Índice de Capítulo

    No início, duvidei dos meus ouvidos.

    Será que eu realmente ouvi aquilo certo?

    Fiquei paralisado, incapaz de disfarçar minha expressão a tempo, enquanto minha mente disparava.

    “Como o Rei do Novo Mundo sabe falar coreano?”

    Tentei pensar em uma resposta, mas estava atordoado demais para raciocinar direito. Eu não teria ficado tão pego de surpresa nem se dezenas de ninjas surgissem das paredes e do teto em uma emboscada.

    “Concentre-se.”

    Forcei-me a focar ao máximo na situação em que me encontrava.

    A primeira possibilidade que me ocorreu foi que o Rei do Novo Mundo era coreano, para começo de conversa, talvez um espírito maligno. No entanto, essa foi apenas uma reação instintiva, que descartei rapidamente quando o Rei do Novo Mundo continuou.

    — Perdeu a língua?

    Quanto mais eu ouvia, mais percebia que sua pronúncia era muito forçada. Era o tipo de sotaque que se ouviria de um homem caucasiano no exterior tentando pedir papel toalha em um banheiro coreano.

    Graças a isso, minha segunda teoria veio à tona: o Rei do Novo Mundo não era coreano nem um espírito maligno. Ele apenas sabia falar a língua porque a aprendeu, provavelmente com alguém que fora arrastado para este mundo enquanto jogava o jogo.

    Enquanto a teoria tomava forma em minha mente, ela também resolvia minha dúvida sobre o elevador.

    — Hmm, achei que você esperaria ao menos por isso ao chegar aqui — refletiu o rei.

    Agora, eu entendia como aquele dispositivo veio parar neste mundo.

    O Rei do Novo Mundo trocou seu coreano desajeitado e voltou a sua língua nativa para dizer: — Pelo visto, você é mais ingênuo do que eu pensava. É óbvio, se pensar um pouco. Vocês também têm histórias sobre como os avanços explosivos na tecnologia são atribuídos à ajuda de alienígenas. Nós apenas fizemos o mesmo.

    Talvez eu fosse mesmo ingênuo, como ele estava sugerindo. Só porque este era um mundo primitivo, isso não significava que suas pessoas eram todas ignorantes. Só porque éramos espíritos malignos vindos de um mundo distante, isso não significava que eles nos queimariam na fogueira como bruxas sem primeiro tentar nos entender. Isso seria tolice.

    “Havia provavelmente mais do que aquilo que eu tinha visto…”

    As pessoas que interagiam com a comunidade dos espíritos malignos, os Caça-Fantasmas, não eram os únicos espíritos malignos que existiam aqui. Eu sabia disso desde a primeira frase da carta que recebi naquela época.

    Esta é uma carta aleatória enviada a um aventureiro que se acredita ser um jogador.

    As pessoas da comunidade eram as poucas que conseguiram construir uma vida excelente para si neste mundo e se destacaram em certos campos. Por isso, receberam um convite para se juntar à comunidade.

    Essa pequena porcentagem era apenas a ponta do iceberg.

    Muito mais pessoas do que eu poderia imaginar deviam ter sido arrastadas para cá vindas do mundo moderno, algumas provavelmente com conhecimento profissional. Entre elas, certamente havia aquelas que sabiam como criar dispositivos mecânicos usando eletricidade ou mesmo vapor. Claro, não criariam essas coisas indiscriminadamente para não expor suas identidades.

    Mas aqui é diferente.

    Com ferramentas como o Ministério da Segurança à disposição, quanto conhecimento o palácio teria acumulado ao capturar espíritos malignos por décadas? E quanto teriam avançado tecnologicamente?

    Eu conseguia ver os resultados desse esforço com meus próprios olhos.

    Click.

    O Rei do Novo Mundo apertou um botão em sua mão, e uma melodia familiar começou a tocar. Embora houvesse uma pequena diferença no instrumental, não foi difícil reconhecer a música.

    Era a canção de uma famosa banda britânica sobre desejar que tudo corresse bem.

    No momento em que percebi que a música estava sendo reproduzida em um alto-falante improvisado no canto da sala de audiências, congelei.

    — Por que está fazendo essa cara? — perguntou o Rei do Novo Mundo, calmamente. — Parece que acabou de ver magia.

    “Maldição.”

    Era como se eu tivesse levado uma pancada na cabeça.

    Eu nem conseguia começar a explicar o que estava sentindo naquele momento. A sensação mais próxima seria como procurar por provas de que sua parceira estava te traindo, a traição da confiança absoluta de que algo assim nunca aconteceria.

    “O que a ciência está fazendo em um mundo de fantasia?”

    E pensar que essa traição viria do mundo de Dungeon and Stone, o jogo que eu jogara e aproveitara por mais de uma década.

    — Pelo jeito da sua expressão, parece que você conhece essa música. A pessoa que a cantou e gravou era americana. Se notar alguma diferença em relação ao original… Mas e daí? Quem a ouviu diz que é uma recriação fiel, então deve ser.

    Após um momento de silêncio, falei de forma direta, exatamente como o Rei do Novo Mundo havia sugerido.

    — O que aconteceu com esse americano?

    Não havia motivo para agir como um bárbaro diante dele. Ele já havia ido muito além de identificar que eu era um espírito maligno, chegando a revelar que eu era coreano.

    — Você ficou muito mais rude de repente — comentou o rei.

    — Não foi você quem disse que devíamos falar abertamente?

    — Hahaha! Então seu cérebro também virou o de um bárbaro?

    — Responda…

    — Hmm, vejamos. O que aconteceu com ele…

    Quando o rei interrompeu sua frase, o cavaleiro guarda à sua frente respondeu por ele. — O Departamento de Pesquisa Dimensional informou que nenhuma informação útil poderia mais ser obtida do indivíduo, e ele foi imediatamente eliminado.

    — Ah, é o que ele diz — murmurou o rei, ainda relaxado.

    Foi então que me ocorreu. Em todas as mídias, de romances a quadrinhos e outros, as pessoas modernas invocadas para aqueles mundos eram os protagonistas, e os nativos existiam apenas para fazê-los brilhar mais.

    Mas, na realidade, era o oposto.

    As pessoas nascidas neste mundo eram suas protagonistas. Comparados a elas, nós, espíritos malignos, éramos apenas uma fração de um mundo muito maior, eventos singulares em um esquema grandioso.

    Essa verdade me atingiu como um soco, fincando-se profundamente em meus ossos.

    — É por isso que vocês querem assassinar todos os espíritos malignos? — perguntei entre dentes cerrados. — Para capturá-los e roubar suas habilidades?

    A resposta veio acompanhada de uma risada sarcástica, vinda de trás do véu de seda.

    — De forma alguma. É um fato inegável que os espíritos malignos devem ser eliminados deste mundo. Só estamos colhendo alguns benefícios periféricos no processo… Ah, claro, a fúria da raposa que carrega o tigre também é uma das razões. A raiva contra a existência chamada espíritos malignos.

    A raposa que carrega o tigre?

    Não pude evitar franzir o cenho. Não fazia ideia de quem ele poderia estar falando.

    — Oh, então você ainda não ouviu falar disso? Nesse caso, não posso contar aqui e agora. Tradicionalmente, uma história é mais agradável quando ouvida de sua fonte primária.

    Certo, ele não tinha intenção de me contar.

    Se fosse para chutar, provavelmente a raposa era o primeiro-ministro. Contudo, isso não era o mais importante no momento.

    Em vez de perguntar sobre a raposa, mudei o assunto para outra coisa.

    — Aquela ‘ela’ que você mencionou antes… era a ‘Bruxa’?

    — Correto.

    — O que você quis dizer quando disse que eu fui escolhido?

    Bip.

    Lancei-lhe um olhar questionador.

    — Não tenho razão para responder a isso, então você fez a pergunta errada, bárbaro.

    — Tenho certeza de que foi você quem disse que devíamos falar abertamente.

    — Tenho certeza de que estamos falando bem abertamente agora. Ei, talvez você tenha esquecido, mas eu sou o rei de uma nação, sabia?

    O Rei do Novo Mundo era muito diferente do que eu imaginava. Nunca esperei que um rei fosse tão despreocupado. Hmm, mas suponho que isso era melhor do que enfrentar toda a força da inquisição real.

    “Não, talvez ele esteja tentando me fazer baixar a guarda, exatamente como Baekho faz.”

    De qualquer forma, por mais casual que fosse seu tom, ele ainda era um rei. Possuía poder suficiente para desfazer tudo o que eu havia construído com apenas um aceno de mão.

    No entanto, eu também sabia que a adversidade criava oportunidade.

    “Talvez…”

    Talvez hoje eu pudesse dar um grande passo em direção a desvendar o segredo deste mundo, algo que vinha me atormentando todo esse tempo.

    — Você foi escolhido por ela, não? Ela certamente ficaria irritada se eu o matasse, então o que posso fazer?

    Se o que ele dizia era verdade, então minha segurança estava garantida, ao menos por enquanto.

    Decidi adotar uma postura mais ativa.

    — Por que você fingiu estar doente e se escondeu esse tempo todo?

    Eu aproveitaria essa oportunidade para continuar fazendo perguntas. Não tinha nada a perder, e qualquer resposta seria um bônus.

    — Hmm? Eu não estava exatamente me escondendo. Só não pude sair muito porque durmo bastante.

    — Dorme…?

    — Algo assim — ele respondeu de forma casual. Não porque fosse segredo, mas porque simplesmente não se importava em dar uma resposta detalhada. Decidi não insistir no assunto.

    Eu tinha uma ideia, no entanto. Quando ele me viu mais cedo, disse algo que chamou minha atenção.

    — Meu servo, Baronete Bjorn Yandel.

    Não barão, mas baronete.

    Se não foi um simples deslize de língua ou falha de memória, o que isso poderia significar? Seria muito exagero supor que talvez ele só tivesse informações desatualizadas porque estava ‘dormindo’ na época?

    “Talvez haja alguma restrição para permanecer acordado.”

    Era apenas uma suposição, mas considerando a pessoa com quem eu estava lidando, essa informação era valiosa.

    — Por que você me chamou aqui? — questionei.

    — Essa é uma pergunta estranha. Ladrões que entram pela porta dos fundos normalmente perguntam isso?

    — Mas foi você quem nos chamou para a sala de audiências.

    — Ah? Suponho que você poderia dizer isso. Mas, honestamente, eu estava curioso sobre como você conseguiu chegar até aqui.

    — Você tem outras intenções?

    — Eu queria confirmar uma coisa, mas isso já foi feito.

    Isso me fez hesitar, mas continuei. — Então está dizendo que não há mais nada que você queira de mim?

    — Não, não é isso.

    — Então me diga.

    — Mais tarde. Sabe como é, o melhor sempre deve ser deixado para o final, certo?

    Bem, achei difícil concordar com esse sentimento. Eu sou do tipo que come as melhores coisas primeiro. Não há garantia de que ainda estariam lá no final.

    Mas deixei isso de lado.

    — Você é o responsável pela guerra? — perguntei em seguida.

    — Não, eu sou apenas uma vítima. Não vou dizer que estava completamente no escuro, mas definitivamente não fui o causador. Essa resposta basta?

    — Então quem está por trás disso?

    — Está relacionado com aquela parte deliciosa, então, mais tarde. — Tendo respondido rápida e abertamente a todas as minhas perguntas, o Rei do Novo Mundo me interrompeu e falou por conta própria. — Aliás, você não acha que está fazendo perguntas demais? Só responderei mais uma, então escolha com cuidado. Ah, e não vou responder nada muito pessoal.

    Tudo bem, a última pergunta.

    Com base em nossas interações anteriores, ele provavelmente nunca responderia algo realmente importante. Sabendo disso, o que eu deveria perguntar? Entre as questões que não cruzassem essa linha, qual seria a melhor?

    Tap, tap…

    Depois de tomar uma decisão, abri os lábios lentamente para perguntar:

    — Por que você está respondendo a todas as minhas perguntas?

    A Bruxa, a guerra e outras questões.

    Essa pergunta poderia ser a mais valiosa de todas, até mesmo comparada às histórias antigas.

    — Ah, isso? — Com uma voz extremamente calma e despreocupada, o Rei do Novo Mundo respondeu-me de trás do véu de seda. — Ser gentil com você é melhor do que ameaçá-lo, não é?

    Embora eu já esperasse, aquele rei desgraçado realmente tinha algo errado na cabeça.

    — Então achei que tentaria ser gentil… antes de dizer que eliminarei todos que você conhece se não atender às minhas palavras.

    O fato de ele estar rindo enquanto dizia isso não tornava menos ameaçador.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (8 votos)

    Os comentários estão desativados.
    Nota