Índice de Capítulo

    “Vamos ver. Um, dois, três, quatro, cinco, seis… dezessete.”

    A força especial de Noark era composta por dezessete indivíduos. Embora eu reconhecesse apenas três deles, podia usar esses três para estimar o nível dos demais. E, sinceramente, nem precisava dos três para isso.

    O Vice-Líder de Orcules, Roland Banozant, também conhecido como Olho Demoníaco. Pelo fato de ele liderar o grupo, eu já tinha uma boa ideia do poder dos outros membros.

    Em resumo, todos eram elites de Noark, cada um valendo por cem pessoas. Não tínhamos nenhuma chance de vencer se entrássemos em um confronto direto.

    Se eu tivesse todos os membros do meu clã comigo, talvez fosse possível, mas a única pessoa em quem eu podia confiar no momento era Raven. Sem contar que cinco dos vinte integrantes estavam especializados em busca, não em combate. Contudo, isso não significava que eu planejava fugir com o rabo entre as pernas.

    Tap, tap.

    Afinal, já fazia um bom tempo desde que entramos na mansão do marquês.

    “Está na hora deles aparecerem…”

    — Bjorn Yandel! Seu desgraçado! — O Coletor de Cadáveres me encarou com ódio puro enquanto era algemado. — Um dia, eu mesmo vou arrancar seus olhos, devorá-los, triturar seus órgãos e dar aos goblins! Então, vou derramar conservantes no seu cadáver para que ele não apodreça e depois…

    — Entendi. Parece que ainda tem muito trabalho a fazer desse lado — consolei, mantendo minha reação ao surto dele bem moderada, já que ele talvez estivesse tentando provar sua inocência ao me insultar.

    — Hã?

    — Ouviu isso, Banozant? Como acabou de ver, o Coletor de Cadáveres não é um espião meu, Bjorn Yandel. Ele é completamente inocente. Então, liberte-o.

    É claro que o Vice-Líder não o soltou só porque eu disse. Embora ele não tenha caído completamente no meu truque, precisava assumir responsabilidade como líder. Ele provavelmente queria eliminar ao menos uma variável, por via das dúvidas.

    — S-s-seu…! — O Coletor de Cadáveres gaguejou, aparentemente sem palavras. No fim, tudo que pôde fazer foi tremer nas algemas.

    tomp, tomp, tomp!

    De repente, ouvimos o som de cavaleiros com armaduras correndo do lado de fora da porta.

    — Isso vai ser um problema, Vice-Líder — comentou Óculos. Ele provavelmente era o estrategista do grupo.

    O Vice-Líder me examinou da cabeça aos pés. — Então era para ganhar tempo…

    Contudo, não consegui perceber nenhuma fagulha de emoção nos olhos de Banozant. Ele não estava bravo, frustrado ou pego de surpresa. Apenas me observava, e por causa disso, não reconheci de imediato a única emoção presente na sua expressão quase neutra.

    Logo, porém, percebi o que era.

    “Curiosidade.”

    Era como se ele estivesse na fase inicial de coleta de informações, tentando entender que tipo de pessoa eu era. E a reação que se seguiu mostrou que ele já tinha coletado alguns dados sobre mim.

    — Você é um adversário bastante complicado — reconheceu. Então se virou para o grupo. — Soltem Abed Necrapeto.

    — Perdão?

    — A variável desapareceu.

    Embora ele não tenha dado explicações, Óculos executou a ordem sem questionar, como se tivesse plena confiança no julgamento do Vice-Líder.

    — Eu disse! — o Coletor de Cadáveres bufou furiosamente ao ser libertado pelos aliados. Ainda assim, ser solto parecia ter melhorado seu humor. — Hah, sério! Um selvagem como ele, com uma língua tão afiada… Eu realmente não entendo!

    Ele voltou ao jeito estranho de falar que havia abandonado na surpresa. Sua demonstração de confiança renovada me fez querer socar sua cabeça ali mesmo.

    Infelizmente, foi a porta que se abriu com um boom estrondoso, e um cavaleiro veterano de cabelos brancos entrou com seus subordinados. O velho cavaleiro começou a gritar como um oficial de polícia com um mandado.

    — Pare agora mesmo, Barão Yandel! O comandante supremo o destituiu de sua posição e declarou que será punido por exceder suas…

    Sua expressão congelou ao confirmar a situação na sala.

    — Hã? Por que eles estão aqui…?

    Ao ver sua expressão chocada, imaginei que provavelmente era a mesma que eu tinha quando entrei na sala.

    A unidade de elite de Noark, que não podia ser encontrada em lugar nenhum, foi descoberta na mansão do marquês. E eles ainda estavam frente a frente comigo, Bjorn Yandel, que supostamente havia ‘excedido’ minha autoridade.

    “Já que consegui resultados, provavelmente não serei punido.”

    Claro, isso aconteceu por pura sorte, mas o mundo só se importa com resultados. Não precisava mais me preocupar com as consequências. O único problema agora era derrotar todos os oponentes com a ajuda dos cavaleiros que haviam acabado de chegar.

    — Faz tempo, Morgan Kalitumur.

    — Você é… Olho Demoníaco?

    Então o Vice-Líder conhecia aquele cavaleiro. A sala começou a murmurar ao ouvir o nome.

    — Por Kalitumur…

    — O capitão da 2ª Ordem de Cavaleiros do Palácio…?

    — Ele é o famoso Cavaleiro do Rei…?

    Eu sabia que o marquês enviaria alguém de status razoável para me capturar, mas uma pessoa com qualificações muito maiores do que eu esperava acabou vindo.

    “Morgan Kalitumur.”

    Conhecido como o Cavaleiro do Rei, ele era o famoso ex-guarda real e braço direito do Rei do Novo Mundo. Após o rei cair em reclusão por questões de saúde, Morgan se aposentou devido a razões políticas. No entanto, foi reintegrado como capitão da 2ª Ordem de Cavaleiros do Palácio quando a posição ficou vaga recentemente.

    — Pshehe… Raro vê-lo por aí.

    Era natural que sua presença aqui chocasse a todos. Embora o Vice-Líder de Orcules fosse bem famoso por si só, a reputação daquele velho monstro não ficava atrás. Antes de sua aposentadoria, nove em cada dez pessoas na cidade o teriam considerado o ‘mais forte’ se perguntadas.

    — Olho Demoníaco, Banozant. O fato de você estar aqui… significa que o Barão Yandel cumpriu sua missão.

    Uh…

    — Foi o que aconteceu — confirmei roboticamente.

    — Pelo que ouvi, parecia que você havia entrado imprudentemente na mansão do marquês, mas não era o caso na realidade. Eu me perguntava por que alguém de sua posição agiria assim. Como você fez isso? — perguntou o velho cavaleiro, curioso. — Essas são informações que nem o Departamento Imperial de Inteligência conseguiu obter.

    — O segredo… é dedução lógica e suspeitar das coisas certas.

    — Oh? Então não vai nos contar quem é sua fonte?

    Uh…

    Era como se um superior na minha empresa estivesse me olhando com orgulho, e acabei fechando a boca devido à pressão.

    Como sempre, isso seria suficiente para me levar adiante.

    — De qualquer forma, com as coisas como estão, deixarei a conversa para depois. Não será tarde demais para trocar perspectivas depois de capturarmos esses insurgentes malignos.

    — Eu também ajudarei.

    Com isso, minha conversa com o Cavaleiro do Rei chegou ao fim.

    “Ok, isso foi um pouco longo demais… Ainda bem que ele não é um paladino.”

    O Vovô Cavaleiro sacou sua espada, e eu assumi minha postura de batalha ao lado dele. Tínhamos a vantagem numérica e de terreno, já que o escritório do marquês não tinha nenhuma janela.

    “Ele provavelmente não colocou nenhuma para impedir que pessoas entrassem sorrateiramente.”

    A mansão do marquês era famosa por sua durabilidade. Ouvi dizer que foi construída exatamente da mesma maneira que a residência do rei. As paredes externas eram feitas de materiais extraordinários, e, graças a todo tipo de magia aplicada, supostamente permaneceria de pé por pelo menos um minuto, mesmo se o mundo acabasse.

    — Soltem suas armas e implorem por nossa misericórdia.

    O único problema era que a única saída estava sendo bloqueada pelo Cavaleiro do Rei.

    — Essa é a única escolha diante de vocês hoje.

    No entanto, mesmo diante da presença imponente do Vovô Cavaleiro, o Vice-Líder Banozant não demonstrou emoção alguma. Pelo contrário, disse apenas uma coisa.

    — Certo. Nós nos rendemos.

    Hã?

    — O que você disse?

    Pelo visto, não fui o único. O Vovô Cavaleiro parecia tão surpreso quanto eu.

    O Vice-Líder repetiu as mesmas palavras sem qualquer expressão — Eu disse que nos rendemos.

    Bem. Isso foi totalmente inesperado.

    A unidade de elite de Orcules devia ter algum motivo para se infiltrar tão profundamente dentro dos limites da cidade. E, ainda assim, esses caras estavam se rendendo tão facilmente? Eles não iam tentar resistir e lutar até o amargo fim?

    Todos podiam perceber que estávamos em uma situação suspeita e desagradável. E, como o Vovô Cavaleiro não era exceção, ele mesmo cuidou da captura deles. Contudo, no fim, os Noarkianos não ofereceram resistência alguma, e a situação foi resolvida com a prisão deles.

    — V-Você realizou um grande feito. Parabéns, Lorde Barão.

    — Por favor, informe ao marquês que cumprimos nosso dever…

    Enquanto os membros designados a mim pelo marquês também sentiam que algo estava errado, no fim, eles estavam felizes. E, numa tentativa de eliminar a inquietação por trás de sua alegria, tentavam ser o mais otimistas possível.

    — Eu me perguntei por que fizeram isso no início, mas, honestamente, foi a escolha óbvia.

    — Isso mesmo. Com o Cavaleiro do Rei aqui, eles não tinham o que fazer.

    — Ele deve ter concluído que não havia saída além de se render.

    Bem, era verdade que estavam em uma situação desfavorável, mas eu realmente não achava que agiriam assim. Desta vez, não era só intuição. Eu tinha provas.

    “É inacreditável que ninguém tenha se oposto à decisão…”

    No momento em que o Vice-Líder declarou a rendição, ninguém comentou. Nem o Coletor de Cadáveres, nem a Bruxa Lamentadora, nem Óculos, que parecia seu braço direito leal, nem qualquer outro membro da unidade.

    “Vice-Líder! O que quer dizer com rendição?! Devíamos lutar até o fim!”

    “Se formos capturados aqui, seremos torturados até a morte!”

    “Prefiro morrer lutando!”

    Eu esperava reações assim de pelo menos uma ou duas pessoas. Era suspeito demais que ninguém tivesse levantado objeções. Isso só fazia sentido se já tivessem planejado e discutido essa situação previamente.

    “Eles estão obviamente tramando algo.”

    O problema era que eu não tinha ideia do que poderia ser esse plano, nem se havia algo que eu pudesse fazer no momento.

    — Kalitumur — chamei. — O que pretende fazer com eles?

    — Não tem relação direta com sua missão, mas responderei, já que contribuiu muito para a captura deles. Serão transferidos para o palácio, onde ficarão presos enquanto o Departamento de Inteligência os faz revelar tudo o que sabem.

    “Ok, era o que eu esperava…”

    — Não podemos simplesmente matá-los aqui? — Argumentei sobre o perigo que representavam e a possibilidade de terem se deixado capturar de propósito, mas o Vovô Cavaleiro nem fingiu me ouvir.

    Não, para ser mais exato, ele ouviu cada palavra que eu disse e rejeitou minha sugestão sumariamente.

    — Entendo suas preocupações. No entanto, estamos em guerra, e precisamos das informações que eles possuem para vencê-la.

    — Então, não podemos justificar isso.

    — Exato. E, se matarmos essas pessoas que se renderam voluntariamente, quem assumirá a responsabilidade?

    Eu não respondi.

    — Entenda que não posso assumir a responsabilidade por algo movido puramente por intuição.

    Embora o Vovô Cavaleiro fosse rígido ao recusar meu pedido, parecia igualmente desconfortável em fazê-lo, já que ele mesmo ajudou a verificar as amarras dos prisioneiros.

    — Vamos transferi-los agora para o palácio. Como são prisioneiros de alta prioridade, qualquer um que se descuidar até que a transferência seja concluída sofrerá punições severas.

    Com isso, o Vovô Cavaleiro os conduziu até o jardim, e os Noarkianos foram colocados em uma carruagem especializada para transporte de criminosos.

    Contudo… O que era isso?

    — Bjorn, filho de Yandel.

    Enquanto era arrastado até a carruagem especial pelos cavaleiros, o Vice-Líder falou comigo.

    — Voltaremos a nos ver — disse ele com um sorriso sinistro. Qualquer um podia perceber que aquele não era o rosto de alguém sendo levado à morte. Tive a certeza de que me arrependeria de deixá-lo partir.

    — Quer morrer? — retruquei, desconcertado.

    O Vice-Líder respondeu com seu sorriso irritante, aquele que enrugava os cantos dos olhos. — E daí? Vai me machucar? Você, com tanto a perder?

    Fiquei em silêncio.

    — Apesar das aparências, você é uma pessoa muito lógica. E não é difícil lidar com pessoas como…

    — É — cortei, seco.

    Ele não pareceu entender completamente por que minha resposta foi tão curta, mas provavelmente tinha um palpite.

    — Está dizendo que vai me machucar? — perguntou o Vice-Líder, os olhos novamente tomados por aquela ‘curiosidade’.

    Respondi com palavras e com o martelo que apareceu de repente em minha mão.

    — Sim.

    Crunch!

    Era evidente que as coisas ficariam problemáticas depois disso.

    Crunch!

    Mas seria melhor do que viver com arrependimento. Se eu o deixasse ir agora, sentia que não teria outra chance de matá-lo.

    Sim, então…

    Crunch! Crunch! Crunch!

    Olho Demoníaco, não era?

    Crunch, crunch, crunch!

    Seu olho para julgar pessoas estava completamente errado no que dizia respeito a mim.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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