Capítulo 726: Terminal (5/5)
A carruagem chacoalhou enquanto entrava na rua principal da capital imperial de Karnon. O caminho, geralmente bem cuidado como uma estrada moderna, estava completamente diferente desta vez. O chão estava repleto de crateras gigantes causadas por danos de batalha, além de fragmentos de madeira e pedra espalhados por toda parte.
Claro, os danos na capital não eram nada comparados aos campos de batalha reais que os outros distritos haviam se tornado. Karnon estava nesse estado apenas porque suas ruas precisavam transportar pesados suprimentos e equipamentos de construção para cima e para baixo, e não havia mais ninguém para mantê-las. A capital seria restaurada à sua condição impecável assim que a guerra terminasse.
O mesmo não podia ser dito para os outros distritos. Ou melhor…
“Não posso dizer o mesmo do Distrito Sete.”
Ainda não o havia visto com meus próprios olhos, apenas ouvido relatos, mas já sabia. O Distrito Sete, o lugar que eu praticamente chamava de minha base, estava em um estado completo de caos e destruição.
“Vamos pensar nisso depois…”
Senti um gosto amargo ao pensar em todo o dinheiro e esforço que investi no Distrito Sete, mas lidar com essas perdas teria que esperar até resolver o que estava diante de nós.
— Para onde estamos indo? — perguntou o capitão dos cavaleiros.
— Distrito Cinco — respondi.
Logo após chegarmos à plataforma militar de Karnon, seguimos para o Distrito Cinco, que podia ser considerado a linha de frente desta guerra.
— Nia Rafdonia!
Enquanto passávamos pelos soldados que ficaram paralisados ao ver o brasão de Astarota, ouvi uma explosão ao longe.
Boom!
Apesar da explosão, os soldados que se movimentavam pela plataforma pareciam bem relaxados.
Bem, talvez ‘relaxados’ não fosse a palavra certa. Seus olhos pareciam mortos, a ponto de não ser estranho se qualquer um deles desabasse a qualquer momento. Eles estavam ocupados tentando fazer seus trabalhos, e isso já dizia muito sobre o estado atual das coisas, mais do que qualquer explicação verbal.
Boom!
Então, esse era o normal por aqui.
— Para onde você vai? — perguntou o capitão dos cavaleiros.
— Vou dar uma olhada ao redor.
Às vezes, nem mil palavras eram suficientes para capturar o quadro completo.
A primeira coisa que fiz foi andar pela área e observar o campo de batalha em que o Distrito Cinco havia se tornado. Sempre que tinha uma pergunta, voltava-me para Astarota em busca de respostas.
— Parece que aqui está relativamente seguro — comentei. — Pelo que vejo, as explosões estão bem longe daqui.
— Este é um local estrategicamente importante, então o acampamento aqui foi erguido com muito mais proteções em comparação a outras áreas.
— Ah, por causa da plataforma militar?
— Correto.
Eu, pessoalmente, também tentaria proteger a plataforma militar ao máximo se fosse o comandante. Sua presença garantia o recebimento de suprimentos e reforços de outros distritos que Noark ainda não havia tomado.
“E, no pior dos casos, podemos usá-la para escapar.”
De qualquer forma, enquanto eu continuava minha caminhada pela área como um nobre em um passeio casual, as pessoas começaram a me reconhecer e a murmurar entre si.
— É o Barão Yandel…
— Ouvi dizer que ele desapareceu depois que o prédio desabou…
— Mas se o barão está aqui… pode ser um sinal de que a situação está prestes a mudar.
— Como podemos saber o que esses superiores estão pensando? Só precisamos fazer nosso trabalho.
Hm. Talvez eu devesse ter coberto o rosto.
“Mas as pessoas que me conhecem me reconheceriam de qualquer forma…”
De qualquer forma, continuei a observar os arredores até chegarmos à região mais externa do acampamento.
Loja de Armas, Irmãos Martha.
Erwen me apresentou a este lugar depois da minha primeira aventura, quando estava procurando vender meus equipamentos.
Como era de se esperar, a loja, normalmente movimentada, estava fechada e apagada, assim como o restante da rua. A ampla via do Distrito Cinco, que antes atendia a uma população fervilhante, estava agora barricada, com soldados de guarda no topo das barreiras.
“Então é território de Noark a partir daqui?”
Pelo que ouvi, a ofensiva de Noark estava indo bem, a ponto de a linha de barricadas ser constantemente empurrada para trás.
— Pretende ir além das barreiras? — perguntou o capitão dos cavaleiros.
— Estou considerando.
Após finalizar minha inspeção, finalmente verifiquei os esgotos. Ouvi que os noarkianos os haviam desabado para que não pudéssemos usá-los como caminhos alternativos, mas decidi confirmar com meus próprios olhos pelo menos uma vez.
“Isso aqui está inutilizável.”
Como relatado, não consegui descer muito na entrada do esgoto devido aos escombros bloqueando as escadas, embora ‘talvez’ houvesse um caminho se eu removesse os destroços.
“Mas isso levaria muito tempo.”
Hmm, no fim, teria que atravessar o meio do campo de batalha se quisesse chegar aos meus aliados?
— Astarota — chamei — qual é a situação no Distrito Quatro?
— Ouvi dizer que os combates lá são mais ferozes do que em qualquer outro distrito. A força principal de Noark está estacionada lá, e o capitão de Orcules também continua se mostrando por lá.
Ah, então aquele desgraçado estava por lá?
“Ele é complicado.”
Consegui enganá-lo de certa forma há vinte anos, mas agora que ele não era mais um idiota, isso não funcionaria novamente.
“E se a força principal também está lá…”
Certo, só precisava ficar bem longe do Distrito Quatro.
Com isso decidido, perguntei: — E o Distrito Oito?
— Está quieto desde que os traidores o ocuparam. O exército imperial tem tentado recuperá-lo nos últimos dias, mas foi impedido por membros-chave de Orcules.
— Membros-chave?
Quando pedi mais detalhes, Astarota começou a listar nomes familiares. Cavaleiro de Sangue, Garra Negra, Bruxa Lamentadora, Coletor de Cadáveres e mais alguns.
“O quê? Eu estava me perguntando o que ele queria dizer com membros-chave…”
Tendo lutado contra eles no passado, quando também tinham o Guardião do Farol em suas fileiras, o Distrito Oito parecia viável. Provavelmente não seria tão fácil quanto eu pensava inicialmente, no entanto. Ouvi que havia alguns novatos que estrearam recentemente e ainda não tinham apelidos.
— E o caminho do Distrito Cinco para o Distrito Sete?
— O Olho Demoníaco está comandando as linhas de frente no Distrito Cinco, e o Terceiro Batalhão está estacionado no Distrito Sete para fornecer suporte.
— O Terceiro Batalhão? — repeti, surpreso. — Você quer dizer o corpo que Eltora Tercerion comanda?
— Graças ao controle de informações, os civis acreditam que o Terceiro Batalhão foi destruído, mas, na verdade, eles se juntaram aos traidores ao lado do primeiro-ministro há alguns dias.
Segundo o restante do relato, a maioria das pessoas no Terceiro Batalhão aparentemente foi coagida por Eltora Tercerion a mudar de lado, então conflitos internos poderiam surgir nas circunstâncias certas.
Então, o capitão dos cavaleiros revelou — Também temos informações que sugerem que Eltora Tercerion inicialmente não sabia desse plano e se recusou a se juntar aos traidores quando o incidente ocorreu.
— Hã? E ele ainda está por lá?
— O primeiro-ministro deve ter utilizado uma abordagem impositiva.
Bem, pensando bem, isso fazia sentido. Afinal, o filho do primeiro-ministro era um espírito maligno. O marquês não era seu pai de verdade, então não havia como ele entrar de boa vontade nesse fogo cruzado com ele.
“Talvez isso se torne a chave mais tarde…”
Tomei um momento de silêncio para organizar meus pensamentos. Qual seria a melhor rota para atravessar o Distrito Sete e alcançar meus aliados na terra sagrada dos bárbaros?
Não demorou muito para eu chegar a uma resposta.
— Preciso ir para o Distrito Nove.
Passar pelo Distrito Cinco seria o caminho mais curto em termos de distância física, mas também o mais perigoso. Mesmo que eu pudesse ignorar o Olho Demoníaco, que comandava o Distrito Cinco, o local ainda ficava bem ao lado do Distrito Quatro, onde as forças principais de Noark estavam localizadas.
“E o capitão poderia aparecer a qualquer momento.”
Astarota deu de ombros diante da minha decisão. — Se você quiser ir ao Distrito Nove, terá que passar pelo Distrito Oito.
— Há algum problema com isso?
Ele deu um sorriso e disse apenas:
— Cuidado com o Coletor de Cadáveres. Ele tem estado bastante ativo, quase como se estivesse se preparando para esta guerra há muito tempo.
“Ah… Isso soa como um conselho genuíno…”
Mas não era necessário.
Respondi ao sorriso dele com um dos meus. — Ainda assim, no fim, ele é só ele.
Em termos de atributos, eu havia me tornado forte o suficiente para não perder para um NAV1, mesmo que quisesse.
Antes de pegar as linhas militares para o Distrito Nove, pedi a Astarota algumas coisas importantes para meu plano, e ele prontamente atendeu, mesmo que meus pedidos fossem um tanto excessivos.
Com isso, minhas preparações estavam completas.
“Agora só preciso do sinal…”
Enquanto esperava em frente aos portões fechados da cidade, notei Raven por perto, visivelmente nervosa.
— Raven, por que parece tão preocupada?
— Como não estaria? — retrucou. — Não achei que você fosse ser tão imprudente.
Pelo visto, Raven esperava que eu comandasse o exército e avançasse contra as forças inimigas ou algo assim. Mas convenhamos, isso levaria tempo demais, certo?
— Não se preocupe — tranquilizei. — Às vezes é mais fácil operar com um grupo pequeno do que arriscar uma multidão se movendo de uma vez.
Ela suspirou. — Está tentando me consolar?
— Se está tão preocupada assim, pode ficar para trás e…
— Tanto faz. Acho que ficaria ainda mais preocupada se não fosse com você. E não é como se eu não conhecesse ninguém por lá…
Por mais que ela dissesse, Raven era alguém com laços próximos a nós.
Enquanto eu ainda sorria para mim mesmo pensando nisso, Astarota se aproximou. Ele parecia satisfeito com algo.
— O que foi? — perguntei. — Tem algo a dizer?
— Recebemos notícias, uma mensagem do comando no Distrito Cinco. Seus pedidos serão realizados amanhã de manhã.
— Não é um pouco tarde?
— Não reclame. Eles precisam de pelo menos esse tempo para se preparar.
Hmm, acho que ele tinha razão.
— Bem, de qualquer forma… Por notícias, imagino que você tenha ouvido mais alguma coisa, certo? — pressionei.
— Ah, quase me esqueci. Dois dos seus quatro aliados desaparecidos foram encontrados.
Meu coração disparou. — Quem são?
Havia um total de quatro pessoas que haviam se separado dos membros do clã na terra sagrada e ainda estavam desaparecidas: Sven Parav, Lilith Marrone, Auyen Rockrobe e Amelia.
— Diga.
— Surpreendente seriedade — comentou, com meu tom de urgência. — As duas pessoas são Auyen Rockrobe e Emily Raines.
— Onde eles estão agora?
— No Distrito Quatro.
— Distrito Quatro?
— De acordo com o relatório recebido de nosso agente secreto, houve uma batalha no Distrito Quatro, e foram esses dois que a causaram.
— E o que aconteceu com eles?
— Não sabemos. No entanto, parece que conseguiram escapar sem muitos problemas.
Soltei um suspiro. Como eles foram parar no Distrito Quatro quando se separaram no Distrito Sete? Apesar da intensa curiosidade, também estava muito preocupado.
— Não se preocupe tanto — disse o capitão dos cavaleiros, notando minha inquietação. — Sei que eles conseguem pelo menos cuidar de si mesmos.
Respirei fundo. — Isso mesmo.
Decidi que o melhor era não me concentrar neles no momento. Não era como se eu pudesse simplesmente invadir o Distrito Quatro. Ficar remoendo isso só me faria travar nos piores cenários. Como sempre, previsões sombrias eram as sementes que germinavam em tragédias.
Disse o mesmo a Raven: — Raven, ele disse que tudo começará amanhã de manhã, então descanse um pouco por enquanto.
Hoje seria o último dia em que poderíamos descansar. A partir de amanhã de manhã, os dias de sofrimento estariam à nossa espera.
Também tentei descansar, mas, como diz o ditado, eventos que sacodem o mundo acontecem quando você menos espera.
Crank, crank, crank.
Um som que nunca deveria ter sido ouvido começou a ecoar à distância.
Grooooooan
Era o som dos portões da cidade se abrindo.
— O q-que? Por que os portões estão abrindo? Eles não estão nos invadindo, certo? S-se isso acontecer, nosso plano será arruinado antes mesmo de começar…
Não, de jeito nenhum.
Não podia ser isso. Devia ser um erro por parte de algum soldado.
A muralha aqui ainda não havia visto nenhuma batalha, e os noarkianos que estavam indo para a capital não teriam motivo para direcionar suas forças para cá.
Peguei todos esses pensamentos otimistas e imediatamente os joguei de lado. Não havia como as coisas darem tão certo para mim.
— Preparem-se — eu disse.
Plaft.
Foi então que algo caiu do céu.
Não foi apenas uma coisa, mas várias ‘coisas’.
Tat, ta-tat, tat!
Eram pesadas demais para serem gotas de chuva.
Crunch!
— Aaaagh!
Foi só depois que uma caiu bem na minha frente que percebi o que eram essas ‘coisas’.
— Corpos humanos…? — murmurei.
Eram quase irreconhecíveis como corpos, parecendo terem sido arrancados de um Golem Cadáver. O que caiu aos meus pés veio de além das altas muralhas à frente.
Instintivamente, saltei para frente. — Raven, recue!
Pshhhh!
Os corpos caídos explodiram simultaneamente, espalhando pedaços venenosos por todos os lados.
— Estamos sendo atacados! — gritaram os soldados no topo da muralha. Os alarmes começaram a soar alto.
Ding! Ding! Ding!
Enquanto os soldados se apressavam ao som dos sinos, chequei meu equipamento silenciosamente e olhei para a área abaixo dos portões semiabertos.
— Grrrrk!
Os portões haviam sido erguidos apenas o suficiente para permitir que uma única carruagem passasse, e, sob aqueles portões, surgiu um exército familiar de cadáveres.
— P-Parem-nos!
— Nia Rafdonia!
Os soldados próximos à muralha responderam imediatamente à ameaça, mas não era suficiente para deter o exército de cadáveres. E os corpos não eram a única coisa com que precisavam se preocupar.
Boom!
Meteoros caíram do céu, dizimando esquadrões de soldados onde aterrissaram.
— Grrrrk!
O exército de cadáveres começou a avançar como uma represa que havia se rompido.
— S-Senhor Yandel? — gaguejou Raven.
— Fique aqui. Astarota, cuide dela.
— Certo.
Deixando Raven sob a proteção do capitão dos cavaleiros, esmaguei as cabeças dos cadáveres com meu martelo e me dirigi aos portões. Através dos portões agora completamente abertos, avistei a pessoa que entrava confiante montado em uma quimera.
— Ora, ora, o que é isso? Vocês não conseguem fazer nada só porque um pequeno portão se abriu! Parece que baixaram a guarda! Pheshe!
Então o pirralho ainda fazia isso mesmo estando sozinho.
— Declaro que o Distrito Nove está sob controle de Orcules a partir de hoje!
“Huh?”
— Uh?
“Por que parou de falar?”
— Bjorn… Yandel…?
“Ah, foi porque ele me viu.”
- Necromante Ágil Venenoso[↩]
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