Índice de Capítulo

    Ele estava parado diante do portão da cidade.

    Boom! Boom!

    O portão que servia como o único caminho entre a terra sagrada e o Distrito 7.

    Boom! Boom!

    Milhares de bárbaros brandiam suas armas e golpeavam o chão em ritmo diante daquele mesmo portão.

    Boom!

    De alguma forma, o pulsar cadenciado parecia injetar força em seu corpo.

    Agora começava a realmente perceber a realidade: a batalha estava prestes a começar.

    Ba-dum!

    Rotmiller verificou seu equipamento mais uma vez.

    Boom!

    Um arco para aquele disparo decisivo.

    Uma espada curta e uma espada longa para o combate corpo a corpo feroz.

    Um escudo redondo que usaria para se defender de ataques à distância ou, talvez, para proteger alguém importante.

    Uma bolsa de pólvora que poderia ser acoplada a uma flecha, uma bomba de fumaça para negar a visão, uma poção, pergaminhos…

    Boom!

    Ele revisou até mesmo todos os itens consumíveis que mantinha em seu Cofre do Tesouro. No entanto, graças aos cuidados meticulosos e regulares que sempre dava a eles, não encontrou nada fora de ordem.

    O suspiro profundo que soltou diminuiu um pouco seu nervosismo.

    Rotmiller fez seus últimos alongamentos.

    “Será que… engordei?”

    O equipamento que vestira pela primeira vez em muito tempo parecia mais apertado. Ainda assim, era apenas um leve desconforto. Vestir o equipamento não parecia estranho ou desconfortável. Pelo contrário, sentia como se finalmente estivesse usando suas roupas.

    “Pensei que nunca mais colocaria isso.”

    Mas, talvez, ele sempre tivesse sabido disso inconscientemente. Mesmo quando estava em extrema necessidade de dinheiro, ele preservou o equipamento, guardando cada peça com cuidado.

    Tudo por um dia como este.

    Boom!

    Após observar os arredores por hábito, os olhos de Rotmiller finalmente pousaram nos rostos ao seu redor. Suas expressões estavam endurecidas, tomadas por uma firme determinação. Ele achava isso muito incomum.

    Bem, ele não teria pensado duas vezes se tivesse visto aventureiros com essas expressões.

    Boom!

    No entanto, enquanto os bárbaros golpeavam o chão em ritmo, como se estivessem em algum tipo de festival, Rotmiller notou os tremores familiares percorrendo seus corpos. Era o tremor de quem estava prestes a encarar uma batalha.

    “Bem, suponho que…”

    Eles ainda eram pessoas. Sangrariam ao serem atingidos por uma arma, e se perdessem muito sangue, não poderiam mais ver as pessoas preciosas para eles…

    — O portão será aberto em breve! Preparem-se para a batalha! — Ainar gritou de repente da linha de frente, alto o suficiente para ser ouvida a um quilômetro de distância.

    Os guerreiros que estavam golpeando o chão gritaram em resposta, como se estivessem esperando por seu sinal.

    — Behel-LAAAH!

    Seus ouvidos pareciam que iam estourar com os gritos. No entanto, ele não tinha mãos livres para tampá-los.

    Rotmiller apertou seu equipamento e olhou diretamente para frente. Diante do portão estavam os membros da elite escolhidos a dedo por Versyl Gowland. Naturalmente, eles estavam equipados com excelentes armaduras e armas, e até mesmo a aura que emanavam os fazia parecer de outro nível.

    Ver Ainar entre eles o fez apertar sua arma com mais força. Ela estava protegendo o portão, empunhando aquela enorme lança verde que obtivera durante suas aventuras. Parecia mais confiável do que qualquer outra pessoa presente.

    Contudo, ao vê-la, Rotmiller teve um pensamento.

    “Ah, então é isso. É assim que se parece um aliado de Bjorn Yandel.”

    Mas não havia motivo para se torturar com isso, nem necessidade de sentir vergonha da verdade.

    Quando isso havia sido diferente?

    Ele sempre foi lento e sempre ficou para trás. As pessoas diziam que ele era meticuloso, mas ele não era assim porque queria. Aceitando seu destino, Rotmiller desistiu de sua vida no labirinto e procurou um novo trabalho.

    Imaginar-se naquela posição era improdutivo. Aqueles que estavam ali foram escolhidos porque continuaram avançando enquanto ele havia recuado.

    Boom!

    Mais importante ainda, ele estava ali por uma razão diferente.

    Grrrp!

    Não precisava se sentir inferior a ninguém.

    Ba-dum!

    Ele até ignorou os alertas de sua intuição, que detectava perigo.

    — A barreira caiu!…

    Rotmiller ergueu sua arma para lutar.

    — Behel-LAAAH!

    Assim como os bárbaros que gritavam o nome de seu deus ancestral ao encarar o combate, Rotmiller ergueu suas armas para proteger algo importante para ele…


    “O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço?”

    Esse era o único pensamento ocupando a mente de Sven Parav naquele momento.

    “O que eu faço…?”

    A mesma pergunta continuava ecoando em sua mente, exigindo uma resposta.

    — Hein? Você me ouviu? Precisamos salvá-la.

    Salvar ou não salvar?

    Surpreendentemente, o dilema de Parav não era responder a essa pergunta. A resposta para isso já estava decidida.

    Ba-dum!

    Ele não podia salvá-la. Sua intuição gritava, dizendo que, se saísse do armário para salvar a mulher lá fora, algo terrível certamente aconteceria.

    Não, Parav estava contemplando algo totalmente diferente. Alguns poderiam até pensar que ele era a pior pessoa do mundo.

    “O que eu faço?”

    Ele estava tentando descobrir o que precisaria fazer para convencer Lilith Marrone a abandonar aquela mulher junto com ele. Ele pensava nisso repetidamente, mas a resposta não vinha.

    E então, o tempo crucial passou.

    — Corremos o risco de nossa localização ser descoberta.

    No fim, foi tudo o que conseguiu dizer.

    Marrone ficou em silêncio por um momento. Então, com olhos frios e uma voz carregada pelo amargor da traição, respondeu:

    — Estou decepcionada. Não pensei que você fosse esse tipo de pessoa.

    Era como se alguém estivesse cravando agulhas em seu coração. A verdade escapou dele como resultado.

    — Você é mais importante para mim do que uma desconhecida qualquer, Srta. Marrone. — Mesmo sentindo-se desconcertado por admitir isso, Parav rapidamente prosseguiu. — E precisamos sobreviver para cumprir a resolução que fizemos naquele dia…

    Embora parecesse uma desculpa, a razão ainda carregava alguma verdade para ele.

    No entanto, a reação de Marrone continuou distante e fria.

    — Se seguimos nossa causa ignorando as vidas de outras pessoas, em que somos diferentes do palácio?

    Ele não conseguiu responder.

    — Fique no armário, Sr. Parav. Vou salvá-la sozinha.

    Marrone foi até a janela e se concentrou por um instante de silêncio.

    — Nlia Kartetura!

    O feitiço conjurado com seu canto atravessou a janela estilhaçada e atingiu o chão abaixo.

    — Eiyaaah!

    O único grito restante foi o da mulher. Marrone podia agradecer à sua formação como maga militar por sua habilidade em atingir dois alvos rapidamente com um único feitiço.

    Ela voltou-se para encarar o homem que se encolhia no armário.

    Parav não sabia o que dizer naquele momento, mas Marrone sabia.

    — Não se preocupe — disse ela. — Não vou causar mais problemas para você, Sr. Parav.

    — Como assim? O que você…?

    Antes que pudesse terminar a pergunta, Marrone saltou pela janela quebrada em direção ao chão.

    — Senhorita, por favor, volte para o prédio de onde saiu! Eu cuidarei dos corpos aqui…!

    — Hein? Oh! Certo? A-Ah, também vou ajudar!

    — Vou segurar esta parte, então segure as pernas, por favor!

    Enquanto a conversa apressada chegava do lado de fora, a vergonha corroía Parav. Mas isso não mudava nada.

    Wham!

    Parav trancou a porta do armário com força.


    A batalha começou não com um estrondo, mas com um crepitar.

    Vwoong!

    A barreira translúcida que antes começava nas paredes e se erguia até o céu lentamente se dissipou até desaparecer.

    Então vieram cinco segundos de silêncio.

    Aqueles cinco segundos foram peculiares, algo que ele nunca havia experimentado.

    Ba-dum, ba-dum.

    O sangue correu para sua cabeça, sua visão estreitou, e seu coração batia tão forte que parecia que ele iria vomitar.

    “Por que eles não estão vindo?”

    “A barreira simplesmente se dissolveu por outro motivo?”

    “Será que… eu não preciso lutar?”

    Enquanto uma nova esperança surgia em seu peito…

    BANG!

    Um disparo de canhão de mana destruiu o portão e esmagou sua esperança com ele.

    Felizmente, graças à barreira protetora que os magos haviam lançado sobre a área, o canhão fez nada além de quebrar o portão.

    Fwoosh!

    — Eles estão vindo…!

    No entanto, além da poeira levantada, era possível ouvir os sons de centenas, talvez milhares de soldados correndo em sua direção.

    O estrondo da marcha se aproximava cada vez mais.

    — Behel-LAAAH!

    A primeira experiência de Rotmiller com a guerra foi totalmente diferente do que ele esperava.

    Por exemplo, ele assumira que os membros da elite na linha de frente impediriam os soldados de entrarem. Isso pouco importava, considerando que eram milhares de soldados. Eles conseguiam bloquear o fluxo principal de um rio, mas não cada afluente que se formava.

    — Raaaah!

    — Matem! Matem todos!

    Um pequeno grupo rompeu a linha de frente e alcançou a segunda linha.

    — Ergh!

    — Ack!

    Como se zombasse da falsa paz daquele silêncio estranho, sangue e gritos tingiam a área próxima ao portão.

    O caos absoluto, sem qualquer estratégia ou tática, se desenrolava.

    Bem diante de seus olhos.

    Vwoong!

    Uma flecha passou perto de sua orelha, tirando-o de seu torpor. Rotmiller começou a brandir sua arma com tudo o que tinha.

    Slash!

    Ele cortou um inimigo com sua espada longa.

    Pwoong!

    Disparou seu arco, perfurando outra cabeça.

    Bang!

    Jogou uma bolsa de pólvora no meio dos inimigos e até pulou e rolou para salvar um aliado ao seu lado.

    Ele fez tudo o que podia.

    E isso não valia apenas para Rotmiller, mas para todos ali presentes.

    — É Ainar Fenelin!

    — Então é ela que vale uma essência de segundo nível se for morta?

    — Morra!

    Ainar personificava a expressão ‘um exército de uma mulher só’ enquanto balançava aquela enorme lança verde, dominando todos ao seu redor.

    Boom!

    Espírito de Sangue, Erwen Fornacci di Tersia.

    Mesmo que os outros não fossem tão famosos quanto as duas mulheres, cada clã demonstrava o trabalho em equipe que haviam forjado ao longo de incontáveis anos.

    Os guerreiros bárbaros também continuavam lutando sem mostrar qualquer sinal de recuar.

    — Behel-LAAAH!

    — Matem todos que vieram à terra sagrada!

    Talvez, só talvez, eles conseguissem impedir as forças de Noark.

    Mas não demorou para que essa esperança se desfizesse.

    Bang!

    — Canhão de mana! É o canhão de mana!

    As forças de Noark conseguiram tomar o espaço acima das muralhas da cidade e terminaram de posicionar os canhões de mana. Começaram a disparar no campo de batalha.

    Bang! Bang! Bang!

    Cada vez que um canhão de mana disparava contra a linha de frente concentrada, dezenas, às vezes até centenas, de pessoas ficavam gravemente feridas ou morriam.

    Ring!

    A vida sempre foi algo tão frágil assim?

    Rotmiller sentia como se sua alma estivesse sendo mastigada e cuspida pelo monstro que era a guerra.

    — Haah… Haah…

    Nem sequer haviam se passado dez minutos desde o início da batalha, e ainda assim sua respiração já falhava. Suas mãos e pernas tremiam com o esforço de empunhar suas armas.

    Talvez seus ouvidos também tivessem sido danificados pelas explosões. Em algum momento, ele perdeu a capacidade de ouvir qualquer coisa além de um som agudo e penetrante.

    Ele não ouvia os gritos dos guerreiros que morriam ao seu redor.

    Ele não ouvia os gritos dos inimigos que avançavam com a intenção de matá-lo.

    Havia apenas dois sons que Rotmiller podia ouvir.

    Ring!

    Esse som agudo e penetrante que roubava sua consciência habitual, e…

    Ba-dum!

    O bater de seu coração, que ansiava por viver.

    Cercado pelas marés silenciosas de gritos e clamores, Rotmiller brandia sua arma…

    Ba-dum!

    Tudo enquanto ignorava a inexplicável inquietação em seu coração.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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