Capítulo 716: Prisão (3/4)

O relato de Raven sobre o que estava acontecendo na superfície fez um pensamento atravessar minha mente.

“Eu não estou atrasado, estou?”

Claro, não tinham se passado nem três minutos desde que senti aquele tremor explosivo. Mesmo assim, não tinha certeza se ainda estava dentro do ‘tempo de ouro’ ou se já o havia perdido. Embora eu não soubesse qual era o plano deles, a explosão dizia claramente que ele já estava em andamento.

“Talvez…”

Talvez o tempo de ouro fosse antes mesmo do plano começar. Talvez eles já tivessem iniciado a fuga e não houvesse ninguém presente, mesmo se eu descesse ao andar inferior. Também havia a possibilidade de eu encontrá-los pelo caminho e acabar me colocando em uma situação perigosa.

No entanto, esse pensamento só me fez descer as escadas ainda mais rápido.

Eu arrebentava as pesadas portas de metal que bloqueavam cada andar.

“Ainda não.”

As portas de aço fechadas me davam confiança e esperança de que eles ainda não haviam começado a fuga.

Segundo subsolo, terceiro, quarto…

Continuei descendo rapidamente.

Ainda havia uma chance de eu não ter perdido o tempo de ouro.

Então, enquanto eu corria pelas escadas, ouvi uma voz ofegante atrás de mim.

— S-Sr. Yandel…! Por favor, espere…!

Ela foi quem disse que precisávamos correr, mas estava preocupada o suficiente para me seguir.

“Já estamos quase lá, de qualquer forma.”

Pensei em dizer para ela subir sozinha, mas só precisávamos verificar a situação lá embaixo. Se eles ainda estivessem acorrentados, tudo o que eu precisava fazer era entrar rapidamente e ‘dar um jeito’ neles. E se já estivessem soltos…

“Bem, eu deveria conseguir ganhar tempo suficiente para ela escapar.”

Decidido, arrebentei a porta de aço que levava ao quinto subsolo, sem sequer pensar no que me esperava do outro lado, agindo exatamente como um bárbaro.

Crunch!

Com minha força esmagadora, a porta de aço se desfez como papel.

O espaço além estava silencioso.

A prisão do quinto subsolo era organizada como um tabuleiro de xadrez. Em vez de tochas que exigiam manutenção constante, ferramentas mágicas embutidas no teto emitindo luz iluminavam o local. Não era muito brilhante, apenas o suficiente para sugar a energia de quem estivesse sob o brilho fraco.

Mas isso não era o mais importante.

“Esquerda, direita, em frente.”

Eu tinha três opções. Como não sabia exatamente onde os Noarkianos estavam sendo mantidos no quinto subsolo, precisava simplesmente correr e procurar…

Tomp!

Ah, acho que não precisava.

“Maldição.”

Senti uma presença e virei rapidamente o olhar para frente. Lá estava um grupo que acabara de virar a esquina à distância.

Clang, clang.

Dois cavaleiros do reino estavam à frente deles, com o som de suas armaduras tilintando. Era como se estivessem agindo como guias.

— Eu sabia que você viria aqui.

Um dos supostos escoltas, Olho Demoníaco Banozant, os seguia.

— Pshehe…

E atrás dele estavam o resto de seus subordinados.

Embora as coisas não estivessem indo como eu esperava, aceitei a situação assim que a vi.

Sim, eu já estava atrasado.

“Pelo que posso ver, eles estavam posicionados bem na frente deles e os soltaram assim que o plano começou…”

No entanto, não fiquei tão chocado. Não esperava muito no caminho até ali. Pela minha experiência, se eu sentisse que poderia estar atrasado, então era exatamente isso.

“Mas foi bom eu ter vindo aqui.”

Eu precisava estar ali, de qualquer maneira. Era evidente que eles fariam algo assim que saíssem daquele lugar. Com um pouco de otimismo, o único problema foi que perdi tempo extra para acabar com eles antes de serem libertados.

Talvez eu ainda não tivesse perdido o tempo de ouro.

Tomp, tomp!

O terreno também não era tão ruim.

Clench.

Seria possível detê-los neste estágio. Impedi-los de subir até a cidade e executar o plano completo.

Eu ainda estava formulando um plano de ação quando os dois cavaleiros que guiavam o grupo se dirigiram ao vice-capitão.

— Como sabe, nosso dever termina aqui. A partir de agora, Olho Demoníaco, você precisa cuidar do restante.

Pelo que ouvi, parecia que os cavaleiros apenas libertaram o grupo e não tinham a intenção de ajudar mais.

— Haah, haah… S-Sr. Yandel?

Raven chegou com um timing perfeito.

Hmm, talvez ‘perfeito’ não fosse a palavra certa?

— Se você parou… haah …está planejando… haah …voltar…? Eek! — A esperança nos olhos de Raven se transformou em pânico ao notar as pessoas bloqueadas pela minha enorme silhueta. — C-como eles estão f-fora das celas…?

“Por que você está até perguntando isso?”

Eles estavam livres porque alguém com laços profundos com a autoridade do palácio os soltou.

“Parece que também devolveram todo o equipamento deles…”

Fiquei me perguntando por que ainda estavam no quinto subsolo. Parecia que precisavam de um tempo para reorganizar o equipamento confiscado.

Então, Olho Demoníaco Banozant passou pelos dois cavaleiros e veio em minha direção. Calmamente, perguntou — Você vai nos impedir? Sozinho?

Bem.

— O que acha? — retruquei com um sorriso.

Ele apenas me observou em silêncio. O olhar de seus olhos semicerrados enviava uma onda de repulsa por mim. Era como se ele nem me visse como uma pessoa.

No entanto, talvez graças à lição que eu havia dado a ele não muito tempo atrás, ele parecia ter entendido o recado desta vez.

— Hmm, pelo que posso perceber, você fará uma decisão tola novamente.

Bem, não concordo que seria ‘tola’, mas já que ele adivinhou corretamente minhas próximas ações…

Ao invés de responder com palavras, levantei a Muralha de Égide e ativei a 【Gigantificação】, bloqueando a única saída para a superfície com meu corpo inteiro.

— Sr. Yandel… Você não está sendo imprudente demais…?

Interrompi o desabafo ansioso de Raven.

— Você pode subir primeiro. Eu vou detê-los aqui. Não há razão para também colocá-la em perigo.

Ela demorou um momento para responder. — Argh, você vai continuar sendo tão irritante? Se eu fosse fazer isso, nem estaria aqui em primeiro lugar.

— Uh…

— Você vai detê-los, certo? Impedi-los de subir até a superfície e fazer algo ruim.

— Isso é…

— Eu vou ajudar. Não serei de muita utilidade agora, mas aprendi alguns feitiços de suporte durante meu tempo no exército.

— Hmm…

Não consegui ouvir nenhuma hesitação na voz dela.

Embora meu coração se enchesse de calor, não pude deixar de me perguntar.

O que eu deveria dizer a ela? Apenas continuar recusando sua ajuda e dizer que não precisava dela? Ou prometer que pagaria de volta mais tarde?

Não pensei por muito tempo.

— Raven.

— Sim?

— Obrigado… Por tudo.

Ela não respondeu ao meu genuíno comentário de gratidão, mas eu também não esperava que o fizesse. Provavelmente ficaria mais constrangido se ela respondesse.

E nossos oponentes estavam nos olhando como se fôssemos estranhos.

— Terminaram? Pshehe.

Pare de rir, seu desgraçado.

Fixei o olhar adiante enquanto os Noarkianos se aproximavam lentamente.

O Coletor de Cadáveres, a Bruxa Lamentadora, o Olho Demoníaco e muitos outros indivíduos cujos nomes eu não sabia, mas tinha certeza de que eram poderosos, incluindo o de óculos.

“Quanto tempo posso segurá-los aqui?”

Deixei esse pensamento passar completamente pela minha mente.

— Behelaaah!

“Venham. Eu não sei qual é o seu plano, mas nunca deixarei que vocês…”

Outra explosão ecoou de cima, fazendo o espaço subterrâneo ao nosso redor tremer.

Os tremores foram incomparavelmente mais fortes do que antes. O impacto anterior já havia danificado os pilares que sustentavam o local, e não seria estranho se começassem a desabar a qualquer momento.

Brrrrm!

E agora, o local parecia estar prestes a desmoronar por completo.

— Randolf, o teletransporte em massa está preparado?

O quê?

— Sim. O campo de negação de mana também foi desativado, e podemos ativá-lo a qualquer momento.

O quê?!

— Ative-o.

— Mas, se fizermos isso, não conseguiremos realizar o plano de libertar os outros prisioneiros daqui.

— Será uma perda estratégica se perdermos mais tempo aqui.

— Entendido.

Os dois conversavam abertamente, como se ninguém estivesse escutando, antes de uma luz azul começar a brilhar abaixo deles.

A situação ficou clara.

“Espera, então eles não ficaram neste andar para recuperar o equipamento?”

Não havia tempo para explorar essa dúvida. Nesse ritmo, eles simplesmente desapareceriam diante de mim.

A fraqueza do teletransporte em massa era o longo tempo de ativação, e ele podia ser interrompido nesse intervalo. No entanto, pelo que pude perceber, o feitiço já estava quase concluído.

Isso, porém, não significava que eu poderia desistir.

Impulsionei-me do chão e disparei em direção a eles. Apesar de ser um tanque, como um dos aventureiros mais fortes, fechar uma distância como aquela não era nada difícil.

Isso, é claro, se ninguém tentasse me parar.

Mesmo com um bárbaro do tamanho de um tanque avançando contra eles, o vice-capitão permaneceu calmo enquanto suas íris se tingiam de verde.

Vwoong!

Uma parede translúcida verde formou-se entre nós, bloqueando meu caminho.

Bang!

Mesmo quando a atingi com meu martelo, a parede não mostrou sinais de rachaduras. Nada mudou quando troquei para o No. 687: Exterminador de Cerco.

Boom!

Continuei golpeando a barreira impenetrável enquanto o teto trêmulo começava a desabar sobre nós.

“O prédio”, percebi. “Pode desmoronar a qualquer momento.”

Apesar disso, continuei balançando a maça de ferro sem hesitar.

Shimm!

A luz azul além da parede ficava cada vez mais intensa, sinalizando que o feitiço estava prestes a ser ativado.

Bang!

Ainda assim, não desisti.

Então, Olho Demoníaco falou comigo como se eu fosse uma criança fazendo algo tolo.

— Barão Yandel. Não é hora para isso. Pare de desperdiçar sua força em esforços inúteis e vá embora logo.

Seus olhos semicerrados, sorridentes, nem estavam olhando para mim, mas além do meu ombro. Embora normalmente não houvesse motivo para prestar atenção às suas palavras, eu sabia o que ele estava dizendo.

— Ouvi dizer que você valoriza muito seus aliados.

Brrrrm!

O teto finalmente começou a desabar sobre nós.

Uma grande placa de pedra atingiu meu ombro. Parei de balançar minha maça de ferro ao sentir o impacto. Precisava admitir que não poderia mais impedir que eles se teletransportassem para fora daquele lugar. Contudo, precisava dizer pelo menos isto:

— Eu não sei o que vocês estão planejando. Mas nunca sairá como esperam.

Bárbaros eram uma raça especializada em arruinar os planos alheios.

— Estou ansioso para ver isso — respondeu ele.

Pare de agir como se você fosse um vilão descolado.

“Bem, tanto faz.”

Eu disse o que queria.

Virei-me imediatamente e corri em direção às escadas onde Raven estava.

Um brilho intenso irrompeu atrás de mim por um momento, mas não me virei para verificar. Era óbvio que ninguém estaria mais lá. Minha maior prioridade era encontrar Raven e evacuar para a superfície…

— Sr. Yandel! As escadas para cima estão bloqueadas!

— O quê? — Peguei Raven em meu braço e olhei para as escadas, vendo que o caminho realmente havia desmoronado. Não pude evitar soltar um suspiro ao olhar para aquilo, mas isso não significava que eu poderia desistir.

“Então eu preciso mover cada pedaço de entulho enquanto subo?”

Não tive tempo para pensar direito. Corri imediatamente para o ponto mais alto que consegui alcançar e comecei a remover os destroços com as mãos nuas.

— Sr. Yandel, já é tarde demais!

Tarde demais, ela disse. Bem, talvez parecesse assim para ela.

— E daí? Você quer simplesmente morrer aqui? — perguntei. Para um Bárbaro Coreano como eu, desistir era…

— Não, não é isso! Vamos descer! Também podemos usar o teletransporte em massa para sair!

“Ah. Acho que essa é outra opção, né?”

— Apenas me dê tempo até eu completar o feitiço! — ela argumentou.

Por que eu não tinha pensado nisso? E por que pulei direto para usar a força física?

Embora estivesse envergonhado ao perceber que meu cérebro estava se tornando o de um verdadeiro bárbaro, isso não mudava o fato de que a ideia dela era provavelmente nossa melhor chance.

Brrrrm!

Corri pelos degraus em colapso até finalmente encontrar um chão estável o suficiente para ficar de pé.

— Por ali! — Raven gritou, apontando para o canto mais distante da entrada. Pelo que pude ver, dois pilares pesados haviam caído um sobre o outro, criando um espaço que, por acaso, era grande o suficiente para abrigar duas pessoas.

“Tudo bem”, concluí, ainda correndo pelo corredor. “Se eu apenas sustentar isso por baixo, devemos conseguir ficar seguros até que o feitiço seja…”

— Hã?

— Eh? Kyaaa!

O chão desabou.

Thud!

Quando acordei, um teto desconhecido me cumprimentou.

Bem, ‘acordei’ talvez fosse uma forma errada de dizer. O corpo de um bárbaro não era tão frágil a ponto de desmaiar só porque o chão desabou.

Meus passos pesados haviam desestabilizado ainda mais o terreno, o que fez com que ele cedesse devido às rachaduras já presentes. Enquanto caía, torci meu corpo e caí de costas para proteger Raven de se machucar.

Como uma repetição em câmera lenta, vi tudo acontecer em minha mente. Contudo, havia uma questão que me incomodava.

— Isto é…

Não precisava de explicação para saber com cada fibra do meu ser que este lugar era seguro. Por alguma razão, mesmo enquanto os andares acima continuavam a desmoronar, este local abaixo, onde havíamos caído, permanecia calmo, sem nenhum indício de tremor. O único sinal de colapso era a pequena abertura no teto por onde havíamos caído.

— O… sexto subsolo?

A prisão subterrânea do palácio terminava no quinto andar. Era assim no jogo, e não havia nenhuma escada que levasse além do quinto subsolo. Eu também nunca tinha ouvido falar de uma expansão da prisão.

“Não, mais importante… isso sequer pode ser chamado de prisão?”

Era um enorme espaço cúbico. Não havia grades de ferro, nem mesmo uma entrada que levasse até ali. Na verdade, a única coisa presente era um cubo no centro da sala.

Era como uma matrioska, uma caixa dentro de outra. O que diabos era esse lugar?

Eu sabia instantaneamente que não era nada comum.

— Raven, levante-se. Rápido.

Para obter minha resposta, sacudi a maga, tentando acordá-la. Felizmente, a queda só a deixou inconsciente, e ela despertou rapidamente quando a sacudi.

— E-Esse lugar…

— Nós caímos aqui. Tem algo que eu deva saber? — perguntei.

Raven olhou ao redor, ainda atordoada, antes de fixar os olhos no cubo no centro da sala.

— Você sabe o que é aquilo? — perguntei, sacudindo-a novamente.

Raven respondeu com uma pitada de incerteza. — E-Eu não sei o que é, mas…

— Mas?

— Eu… acho que há um portal dentro dele.

Que lugar era esse?