Índice de Capítulo

    Havia um ditado entre as pessoas deste mundo que dizia que conversar com um bárbaro era como conversar com uma parede de tijolos. Mesmo que alguém explicasse cada detalhe de forma calma e lógica, os bárbaros nunca pareciam compreender a ideia.

    No entanto, do meu ponto de vista, esse ditado se aplicava mais ao cavaleiro à minha frente do que aos bárbaros.

    Era realmente como se eu estivesse falando com uma parede.

    — Cavaleiro, qual é o seu nome? Nunca ouvi falar de alguém como você.

    Nada.

    — Realmente poderemos encontrar o Rei do Novo Mundo se seguirmos você?

    Silêncio absoluto.

    — Pelo que ouvi, ele está acamado devido a uma doença. Mas parece que, na verdade, está saudável?

    Nenhuma resposta.

    Tsc, só porque ele era um cavaleiro…

    Ele respondeu gentilmente a Raven quando foi ela quem fez as perguntas.

    Só para ter certeza de que ele não tinha uma fraqueza por mulheres, pedi que Raven tentasse falar com ele, mas não deu em nada.

    — Hã… Isso pode ser presunçoso da minha parte, mas Sua Majestade está saudável e em paz? Ah! Eu… Não estou perguntando porque desejo o contrário… Minhas desculpas…

    Silêncio total.

    — Viu só? — ela desabafou para mim. — N-Não funcionou… Então não me peça de novo.

    O cavaleiro apenas continuava andando silenciosamente à nossa frente, e assim o seguimos sem dizer mais uma palavra.

    Bem, eu não disse nada em voz alta, mas minha mente estava a mil.

    “Não há nenhuma janela, então imagino que estamos no subsolo.”

    Como ele mencionou uma sala de audiências, provavelmente estávamos no Palácio da Imortalidade, o palácio entre os doze que, segundo diziam, abrigava o rei.

    O núcleo da cidade era Karnon, e o núcleo de Karnon eram os palácios. E entre os doze palácios ali, o Palácio da Imortalidade era o que ficava no centro de tudo.

    Como o estavam chamando agora? O Palácio do Novo Mundo?

    “Eu nunca soube que existia um lugar como este no subsolo…”

    Enquanto seguíamos o cavaleiro, certifiquei-me de observar atentamente os arredores. Memorizei o caminho e tentei procurar por rotas de fuga que pudesse usar em uma situação extrema, mas minha busca não deu em nada.

    Não havia absolutamente nada aqui.

    Tap, tap.

    Dito isso, ainda assim aprendi algumas coisas enquanto percorremos o corredor vazio.

    “É uma espiral.”

    Eu não havia notado a princípio, mas não estávamos andando em linha reta. O corredor era ligeiramente curvado, formando mais ou menos um círculo. Em suma, estávamos subindo uma escada em espiral.

    — Por que não colocar um elevador, já que é preciso andar tanto assim? Da última vez que vi, vocês tinham um bem bom por lá.

    Completo silêncio.

    Além disso, não havia elevadores aqui, o que significava que, para voltar ao elevador de onde viemos, teríamos que descer todo aquele longo corredor de novo.

    Por que se dar ao trabalho de projetar e construir algo tão inconveniente? Não era como se o palácio estivesse com falta de recursos. Na verdade, instalar um elevador teria sido uma escolha muito mais econômica.

    A resposta veio a mim após alguns momentos de reflexão.

    “É para defesa…”

    Se uma força invasora externa entrasse, este longo corredor certamente garantiria mais tempo para eles do que qualquer armadilha ou obstáculo.

    Às vezes, os métodos mais primitivos eram os mais confiáveis.

    E assim, após andar por três horas em quase completo silêncio, o caminho espiral finalmente terminou em uma enorme área aberta.

    Raven ergueu a cabeça, impressionada. — Isso é…

    O espaço em si não era nada especial, mas a estrutura em seu centro capturou nossa atenção.

    Um grande tanque. Um recipiente transparente, parecido com os que havíamos visto no Centro de Pesquisa Panthelion, no primeiro subsolo, estava situado bem no centro da sala.

    Havia uma diferença perceptível em relação ao que eu vi no centro de pesquisa, no entanto. Este era gigantesco, maior até do que a maioria dos Lordes dos Andares.

    Todo o resto estava alinhado ao que vi no centro de pesquisa. Centenas de cabos estavam conectados à base do tanque, e o tanque em si estava cheio de um líquido misterioso.

    Enquanto olhava para ele de boca aberta, o cavaleiro que nos guiava finalmente disse algo.

    — Sigam-me. Sua Majestade está esperando por vocês.

    Embora fosse tudo o que ele disse, a mensagem implícita era clara: ‘Não sejam curiosos sobre coisas que não lhes dizem respeito.’

    Evitei perguntar ao cavaleiro para que servia o tanque.

    Ding!

    Seguimos o cavaleiro até um elevador na parede oposta da área aberta, e o pegamos para subir.

    Ding!

    Quando as portas do elevador se abriram novamente, eu soube.

    — Este humilde servo saúda o mestre do novo mundo.

    Eu finalmente havia chegado à sala de audiências que nunca tinha conseguido alcançar, mesmo após milhares de tentativas.


    O trono estava situado em um degrau elevado.

    Uma sensação estranha tomou conta de mim enquanto eu olhava para o trono.

    Eu já havia participado de diversas cerimônias, como a de nobilitação, e em todas elas, o trono sempre esteve vazio. Nem mesmo o primeiro-ministro, o segundo homem mais poderoso do reino e representante do rei, ousava sequer pensar em sentar-se ali, muito menos tentar fazê-lo.

    E, pela primeira vez, havia alguém sentado naquele trono.

    Seria por isso?

    Ba-dum!

    Meu coração de guerreiro, acostumado a suportar inúmeras provações de vida e morte, apertou-se de nervosismo.

    Bem, não tanto quanto o de Raven, ao que parecia.

    — E-E-Eu saúdo Sua Majestade! — ela balbuciou. — Esta humilde serva… N-Não, eu, eu… Esta humilde serva saúda Sua Majestade!

    Assim que percebeu que havia alguém sentado no trono, Raven se jogou no chão coberto por um tapete, prostrando-se em reverência. Apesar de sua barriga estar voltada para o chão, a postura dela era o retrato de um filhote de cachorro que se deita de costas em submissão. Sua linguagem corporal gritava ainda mais alto do que as palavras que ela dizia.

    — S-Senhor Yandel! O que você está fazendo…?! — Raven sussurrou para mim, me lançando um olhar severo mesmo com a testa ainda encostada no chão.

    Só então percebi minha falta de respeito. Como bárbaro, nunca havia precisado fazer nada disso antes.

    Entretanto, havia uma razão clara e definitiva para os bárbaros poderem falar diretamente e ignorar certas formalidades, mesmo quando conversavam com nobres: um de nossos ancestrais havia recebido esse direito após realizar um grande feito.

    E esse direito fora concedido pelo próprio rei que estava sentado naquele trono.

    — R-Rápido!

    Era óbvio que, mesmo um bárbaro, seria morto se falasse de maneira imprópria ao rei.

    Ajoelhei-me e baixei a cabeça, adotando a postura que já havia visto inúmeras vezes, mas que nunca antes tinha assumido.

    — Este humilde servo saúda Sua Majestade…

    Por ser um nobre titulado, eu não precisava me jogar ao chão como Raven. Graças à minha visão mais elevada, consegui observar melhor o interior da sala de audiências.

    Pesadas cortinas de seda estavam penduradas ao redor do trono, obscurecendo o rosto do rei. Não havia janelas, provavelmente para evitar possíveis tentativas de assassinato ou olhos curiosos de forasteiros, e a única entrada era o elevador que usamos para chegar aqui.

    Por fim, dois cavaleiros estavam posicionados diante do rei. Diferente do cavaleiro sem nome que nos guiara até aqui, o brasão em suas armaduras tornava fácil identificá-los.

    “A Ordem dos Guardiões.”

    Eles eram a força de combate mais elite do reino, com cada membro possuindo força equivalente ou superior à de um monstro de terceiro nível, e só eram encontrados dentro do Palácio da Imortalidade.

    O trono ocupado devia ter me abalado mais do que pensei. Só percebi a realidade da situação ao ver a Ordem dos Guardiões.

    “Então realmente estou dentro do Palácio da Imortalidade… Primeiro as prioridades.”

    Imediatamente, reduzi a prioridade de planejar uma fuga baseada em força bruta ou confrontos físicos para o fim da lista. Se realmente estávamos dentro do Palácio da Imortalidade, lutar deveria ser minha última alternativa.

    Quando jogava Dungeon and Stone, entrei no Palácio da Imortalidade algumas vezes. Noventa e nove por cento dessas vezes, era pelo caminho do traidor.

    “Mesmo assim, nunca vi o rosto do rei uma única vez…”

    Ignorando as especificações absurdas da Ordem dos Guardiões, o Palácio da Imortalidade possuía inúmeros mecanismos para deter invasores, e era praticamente o fim do jogo quando eles eram completamente ativados.

    O Palácio da Imortalidade era o único lugar que nunca consegui conquistar totalmente no jogo, mesmo quando tinha melhores equipamentos e incontáveis aliados, algo que certamente não tinha agora. Em certo sentido, esse lugar era mais difícil que o décimo andar, especialmente porque nunca fui capaz de superá-lo, não importava o que fizesse.

    Claro, com o rei tão próximo, talvez eu pudesse encontrar uma saída se o tomasse como refém…

    Mas então, as palavras do antigo chefe ecoaram na minha mente.

    — Não existe ninguém neste mundo que não tenha medo dele. Se algum dia você o encontrar, entenderá.

    Tomar o rei como refém provavelmente também não seria algo fácil, considerando o cavaleiro que nos guiara, agora posicionado diante do rei como seu guardião.

    — Diga-me.

    O longo silêncio foi interrompido pela voz do rei.

    A voz era, honestamente, única.

    — Não consigo me lembrar. Nem da idade que ele tinha, se era realmente um homem ou na verdade uma mulher, ou mesmo da voz que ouvi…

    Essas eram as palavras do antigo chefe.

    — Vocês conseguiram entrar em minha morada proibida. Como?

    E, ainda assim, a voz do rei era definitivamente a de um jovem. Não parecia particularmente velha, nem possuía inflexões que sugerissem cansaço ou doença.

    — Contem-me tudo, meus servos.

    Era a voz de um governante, uma força dominante que não deixava espaço para nada além de submissão nas mentes de seus servos.

    — Nós não sabíamos que esta era a morada proibida, e não viemos com más intenções — apressou-se Raven a responder. — A maneira como conseguimos vir até aqui…

    Sua explicação foi longa e detalhada, mas cobriu tudo de forma clara. Assim que a capital imperial foi atacada, nos dirigimos ao quinto subsolo para capturar os Noarkianos insolentes. Eles escaparam, e fomos pegos no colapso e acabamos neste lugar chamado morada. Durante toda sua narrativa, o tema recorrente era como nos esforçamos ao máximo para sermos os melhores servos possíveis para o reino.

    Pelo que percebi, aquelas palavras não passavam de um desperdício de fôlego.

    Um silêncio desconfortável tomou conta da sala após Raven encerrar sua explicação. Alguns momentos depois, o Rei do Novo Mundo começou a falar.

    — Meu servo, Baronete Bjorn Yandel.

    Era ‘Barão’ Bjorn Yandel, não Baronete, mas não o corrigi e continuei ouvindo. Eu poderia ser bárbaro, mas ao menos sabia como ler o ambiente…

    — Como seu rei, eu ordeno.

    Hã?

    — Mate a garota ao seu lado.

    “…O quê?”

    De repente, fui encarregado de executar um decreto real.

    Não precisava nem dizer, mas eu não tinha intenção de obedecer àquela ordem.

    O homem diante de mim poderia tirar toda a minha autoridade, tudo o que conquistei neste mundo e até mesmo os aliados que tanto queria proteger.

    De jeito nenhum.

    Eu apenas pausei, lançando olhares ao redor da sala.

    No entanto, o rei pareceu satisfeito com essa ‘resposta’.

    — Levem a garota.

    Com essa única frase, os cavaleiros da Ordem dos Guardiões se afastaram da entrada e começaram a se aproximar de nós. Instintivamente, me endireitei. O cavaleiro que estava parado diante do rei deu-me um aviso curto.

    — Fique parado. Sua Majestade deseja apenas uma conversa privada com você.

    Olhei para Raven, e ela assentiu vigorosamente. Ela queria desesperadamente me dizer para não causar confusão, pois estava bem.

    No final, apenas fiquei ali, desconfortável, enquanto os dois cavaleiros levavam Raven para fora da sala de audiências. Por fim, fiquei a sós com o rei.

    Bem, a sós com o rei e aquele cavaleiro guarda que ainda estava ali. Mas ele era como um mero observador, uma mosca na parede.

    De qualquer forma, era o mais próximo de uma conversa privada que eu poderia ter.

    Ba-dum, ba-dum, ba-dum.

    O rei não disse nada e apenas me encarou através da seda. Um arrepio de pavor rastejou sobre mim.

    “Hah… Será que eu deveria ter fingido que obedeceria à ordem? Pensando bem, acho que foi um teste.”

    — Haha, não fique tão assustado.

    Assim que o arrependimento começou a me dominar, ele foi dissipado pelas palavras do rei.

    — Você foi escolhido por ela, não foi? Ela certamente ficaria irritada se eu o matasse, então o que posso fazer?

    Sua voz estava muito mais descontraída do que antes.

    Mesmo com essas alusões vagas a ‘ela’ e eu sendo ‘escolhido’, isso não era exatamente o problema.

    — Bjorn, filho de Yandel.

    O problema era a língua em si.

    — Já que estamos aqui, vamos ser francos um com o outro.

    O Rei do Novo Mundo estava falando coreano.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (9 votos)

    Os comentários estão desativados.
    Nota