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    Certa vez, existiu uma oráculo chamada Cassandra que profetizou a queda de Troia. No entanto, o rei da cidade não acreditou nela, e Troia acabou sendo destruída.

    Claro, o rei também tinha suas desculpas. O deus Apolo, incapaz de conquistar o amor de Cassandra, lançou sobre ela uma maldição mesquinha para que ninguém jamais acreditasse em suas palavras. Essa maldição certamente contribuiu para que as pessoas não levassem suas profecias a sério.

    “Ainda assim…”

    Mesmo que as pessoas pudessem acreditar nela, o desfecho provavelmente seria o mesmo. Afinal, quem gostaria de acreditar em uma profecia negativa? Até hoje, alguém pode buscar um vidente de propósito, pagar por seus serviços, estender as mãos para serem lidas e, ainda assim, chamá-lo de salafrário caso receba uma previsão ruim.

    O rei de Troia aceitaria preguiçosamente a ruína certa com um aceno apático?

    “Não.”

    E nem eu aceitaria.

    — Haha… P-Poderia se acalmar um pouco? Não estou aqui para lutar com você, Senhor Leão.

    — Eu não estou tentando lutar com você — retruquei friamente. — Estou tentando confirmar se posso ou não confiar na sua palavra.

    O pânico no rosto dele começou a se dissolver, dando lugar a um sorriso irônico. Era como se sua expressão anterior fosse apenas uma atuação. — Você já deveria conhecer o poder do ancião, não deveria?

    — Sim, eu conheço as habilidades daquele velho. Ele brinca com a vida das pessoas e é completamente arrogante — respondi com sarcasmo.

    Isso não provocou uma grande reação, mas ele perguntou em voz baixa. — Então por que você parou?

    Foi uma pergunta certeira.

    — Você poderia simplesmente ter passado por mim e seguido para a terra sagrada. Então, por que não o fez? — Quando não respondi, ele continuou. — Você sabe no fundo do seu coração, não sabe, Senhor Leão? Que pode se arrepender se não ouvir o conselho do ancião.

    Eu queria muito refutar suas afirmações.

    Minha mente argumentava que eu só ouvi o que aquele velho queria dizer. Mesmo informações falsas ainda eram informações no final das contas. Na verdade, eu estava apenas lendo nas entrelinhas para captar as intenções do velho.

    Eu queria dizer tudo isso, mas ele estava certo. Nenhuma dessas era a verdadeira razão pela qual eu parei.

    — E você perguntou se eu vou viver ou morrer aqui, certo? Eu não recebi nenhuma palavra direta do ancião. Mas, bem, eu não acho que vá morrer aqui hoje. Vendo como nossa conversa está progredindo… A propósito, poderia me soltar agora? Está ficando um pouco sufocante.

    Finalmente, suspirei. — Maldição. — Usei a mão que não estava segurando seu pescoço para arrancar sua máscara.

    Whoosh!

    O rosto por trás dela era extremamente comum. Um terian nos seus trinta e poucos anos, alguém que eu poderia encontrar em qualquer lugar nesta cidade.

    Estalei a língua. Esperava que fosse alguém que eu reconhecesse.

    Ele não pareceu nem um pouco perturbado ao ter seu rosto revelado. — Haha… Você estava tão interessado no meu rosto assim?

    — Vou te perguntar uma coisa — disse calmamente.

    — Vá em frente.

    — Você deve saber sobre os Registros, já que trabalhou para o velho, certo?

    — Claro que sei.

    — Então por que continua falando sobre escolhas que mudam o futuro? Vocês são os mesmos que argumentam que nada vai mudar, de qualquer forma.

    Não importava se eu acreditava ou não no destino. Eu estava apenas curioso sobre o motivo de um grupo que falava tanto de destino e fatalismo ser tão insistente em sua posição.

    — Hmm… — ele murmurou. — Você me fez uma pergunta bastante difícil. Vai levar um tempo para explicar. Tudo bem?

    — Não me importo. Comece a falar.

    — Digamos que um homem está em um bar jogando cartas com outros clientes. No entanto, o crupiê, por engano, não distribui as cartas na ordem certa.

    Eu me perguntava qual era o ponto daquela história, mas decidi apenas ouvir.

    — Se as cartas tivessem sido distribuídas na ordem certa, o homem teria recebido uma mão muito fraca, mas, devido ao erro, ele recebeu uma mão forte. Os outros clientes estavam tão bêbados que nem notaram o erro. Então, o homem decidiu ficar quieto e colher os benefícios do resultado.

    Eu ainda não entendia aonde ele queria chegar.

    — Então, eu te pergunto.

    E então, ele me fez uma pergunta.

    — O homem estava originalmente destinado a receber a mão fraca ou a mão forte que ele acabou recebendo?

    Mesmo sem entender o motivo da pergunta, a resposta parecia óbvia.

    — Receber a mão forte era seu destino original. Porque também fazia parte do destino que o crupiê cometesse aquele erro.

    Ele riu. — Uma boa resposta. Você entende rápido.

    Bem, ele podia dizer isso o quanto quisesse. Eu ainda não entendia uma palavra do que ele estava tentando explicar.

    — Como você disse, até mesmo um destino reverso ainda é destino.

    — E…? — pressionei.

    — O que estamos tentando fazer é dar a mão errada. Para que alguém possa receber uma mão mais forte dentro de seu ‘joguinho’.

    Embora o significado não fosse totalmente claro para mim, comecei a entender a ideia. Decidi fazer outra pergunta.

    — E o que aconteceu com ele?

    Ele pareceu ligeiramente surpreso, mas respondeu com um sorriso. — No final, o homem perdeu muito dinheiro no jogo. Mas, devido àquela mão boa, conseguiu mitigar um pouco de suas perdas.

    — Então nem mesmo aquele destino reverso pôde mudar o fato de que ele ‘perdeu’ no final.

    — Assim são as coisas. — Ele sorriu como um professor dando uma estrela dourada a um aluno. — Mas não se preocupe muito. Após repetir esses ganhos e perdas várias vezes, ele acabou se tornando um grande homem.

    Nem é preciso dizer que essas palavras não me consolaram em nada. Apenas me tornaram ainda mais determinado.

    — Agora, faça sua escolha. As cartas já foram distribuídas para você, Senhor Leão.

    Determinado a nunca mais discutir sobre destino com esses malditos fanáticos.

    O silêncio se estendeu entre nós, tangível mesmo contra o fundo de fumaça negra e calor escaldante.

    Finalmente, ele não aguentou mais e falou primeiro.

    — É tão difícil assim tomar sua decisão? Pense bem. Se você perguntasse a alguém se preferiria perder o carro ou a casa, todos escolheriam o carro.

    Bem, isso porque a maioria das pessoas considerava suas casas mais valiosas do que seus carros. Contudo, com o tamanho do mundo, certamente haveria pessoas para quem o oposto era verdade.

    Eu era quem decidiria o que era importante para mim.

    — Já decidi.

    Depois de um longo momento de contemplação, tomei minha decisão. Seus olhos brilharam com genuína curiosidade.

    — O que você fará?

    Você não estava agindo como se soubesse de tudo?

    Uma sensação perversa de satisfação tomou conta de mim enquanto eu o encarava diretamente e dava de ombros. — Por que eu deveria te contar? Cai fora.

    — O que você…?

    Como eu não tinha mais nenhum assunto com ele, simplesmente o soltei no Distrito 7 em chamas.

    — …hã? O quê… Aaaaaah!

    Não era como se uma queda dessa altura fosse matá-lo. Ainda assim, a julgar pela expressão de choque completo em seu rosto, ele claramente não esperava que a conversa terminasse assim para ele.

    Blam!

    A visão dele caindo no mar de fogo apagou anos de estresse de mim. Soltei um grande suspiro, mas aquele momento de alívio não durou muito.

    Um peso incomparavelmente maior que o alívio se instalou no meu coração. Contudo, não havia nada que eu pudesse fazer.

    Permaneci atordoado no topo do muro da cidade, olhando para onde o tinha jogado. Então, por fim, sacudi a cabeça para me recompor e comecei a correr novamente.

    A terra sagrada ou o Distrito 7?

    Fui em direção ao lugar que havia escolhido.


    Embora seu corpo há muito tivesse começado a se contorcer de cãibras, Sven Parav permanecia nos confortáveis limites do guarda-roupa. Já havia decidido que, mesmo que precisasse se aliviar nas calças, não sairia dali até que tudo estivesse resolvido.

    — Ei…

    No entanto, talvez fosse otimista demais esperar o mesmo de sua companheira.

    — Oh, hã, você está desconfortável? — perguntou Parav.

    — Hm… P-Poderia sair por um momento?

    Surpreso, o ex-paladino questionou: — Perdão? Mas é perigoso fora do guarda-roupa…?

    — Eu sei disso… M-Mas só por um momento, tudo bem? — disse sua companheira no guarda-roupa, Lilith Marrone, que se mantinha instável sobre uma perna que tremia constantemente.

    Mesmo Parav, que geralmente tinha dificuldade em captar pistas sutis, sabia o motivo pelo qual ela estava tentando sair.

    — Por favor, volte rápido.

    Ele estava preocupado com aquele pequeno instante em que a porta do guarda-roupa se abriria, mas não tinha bons motivos para impedir as circunstâncias fisiológicas de uma mulher nem confiança para tentar fazê-lo. Assim, ele abriu a porta rápida e silenciosamente.

    — V-Volto logo…!

    Sua companheira foi até o cômodo ao lado para resolver sua situação, e Parav fechou a porta, mesmo que fosse por um breve momento. Ela rangeu ao ser aberta cerca de quatro minutos depois, mais tarde do que ele esperava.

    A visão que o cumprimentou foi a expressão inexplicavelmente ansiosa de Marrone.

    — Sr. Parav…! — ela arfou. — Fogo, é fogo!

    — O quê…?

    — Toda a área leste do Distrito 7 está em chamas!

    A área leste do Distrito 7 ficava na direção do Distrito 8. Será que algo havia acontecido por lá?

    — Sr. Parav, você precisa sair e ver isso também!

    — Perdão?

    — Apenas venha ver! Não parece que vai parar… Talvez toda esta área também comece a pegar fogo.

    — Ah…

    — Não, não ah! Estou dizendo que deveríamos nos mover e nos realocar para outro lugar.

    — E-Eu acho que sim…?

    Parav reconhecia a lógica no que Marrone dizia, mas não sentia nem um pingo de desejo de sair do guarda-roupa. Decidiu testar seu persistente pressentimento primeiro.

    — Poderia fechar a porta do guarda-roupa por um momento…?

    Marrone congelou. — Perdão?

    — Só por um instante — ele tranquilizou, fechando a porta ele mesmo.

    Ba-dum.

    Com o som da porta se fechando, a sensação de inquietação em seu coração desapareceu, e ele se acalmou.

    Claro, a porta foi imediatamente aberta novamente por Marrone, mas ele conseguiu confirmar algo com aquele breve instante de paz.

    Não importava se a área leste estava em chamas ou não. Ele estaria seguro se ficasse no guarda-roupa. Isso ia além de um simples sentimento, era uma certeza absoluta que dominava seu corpo.

    É claro que, se alguém ouvisse sua teoria, provavelmente se perguntaria se havia algo errado com sua cabeça.

    “Sim, preciso seguir minha intuição.”

    No entanto, sua intuição já o salvara várias vezes. Até Yandel, o Gigante, parecia acreditar em sua intuição e confiava nela ocasionalmente.

    — Está tudo bem, Srta. Marrone — concluiu Parav. — Estaremos seguros aqui.

    — Como pode ter tanta certeza?

    — Você é uma maga, e eu sou um paladino. Se usarmos nossas habilidades alternadamente, mesmo que toda a cidade esteja em chamas, conseguiremos proteger pelo menos este guarda-roupa do fogo.

    E não era como se ele estivesse tentando forçar uma ideia impossível. Paladinos possuíam várias habilidades, como barreiras, proteções e encantamentos sagrados, e o mesmo valia para magos.

    — Hm…

    Marrone parecia até inclinada a aceitar sua lógica; talvez fizesse mais sentido do que insistir apenas na intuição dele. Parav não deixou a oportunidade passar.

    — Não estão os Noarkianos infestando as ruas agora? É perigoso demais nos movermos neste momento. E, se quisermos tomar essa decisão mais tarde, não será tarde demais para fazê-lo quando o fogo chegar até aqui. Os inimigos não terão como lidar conosco devido ao fogo, de qualquer forma.

    — Isso faz sentido… Então vamos esperar por enquanto.

    Marrone estava prestes a decidir que seria melhor ficar no guarda-roupa e aguentar o tempo necessário, quando, de repente, virou a cabeça para a janela e ficou olhando fixamente.

    Por um momento, Parav se perguntou o que ela estava fazendo. Então, ouviu um grito penetrante vindo de fora da janela.

    — Eiyaaaah!

    — Capitão! Encontrei uma garota escondida aqui!

    — Aaaah! S-Socorro…!

    — Hahaha! Ela está pedindo para ser salva? O que deveríamos fazer com ela?

    Seu coração imediatamente despencou.

    Ba-dum.

    Não. Não, não. Não podia ser. Certo…?

    Ele esperava, rezava em seu coração.

    — S-Sr. Parav…!

    Ba-dum.

    — P-Precisamos salvá-la!

    Mas, como sempre, sua intuição nunca errava.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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