Capítulo 729: Traidor (3/5)

O capitão da Orcules e o dono da Essência do Quinto Andar com a habilidade especial de Anulação, Ricardo Lüchenprague.

Com o quanto essa habilidade era desbalanceada em combates PvP, até eu hesitava em enfrentar esse homem de frente. Claro, eu tinha me tornado muito mais forte desde então.

“Mas o fato de meu plano ter funcionado naquela época foi o que me salvou.”

Eu sempre soube que, se nos encontrássemos novamente, teria que arriscar minha vida para derrotá-lo.

“E esse cara está com a Amelia agora…?”

Ainda assim, havia algo mais urgente no momento.

— Bret chi, L, Dieth Detran.

— O que disse? — perguntei assim que a mensagem do cristal terminou.

— Área 4-7… L… Engajando em combate…

Eles já estavam lutando?

Ba-dum!

Minha respiração falhou por um momento, e meu coração apertou. Queria ir imediatamente para a plataforma militar e seguir para o Distrito Quatro. No entanto, a parte lógica do meu cérebro dominou a emocional.

“Se eu for para o Distrito Três pela plataforma militar e depois para o Distrito Quatro…”

Toda a jornada levaria três horas, isso supondo que eu não enfrentasse combates ou obstáculos no caminho.

Pensando de forma otimista, havia a possibilidade de que Amelia conseguisse fugir e resistir até minha chegada.

Ba-dum!

Mas eu já sabia que isso era apenas esperança. Realisticamente, era quase impossível para ela enfrentar um monstro desses no meio do território inimigo. Por isso, tomei uma decisão rápida.

“Eu não posso ir até lá.”

Se eu partisse agora, já seria tarde demais.

Não estava desistindo. Isso era apenas um fato simples.

— Área 4-7… Dois intrusos começaram a fugir.

Eu precisava pensar.

— Área 4-7, solicitando reforços para rastreamento.

Como poderia ajudá-los sem estar lá?

— Astarota.

— Diga.

— Poderia informar ao Batalhão de Ocupação da Quinta Muralha que não posso esperar até de manhã e que eles devem agir o mais rápido possível?

O capitão hesitou. — Vou passar a mensagem, mas não espero que receba boas notícias.

— Tudo bem. Apenas diga para começarem o quanto antes.

— Entendido. — Astarota saiu do prédio para contatar o corpo de ocupação do Distrito Cinco.

Raven olhou na minha direção, visivelmente nervosa, enquanto perguntava com cautela — O que está planejando…?

Não tinha certeza se funcionaria, mas expliquei minha intenção de forma clara e concisa.

— Vou chamar a atenção deles.

— Como?

— Como um bárbaro faria.

Raven pareceu entender o que eu planejava fazer, mesmo com essa descrição vaga. — Precisaremos nos preparar antes de partir.

— Sim, faça as pazes com isso. Pode ser a coisa mais difícil que você já fez na vida.

Embora ela tenha suspirado diante do meu aviso, parecia decidida.

Passamos o tempo restante monitorando as comunicações, com a preocupação pesando em nossos corações. Quando Astarota voltou, expliquei meu plano.

— Isso parece bem distante de um plano para matar o primeiro-ministro… — ele disse. — Mas isso não é da minha conta. A responsabilidade será sua.

— Está dizendo que vai me ajudar?

— Só estou cumprindo ordens.

Embora não fosse nem amigo, nem aliado, essa frase curta me fez confiar nele.

O Rei Novo Mundo realmente me deu um presente considerável antes de partir.

— E quanto a essa garota? — Raven interveio.

— Hmm… — O que deveria fazer com ela?

— E-Ei, senhor! Você está fazendo aquilo de novo! Não precisa me ameaçar, sabe que eu não vou fazer nada estranho, não sabe?

Sorri ao ouvir a insistência de Vivian. — Vou levá-la comigo. Preciso de atualizações constantes sobre o que está acontecendo.

Raven avançou. — Então posso colocar uma segurança mínima nela, certo?

— Hm…? Irmãzona…?

— Eu disse para não me chamar assim!

— Ack! S-Senhorita Raven! O que quer dizer com segurança? Hehehe… V-Você realmente não precisa fazer isso!

— Não se preocupe. Não é nada perigoso. Desde que você não tenha nenhuma ideia errada na cabeça. — Raven tirou uma ‘pílula’ do tamanho do polegar do seu subespaço. — Aqui, um pouco de água para ajudar a engolir.

Vivian hesitou. — Preciso saber o que é…

— Vou dizer depois que você tomar.

— M-Mas, isso vai entrar em mim… Deveria saber o que…

— Senhor Yandel, acho que ela tem outros planos na cabeça.

O olhar de Raven sugeria que era hora de eu apoiá-la. — Concordo — disse, dando um passo ameaçador na direção dela.

— Ack! — Vivian gritou. — Tudo bem! Eu vou tomar! Estou tomando!

Ela engoliu rapidamente a pílula que Raven lhe entregou.

No final, deu tudo certo, mas algo parecia estranho.

“Por que ela tem tanto medo de mim?”

Não me lembrava de ter feito algo que justificasse esse medo.

— A-Abaixe o martelo um pouco! Por favor! Vou morrer de estresse!

Ah, agora que pensei nisso, arrebentei a cabeça daquele Guardião do Farol, ou seja lá quem fosse na frente dela.

Swoosh.

Ela parecia recuperar a compostura e seu tom de voz habitual assim que abaixei o martelo.

— É isso, certo? Eu tomei, então diga. O que é isso? É veneno?

— Claro que não — Raven zombou. — Achou que eu te daria algo tão ultrapassado?

Hmm, eu estava bem certo de que seria veneno. Era a opção clichê, certo? A facção do mal alimentando os mestres marciais com veneno para controlá-los mentalmente.

— É apenas uma ferramenta mágica simples — Raven explicou.

— Ferramenta mágica…?

— Você conhece o Engenheiro Mágico, certo? Aquele homem a fez, então não precisa se preocupar com a segurança dela.

— Não, quero dizer, o que exatamente é essa ferramenta mágica…?

Enquanto Vivian tentava obter respostas, sua voz se tornava cada vez mais hesitante, suprimida pela aura de Raven e o óbvio desequilíbrio de poder.

No entanto, a expressão de Raven não mudou nem um pouco enquanto ela tirava algo que parecia um controle remoto.

— Aqui — ela disse. — Está vendo este botão?

— Sim…

— Quando eu pressionar este botão, o que você engoliu vai explodir. De dentro de você.

Vivian ficou sem palavras diante dessa explicação gentil e simples, e eu apenas assenti em aceitação.

Fazia sentido ela dizer que veneno era ultrapassado. A tática moderna certamente era colocar uma bomba no refém. Um método muito mais sofisticado.

— Hmm… Não entendeu? Isso é estranho. Então, se eu apenas apertar isso aqui…

— Eu entendi! Então, por favor, guarde isso no seu subespaço já!

Apenas observei em silêncio a reação de Vivian. Ela não parecia estar fingindo. Na verdade, parecia acreditar cem por cento no que Raven estava dizendo.

“Parece que não precisarei me preocupar muito com uma traição dela…”

Após lidar com essa possível ponta solta, revelei os detalhes do meu plano a Raven e Astarota. Felizmente, o último não se opôs.

— Então você está basicamente dizendo que vai criar uma confusão enorme, mas de uma maneira indireta — ele resumiu.

— O palácio está me dando permissão para isso? — perguntei a Astarota, só para confirmar.

— Isso ainda está sob ordens de Sua Majestade. Você não está recebendo permissão, mas também não vou impedi-lo.

— Bom saber.

Consegui uma autorização sem grandes problemas e deixei o prédio com o coração mais leve. Enquanto passava pelo portão conectado ao Distrito Oito, minha mente voltou àquela mesma preocupação.

“Até eu estou ficando um pouco nervoso com isso.”

Poderia ter elaborado um plano melhor se tivesse mais tempo, mas isso era o melhor que podia fazer naquele momento.

— Raven, prepare-se.

— Perdão? Ah, sim…!

Ao meu comando, Raven terminou a primeira etapa de seus preparativos lançando uma grande bola de fogo no céu.

“Vamos causar uma enorme confusão, certo?”

— Behelaaah!

Uma confusão grande o suficiente para atrair todos e qualquer um para cá.

Eu tinha visto uma cidade em chamas apenas duas vezes na vida.

A primeira foi durante o ataque terrorista da Orcules à Capital Imperial de Karnon, alguns anos atrás, e a segunda…

Fwoosh!

A segunda vez era agora.

Dash!

A cidade estava em chamas.

Mais precisamente, eu corria pelas ruas incendiadas do Distrito Oito. As chamas se espalhavam em um ritmo assustador.

Splash!

Estávamos alimentando o fogo.

Não, sério.

Estávamos derramando óleo literal nos prédios em chamas.

Os jatos de água eram tão grossos quanto os de um caminhão de bombeiros.

Encadeando os feitiços, Raven transformou aquele fluxo de água em um fluxo de óleo.

Aplicando vento suficiente, ela conseguiu cobrir instantaneamente toda a rua em chamas. O calor parecia queimar minha pele.

Sinceramente, eu estava fazendo bom uso desse artefato há algum tempo.

— Corram!

As chamas cresceram tanto que não precisávamos mais adicionar óleo, e, em vez de derramar óleo nas rachaduras que deixamos para trás, focamos nossa atenção em nos mover mais rápido.

“Eu acho… que essa foi a decisão certa.”

O plano era chamar a atenção dos Noarkianos incendiando o Distrito Oito, que eles ocupavam no momento. Não sabia dizer se o plano estava funcionando ou não, mas havia um benefício claro nisso tudo.

— Grrrk…

— Grrrk…

Cadáveres eram vulneráveis ao fogo.

Os Noarkianos haviam investido pesado no Coletor de Cadáveres para esta guerra, e ele havia espalhado um exército inteiro de mortos-vivos pelo Distrito Oito. Apenas incendiando o local, aqueles cadáveres longamente preparados começaram a derreter.

Bem, as entidades de rank mais alto tinham alguma resistência ao fogo, e os Noarkianos estacionados no Distrito Oito tentavam controlar as chamas, mas esses problemas podiam ser resolvidos com pura força física.

Crunch! Crunch!

Com a forma como as coisas estavam indo, não pude evitar me perguntar — Por que o palácio não incendiou este lugar antes?

— Está perguntando porque não sabe?

— Eu teria perguntado se soubesse?

O maxilar do capitão cavaleiro se apertou levemente. — Qualquer pessoa sensata reconheceria que a liberdade pelo fogo deixa apenas cinzas para salvar.

— Ah…

Bem, dito dessa forma, ajudava a entender. Não era como se o Distrito Oito fosse um ponto estratégico crucial. O palácio não gostaria de destruir completamente o lugar apenas para recuperá-lo dos Noarkianos.

“Bem… Acho que nem eu teria tomado essa decisão se não fosse pela situação em que estamos.”

Mesmo com a permissão de Astarota, havia a possibilidade de que eu precisasse assumir a responsabilidade por incendiar o distrito depois que a guerra terminasse. Independentemente do que acontecesse aqui, provavelmente teria sido melhor usar Vivian para me mover silenciosamente pelas linhas inimigas e me reunir com meus aliados.

“Qual é o sentido de guardar arrependimentos?”

No entanto, o mundo nunca girava ao meu redor e no que eu queria, de qualquer forma.

Crunch!

Com isso, continuei esmagando os cadáveres em chamas e os aspirantes a cadáveres, os soldados de Noark que queriam lutar comigo.

Enquanto nos movíamos, Vivian gritava as ordens decifradas do cristal atrás de mim.

— Os soldados estacionados no Distrito Cinco estão vindo para cá como reforços após receberem as notícias! Ah, mas o vice-capitão não está vindo porque precisa manter a linha de frente!

“Tch… Então atraí alguma atenção aqui, mas não o suficiente para que largassem tudo e investissem contra nós?”

— Tudo bem — disse. — E notícias do Distrito Quatro? — Mesmo organizando a situação na minha cabeça, verificava repetidamente notícias sobre Amelia.

— Não há relatos de que a luta tenha acabado. Acho que ainda estão tentando rastreá-la!

Suspirei. Certo, então. Mas, vendo como ainda estavam perseguindo-a…

“Está me dizendo que todo esse caos não foi suficiente para chamar a atenção deles?”

Isso não significava que eu estava excessivamente preocupado. Sabia que podia atrair atenção para cá.

Felizmente, isso era algo em que eu era extremamente proficiente como guerreiro bárbaro, e algo em que tinha experiência de sobra.

— Hm… Senhor Yandel? Por que está sorrindo desse jeito? — Raven perguntou com uma voz preocupada.

Respondi com um sorriso. — Acabei de ter uma boa ideia.

Eu pensaria nas consequências depois.