Capítulo 730: Traidor (4/5)
Inspiração: uma ideia inteligente ou estímulo que precede um ato de criação.
— Boa ideia…? — Raven perguntou apreensiva. — O que é?
Eu sorri.
Assim como aquele filósofo que gritou ‘Eureka!’ ao se mergulhar em um banho, eu também fui atingido por um momento repentino de inspiração.
— Tura. Piare. Buamin Yandel. Harpu.
— Área 8. Incêndio criminoso. Yandel é o culpado. Solicitando reforços.
O objetivo era simples: atrair mais atenção para cá, de forma que Amelia pudesse escapar com mais facilidade no Distrito Quatro.
De certa forma, atrair aggro era uma especialidade não só de Bjorn Yandel, mas também de Hansu Lee. Era um talento que qualquer coreano que tivesse dedicado sua adolescência e juventude aos jogos inevitavelmente teria.
— Tura No. Tetkai. Jigunu, Remgat.
— Área 8-2. Não se aproximem. Reforços a caminho.
Não era como se essa fosse a primeira vez que eu faria algo assim. Embora agora eu não precisasse usar tanto o cérebro, com meu corpo fortalecido e tudo mais, como fazia naquela época em que era um fraco, eu precisava recorrer ao conhecimento de Hansu Lee para atrair atenção para mim.
— Vivian — chamei, verificando uma última coisa. — Podemos enviar nossa própria mensagem pela rede, certo?
— Sim. Mas, se chamarmos atenção para nós, há uma grande chance de que meu acesso seja revogado.
Ok, então funcionou. Eu estava um pouco preocupado que não fosse, mas o último obstáculo em nosso caminho havia desaparecido.
— Então… O que você quer dizer? — Vivian perguntou com genuína curiosidade.
— Você saberá quando ouvir.
Ela piscou. — Como?
— Traduza minhas palavras para o código. Não omita uma única palavra.
— Ah! Espere! — Vivian mexeu no cristal de mana por um segundo, então declarou que estava pronta.
Era hora de minhas palavras alcançarem os ouvidos de todos os líderes de Noark.
— Ricardo Lüchenprague.
Falei devagar.
— Mãe.
Vivian soltou um guincho de surpresa.
— Morta.
Hora de voltar às minhas raízes.
Bzzt!
Uma série de mensagens passou pelo cristal de comunicação no quadril do jovem, mas ele não deu atenção.
— Área 8. Incêndio criminoso. Yandel é o culpado. Solicitando reforços.
Aquele bárbaro havia aparecido no Distrito Oito e estava causando problemas.
— Área 8-2. Não se aproximem. Reforços a caminho.
Embora a situação lá parecesse terrível, não era algo com que ele precisasse se preocupar. O Distrito Quatro, onde ele estava, ficava bem longe do Distrito Oito, afinal. A menos que ele fosse pessoalmente escolhido para lidar com o problema, o homem estava pensando em simplesmente deixar o Distrito Oito para os outros.
Sim, esse era o plano, pelo menos.
— Ricardo Lüchenprague.
Isso foi até uma voz feminina familiar chegar aos seus ouvidos.
“Lyranne Vivian…?”
Ele reconheceu aquela voz imediatamente. Ele era o homem que acolheu aquela jovem cheia de amargura e ódio e a transformou na infame Bruxa Lamentadora.
“Ela deveria estar no Distrito Oito, mas está me chamando…”
Parecia ser um pedido de ajuda.
“Ela está em perigo?”
Mesmo que sua suposição estivesse correta, ele não planejava enviar reforços para ela, não quando estavam no meio de uma guerra. A razão pela qual ele reuniu cada membro de Orcules desde o início foi justamente para este dia.
— M-Mãe…
Mesmo que ela estivesse em tanto perigo a ponto de chamar pela mãe, as coisas não mudariam.
Havia algo muito mais importante que ele precisava resolver. O melhor seria ignorar esse pedido e fingir que não o tinha ouvido…
— M-Morta…!
Ele congelou, seus pés parando abruptamente em choque.
Um momento depois, no entanto, ele retomou a perseguição. Certamente, ele havia entendido errado ou ela se expressou mal.
Não demorou muito para ele parar novamente quando aquela voz continuou a falar.
— R-Ricardo Lüchenprague! Sua mãe está morta!
A mensagem se repetiu como se quisesse garantir que ele não tinha ouvido errado.
O jovem ficou completamente confuso com a súbita virada dos acontecimentos, algo que nunca havia experimentado antes. O que estava acontecendo?
As mensagens continuaram, indiferentes à sua confusão.
— A Ordem da Rosa… E-Ela a matou! É por isso que sua mãe está morta!
As palavras eram mais que chocantes, ele mal podia acreditar que estava ouvindo aquilo. No entanto, sua mente ficou fria e calculista enquanto começava a analisar o incidente logicamente.
Ele era, pelo menos, tão observador assim.
“Ela está sendo ordenada por alguém…”
Lyranne Vivian não estava enviando essas mensagens porque queria. Muito provavelmente, ela havia sido capturada e estava sendo forçada a enviá-las. No entanto, o problema ainda permanecia.
“Quem é?”
Quem e por qual motivo enviariam tais mensagens, e como sabiam de sua conexão com a Ordem da Rosa? Não havia muitas pessoas que sabiam, ele tinha certeza disso.
A ordem de prioridades na mente do homem mudou com um ‘clique’. Por um lado, era importante perseguir o aliado de Bjorn Yandel, assim como aquela que usava aura e lembrava muito a Ordem da Rosa.
— Capitão…?
— Deixarei a perseguição de Emily Raines para você.
— Ah, entendido!
Ele parou, optando por deixar o trabalho para seus subordinados, enquanto sacava o cristal de mana.
— Ricardo Lüchenprague, primeira característica. Comparado ao Coletor de Cadáveres… A-A coisa dele é menor!
Havia apenas uma maneira de descobrir quem estava ordenando Vivian a dizer tantas bobagens.
Era perguntar diretamente.
O homem ativou seu cristal e falou com um tom baixo.
— Você… Quem é você?
No entanto, apenas zombarias responderam à sua pergunta.
— Ricardo Lüchenprague, segunda característica. Ele nem é assustador quando fala, m-mas age como se fosse durão!
Os insultos agora vinham em Rafdoniano claro, como se traduzi-los para o código tivesse se tornado muito difícil.
Por algum motivo, uma única pessoa surgiu em sua mente.
Matador de Dragões, Regal Vagos.
Coletor de Cadáveres, Abed Necrapeto.
Olho Demoníaco, Roland Banozant.
Toda pessoa que havia encontrado aquele bruto o avisava para ‘cuidar com o que dizia’ na frente dele.
— Bjorn Yandel…
Se ele era o responsável por essa tolice, então fazia sentido.
Afinal, ele estava perseguindo seu aliado. Isso explicaria por que informações internas haviam sido vazadas, o bárbaro estava fazendo tudo isso para atrair sua atenção para si mesmo.
“Se esse é o caso… como ele sabe o que aconteceu entre mim e a Ordem da Rosa?”
O homem apertou o cristal novamente, porque não sabia.
— Ricardo Lüchenprague, terceira característica. Ele está tremendo de tanto medo que nem consegue responder!
Mesmo enquanto ainda estava sendo zombado, o jovem não fez nada. Na verdade, ele se sentia mais calmo do que jamais estivera. Seu corpo só tremia porque ele havia estado correndo, e fazia tempo desde a última vez que isso acontecera.
Agora que tinha certeza de quem era a oposição, ele perguntou novamente. — Onde você está?
Felizmente para ele, a resposta veio imediatamente. Não era a voz de Vivian dessa vez.
— Distrito Oito.
Embora fosse apenas sua voz, sua presença por si só era grande o suficiente para que o homem facilmente imaginasse o tamanho do bárbaro.
— Venha até aqui, se estiver bravo.
A voz era masculina, e Yandel supostamente havia sido visto no Distrito Oito.
“Minha suposição estava correta.”
Claro, ainda era desconcertante para o homem.
— Ricardo Lüchenprague, quarta característica. Pergunta onde eu estou, mas nem consegue vir me buscar porque está com medo.
Como este poderia ser o herói da cidade, o chefe de uma raça e a pessoa que havia ascendido ao título de barão? Ele era frívolo e vulgar demais.
No entanto, isso tornava as intenções do bárbaro ainda mais claras.
“Ele está tentando me atrair para ele.”
Tudo bem, o que ele deveria fazer?
Não demorou muito para ele tomar uma decisão.
— Ricardo Lüchenprague, quinta característica. Pai morto também.
Ele não gostava de cair em um truque tão óbvio como esse. Mas que tal cair dessa vez?
E assim, o homem respondeu. — Não pense que vou deixar você morrer de uma morte fácil.
Ele estava curioso para saber como Bjorn tinha descoberto aquela história.
— Ah, como seus pais?
Um insulto depois, e o cristal na mão do homem não conseguiu suportar a pressão e se quebrou.
— Deve ser defeituoso — murmurou o homem.
Ele traçou a rota mais rápida que poderia fazer para o Distrito Oito em sua mente. No entanto, por algum motivo, as palavras do bárbaro, especificamente sua voz, continuaram ecoando em sua mente.
— Distrito Oito. Venha até aqui, se estiver bravo.
Embora ele tivesse ouvido inúmeras histórias sobre Bjorn Yandel, essa deveria ser a primeira vez que ele falava com o bárbaro e, ainda assim, por algum motivo…
“Ele parece… familiar de alguma forma.”
Um estranho senso de familiaridade o atacou. Parecia que ele havia ouvido aquela voz em algum momento no passado, há tanto tempo que suas memórias agora falhavam.
“Quando foi…?”
Por um momento, ele franziu a testa, tentando recuperar suas memórias. Não demorou muito, no entanto, para que o homem rapidamente começasse a se mover novamente.
Aquela sensação estranha deveria se resolver quando ele o visse pessoalmente.
Você já esteve dentro de um guarda-roupa?
O (ex) paladino de Rafdonia, Sven Parav, já esteve. Embora, tecnicamente falando, o que estava dentro do guarda-roupa não era ‘Sven Parav’, mas seu corpo original.
Para entrar em um guarda-roupa, era necessário dobrar o corpo em um ângulo desconfortável. Não era possível se esticar completamente, nem deitar e ficar confortável como se fosse uma cama.
No entanto, por algum motivo, ele achava os guarda-roupas reconfortantes.
Bem, seu corpo não ficava confortável, mas seu coração certamente ficava. Afinal, se ele permanecesse ali, ninguém seria capaz de encontrá-lo.
Era por isso que, desde jovem, sempre que sentia medo, ele entrava em um guarda-roupa.
“Eu nunca esperava entrar em um desses novamente na minha idade.”
Agora que seu corpo havia ficado muito maior, ele precisava se esforçar e se espremer para dentro do guarda-roupa, e dessa vez não era só ele.
— D-Desculpe… Estou pesada, não estou?
Ele tinha uma colega de quarto e, devido ao cheiro forte do odor corporal dessa colega, ele precisou se inclinar para frente na cintura para ficar o mais longe possível.
No entanto, não havia outra coisa que ele pudesse fazer. Esse era o único lugar onde poderia se esconder por ali.
— N-Não… Na verdade, eu que deveria me desculpar. Por minha causa…
— Não se desculpe. Estamos ambos seguros por enquanto.
Ao ouvir isso, Sven Parav sentiu uma imensa gratidão.
Foi completamente culpa dele que os dois estivessem presos nesse guarda-roupa apertado. Uma súbita convulsão o atingiu enquanto lutava ao lado de seus aliados, e Lilith Marrone acabou ficando para trás com ele quando tentou ajudar.
— Ainda assim, é incrível… Não sei como você se recuperou logo após entrar aqui.
— Ahaha… E-Eu também não.
Sven Parav riu sem jeito e tentou mudar de assunto. Embora se sentisse tanto arrependido quanto grato, havia algo que ele nunca poderia revelar a ela.
“Eu nunca poderia contar a ela que fiz isso de propósito, nunca…”
Aquela convulsão foi um exagero.
Obviamente, ele estava fingindo, fingindo para poder naturalmente se afastar do grupo principal.
“O que é este guarda-roupa, afinal…?”
Sven Parav esfregou o lado do guarda-roupa em questão.
Na verdade, não parecia haver nada de especial nesse móvel. Não importava como alguém o olhasse, era apenas um guarda-roupa simples, algo que ele avistou através de uma janela quebrada no segundo andar. No entanto, assim que viu a metade superior dele durante a luta, uma sensação instintiva mais forte do que qualquer coisa que já experimentara tomou conta de seu coração.
“Eu preciso ir.”
Aquele guarda-roupa era seguro. Ele nunca morreria se pudesse apenas entrar naquele guarda-roupa.
“Eu preciso ir.”
Como um homem possuído, Sven Parav se separou do grupo e, como Lilith Marrone havia visto, ele teve que fingir que estava tendo uma convulsão.
No entanto, o guarda-roupa fez tudo valer a pena. Era como se o guarda-roupa fosse uma panaceia.
Ba-dum!
A inquietação que havia dominado seu corpo desde que retornara à cidade desapareceu completamente. Em vez disso, ele sentiu uma sensação inabalável de segurança, como se estivesse bem ali, mesmo que o mundo desabasse.
“Sinto muito, meus aliados…”
De certa forma, isso poderia ser chamado de um ato de traição.
Seria mentira dizer que ele não se sentia culpado, mas, tendo sido levado ao limite de sua exaustão, Sven Parav não fez nenhum movimento para sair do guarda-roupa.
“Se eu simplesmente ficar neste guarda-roupa, posso viver…!”
Sven Parav precisava seguir sua intuição.
Ele precisava.
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