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    O círculo mágico de teletransporte era a única entrada e saída do sexto andar subterrâneo da prisão do palácio.

    “Ela é jovem.”

    E, pelo som de sua voz, parecia que uma jovem garota estava presa ali.

    Depois de ouvir a voz, verifiquei novamente onde a marca de mão havia aparecido na caixa. A protuberância estava localizada na parte inferior de sua superfície, mais ou menos na altura que uma criança de dez anos alcançaria se estivesse de pé.

    “Não, espere.”

    Uma ideia me atingiu como um certo pensador sentado em uma banheira.

    “Será possível…?”

    A Bruxa da Terra. A principal vilã que havia lançado este mundo no caos e o motivo pelo qual a peculiar cidade de Rafdonia fora criada.

    Não parecia tão absurdo imaginar que a misteriosa ‘garota’ presa na caixa pudesse ter alguma relação com a Bruxa. Afinal, estávamos nos andares subterrâneos do palácio. Considerando os muitos segredos que ele guardava, não seria estranho se a Bruxa, ou até mesmo os avós dela, também estivessem aqui.

    — A Bruxa da Terra está realmente morta?

    Algum tempo atrás, quando fiz essa pergunta a Auril Gavis, ele me deu a seguinte resposta:

    — Ela está viva.

    A Bruxa da Terra estava viva.

    Embora pudesse ter sido uma alucinação, eu havia encontrado uma garota no labirinto várias vezes que se chamava Elise Groundia. Por causa disso, estava sob a impressão de que a Bruxa vivia no labirinto, escondida.

    Bem, isso não era o mais importante no momento.

    Boom, boom, boom!

    Bati na parede com minhas mãos do tamanho de melancias e tentei conversar com ela.

    — Quem está aí dentro? Diga alguma coisa. Você está realmente presa aí? Hein? Fale! Não quer que eu te salve?

    Mas, por algum motivo, não obtive resposta.

    Tentei colocar a mão na parede novamente, imaginando que minha voz não conseguisse atravessar, mas não houve reação. Até mesmo a marca de mão que parecia ter sido feita do lado de dentro desaparecera.

    — Senhor Yandel, há alguém aí?

    — Ah… É… — Depois de hesitar por um momento, decidi ser direto com minha pergunta. — Raven, você pode verificar se há alguém aqui dentro?

    — Hmm… Eu diria que provavelmente não há ninguém.

    — Mas você nem ao menos verificou…

    — Por que está perguntando? Pelo que posso perceber pela quantidade de mana que estou detectando, o tamanho do portal dentro do cubo não é muito diferente do tamanho do próprio cubo. Em outras palavras, não pode haver nenhuma criatura viva fisicamente dentro dele! Talvez esteja agachada em um canto, mas, se não, já teria sido sugada pelo portal!

    Ah, então era isso?

    A lógica de Raven me fez pensar por um momento se eu tinha alucinado a voz, mas não demorei a afastar essa dúvida.

    Este não era o mundo moderno, mas sim um mundo de fantasia. Um mundo onde fenômenos misteriosos que jamais poderiam ser explicados existiam, onde magia, habilidades e poderes divinos eram reais. Essas habilidades poderiam permitir a alguém derrotar até mesmo fantasmas.

    — Então, o que você quer fazer? Podemos ativar o círculo mágico quando quiser.

    Reservei um momento para pensar na pergunta dela.

    O que eu deveria fazer? Deveria ficar e investigar a caixa um pouco mais?

    — Tem algo que você sempre nos diz, senhor Yandel.

    — Hmm?

    — Estabeleça suas prioridades. Sua curiosidade é a prioridade aqui? Ou deveria ser outra coisa?

    Essas palavras me deixaram momentaneamente sem resposta.

    “Curiosidade…”

    Tecnicamente, ela não estava errada, mas isso não era mera ‘curiosidade’. No momento em que ouvi a voz vinda da caixa, senti algo parecido com um puxão do destino. Era como se alguém preso lá dentro tivesse me chamado até aqui.

    — Raven, quais são as chances de o chão ter desabado sob nós enquanto corríamos pelo corredor do quinto andar subterrâneo?

    — Extremamente baixas. Se o Trovão não tivesse caído duas vezes em rápida sucessão, a prisão subterrânea provavelmente não teria desmoronado.

    Havia um sarcasmo denso na voz dela. Eu sabia que ela entendia o que eu estava tentando dizer.

    Ergui a cabeça lentamente e olhei para o teto.

    Embora o restante da superfície estivesse intacto, havia um buraco onde estávamos correndo e caímos, e apenas ali. Contudo, mesmo esse buraco havia sido consertado em questão de minutos.

    Desde então, eu não sentira nenhum tremor, muito menos vira escombros caindo. Era como se estivéssemos em uma câmara isolada.

    — Eu sei o que está tentando dizer, e não pretendo impedir o que quer que esteja tentando fazer. Mas não deveríamos decidir o que fazer mais cedo ou mais tarde?

    Com o incentivo de Raven, perguntei uma última vez: — Então… Você disse que este é um círculo mágico bidirecional, certo?

    — Sim. Não sei onde vamos parar ao atravessá-lo, mas sei que haverá um círculo mágico alinhado com este do outro lado. Se quisermos, provavelmente poderemos voltar aqui.

    Certo, se era assim, isso tornava minha decisão muito mais fácil.

    — Ative o círculo mágico.

    Eu não tinha dúvidas de que este lugar guardava algum grande segredo, mas agora não era o momento de investigar. Precisava me contentar com o fato de ter chegado aqui hoje, para que, quando chegasse a hora de voltar, tivesse tomado as medidas necessárias para preparar uma investigação adequada.

    Assim como Raven disse, eu precisava organizar minhas prioridades. Sair dessa situação com meus aliados e minha vida tinha precedência.

    — Então, vamos começar? — confirmou Raven.

    Assenti, e o círculo mágico foi ativado rapidamente.

    Flash!

    Minha visão ficou instantaneamente branca por causa da luz brilhante e voltou lentamente enquanto ela se desvanecia.

    — Isto é…

    Paredes brancas e um teto branco. Era outra sala fechada, com luz brilhante emanando de cima, como se estivéssemos diretamente sob uma lâmpada.

    Raven olhou ao redor, nervosa, e apontou para uma parede. — Por que só essa parede é feita de metal…? Hein? Agora que olho melhor, há uma fenda minúscula no meio do metal. Acho que ela se abre para o lado… Uh, senhor Yandel? Yandel? Pode me ouvir?

    — Estou ouvindo.

    Eu só tinha me desligado por um instante. Meus sentidos ainda estavam funcionando perfeitamente.

    Depois de me recompor, caminhei até a parede de metal, presumivelmente uma porta. Raven começou a falar sozinha e a lançar todo tipo de teoria sobre essa ‘coisa’.

    — Talvez precise de algo mágico? Mas, pensando bem, não consigo sentir mana vindo dela…

    Magia disso, mana daquilo e por aí vai.

    Raven enumerava tudo o que um mago pensaria ao olhar para essa ‘porta’ sem maçaneta. Na maioria das vezes, uma dessas teorias acabava sendo correta.

    — Saia um segundo.

    — Perdão…? — Raven interrompeu, surpresa. — Ah, se vai tentar abrir à força…

    — Não se preocupe, não farei isso.

    Agora parado em frente a ‘ela’, estendi a mão lentamente.

    Eu não fazia ideia do que essa coisa estava fazendo neste mundo, mas sabia como usá-la.

    Click.

    E assim, estendi meu dedo indicador do tamanho de um salsichão e apertei o botão.

    Ding!

    Pouco depois, soou um sinal que não combinava em nada com este mundo.

    Sww.

    E as portas do elevador se abriram.


    Raven não deu muita importância à natureza daquele ‘dispositivo mecânico’. Ela apenas se surpreendeu com duas coisas: a segurança frágil, que permitia que ele fosse ativado apenas pressionando um botão, e o fato de não sentir mana vindo dele. Fora isso, ela não reagiu muito.

    — Ah, então é como o elevador de mana. Também temos algo assim em nossa torre mágica.

    Com essas palavras, minha suspeita cristalizou-se em certeza. Aquele dispositivo mecânico não utilizava mana.

    Bem, Raven parecia acreditar que havia um circuito muito fraco que ela simplesmente não conseguia detectar.

    “De jeito nenhum.”

    Pode não ser exatamente como o da torre mágica, mas eu já havia usado elevadores de mana algumas vezes. E o que estávamos usando agora era completamente diferente. Aqueles elevadores eram inseguros, comparáveis a uma simples gaiola de metal, e o sistema de roldanas era movido por mana.

    E quanto a este?

    — Senhor Yandel?

    Não era possível determinar se ele era movido por eletricidade ou mana só olhando. Na verdade, acho que até dava.

    “Droga, o que essa coisa está fazendo aqui…?”

    O design característico o denunciava. Era muito refinado, o tipo de elevador que não pareceria fora de lugar em um hotel caro, e muito moderno. As luzes instaladas no teto, os botões ao lado da porta e até os espelhos nas laterais do elevador…

    Os espelhos refletiam um bárbaro e uma maga completamente equipados, mas por um instante quase me esqueci de que não deveríamos estar em um mundo moderno.

    — Então, como podemos ativar este elevador? Normalmente, enviamos uma mensagem a um operador para ativar o nosso…

    Diante da curiosidade de Raven, pressionei um botão como se fosse algo natural para mim. Era o único botão, além dos que abriam e fechavam as portas.

    — Ah! E-Está se movendo!

    Com o botão do andar pressionado, o elevador ganhou vida. Pelo que pude perceber, estávamos subindo, e não descendo.

    — Ei, senhor Yandel. Pelo menos diga algo. É assustador quando você faz tudo isso em silêncio… Algo pode aparecer quando o elevador parar e as portas se abrirem…

    Bem… Isso era algo que também me preocupava.

    O que haveria além daquelas portas? No momento, eu não conseguia nem imaginar.

    Vwoong…

    E assim, esperei pacientemente.

    Embora estivesse preparado para brandir minha arma a qualquer momento, não permiti que meu corpo ficasse muito tenso.

    “Um segundo, dois segundos, três segundos…”

    Contei os segundos e controlei minha respiração.

    “Cinquenta segundos.”

    Cerca de cinquenta segundos depois, senti o elevador desacelerar antes de parar suavemente.

    Vwoong…

    As portas então se abriram lentamente, revelando a cena que tanto nos intrigava.

    A primeira coisa a notar: era algo como o saguão de um hotel. Havia um lustre e uma pequena fonte no centro. O chão era feito de mármore polido.

    Tap.

    E um único cavaleiro estava parado diante das portas recém-abertas.

    O cavaleiro não parecia surpreso ao nos ver. Era como se já soubesse que estávamos chegando.

    Ele estava em posição de sentido, como um verdadeiro guarda real, apenas nos observando em silêncio.

    “Vamos começar com um subchefe logo de cara?”

    Em termos de jogo, era como se estivéssemos enfrentando um subchefe assim que entramos no calabouço. Eu soube instantaneamente que aquele cara não era qualquer figurante.

    “Bem, acho que é de se esperar, considerando que ele protege este lugar.”

    Isso, no entanto, não significava que eu iria recuar assustado.

    Quero dizer, quem eu era? Eu era o bárbaro superpoderoso que sabia com certeza que nunca perderia para ninguém em uma batalha de auras. Esse era eu.

    O único problema era saber se eu conseguiria proteger Raven, que estava atrás de mim, enquanto isso.

    Dei um passo para trás, assumindo uma postura mais defensiva para melhor protegê-la. Então, o cavaleiro desembainhou sua espada com fluidez e apontou-a para mim.

    “…Hã?”

    Foi só isso que aconteceu.

    Slash!

    Quando percebi, uma linha havia sido traçada na palma da minha mão.

    Tec.

    Logo depois, veio uma dor ardente enquanto gotas de sangue escorriam pela minha mão.

    “Eu fui cortado…?”

    Era inacreditável.

    Eu não conseguia acreditar que aquele cavaleiro fosse algum mestre extraordinário capaz de me cortar tão rápido que eu sequer pude ver. Mas podia aceitar que, neste mundo, não importava ele estar a mais de vinte passos de distância de mim quando me feriu.

    — Interessante…

    No entanto, era completamente diferente aceitar que ele atravessou minha defesa física com um único golpe e fez isso de forma precisa o suficiente para me fazer sangrar. E o desgraçado nem usou aura naquele ataque.

    “Se não é aura…”

    Nem me dei ao trabalho de olhar para o ferimento. Mantendo a calma, fixei meu olhar no cavaleiro, ou mais precisamente, na espada que ele empunhava.

    “É a espada…?”

    O segredo daquele ataque quase certamente estava naquela espada.

    Sem dúvida, era uma arma que eu nunca havia visto antes. Vasculhei o banco de dados da minha mente, mas não consegui me lembrar de nenhum item numerado que se parecesse com aquilo. E, mesmo assim, não havia outra explicação possível.

    “Ou eu preciso de alguma forma tomar a espada dele, ou virar o jogo para que ele não possa usá-la…”

    Mas, assim que comecei a formular uma estratégia para enfrentá-lo, o cavaleiro embainhou a espada e se virou, como se dissesse que tudo aquilo fora apenas para me por em meu lugar.

    — Sigam-me.

    Com o clangor da armadura contra o mármore, ele caminhou de costas para nós.

    Raven foi quem espiou por trás de mim e perguntou em meu lugar: — O-o-onde estamos indo…?

    Ela parecia um animal assustado.

    O cavaleiro continuou andando, deixando as costas completamente expostas para nós, enquanto respondia:

    — Para o salão de audiências.

    — Como é que é?

    Era uma reviravolta que eu jamais teria previsto.

    — O Rei Novo Mundo concedeu uma audiência a vocês.

    Eu nunca imaginei que seria assim que encontraria o rei.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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