Capítulo 704: A Calma Antes da Tempestade (4/5)

No final, contei a Amelia sobre os registros que Auril Gavis havia me mostrado.

⟅Um espírito maligno de outro mundo, depois de perder três de seus aliados, perceberá o caminho que deve seguir…⟆

Um futuro em que perco três dos meus aliados.

Após ouvir minha história, Amelia não perguntou se esses registros estavam gravados em pedra ou quaisquer outros detalhes. Afinal, ela já havia experimentado o destino ao meu lado, mergulhando em uma era passada e fazendo tudo que podia para mudar a história.

— Uma forma de distorcer o destino como daquela vez… Será difícil.

Depois de refletir um momento sobre o que ouviu, essa foi a primeira coisa que Amelia disse.

— Concordo, é o que penso. — respondi, assentindo. — Se quisermos usar aquele método, preciso enganar a mim mesmo, não uma criança ingênua.

— …não era uma criança ingênua — Amelia murmurou muito baixo para si mesma.

O que foi isso?

Embora ela fosse mais inteligente do que outras pessoas da sua idade, ainda era uma criança ingênua comparada à sua versão atual.

Enquanto eu sorria com a lembrança de sua infância adorável, Amelia me perguntou com uma expressão séria:

— Mas você tem certeza de que é um registro do futuro?

— O que quer dizer?

— Você disse que o registro não tinha uma data específica. Talvez seja sobre algo que já aconteceu.

Oh?

— Riol Warb Dwalkie. Começando por aquele mago, você perdeu muitos aliados até agora. Claro, se contarmos todos, são muito mais que três… mas talvez o registro se refira aos três que mais impactaram você.

Era uma teoria plausível. Ou seria, se não fosse pelo que Auril Gavis me disse.

— No entanto, pela forma como está registrado aqui, deve ser um evento singular.

Simplificando, não era um contador que registrava perdas uma a uma, mas um único incidente que levaria três pessoas.

Claro, isso era apenas o que o velho extrapolou dos padrões que viu, e nada no mundo era cem por cento certo. Mas era difícil ignorar as palavras de um homem que coletou pessoalmente centenas de Fragmentos da Pedra dos Registros.

E pelo que percebi, Amelia sentia o mesmo que eu.

— Então há uma grande chance de ser um registro de algo que vai acontecer.

Depois de retomar sua contemplação com um olhar sério, Amelia começou a sugerir várias teorias. Uma delas era a mais suportável.

— Os registros… disseram que você os perderia, certo? Então há margem para interpretação.

Poderia ser uma perda literal de aliados. Isso significaria que o evento poderia passar sem que ninguém morresse.

“Seria incrível se fosse isso…”

Mas, por mais que eu tentasse ser otimista, a inquietação não me deixava. Refinados pelas inúmeras experiências que vivi, meus instintos diziam qual era a resposta.

Não havia chance de que uma interpretação tão simples de ‘perda’ fosse suficiente.

Minhas premonições sombrias sempre estavam certas.

— Yandel?

— Ah, desculpe. Estava pensando em algo. Obrigado por compartilhar suas ideias. Todas parecem plausíveis, mas acho que devemos agir considerando o pior cenário, não o melhor.

— Então você quer que nos preparemos para a possibilidade de três pessoas morrerem.

— Sim. Embora eu não saiba se há algo que possamos fazer.

Amelia não respondeu às minhas palavras negativas de resignação.

Era compreensível. Não importa como lutássemos e nos debatêssemos, no final, o que estava registrado…

Plic!

Amelia escolheu aquele momento para dar um peteleco na minha testa.

Não doeu nada, e, sinceramente, eu estava mais preocupado se ela machucara o dedo.

“Por que ela fez isso de repente?”

Pisquei, surpreso, apenas para encontrar Amelia com uma expressão irritada.

— Por que já está desistindo?

— Hã?

— Você, Bjorn Yandel… Quando até eu desisti de mim mesma, foi você quem nunca cedeu, quem abriu caminho por tudo isso.

Ela segurou um dos meus ombros e aproximou o rosto do meu.

— Então, nunca mais faça essa cara, Bjorn Yandel. Você é o herói daquela criança ingênua, o herói que pode fazer qualquer coisa.

Imediatamente, senti um arrepio percorrer meu corpo. Foi uma sensação estranha. Sempre que as pessoas da cidade me chamavam de herói e vinham até mim com suas expectativas, eu só sentia peso e incômodo.

Mas, só por hoje, a palavra herói não parecia um fardo.

Isso não significa que eu não estivesse completamente envergonhado, o que equilibrava um pouco as coisas. Eu sabia que era um herói…

Mas, de alguma forma…

Era difícil explicar, considerando o quão direto eu era.

Ba-dum!

Mas, mesmo assim. De alguma forma, parecia que eu podia fazer qualquer coisa. E que, independentemente do que eu fizesse, daria certo.

No entanto, infelizmente para mim, esse sentimento não durou muito.

— Hm… Senhor…? Está acordado?

— Ahem!

Ufa, isso quase virou um problema.

Meus outros aliados começaram a acordar um por um, começando por Erwen, então pausei minha conversa com a Amelia.

No final, não consegui falar sobre o segundo registro.

⟅…dia do inc… …tal… …rnon… …O ali… …ligno ‘————’… …onfi… …á tra…⟆

No dia do incêndio da Capital Imperial Karnon… um aliado de confiança me trairá…

Pelo menos, essa era minha interpretação do que o registro dizia.

“Talvez seja melhor não contar isso a ela de jeito nenhum…”

Embora o tempo tenha acabado e eu não tenha conseguido contar naquele momento, algo me dizia que manter essa informação em particular era o melhor. Não era como se eu pudesse ter certeza de que minha interpretação estava correta.

“E mesmo que eu esteja certo… será que é possível mudar isso?”

O segundo registro parecia mais problemático que o primeiro.

Mesmo sabendo que alguém me trairia, o que eu poderia fazer? Poderia tratá-los bem e tentar convencê-los antes que o evento ocorresse, mas o coração de alguém não mudaria tão facilmente. Se fosse algo que pudesse ser resolvido de forma tão simples, não teria sido registrado.

“Ela já deve ter muito com o que se preocupar com o que eu contei. Não há necessidade de adicionar isso ao peso dela.”

Agora não era o momento certo para contar. No final, decidi pensar melhor se deveria discutir isso abertamente com ela para ouvir sua opinião.

Além disso, havia outras coisas que eu precisava fazer primeiro.

— Acho que acabei acordando todo mundo…

Erwen acordou e fez uma cena sobre eu ter despertado. Quando percebi, os outros também já estavam de pé.

— Bjooooorn!

— Sim, sim. Ainar. Bom te ver também.

— Você está ferido? Dormiu como um morto, nem roncou, então todos ficaram preocupados.

— Estou bem agora. Só estava um pouco cansado, então não se preocupe, Kaislan.

— É um alívio vê-lo bem, Capitão. As senhoras… Não, todos estavam preocupados com você.

— Mas, Auyen. Você engordou um pouco?

— E-eu? Desculpe…

— Bem, não há nada pelo que se desculpar. Você está muito melhor agora. Continue se alimentando bem daqui em diante.

— Sim!

Cumprimentei a todos e troquei algumas palavras, mas logo os reuni e pedi silêncio. Por mais que fôssemos amigáveis e próximos, havia algo que eu precisava desabafar.

Olhei para os membros do clã Anabada e falei.

— Primeiro, peço desculpas a todos! Vocês tiveram que sair dos muros da cidade para esta terra perigosa por minha causa, e eu realmente lamento!

O cavaleiro e aventureiro Kaislan sorriu diante do meu pedido de desculpas genuíno.

— O que há para se desculpar? Todos aqui somos aventureiros.

— É uma oportunidade de explorar fora dos muros. Claro que eu aproveitaria — acrescentou James Calla.

Talvez porque ambos já tenham sido comandantes de suas respectivas organizações, sabiam exatamente o que dizer para aliviar a tensão de momentos como esse.

Bem, eu ainda tinha mais a dizer.

— E, obrigado a todos! Se não fosse por vocês, talvez eu estivesse em sérios apuros. Estou vivo graças a vocês!

Inclinei-me em reverência enquanto dizia isso, mas, por algum motivo, risadas explodiram ao meu redor.

“Hmm, não acho que estão rindo de mim…”

— Por que estão rindo?

Lilith Marrone deu de ombros. — Você diz que sobreviveu graças a nós, mas seus oponentes lá atrás pareciam prestes a morrer.

— É isso mesmo! Estavam todos à beira do colapso!

— Pelo que ouvi do Engenheiro Arcano, você lutou com eles por horas seguidas…

— Bjorn é o mais forte que existe, o Grande Guerreiro!

Talvez fosse porque eu não os via há um tempo, mas quando meus aliados me elogiaram diretamente, embora me sentisse envergonhado, também me senti relaxado.

— Atenção! Ainda não terminei!

Consegui fazer todos ficarem quietos novamente, mas antes que pudesse continuar, Versyl falou como representante de todos ali.

— Pode parar, sinceramente. Não há nada para se desculpar ou agradecer. É natural.

“Uh… Obrigado por dizer isso…?”

— Não estou tentando pedir desculpas nem agradecer.

Eu já tinha feito isso antes. Qual seria o ponto de repetir?

— Perdão? Então… Ah, vamos fazer uma reunião sobre o que faremos a partir de agora?

Hmm, de fato precisávamos fazer isso.

— Errado.

Mas eu não estava planejando redigir atas de reunião naquele momento.

Quero dizer, as pessoas diante de mim vieram para essas terras perigosas fora dos muros da cidade apenas por minha causa. Seria vergonhoso ignorar isso com meras palavras.

— Então o que você vai fazer…?

— Distribuição do saque.

Eles me lançaram olhares confusos.

— Temos uma tonelada de coisas desta vez! E eu consegui ainda mais por conta própria! Vou mostrar tudo, então digam se precisarem de algo!

Compartilhar, trocar, poupar e reutilizar.

Essa era a mentalidade do nosso clã.

A distribuição do saque durou mais do que eu esperava, já que a maioria dos itens que consegui dessa vez eram equipamentos.

— Eu também tenho coisas que não uso muito, então vou colocar na pilha do clã. Se alguém precisar, pode usar…

— Hã? Então eu também!

— Tenho algumas coisas também…

De alguma forma, os itens não utilizados por cada membro acabaram sendo adicionados à pilha.

Quando finalmente terminamos de organizar tudo, parecia que estávamos em um pequeno mercado.

— Isso é bem incomum…

— O que é incomum nisso?

— Tudo isso. Que tipo de clã tem membros se apressando para adicionar suas próprias coisas à pilha assim? São equipamentos caros que poderiam ser vendidos por muito.

Hmm… Era verdade.

Dito isso, eu não fazia ideia de como responder. Nunca tinha feito parte de outro clã antes. Mas, como Versyl já havia participado de um clã considerável, fazia sentido que isso parecesse muito incomum para ela.

— Ah, acho que é de se esperar, já que temos um capitão incomum.

— O que você está dizendo? Apenas vá procurar algo que queira também.

— Era exatamente o que eu ia fazer.

Versyl entrou no mercado improvisado para escolher os itens que queria, e eu continuei observando meus aliados de longe.

— Então, o que vamos fazer agora?

Como tivemos que interromper nossa conversa quando Erwen acordou, Amelia aproveitou a pausa nas atividades para se aproximar de mim novamente e retomar a conversa.

— Hmm, que tal você dar uma olhada nos itens por enquanto?

— Você acha que eu estaria com humor para isso depois do que você me contou?

“Uh… Acho que não.”

— Algum evento vem à mente? Se for algo que matará três pessoas, não será um evento comum. Ao contrário de você, não conheço bem o que está fora dos muros.

Eu não chamaria exatamente de ‘sorte’ lembrar, mas quando ela fez essa pergunta, uma coisa imediatamente me veio à mente.

— Um monstro realmente assustador.

Era aquele monstro que Baekho disse que existia fora dos muros.

Não acho que tenha um habitat fixo. Não importa para onde você vá, ele aparece no fim das contas. E toda vez que aparece, milhares de pessoas morrem sem poder fazer nada, mas…

Além de seu poder aterrorizante, havia apenas mais uma coisa que eu sabia sobre esse monstro: quanto mais pessoas ficavam fora dos muros da cidade, maior era a chance de ele aparecer.

Whoosh.

Algumas condições podiam invocá-lo, assim como os Lordes dos Andares, e nós as havíamos cumprido.