Capítulo 725: Terminal (4/5)
Depois que eu ‘solicitei’ que Astarota trouxesse Raven para mim, ele deu uma ordem a outro membro da Ordem dos Guardiões que estava do lado de fora do salão de audiência.
“Então, a ordem estava sendo passada pela cadeia de comando…”
— O lugar onde ela está hospedada não fica longe. Você a verá em breve.
Bem, não era como se isso importasse tanto para mim. Não importava quantos subordinados dos subordinados a ordem passasse, isso não dizia respeito à pessoa que estava no topo daquela cadeia.
“E isso significa que terei mais tempo para conversar com esse cara.”
Eu não tinha a menor intenção de desperdiçar nem mesmo esse curto intervalo, então comecei imediatamente minha entrevista.
— Astarota, qual é sua posição oficial?
Voltamos ao silêncio como resposta.
— Preciso saber pelo menos isso para formular meus planos — expliquei. — Certamente você não irá contra a ordem de Sua Majestade de me ajudar da melhor forma…
— Sou o capitão dos cavaleiros da Ordem dos Guardiões.
Ah, então eu estava certo. Acho que esse cara era a próxima geração do Cavaleiro do Rei após o Vovô Cavaleiro.
— Se isso respondeu sua pergunta…
Heh, nem pensar que eu ia parar por aí.
— Que espada é essa que você está empunhando? Pelo que percebi, parece bem afiada.
Ele ficou quieto.
“Ei, não revire os olhos para mim.”
— Preciso saber exatamente quais são suas habilidades para formar meu plano…
— É a espada concedida ao capitão dos cavaleiros da Ordem dos Guardiões — admitiu.
— E o que ela faz?
— Não perde nem para os Tesouros Gênese. Ah, suponho que você não saiba o que são os Tesouros Gênese, mesmo sendo um chefe tribal.
Claro que eu sabia o que eram. Eu os havia coletado incontáveis vezes, então conhecia suas capacidades melhor do que qualquer um.
— E quantas pessoas estão na Ordem dos Guardiões?
Com o ritmo da conversa estabelecido, comecei a intensificar minhas perguntas, explorando seu estoque de informações importantes sobre o palácio. Embora Astarota claramente parecesse hesitante em responder, ele sempre me dava uma resposta sempre que eu mencionava o rei, embora com um suspiro a cada vez.
— Você tem filhos?
— Os membros da Ordem dos Guardiões não podem ter famílias.
— Oh, então imagino que você precise ser bem diligente com a contracepção… — Algo no silêncio dele dessa vez me fez repensar. — Espera, você… Nunca teve…?
E assim comecei a obter informações que nem mesmo eu havia conseguido descobrir no jogo, tanto que o tempo passou até que Raven pudesse aparecer a qualquer momento.
Com tanto tempo tendo voado e com todas as respostas que eu precisava, uma pergunta de repente surgiu na minha mente.
Era pura curiosidade.
“Até onde consigo ir usando o nome do rei com esse cara?”
Sua lealdade excessiva ao rei havia levado a um erro que o tornava tão obediente, em outras palavras, um tipo de bug. Por isso, mesmo enquanto extraía informações dele, eu me lembrava de não ultrapassar o limite.
O dispositivo de preservação de vida no subsolo do palácio, a prisão ainda mais abaixo, e até informações sobre a expectativa de vida restante do rei. Ficava claro que ele não responderia a nenhuma pergunta sobre essas coisas, mesmo com aquele bug. Ele definitivamente recusaria, e, uma vez que percebesse, aprenderia que não era difícil se recusar a responder qualquer uma das minhas perguntas.
“Sim, abusar de um bug é uma habilidade específica de jogador.”
Sabendo disso, me esforcei para nunca exagerar. Assim como bater em uma máquina quebrada às vezes fazia ela voltar a funcionar, ele acabaria se corrigindo se eu o surpreendesse demais, e isso só seria uma perda para mim.
“Ainda assim, estou curioso.”
Ele não responderia nada relacionado ao rei, mas e o resto? Será que ele tiraria as calças se eu mandasse?
“Que pergunta…”
Foi ao mesmo tempo decepcionante e um alívio que nunca tive a chance de explorar essa questão em particular.
— S-Senhor Yandel!
Raven havia chegado.
Pelo que ouvi, Raven estava se saindo bem, apesar de preocupada e se sentindo presa. Não que eu estivesse muito diferente, em retrospecto. Provavelmente recebemos o melhor tratamento que alguém na cidade poderia ter, considerando que estávamos no meio de uma guerra.
— Você ganhou uns quilos — cumprimentei.
— O q-quê?! G-Ganhei mesmo?
— Um pouco.
— Ugh… O que você esperava? Fiquei presa naquele quarto o tempo todo!
Após nosso breve reencontro no salão de audiência, dei a ela um resumo direto da nossa situação atual. Em verdadeiro estilo bárbaro, não tentei adicionar detalhes desnecessários, mas, graças ao tempo que Raven passou comigo, ela resumiu tudo em apenas duas frases.
— Então, precisamos matá-lo? O primeiro-ministro?
— Foi assim que as coisas terminaram. E não seremos só nós. O palácio vai nos apoiar.
— E-Eu acho que é bom saber disso… Mas o primeiro-ministro era mesmo o principal culpado e traidor?
— Foi o que me disseram.
Com nosso objetivo simples e claro definido, Raven começou a fazer várias perguntas sobre a situação. Naturalmente, não havia uma única que eu pudesse responder. Eu mesmo estive preso em um quarto o tempo todo.
— Elizabeth ali vai te atualizar sobre a situação do lado de fora. Estava esperando você para ouvirmos juntos.
Raven olhou para o homem parado em posição de sentido. — Senhor… Elizabeth?
— Astarota Berun — forneceu o capitão dos cavaleiros. — Pode me chamar de Berun.
— Ah, entendi… Senhor Berun. Olá…
Astarota não reconheceu a saudação de Raven e começou a nos informar sobre a situação. A cada momento, ficávamos mais surpresos com o que estava acontecendo.
— O quê? — Raven exclamou. — Metade da cidade já foi tomada?
— Não tomada. Os rebeldes a ocuparam ilegalmente, e é um terço da cidade, não metade — corrigiu o capitão dos cavaleiros. — Em Ravigion, apenas os Distritos Treze, Sete e Oito foram ocupados, e, em Kommelby, apenas o Distrito Quatro.
Em contraste com a reação despreocupada do rei, a situação na cidade estava além de grave.
Os principais envolvidos já sabiam que o primeiro-ministro era o culpado por trás dessa guerra. O marquês até havia ido para o campo inimigo e comandava o exército contra nós.
Honestamente, já poderia ser chamado de guerra civil a essa altura, e havia até uma chance de que o conflito se tornasse uma longa campanha.
— Então meus aliados estão no território inimigo do Distrito Sete…
— Para ser exato, eles estão na terra sagrada dos bárbaros. Isso se não tiverem se movido desde a última troca de informações — afirmou o capitão dos cavaleiros.
Ainda tentando processar as novas informações, murmurei: — Isso é muito pior do que eu esperava.
— Senhor Yandel, você está pensando em se reagrupar com seus aliados primeiro, certo? — perguntou Raven.
— Sim. — No entanto, não seria fácil alcançá-los no Distrito Sete. Comecei a considerar as possibilidades. — Para isso, preciso passar pelo Distrito Cinco ou pelo Distrito Oito, que faz fronteira com o Sete…
De acordo com o relatório de Astarota, essas eram as linhas de frente onde batalhas aconteciam constantemente, dia e noite.
Raven parecia compartilhar minha preocupação. — Isso será difícil. Mesmo que passemos pelo Distrito Cinco ou Oito, o Distrito Sete está bem no meio da linha de batalha deles.
— É verdade…
— Bjorn Yandel — Astarota interveio de repente. — Permita-me dar um conselho.
Desconfiado, respondi: — Vá em frente.
— Pense nas suas prioridades.
Uau, e eu estava me perguntando qual seria o conselho.
Como se quisesse reforçar que era apenas um cão de guarda do rei, ele me aconselhou a cumprir a ordem do rei primeiro, em vez de cuidar dos meus aliados.
“Com aquela dissonância cognitiva que ele demonstrou antes, será que esse cara tem algum problema na cabeça?”
Não havia motivo para sequer considerar suas palavras. Se eu fosse fazer o que ele disse, teria ficado no salão de audiência por uma semana. Por que mais eu teria aceitado aquela condição?
Com isso, ignorei o conselho dele.
— Mais importante… — falei, voltando-me para Raven. — Preciso dar uma olhada lá fora primeiro.
Como havia coisas que não poderia aprender apenas com palavras, planejei sair imediatamente. No entanto, Astarota nos interrompeu novamente.
— Você será exposto se sair nessa condição. Não disse isso antes, mas a maioria das pessoas acha que você sofreu ferimentos graves no desabamento.
“Ah, entendi.”
— Que tal se esconder com uma armadura? — sugeriu ele.
Embora parecesse um conselho genuíno dessa vez, minha resposta foi novamente negativa. Primeiro, eu não poderia esconder este corpo enorme com uma armadura, e não precisava de uma reprise da minha fase com capacetes.
— Vou assim mesmo — decidi.
— Por quê?
— A notícia de que estou bem pode chegar aos meus aliados.
Astarota parecia não entender minha decisão, a julgar pela sua expressão. Na verdade, ele estava me olhando como se eu fosse um idiota. No entanto, no fim, limitou-se a dizer: — Sua Majestade ordenou que você agisse livremente, então não comentarei sobre isso.
— Então não comente.
— Mas você realmente acredita que pode matar o primeiro-ministro com tão pouca determinação?
Sua voz era neutra, sem um único traço de preocupação. No entanto, não era difícil entender o verdadeiro significado daquela pergunta.
Se eu falhasse em cumprir a ordem do rei, seria capaz de lidar com as consequências caso isso significasse o pior cenário para mim?
Era isso que ele estava realmente perguntando. No entanto, balancei a cabeça e deixei minha posição clara com firmeza.
— Não se preocupe com isso.
Depois de encontrar Fragmentos da Pedra dos Registros, viajar no tempo ao passado e tantos outros fenômenos, agora acreditava no destino.
— O primeiro-ministro já é um homem morto.
Seu destino havia sido selado desde a Expedição ao Rochedo Gélido.
“Que engraçado.”
Esse foi o primeiro pensamento que tive ao sair do Palácio do Novo Mundo. Afinal, só agora, enquanto me dirigia ao portão principal, pude ver como ele era por fora.
— Uau… — Raven murmurou. — Ouvi rumores sobre isso, mas é realmente grandioso…
Provavelmente éramos as primeiras pessoas em toda a história a entrar pelo corredor subterrâneo e sair pelo portão principal.
— Fiquem em silêncio com as janelas fechadas quando saírem do palácio. Não deve ser sabido que vocês saíram do Palácio do Novo Mundo — ordenou o capitão dos cavaleiros.
— Entendido…
Então Raven, Astarota e eu partimos em uma carruagem que deixou o Palácio do Novo Mundo, conduzida por um dos cavaleiros da Ordem dos Guardiões.
— Está tudo bem você sair do palácio assim? — perguntei.
— Não foi você quem solicitou que eu o acompanhasse?
Hmm, bem, isso era verdade. Tecnicamente, perguntei se poderia mobilizar todos os membros da Ordem dos Guardiões no palácio, mas ele disse que apenas ele poderia ir.
— Não se preocupe. É por ordem de Sua Majestade.
— Hmm… Mas é certo o capitão dos cavaleiros da Ordem dos Guardiões deixar seu posto em tempos de guerra?
Ele deu um sorriso tranquilo à minha pergunta. — O palácio não é tão facilmente invadido a ponto de traidores pisarem onde quiserem.
— Bem, isso é bom de ouvir…
Para ser honesto, eu ainda não conseguia decidir se andar com ele era a escolha certa ou não. Ele era muito bom em combate, mas sentia que tudo o que eu fizesse seria informado ao rei. Talvez até fosse impedido de tomar uma decisão crucial em algum momento.
“Mas ainda há muitas coisas que não sei. Será mais eficiente se ele estiver conosco.”
Logo, a carruagem passou pelos doze palácios ao redor do Palácio do Novo Mundo e entrou na capital imperial, permitindo-me ver o que havia acontecido com meus próprios olhos.
— Agora realmente parece que estamos em guerra — murmurei.
Dos doze palácios, eu era mais familiarizado com o Palácio da Glória, pois o visitara para minhas cerimônias de título e nobilitação, entre muitos outros eventos.
— I-Isso é… Trovão…
Mas aquele palácio enorme e grandioso não estava mais lá, apenas uma montanha de escombros em seu lugar. Toda vez que um dos incontáveis soldados removia um pedaço de entulho, um cadáver aparecia por baixo.
— Quem é?
— Precisamos de uma investigação detalhada, mas encontramos o brasão do Conde Nartuyl nas roupas!
— Pode ser o Conde Nartuyl, então movam o corpo com o máximo de cuidado!
— Entendido!
A conversa no campo soava alta e clara enquanto passávamos pelos caminhos estreitos que alguém havia aberto entre os escombros.
— Muitos nobres morreram nesse incidente? — perguntei.
— Muitos nobres estavam reunidos aqui devido às ordens militares e outros assuntos — respondeu o capitão dos cavaleiros. — Também há um rumor circulando entre os civis de que metade dos nobres morreram por causa disso.
“Metade dos nobres…”
Provavelmente era mais como metade dos nobres titulados. No entanto, só isso já bastava para mostrar o quão grave era a situação.
— Talvez o marquês tenha pensado nisso quando reuniu todos aqui — refleti.
— Não apenas talvez. O Departamento de Inteligência tem certeza de que esse era o plano dele.
Hmm, se esse era o caso, tinha outra pergunta. Eu entendia que o marquês estava por trás de tudo isso, mas por que ele me mandou ficar na prisão por dois dias? Do ponto de vista dele, não seria melhor se eu morresse ao ser apanhado no desabamento?
Astarota me deu esta resposta.
— Bem, talvez o primeiro-ministro pensasse que você não morreria, mesmo depois de tudo desabar sobre você.
Ah, bem… Honestamente, também não conseguia me imaginar morrendo só por causa de algo assim.
“Com tantos nobres titulados mortos, não me surpreenderia se isso virasse um grande problema. Talvez até haja algumas casas nobres que simplesmente desapareceram por causa disso… Pode ser que haja uma cerimônia de sucessão depois da guerra. A idade mediana vai ficar bem mais baixa.”
Olhei para o palácio através de uma pequena fresta na janela, perdido em pensamentos. Raven então murmurou para si mesma: — …não restará nada.
— Hmm? O que você disse? Não ouvi.
— Não, é só… Não importa como essa guerra termine, o mundo vai mudar como o conhecemos.
Ouvindo o medo em sua voz, acabei assentindo em concordância.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.