Capítulo 712: Força Especial (3/4)
Peguei uma das fotos coladas na mesa para examiná-la. Era fina e não tinha moldura para exposição. No entanto, pelo revestimento brilhante, parecia ter sido tratada com algum tipo de magia, quase como fotografias modernas.
Bem, isso não era o mais importante.
“Quem é essa?”
Na imagem fotorrealista, uma mulher usava um vestido que parecia bastante caro. Ela não era necessariamente uma beleza de tirar o fôlego, mas seu sorriso brilhante a tornava imediatamente atraente. Algo peculiar a ser notado, porém, era seu cabelo preto e olhos negros, uma raridade nesse mundo.
“Mais importante, ela me parece familiar…”
Era como se eu já tivesse visto aquele rosto em algum lugar. Observei a foto com curiosidade, tentando lembrar de onde, até encontrar outra imagem dela vestindo roupas que destacavam sua silhueta.
“Ela se parece exatamente com a Ragna.”
Excluindo seus dois traços marcantes, cabelo preto e olhos negros, sua estrutura facial e outros detalhes eram incrivelmente semelhantes aos da Ragna.
“Então, seria essa a mãe da Ragna?”
Embora as fotos não fossem uma prova definitiva, eu não conseguia deixar de lado essa hipótese. Além disso, havia o fato de que Litaniel, o nome do meio da Ragna, não era o nome de sua mãe biológica, mas sim o de sua babá.
— E sua mãe? Você sabe o que aconteceu com ela?
— Ouvi dizer que ela morreu no dia em que me deu à luz.
Ragna era filha ilegítima do marquês Tercerion, e no escritório secreto do marquês havia uma mulher que se parecia exatamente com ela.
“Se ele a amava tanto a ponto de criar um quarto como este, então acho que ele realmente amava a mãe da Ragna…”
Meus olhos percorreram todas as fotos na sala mais uma vez, e então desviei minha atenção e comecei a explorar outras áreas. Não havia nada além de alguns instrumentos de escrita sobre a mesa, então me concentrei nas estantes de livros.
Registro da Reunião Palaciana 17–18
Relatório de Estado dos Aventureiros Ano 02
Registro da 11ª Cúpula das Raças
IV Esboço do Plano de Progresso do Labirinto Ano 117
217º Colapso Dimensional…
Que livros eram esses? Estava claro que não eram simples.
Abri um para ler e, imediatamente, percebi que era mais próximo de um registro público do que algo destinado à publicação. Os registros das reuniões, por exemplo, eram livros inteiros detalhando quem disse o quê, enquanto os relatórios e planos estavam formatados como documentos que um trabalhador submeteria a um superior.
“Então por que o marquês reuniu tudo isso aqui?”
Não havia como saber. No entanto, ao folhear as páginas, percebi que algumas linhas estavam sublinhadas. Um exemplo estava no ‘Registro da 11ª Cúpula das Raças’.
“Diante do poder do Imortal, os líderes de todas as raças se prostraram ao chão e fizeram uma declaração.”
Outra seção sublinhada estava no ‘IV Esboço do Plano de Progresso do Labirinto Ano 117’.
“O atual ritmo de crescimento dos aventureiros é muito mais extremo do que o esperado, então a administração do labirinto deve preparar opções adicionais.”
— Hm…
Enquanto folheava as páginas em busca apenas das partes sublinhadas, notei pequenos livros em um compartimento na base da estante conectada à mesa.
“São… diários?”
Diferente dos livros que eu tinha visto até agora, esses eram muito menores e mais numerosos. Mais importante, cada livro tinha um ano escrito na capa.
“Se realmente forem diários, isso é um achado…”
Com o coração batendo forte de empolgação, abri o diário com o ano mais antigo escrito. Contudo, para meu azar, embora a primeira página estivesse cheia de letras, eu não conseguia entender nada, e não era por caligrafia ruim.
“Isso não é rafdoniano nem a língua antiga…?”
Eram letras que eu nunca tinha visto na vida, nem em coreano, nem em inglês. Que língua seria essa?
A pergunta rondava minha mente, até que algo me ocorreu.
“Ah, é um código?”
Assim como ouvi dizer que até nações modernas tinham seus próprios códigos e cifras durante a Segunda Guerra Mundial, havia aparentemente a possibilidade de que alguns indivíduos do Exército de Rafdonia conhecessem uma cifra secreta própria.
“Vou guardar isso por enquanto.”
Coloquei os diários na minha bolsa de sub-espaço. Valeria a pena decifrá-los.
“Não parece haver mais nada para ver aqui.”
Após confirmar que não havia mais nada de relevante, aproximei-me da única foto na sala que estava emoldurada. Na imagem, estava escrito o nome de uma mulher.
“Meirin Huinveina…”
Por algum motivo, o sobrenome estava riscado com algo afiado, e abaixo do nome havia números que eu suspeitava serem sua data de nascimento e de morte.
“Que símbolo é esse?”
No canto inferior esquerdo da foto, havia um símbolo que lembrava o Taegeuk da bandeira da Coreia do Sul: um círculo com metades vermelha e azul.
“Não pode ser que o marquês também seja um espírito maligno… Certo?”
Balancei a cabeça. Essa possibilidade era extremamente baixa. Além disso, embora as cores fossem semelhantes, a estrutura do círculo em si não era exatamente o padrão yin-yang clássico.
Suspirei. Fosse como fosse, parecia que eu já havia investigado tudo o que precisava, então me virei para sair.
Boom!
O quê? Que barulho foi esse?
O marquês já tinha enviado tropas ao ouvir as notícias?
— Aaagh!
Um grito.
Havia confusão lá em cima.
Corri escada acima, saindo da sala secreta. Ao cruzar o último degrau, vi os membros da unidade especial de costas para a entrada secreta, enfrentando uma dúzia de pessoas. Para minha surpresa, havia rostos familiares entre eles.
— Eu estava me perguntando onde deu errado. — O homem me olhou com olhos desinteressados enquanto falava com uma voz seca. — Mas é Bjorn Yandel de novo.
O Vice-líder da Orcules. Olho Demoníaco, Roland Banozant.
— Isso é realmente interessante. Como você sabia que estávamos escondidos aqui, senhor?
Ao lado dele estava outra membro de Orcules. Bruxa Lamentadora, Lyranne Vivian.
— Isso é um problema.
Por último, alguém que estava de pé acima deles de maneira desajeitada. Também era uma membro da Orcules e outrora um membro da Távola Redonda…
— Pshehe.
Coletor de Cadáveres, Abed Necrapeto.
“Pelo que consigo perceber, parece que o restante também é da Orcules…”
Apesar de ter sido eu quem ordenou a demolição da mansão do marquês sob o pretexto de procurar Noarkianos escondidos, não pude deixar de ficar surpreso.
“Não, por que esses desgraçados estão aqui?”
Funcionou?
Entramos em um impasse no momento em que apareci.
— Aaargh…
Embora eu tivesse descido as escadas às pressas e voltado subindo com força, excluindo os gritos de um membro da nossa equipe que tinha perdido um braço, tudo estava quieto demais.
— Raven — murmurei quase num sussurro.
— Enquanto você estava lá embaixo, investigamos o quarto e encontramos uma cavidade oculta no chão — ela explicou, rapidamente me atualizando sobre a situação. — Quando abrimos, eles saíram do esconderijo.
Então foi isso que aconteceu.
Reconstruí mentalmente a linha do tempo dos eventos que ocorreram na minha ausência, mas ainda assim não conseguia compreender totalmente. Achei que, no máximo, obteria uma incursão ‘legal’ à mansão do marquês. Nunca imaginei que realmente os encontraria ali.
Para ser justo, eles pareciam igualmente surpresos com o desenrolar da situação.
— Randolf, você não disse que a mansão do marquês estaria isenta da busca? — perguntou o Vice-líder, acusadoramente.
O homem de óculos ao lado dele sorriu de maneira constrangida, coçando a nuca. — Sim, deveria ser o caso. Pelos meus cálculos, a probabilidade de uma situação como essa ocorrer era de zero por cento…
“O que quer dizer com zero? Você já deveria ser velho o suficiente para saber que probabilidades assim não existem.”
O Vice-líder não nos olhou. Em vez disso, voltou seu olhar para o restante de seus aliados e liberou sua intenção assassina enquanto rosnava — Isso só faz sentido se houver vazamento de informações de dentro.
“Uh… acho que isso fazia sentido?”
— Apenas a morte aguarda os traidores.
Eu estava perplexo com o rumo dos acontecimentos, claro. No entanto, já havia sobrevivido a vários encontros com a morte me adaptando rapidamente. Percebi uma oportunidade, e antes mesmo de terminar de organizar meus pensamentos, as palavras já estavam saindo da minha boca:
— O que está fazendo, Necrapeto?
— Pshehe?
— Venha para cá. Vamos protegê-lo agora.
Ele ainda parecia não entender o que eu estava tentando fazer.
— Você realmente nos deu as informações corretas. Conseguimos encontrá-los graças a você. Com essa contribuição, você pode começar uma nova vida na cidade…
Só então ele pareceu compreender.
— O-o quê?! — Ele rapidamente balançou as mãos em pânico, tentando negar as acusações. — N-Não! Eu…! Vice-líder! Esse cara está mentindo! V-Você não acredita nele, não é? O Olho Demoníaco, que pode ver todas as verdades e mentiras?
Quando o Vice-Líder continuou em silêncio, Necrapeto tentou se justificar ainda mais.
— A-Aquele c-cara é um cara que eu quero despedaçar várias vezes, de n-novo e de novo! Você sabe disso, não sabe? V-Você realmente não acredita no que ele está dizendo, acredita…?
O Vice-Líder demorou um momento antes de responder — Claro que não acredito nele.
— Ufa…
— Mas, vendo o quanto você ficou nervoso e as bobagens que está dizendo, estou começando a pensar que talvez devesse.
O tom de verdade naquela declaração era denso demais para ser considerado vazio.
— Sim, a situação em que estamos realmente não faz sentido, a menos que as informações tenham vazado — comentou o homem de óculos ao lado do Vice-Líder.
Os olhos de Necrapeto se arregalaram ao ouvir o comentário, e quando até mesmo Vivian, que geralmente o tratava com respeito, se afastou, ele parecia prestes a explodir.
— Direi isso agora… o senhor Necrapeto e eu não temos nenhum laço.
Parecia que ele ia morrer de frustração.
Não que isso fosse algo com que eu precisasse me preocupar.
“É, você deveria ter levado uma vida honesta.”
Isso nunca aconteceria comigo. Quero dizer, sério. Se os Noarkianos dissessem as mesmas coisas que eu, será que algum dos meus aliados sequer piscaria?
— O que está esperando? — provoquei. — Venha logo para cá.
— P-por que eu iria até você?
— O que foi? Não precisa mais esconder.
— Estou dizendo para parar com isso!
— Oh, você se sente culpado por trair seus aliados bem na frente deles? — insisti.
— Mas isso não é… Seu…!
Enfurecido, ele deu um passo em minha direção, parecendo um touro furioso pronto para atacar.
No entanto, não havia necessidade de eu levantar um dedo. Alguém já estava pronto para intervir.
Swip.
Foi o homem de óculos ao lado do Vice-Líder. Ele se moveu rapidamente e impediu Necrapeto de se aproximar de mim. Este último ficou confuso ao ver seu aliado bloqueá-lo.
— Hã?
Óculos olhou para Necrapeto e respondeu em um tom formal — Por favor, pare de agir por conta própria. Pode parecer que você está tentando inventar uma desculpa para mudar de lado.
— Ah, eu… Não, i-isso não foi… Eu estava tentando…
— Se fosse para lutar contra eles, você teria ainda menos motivos para se aproximar do inimigo.
— Eu… Eu não estava tentando lutar contra eles…
— Ahá. Então você não tem intenção nenhuma de se opor a eles?
— Não, não foi isso que eu quis dizer…
— Vice-Líder?
Quando Óculos chamou o Vice-Líder para saber sua opinião, ele assentiu seriamente.
— Acho melhor deixarmos o suspeito na retaguarda e resolver isso depois. Amarrem Abed Necrapeto. Não o deixem fazer nada.
— Você ouviu, certo? Então, por favor, obedeça e venha para cá.
— N-Não, o que eu fiz de errado?!
— Sim, sim. Você pode nos contar isso depois, então venha. Não é como se tivéssemos problemas só porque você não pode lutar, certo?
Isso, um inimigo eliminado.
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