Capítulo 708: Conscrição (3/4)
Após eleger nossa vice-capitã, chamei Versyl Gowland para o lado e reservei um tempo para uma conversa a sós.
Afinal, como capitão, eu deveria dizer algumas palavras a ela, certo?
— Haha, parabéns. Você finalmente conseguiu um pouco de autoridade.
— Pare de brincar…
Bem, só disse isso para tentar aliviar o clima, já que ela parecia sobrecarregada com sua repentina promoção. Embora, suponho, fosse natural que o segundo em comando levasse as coisas um pouco mais a sério.
— Versyl Gowland.
— Sim.
— A partir de hoje, você é a vice-capitã do nosso clã. Você deve liderar o clã em meu lugar quando eu não estiver por perto. Embora todos te ajudem, você será a responsável por tomar as decisões finais e arcar com as responsabilidades dessas decisões.
— Eu sei disso…
Pela expressão dela, percebi que não estava apenas dizendo isso para encerrar a conversa. Isso me deixou um pouco mais aliviado e confiante de que ela poderia cumprir diligentemente os deveres de vice-capitã sem negligências.
“Não preciso dizer muito.”
Decidi guardar todas as palavras de conselho que havia preparado antes. Para alguém que já entendia o peso de suas responsabilidades, palavras de confiança e encorajamento eram mais apropriadas.
— Sei que você fará um bom trabalho. Vamos, todos estão esperando por você.
Dei alguns tapinhas em seu ombro antes de encerrar nossa conversa. Em seguida, retornamos ao local onde o restante do clã aguardava e oficialmente iniciamos nossa reunião.
Bem, talvez chamar aquilo de reunião fosse um pouco exagerado. Para ser honesto, estava mais para um grupo de criminosos acertando suas histórias antes de um interrogatório com a polícia.
— Ainda assim, já que nos preparamos para isso antes, não deveríamos ter muitos problemas.
— Vocês se prepararam para isso?
— Não sabíamos quanto tempo ficaríamos fora dos muros da cidade, então já espalhamos a notícia de que todo o clã estava em um campo de treinamento especial.
Todo o clã em treinamento especial por mais de dois meses. Embora isso certamente levantasse suspeitas, o que poderiam dizer quando essa era nossa história oficial?
Na verdade, muitos clãs tinham sistemas que permitiam treinamento em instalações subterrâneas privadas. Embora fosse tecnicamente ilegal usar habilidades nesses locais, assim como na cidade, a alternativa de treinar nas instalações públicas exporia suas técnicas a outras pessoas. Como resultado, a maioria dos clãs praticava estratégias e táticas em instalações privadas, e a cidade, em grande parte, ignorava essa prática.
— Bem, não importa o alvoroço que façam, deveríamos ficar bem. Eles não terão o que dizer se respondermos à ordem de alistamento dentro do prazo. Não é ilegal estarmos fora por dois ou três meses, certo?
Bem, esse era o fundamento do plano. Se pagássemos nossos impostos e cumpríssemos a lei, a cidade respeitaria nossa liberdade. O ponto crucial era esconder o fato de termos deixado os muros da cidade.
“Muito bem, podemos resolver essa parte aqui…”
Continuamos discutindo nossos planos para o futuro.
— Seu papel é importante a partir de agora, Capitão.
— Meu papel?
— Você será a voz do clã no comando militar.
— Então devo trabalhar para tentar posicioná-los em linhas seguras ou algo nesse sentido.
— Sim, exatamente. Claro, isso dependerá de sua postura.
— Minha postura…?
Eu não era normal? Bem, gostava mais de atacar do que de ser atacado…
— Alguns veem esta guerra como uma oportunidade.
Ah, então era disso que ela falava.
— Você poderia tentar nos posicionar em posições favoráveis para obter conquistas militares. Mesmo que isso seja mais perigoso do que ficar nas linhas de retaguarda…
Não precisei ouvir mais nada depois disso.
— Tudo bem. Não tenho interesse em fazer isso — cortei-a severamente. — Ninguém se machucando gravemente e sobreviver. Só isso já basta, então não se esforcem demais. Entendido? — Como esse era o ponto mais importante, olhei cada membro nos olhos.
— Não se preocupe. Entendi perfeitamente suas intenções, Capitão — disse Versyl, a última a fazer o contato visual, com confiança no olhar.
— Certo, isso é bom.
Meu coração relaxou um pouco.
Depois de acertarmos nosso plano básico, finalmente saímos dos esgotos e entramos na cidade.
As ruas estavam completamente vazias, já que todos haviam sido evacuados. No entanto, enquanto seguíamos em direção às muralhas conectadas a Bifron, começamos a ver mais e mais pessoas.
Não eram civis vendendo frutas ou realizando outras tarefas mundanas, mas aventureiros ou soldados que lutavam para sobreviver.
Não demorou muito para começarem a sussurrar sobre nós.
— Bjorn, filho de Yandel.
— É o clã Anabada.
— Ouvi dizer que eles foram fazer algum treinamento em grupo…
— Então, estão se juntando à luta agora, logo depois de receberem a ordem de alistamento?
Os aventureiros não se aproximaram de nós, mas se afastaram, abrindo caminho enquanto cochichavam entre si. A maioria teve reações positivas ao nos ver.
— Estou tão aliviado por ser designado para o Distrito Sete.
— Sim. Lutar na linha de frente com eles faz parecer que já vencemos.
Em tempos tão voláteis de guerra, a coisa mais confiável era um aliado forte. Mesmo as pessoas que normalmente nos olhariam com inveja ou ciúme estavam felizes em nos ver.
— Ouvi dizer que ele nunca abandona seus aliados.
— Espero que sua reputação faça jus ao que dizem.
— Os superiores não vão piscar mesmo que mil de nós morramos.
— Ainda bem que o Barão Yandel está aqui.
Para ser honesto, a reação deles era compreensível. Eu era atualmente o único nobre ainda ativo como aventureiro, e era natural que me importasse com o Distrito Sete, onde meus companheiros do clã residiam. Os aventureiros ao nosso redor certamente se sentiam como se tivessem ganhado um aliado confiável.
— Nia Rafdonia!
Enquanto continuávamos caminhando em direção aos muros da cidade, um grupo de cavaleiros, que parecia ter recebido a notícia, correu rapidamente até nós e nos saudou.
— Saudações ao Barão Yandel!
— Qual a afiliação?
— Quarta Ordem de Cavaleiros do Palácio, líder da Guarda da Muralha de Ferro, Muellen Byle.
Com sua identidade revelada, o cavaleiro optou por não falar na frente de todos os curiosos.
— Se não for causar problemas, poderia nos acompanhar por um momento? O comandante ficou muito feliz em saber que o senhor apareceu, Lorde Barão.
— E quem é o comandante?
— Terceiro Comandante Eltora Tercerion.
Ah, o filho do Marquês.
Não, para ser mais preciso…
— Meu filho… Eltora Tercerion já está morto. O que possui o corpo do meu filho é algum espírito maligno sem nome.
O espírito maligno que havia possuído o corpo de seu filho e que nos abandonou durante a Expedição ao Rochedo Gélido.
“Não há como este país prosperar enquanto um desgraçado como ele ocupar uma posição de comando.”
— Ehm… Lorde Barão?
— Entendi. Conduza-me.
Como não podíamos conversar no meio da rua com todos nos observando, segui o cavaleiro até o centro de comando situado em uma posição central abaixo dos muros da cidade. Pelo que parecia, estavam usando a maior estalagem próxima aos muros como base.
— Todos os outros poderiam esperar no primeiro andar?
— Versyl, venha aqui. Você irá comigo.
— Ehm… Isso…
O cavaleiro que nos trouxe parecia querer impedir Versyl de me acompanhar, mas depois do que eu disse em seguida, ele permaneceu em silêncio.
— Ela é a vice-capitã do meu clã. Será melhor se ela também estiver presente.
— Entendido, por aqui…
Com isso, o cavaleiro nos conduziu até uma sala no terceiro andar, onde vi aquele sujeito pela primeira vez em muito tempo.
— Saudações, Barão Yandel.
“Hah, esse desgraçado. Parece que ficou ainda mais arrogante desde a última vez que o vi.”
— Sente-se.
“Ele nem mesmo tem um título de nobreza, mas ousa agir assim só porque ocupa o posto de comandante.”
Fiquei irritado e me joguei no sofá com força, que acabou desabando com um crack!
— Eu… prefiro ficar de pé atrás de você — disse Versyl educadamente, dando um passo para trás.
No entanto, parecia que o filho do marquês, ou simplesmente ‘o bastardo’, só percebeu a presença dela nesse momento. Ele olhou com uma expressão de desagrado para o cavaleiro que nos guiou até ali.
— Tenho certeza de que pedi para não deixar mais ninguém entrar.
— Bem… ela é a vice-capitã do clã Anabada…
— Hmm, vice-capitã…
O bastardo, que parecia prestes a mandá-la embora, reconsiderou ao levar a mão ao queixo.
Eu estava começando a entender por que pessoas com cargos menores ganhavam destaque rapidamente. Mesmo que um título fosse apenas simbólico, havia uma grande diferença entre ter ou não ter um.
— Minha vice-capitã e eu não escondemos nada um do outro, então você não precisa se preocupar com ela.
— Não escondem nada…?
Quando disse isso, o bastardo olhou de mim para Versyl e voltou antes de assentir com uma expressão difícil de interpretar.
— Hmm, entendido. Srta. Gowland, pode permanecer aqui.
— Obrigada.
— A propósito… Deve ser difícil, não é?
O que esse desgraçado queria dizer com isso? Ele tinha esquecido completamente que eu já o havia espancado antes?
A postura arrogante dele, agindo como se fosse superior apenas por ter um pouco de autoridade, me enojava. Decidi ir direto ao assunto.
— Então, por que nos chamou?
— Como poderia não chamar, quando você, que desapareceu sem deixar vestígios, de repente reaparece? Mas primeiro, não está aqui porque está respondendo ao alistamento também, Lorde Barão?
— Bem, isso é verdade. Estava em um lugar isolado, sem comunicações externas, e só recebi a ordem de alistamento recentemente.
— Posso perguntar onde fica esse lugar isolado?
— Não é nada demais. Estava treinando em uma instalação privada.
Embora fosse uma resposta altamente suspeita, demonstrar isso abertamente seria um grave erro no mundo da nobreza.
— Haha… Entendo.
Como esperado, o bastardo continuou sem comentar, e deixamos o tópico de lado.
— A propósito, estou perguntando porque nunca lidei com uma situação assim antes, mas pode me dizer o que acontecerá a partir de agora?
— Ah, suas circunstâncias são de fato únicas, Lorde Barão.
— Também pensei o mesmo quando soube.
— Primeiro, sob a Lei Especial para Aventureiros, o clã Anabada se unirá temporariamente à nossa terceira companhia e ficará sob nosso comando.
— E quanto a mim?
— Por enquanto, será parte do comando militar na capital imperial de Karnon, antes de sua designação ser decidida. Bem, a maioria dos nobres titulados é posicionada na retaguarda, nas equipes de estratégia… mas há casos raros em que são enviados às linhas de frente.
— Oh, isso pode acontecer?
— Quando a pessoa deseja ou quando a força desse nobre é necessária na linha de frente.
Essa era uma informação que eu não tinha ouvido de Kaislan.
— Então também posso ficar aqui na terceira companhia?
— Hmm, nesse caso, teria que seguir minhas ordens. Isso seria aceitável para você?
— Não me importo.
— Se for o caso, o receberei de bom grado… mas terá que ir ao comando militar e apresentar seu caso pessoalmente. Não tenho autoridade para transferir um nobre titulado como você, Barão Yandel.
Segurei um suspiro. Isso significava que ainda precisaria visitar Karnon por um tempo.
— O comando militar já deve ter recebido a notícia, então pode partir imediatamente.
— Entendido. Então, o que está acontecendo aqui? Não consegui obter informações, pois vim direto para cá.
Ele suspirou. — Não sei por onde começar. Em resumo, os Noarkianos que haviam tomado Bifron saíram de lá por conta própria. Marcharam como se o objetivo fosse a capital imperial, e todas as forças foram mobilizadas para suprimi-los. Tivemos que usar a Arma Mágica para empurrá-los de volta a Bifron, e conseguimos isso hoje.
— Arma Mágica…?
— Ah, talvez não saiba disso porque nunca fez parte do exército. Em certo sentido, é a verdadeira força da família real. Um disparo pode rasgar o céu e estremecer a terra. E, quando vi em ação, não foi exagero.
Hmm, isso era como o equivalente a uma bomba nuclear do palácio? Não dava para saber mais detalhes apenas com essa explicação.
“Mas será que aquele tremor que senti nos esgotos foi causado por essa Arma Mágica?”
Fui tomado por uma sensação inexplicável de frustração.
Era como descascar uma cebola interminavelmente, camada após camada, apenas para encontrar outra camada por baixo. Se eu considerasse o palácio como meu inimigo, meu futuro parecia cada vez mais sombrio.
Claro, havia uma coisa positiva nisso tudo.
“Se eles são tão fortes, devem ser capazes de conter Noark por conta própria.”
Talvez o ‘incidente’ mencionado pelos registros não ocorresse aqui e agora. Talvez o palácio derrotasse os Noarkianos sem esforço, os expulsasse e um período de paz nos encontrasse novamente.
“Isso… talvez seja esperar demais.”
Hah, se não fosse pela intuição do Goblin, talvez eu conseguisse ser um pouco mais otimista.
— Ah, acabamos de receber uma mensagem do comando militar. Você foi convocado com urgência para Karnon, Lorde Barão. Alguém estará lá para recebê-lo quando usar o círculo mágico militar.
— Entendido.
Levantei-me, e o bastardo escolheu aquele momento para falar como se fosse meu superior.
— Tem algo que gostaria de dizer ou perguntar antes de ir?
Ah, isso?
— Claro que tenho.
Definitivamente havia algo que eu precisava dizer a ele antes de partir.
— Eltora Tercerion. — Aproximei-me antes de sussurrar em seu ouvido — Sei o que você fez durante a Expedição ao Rochedo de Gélido.
Não importava que a ordem tivesse vindo do marquês. O homem à minha frente nos abandonara como oficial de linha de frente.
Seu ombro contraiu, traindo o quão abalado estava. Parecia que ele não esperava que eu tocasse nesse assunto diretamente.
No entanto, ignorei sua reação e continuei:
— Então faça bem o seu trabalho. Porque isso não vai acontecer de novo.
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