 703: A Calma Antes da Tempestade (3/5)
Caminhada exausta.
Humor sombrio.
Expressões endurecidas que iam além do mero abatimento, transformando-se em algo assustador.
Essas características faziam com que as quatro pessoas caminhando pela floresta parecessem sobreviventes que acabaram de fugir de um campo de batalha.
Quando estavam a uma boa distância no interior da floresta, o homem de cabelo loiro platinado, que liderava o grupo, parou de andar e murmurou baixinho — Isso é uma merda.
A declaração foi tão baixa que, a menos que alguém estivesse prestando atenção, seria impossível entender o que ele disse.
Nenhum dos outros três respondeu a essas palavras. Todos sabiam o quanto aquele homem estava enfurecido e como o orgulho dele havia sido ferido.
No entanto, o silêncio durou apenas um momento.
O grandalhão, que não sabia como se adaptar às situações, não conseguiu se conter e sentiu que precisava dizer algo.
— Uh… Baekho? Talvez seja uma pergunta inútil neste momento, mas… por que você não resolveu isso na porrada…?
— Por que não lutei com ele até o fim? — Baekho retrucou com uma voz gélida.
Aures se arrependeu da pergunta por um instante antes de decidir continuar saciando sua curiosidade. — Com o Barão Yandel, sim. Qualquer um sabe que ele valoriza os aliados. Se tivéssemos continuado a pressioná-lo, seria ele quem abaixaria a cabeça no final.
Era natural que a curiosidade de Aures fosse despertada por tal questão.
Barão Yandel e Baekho eram opostos completos. Enquanto Bjorn Yandel cuidava de seus aliados como se fossem sua própria família, Baekho não era assim. Ele era frio e calculista, alguém que não hesitaria diante da morte de outra pessoa, independentemente de quem fosse. Essa era a avaliação de Aures sobre Baekho, e era baseada em experiência.
Com essa diferença em mente, quem tinha a vantagem no jogo de ‘quem pisca primeiro’ que os dois haviam jogado era Baekho.
Então, como o resultado oposto ocorreu?
Ele ouviu a resposta de Jaina, que respondeu no lugar do ainda silencioso Baekho.
— Parece que você não os viu.
— Não vi o quê? Do que está falando?
— Os olhos dele.
— Os… olhos dele? — Aures inclinou a cabeça, confuso com o que ela quis dizer.
Jaina continuou explicando — Se você tivesse visto os olhos dele, não estaria fazendo essas perguntas.
— O que isso quer dizer? O que havia nos olhos dele? Ele usou alguma habilidade ou algo assim?
— Não, nada disso… Dá para perceber assim que você olha nos olhos dele. O Barão Yandel não é alguém que recuará. Ainda mais quando está sendo ameaçado.
Aures ainda parecia não entender, então o Erudito Caído adicionou sua análise.
— Há muitos neste mundo que agem de forma imprudente ou tomam decisões erradas porque não pensam nas consequências futuras. No entanto, esse não foi o caso do Barão Yandel hoje.
— O que quer dizer?
O Erudito Caído criou uma pequena chama na palma da mão.
— A maioria das pessoas não estende a mão para o fogo. É porque sabem o quanto ele é quente. Mas e alguém que vê o fogo pela primeira vez?
— Bem… não sei, mas, se fosse eu, talvez tentasse tocá-lo por curiosidade.
— Isso é o que significa ser ignorante. Alguns sentem medo em sua ignorância, enquanto outros ganham confiança.
— Espere, o que está tentando dizer?
— O Barão Yandel sabia claramente o quão quente era a chama e o que aconteceria se a tocasse. Mesmo assim, ele não recuou…
— Porque achou que era algo que precisava fazer — concluiu Baekho.
No entanto, o Erudito Caído não pareceu ofendido por ter sido interrompido, continuando a expor sua análise da situação.
— Eles não são pessoas que desconhecem o medo. Eles apenas aprenderam o método de superá-lo. E são chamados de ‘guerreiros’ pelo povo. — Quando Aures lhe lançou um olhar confuso, o Erudito Caído continuou — É um trecho da autobiografia de Sir Peprok. Pelos eventos de hoje, entendi por que os bárbaros chamam o Barão Yandel de grande guerreiro.
— Então, de que lado você está, Velho?
— Do seu, por enquanto. É por isso que estou lhe dando conselhos para que entenda por que falhou. Naquele momento, os olhos do barão eram os de alguém determinado e seguro de sua decisão. No entanto, você não conseguiu atingir o mesmo.
— E daí? Deveria ter lutado com ele até o fim? Só para obter uma pequena resposta?
— Apenas estou dizendo para ter cuidado no futuro. Você não pode mais controlá-lo com a ‘coleira’ que acha estar segurando firmemente.
— Eu sei, eu sei… Então cala a boca sobre isso. Não me irrite mais.
Mesmo assim, Baekho parecia ter se acalmado um pouco, recuperando seu jeito habitual de falar. Ele soltou um grande suspiro, resmungando para si mesmo — Isso é um problema, um problema de verdade. Se não consigo controlá-lo ameaçando seus aliados, o que mais posso usar?
Sua raiva havia diminuído o suficiente para que ele deixasse seus pensamentos escaparem na tentativa de responder a essa pergunta. Ele então começou a pensar profundamente, e os outros três lançaram olhares para ele antes de conversarem entre si.
— A propósito… — começou Aures. — Ele era muito forte.
— O barão?
— Sim. Eu não esperava que ele aguentasse horas contra nós, mesmo com tudo o que jogamos contra ele… Nunca pensei que um monstro como ele pudesse existir neste mundo.
— É só que você não sabe. Eles existem no mundo — entoou o Erudito Caído.
— Existem mais monstros como ele?
— Claro, há tão poucos que dá para contar nos dedos, mas eles existem.
Aures começou a dobrar os dedos um a um, como se houvesse pessoas que ele pudesse pensar que se encaixassem nessa descrição.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis…
Embora ele os abaixasse lentamente, ao terminar, nem mesmo tinha dobrado tantos dedos.
— Pode não levar anos até que o número se reduza a apenas uma mão.
— Hmm? O que quer dizer?
— O Barão Yandel continuará ficando mais forte.
Embora Jaina e Aures não tenham respondido, seus olhares eram questionadores.
Questionavam se era sequer possível que ele ficasse mais forte do que já era.
O Erudito Caído desviou o olhar.
— Aqueles que não têm nada a perder só ficam mais resistentes… — ele continuou, olhando para as costas de Baekho, que parecia não ouvir o que estavam dizendo por estar tão imerso em seus pensamentos. — Mas aqueles que têm muitas coisas a proteger se tornam mais fortes.
Era uma lei do mundo que ele havia aprendido ao longo de sua longa vida.
Quando abri os olhos, vi árvores. Árvores gigantes que pareciam se estender tão alto que tocavam o céu.
O céu noturno que eu conseguia ver entre as copas estava salpicado de estrelas, pintando-o como uma galáxia.
Em algum lugar próximo, ouvi o som de uma fogueira.
“Está frio.”
Só então senti o frio do chão nu e o ar úmido que permeava a floresta.
“Eles me cobriram?”
Meus aliados pareciam ter colocado um cobertor sobre meu corpo. Era um cobertor especial, grande o suficiente para cobrir o corpo de dois metros de um bárbaro.
“Será que eles só colocaram o cobertor em mim em vez de me mover, caso eu acordasse?”
Um calor aqueceu meu peito com esse pensamento.
Se eu estivesse no time de Baekho, provavelmente nunca sentiria algo assim, nem mesmo depois de décadas trabalhando com ele.
— Você acordou.
Amelia pareceu perceber que eu me mexia debaixo do cobertor. Quando me sentei para ver onde ela estava, a encontrei ao lado da fogueira.
— Quanto tempo passou? — perguntei.
— É o segundo dia desde que você adormeceu.
Eu congelei. — O quê? — Então eu fiquei dormindo no chão duro por dois dias seguidos?
Pensei nisso… talvez fosse por isso que meu ombro doía tanto.
Deixando isso de lado, perguntei — E os outros?
— Estão dormindo. Estou de vigia.
Inclinei a cabeça. — Acho que essa não é sua cópia.
O truque característico de Amelia era usar sua cópia criada com 【Auto-Replicação】 para fazer a vigília. Então, por que seu corpo original estava de guarda dessa vez?
— Achei que seria bom se tivesse alguém ao seu lado quando acordasse.
Uau… *Eu realmente tinha aliados incríveis.*
— Ouvi o resumo do que aconteceu com o Engenheiro Arcano. Parece que você agiu por conta própria e causou problemas de novo.
— Problemas?
— Se você não tivesse levado o Engenheiro Arcano e saído só com vocês dois, nada disso teria acontecido. O que você estava pensando? — Amelia me repreendeu como se eu fosse uma criança. — Em nenhum momento você pensou em nos consultar? Por que agiu de forma tão irresponsável? Você ao menos considerou o que faríamos se você morresse lá fora?
Eu não tinha resposta.
Não havia como eu prever que as coisas terminariam assim, mas, ainda assim, causei sofrimento não só a mim, como a eles também.
— Bjorn, filho de Yandel. Depositei minha fé em você e confiei minha vida a você… Por favor, não me faça me arrepender dessa decisão.
— Vou garantir que algo assim nunca aconteça novamente — falei devagar, com a expressão mais lamentável que consegui fazer.
Amelia pressionou os dedos contra as têmporas, soltando um longo suspiro. — É o fim da bronca. — Sua voz voltou ao tom habitual enquanto me olhava e dizia — Você também deve ter muitas perguntas, então vou começar contando o que aconteceu do nosso lado.
Ela me deu um breve resumo do que ocorreu na cidade enquanto eu estava fora.
Bem, como foi coisa de alguns meses, acabou levando bastante tempo.
Primeiro, a competição dos clãs durante o festival do décimo terceiro mês. Embora nosso clã Anabada planejasse participar, tiveram que desistir porque eu desapareci.
— O palácio abriu o Repositório da Alma Dourada para os dez membros do clã vencedor…?
— O capitão deles pôde acessar o Repositório da Alma Sagrada, que fica acima do Repositório da Alma Dourada.
Mas que droga? O Repositório da Alma Sagrada era o lugar onde ficavam as essências de rank 2 e os itens de números de dois dígitos.
A inveja corroeu minha mente, mas decidi pensar de forma positiva. Eu tinha conseguido muitas coisas em minhas aventuras fora dos muros da cidade e, no final, até ganhei o prêmio máximo ao roubar um pouco de dinheiro de Baekho.
O resto do resumo revelou que nada muito grave tinha acontecido, ao contrário das minhas preocupações. Minha ausência causou alguns problemas, mas o plano de negócios que eu estava implementando na cidade parecia ter progredido sem grandes contratempos.
— Ninguém percebeu minha ausência…?
Essa foi a parte que me surpreendeu.
— Como isso é possível? — exigi.
— Lidamos com todas as tarefas que você faria.
— Ainda assim, deve ter havido muitas pessoas que questionaram isso.
— Eu disse a essas pessoas que você obteve uma nova essência e estava focado exclusivamente em pesquisá-la.
— Mesmo assim… Acho que dá para dizer que quem souber que eu desapareci saberá disso.
— Provavelmente é o caso. Esse é o tipo de cidade que é. Mesmo que não possam dizer nada diante de nossas desculpas, ainda duvidariam. E também já desaparecemos assim uma vez antes.
— Ah, certo! Como vocês saíram da cidade? Conseguiram consertar o círculo mágico? — perguntei, esperando que pudéssemos voltar para casa agora, mas Amelia balançou a cabeça. Ela então explicou como conseguiram sair.
“Apenas o círculo de retorno está destruído. Sair da cidade ainda é possível.”
Meu coração se aqueceu ainda mais.
— …Por que está me olhando assim?
Eu estava grato.
Ao contrário de mim, eles sabiam que não havia como voltar, mas ainda assim escolheram entrar em terras desconhecidas só para me procurar.
Amelia pareceu um pouco envergonhada pelo meu sorriso silencioso e rapidamente mudou de assunto. — Então, o que aconteceu com você?
— Ah, eu? Hmm, por onde começo…
— Ouvi o resumo do Engenheiro Arcano. Estou curiosa sobre outra coisa.
— Outra coisa?
— O verdadeiro motivo de você ter enfrentado Baekho, mesmo depois de terem viajado juntos sem muitos problemas.
Ah, isso…
— Soube que você encontrou Auril Gavis e que foi o último a sair, além de ter saído tarde. Foi isso que ouvi.
Bem, isso significava que ela praticamente sabia tudo o que havia para saber.
— O que aconteceu para que, mesmo em uma situação desvantajosa, você escolhesse lutar contra Baekho só para esconder isso?
Diante da expressão séria da Amelia, sorri de canto. — Acho que você está entendendo errado… Eu escondi isso de Baekho por outro motivo.
Para ser honesto, não havia necessidade de eu manter isso escondido de Baekho. Na verdade, se ele tivesse feito uma oferta primeiro e me pedido educadamente, talvez eu até tivesse contado a verdade.
— Como ele veio até mim procurando briga, decidi que, naquele momento, não podia recuar.
— Entendi…
Crescida em um mundo regido pela lei do mais forte, Amelia entendeu o que eu quis dizer sem que eu precisasse de longas explicações. Mesmo assim, sua curiosidade não foi totalmente satisfeita.
— Então, o que aconteceu com aquele homem?
Hesitei por um momento.
Seria certo contar a ela o que vi nos registros? Como não havia como mudar aquilo de qualquer forma, contar só traria preocupação e confusão desnecessárias?
Embora minha boca tenha resistido no início, não demorou muito para eu mudar de ideia.
Eu havia aprendido algo enquanto observava Baekho.
— Amelia. Há algo que preciso te contar.
Não havia necessidade de carregar o peso do mundo sozinho.
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