Capítulo 715: Prisão (2/4)
Pela primeira vez em muito tempo, eu estava preso.
Embora, pensando bem, talvez não pudesse realmente chamar aquilo de prisão.
A masmorra subterrânea do palácio era alvo de muitos rumores. As pessoas sussurravam sobre um grande monstro preso ali ou sobre como os maiores criminosos, que supostamente haviam morrido no labirinto, estavam sendo interrogados naquele lugar.
“Eu acho que consigo água quente aqui mais rápido do que no meu próprio lar.”
As instalações eram luxuosas demais para um lugar chamado prisão. Era como se eu estivesse em um quarto de hotel cinco estrelas. Eu tinha três cômodos só para mim, e a cama era tão grande que eu podia rolar duas vezes de lado. Havia até uma banheira enorme no banheiro.
— Nada mal.
É claro que nem todas as celas da masmorra subterrânea eram assim. Eu estava na cela especial de segurança máxima, em um canto separado do primeiro andar subterrâneo da instalação. Um lugar para prender pessoas que, mesmo sendo criminosas, eram respeitadas pelo palácio.
Bem, o objetivo de me manter preso ali não era realmente me aprisionar, mas dizer que fizeram isso.
— Barão Yandel, podemos conversar?
Poucas horas após o início da minha ‘vida de prisioneiro’, alguém veio me visitar. Era o Vovô Cavaleiro que eu havia encontrado recentemente. Ele comentou o quanto estava surpreso com meu patriotismo, perguntou se minha estadia estava desconfortável de alguma forma e disse que eu poderia chamá-lo se precisasse de ajuda.
Ele então informou que os Noarkianos estavam sendo mantidos no quinto andar subterrâneo e sendo interrogados por agentes do Departamento de Inteligência. Aparentemente, o Vice-Líder conseguiu sobreviver ao meu ataque graças a uma essência.
No geral, ele me tratou bem, e após algumas conversas triviais, foi embora. Mas não antes de fazer um comentário enigmático.
— Vou me retirar agora. Como disse antes, descanse por dois dias… não se preocupe com mais nada. O fato de o marquês não ter feito nada além disso pode significar que ele tem outras intenções.
— Hmm? O que quer dizer?
— Talvez ele esteja esperando que você tente escapar. Mesmo que sua detenção dure apenas dois dias, isso não diminui o crime de uma fuga.
O Vovô Cavaleiro disse que tinha trabalho a fazer e foi embora, deixando-me pensativo.
“Isso faz sentido.”
Afinal, o marquês me tratou bem demais para alguém que havia me colocado na prisão. Ele conhecia minha personalidade, poderia ter imposto muito mais restrições para garantir que eu não escapasse, mas me colocou em uma cela especial e nem sequer me algemou.
Para ser honesto, se eu quisesse, poderia arrancar a porta e simplesmente sair andando.
— Está aí?
Por algum motivo, um segundo visitante veio me ver após a partida do Vovô Cavaleiro. Será que qualquer um podia simplesmente aparecer por aqui?
Era uma ideia engraçada.
“Mas, pensando bem, ela não é qualquer uma.”
Acontece que eu conhecia muitas pessoas em posições altas o suficiente para terem acesso à prisão subterrânea. Como minha segunda visitante.
— Ragna…
— Já faz um tempo… — ela cumprimentou educadamente. — Você está desconfortável de alguma forma? Ouvi dizer que a prisão era diferente do que imaginei, mas não consigo ver o interior do seu quarto daqui…
— Provavelmente é como você ouviu. Estou bem com isso. Acho que até vou ter refeições decentes aqui.
— Ah, é mesmo? Isso é um alívio.
— Então, o que faz aqui?
Ragna hesitou por um momento antes de empurrar um pacote embrulhado pela abertura usada para a entrega de comida.
“O que é isso? Um documento ou carta secreta que precisava ser entregue a mim?”
Desfiz o embrulho em silêncio e verifiquei o conteúdo.
— Cookies?
A pequena caixa estava cheia de biscoitos, e nada mais.
“Oh, talvez ela tenha colocado um bilhete nos biscoitos.”
Fui rapidamente colocar um na boca.
— Pelo que ouvi, você não recebe sobremesas nas refeições… Então eu mesma os fiz. Você… gosta deles?
— Uh… Hã? — gaguejei. — Sim, estão ótimos!
— Haha, não precisa gritar. Eu consigo ouvir você.
Pensei que talvez o marquês a tivesse enviado, mas ela realmente estava ali só para me dar comida.
Enquanto conversávamos pela porta, ocorreu-me que eu poderia usar nossa conversa para fazer uma pergunta.
Aquela foto da mulher que vi no escritório secreto, a mulher que suspeitei ser a mãe de Ragna. Será que ela sabia da existência dela?
Mas, no fim, decidi não perguntar. O marquês provavelmente tinha instalado algum dispositivo de escuta ali, e…
Uma lâmpada se acendeu na minha mente.
— Não, espera.
Ragna parou. — O que foi?
Pensando bem, será que o marquês mencionou isso para mim em algum momento?
Embora fosse rude com ela, ignorei sua pergunta e repeti em minha mente a conversa que tive com o marquês.
“Ele não mencionou.”
Quanto mais revisava a conversa, mais certeza eu tinha.
O marquês nunca mencionou aquele quarto secreto.
— Então… Você realmente os encontrou enquanto vasculhava minha casa?
Mesmo sabendo tudo o que fiz dentro da mansão dele.
— Dois dias. Apenas dois dias.
O marquês não disse nada sobre o escritório secreto onde entrei sozinho, muito menos tentou arrancar essa informação de mim. E isso era algo que deveria ter sido abordado, mesmo que superficialmente.
“Talvez não fosse tão secreto quanto eu pensava, ou talvez não fosse algo que ele precisasse manter em sigilo. Isso poderia explicar a reação amena dele.”
Não era uma teoria completamente absurda, mas minha experiência de vida dizia o contrário.
“Não, de jeito nenhum.”
Provavelmente era o oposto… o motivo pelo qual o marquês não mencionou aquele quarto secreto era porque mantê-lo em segredo era importante demais. E, se minha hipótese estivesse correta, talvez os aliados no Distrito Sete não fossem a principal preocupação.
“Talvez eu seja quem está em maior perigo.”
A voz de Ragna interrompeu meus pensamentos. — Posso perguntar o que você está fazendo agora?
A resposta para isso não era algo que eu pudesse simplesmente contar a Ragna, a filha do marquês.
— Meu estômago dói! — declarei.
— Perdão?
— Vou precisar ir ao banheiro! Ah, e obrigado pelos biscoitos! Estavam deliciosos!
— Perdão? Ah… Certo…
Usei minha tática bárbara de evasão e encerrei a conversa com Ragna. Quando ela saiu, meu estômago de fato começou a doer, então fui até o banheiro.
Tink, tink. Ba-rum, ba-rum, ba-rum.
Algo que parecia uma granada rolou pela abertura da porta e explodiu com uma luz branca brilhante.
“Uma flashbang…?”
A luz não era forte o suficiente para me cegar, e não senti ferimentos onde ela tocou.
“Quem está aí…?”
Não parecia um ataque, mas, por via das dúvidas, peguei meu martelo e me aproximei da entrada. Foi então que ouvi uma voz.
— Está aí?
O capitão da 1ª Ordem de Cavaleiros do palácio, Jerome Saintred. Ou melhor, o monstro antigo que possuía seu corpo.
— Vim com notícias urgentes.
Era o chefe da aldeia.
A prisão do palácio não era um playground, então por que tantas pessoas estavam aparecendo para me ver no mesmo dia? Meu terceiro visitante era o chefe da aldeia.
— O que diabos está fazendo aqui? E o que foi aquilo antes?
— É uma ferramenta mágica usada pelo Departamento de Inteligência. Emite um pulso de ondas de mana poderosas que desativa todas as ferramentas de comunicação mágica na área.
Hmm, simplificando, era algo como uma granada de PEM1?
— Foi só por precaução, caso haja ouvidos nos escutando, então espero que compreenda.
Bem, eu já imaginava que aquele lugar provavelmente tivesse algum dispositivo de escuta, então não me importei muito.
— Tudo bem — respondi. — Então, o que tem de tão urgente para me dizer?
O chefe da aldeia foi direto ao ponto, como se o assunto fosse realmente urgente.
— Vai começar em breve.
Não… Isso foi direto demais.
— Começar? O que você quer dizer? — perguntei com cautela.
— O dia em que tudo queimará.
Ignorei meu coração acelerado e tentei perguntar com a maior calma possível — Não, mas o que isso significa…
Boom!
Um tremor veio da superfície e atravessou o chão por vários segundos, fazendo toda a prisão tremer. Uma rachadura apareceu no teto, e as paredes que o sustentavam começaram a ceder, com partes dele desmoronando no chão.
Agarrei a porta de ferro, surpreso. Estava prestes a perguntar ao chefe da aldeia o que estava acontecendo, mas ele falou primeiro.
— Saia daqui, e rápido. Não é mais seguro aqui.
— Não, me explique o que está acontecendo…!
— Isso é tudo o que posso dizer por enquanto. Sobreviva. Tenho algo a lhe contar quando fizer isso.
— Quando eu fizer? Não me importa isso agora, pelo menos diga…
— Está na hora. A pessoa que virá depois de mim lhe contará o resto.
Senti a presença do chefe da aldeia se afastar da porta de ferro, e então ouvi passos apressados se aproximando da minha cela. Não era o chefe da aldeia nem o Vovô Cavaleiro. Pelo som, parecia ser uma pessoa comum, sem treinamento marcial.
“É a Ragna…?”
Surpreendentemente, porém, o visitante acabou sendo meu quarto convidado único do dia.
Bang, bang, bang!
— Sr. Yandel! Sr. Yandel!
— Raven…?
— Ah, você está aqui! Que bom! Vou abrir a porta, então…
— Não precisa. — Arranquei a porta que não estava realmente me prendendo e saí.
— Eh…?
— Vamos ao ponto. O que está acontecendo acima de mim agora?
— Ah, oh! — Raven recuperou os sentidos ao ouvir minha voz e rapidamente me informou da situação. — Trovão! O Trovão caiu no Palácio da Glória!
Trovão.
Era o nome oficial de uma das três Armas Mágicas que o palácio possuía.
— Só ouvi falar disso por uma mensagem no caminho, mas o Palácio da Glória caiu, e não sabemos se o comandante supremo, o primeiro-ministro, está vivo ou não! Todos estão em pânico e tentando evacuar…!
Agarrei os ombros da Raven. Embora eu não soubesse o que ela viu no andar térreo, ela estava tremendo como uma folha.
— P-Precisamos sair daqui agora! — ela exclamou. — Se aquilo c-cair sobre nós de novo, este lugar também não será seguro…
— Calma, Raven.
— Mas…!
— Calma.
Ela fechou a boca diante da minha ordem firme. Isso não parou seus tremores, mas era muito melhor do que o pânico cego em que estava antes.
— Distrito Sete… — comecei. — Há notícias sobre o que aconteceu no Distrito Sete?
— N-Não sei. Antes de o Trovão cair, ouvi que estavam continuando a operação em Bifron…
Hmm, ok. Então era isso.
Confirmei mais uma coisa — Há mais informações sobre o que aconteceu com o primeiro-ministro?
— Perdão? Não! Nem sabemos se ele está vivo ou não. Mas, pela mensagem que recebi, ele definitivamente estava no Palácio da Glória quando o Trovão caiu!
— Entendi.
De alguma forma, senti que… Não, na verdade, eu tinha certeza.
O marquês ainda estava vivo. E talvez, até mesmo, fosse quem ativou o Trovão em primeiro lugar.
Eu ainda suspeitava que ele tinha algo a ver com os Noarkianos.
— Espere um pouco, preciso de um tempo.
— Perdão? Tempo? Não é hora para isso, precisamos sair logo de…
— Só um pouco, só um pouco de tempo.
Ignorei tudo o que Raven dizia e continuei pensando. Estávamos em tempo de guerra, quando cada segundo importava.
Não demorou muito para tomar uma decisão.
“Sim, por mais que eu pense…”
Fugir agora era a pior opção.
Com tudo em caos, escapar para me reunir com meus aliados no Distrito Sete seria possível e, logicamente, a escolha mais segura que eu poderia fazer. No entanto, havia um ‘tempo de ouro’ para tudo. A resposta inicial a um evento podia mudar drasticamente o resultado final.
— Vá primeiro, Raven.
— O quê…? — ela murmurou. — Do que você está falando? Ficou maluco? Sr. Yandel, é porque você não sabe o que aconteceu acima… Espere, para onde está indo?!
Raven ficou horrorizada ao me ver me afastar. Afinal, ela sabia o que me esperava. Se eu continuasse pelo corredor que estava seguindo, chegaria às escadas que levavam ainda mais fundo no subterrâneo.
— O quinto andar subterrâneo… — chamei de volta para ela.
— O quinto andar subterrâneo? Por que está tentando ir para lá?!
Se o que o Vovô Cavaleiro disse era verdade, era onde eles estavam.
Olho Demoníaco e toda a unidade especial de Noark que se rendeu, amarrada e com todas as habilidades seladas.
- Pulso Eletromagnético, ou Perturbação Eletromagnética Transitória, PET.[↩]
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