Capítulo 746: Batedor (3/7)
Parav decidiu primeiro conquistar a confiança dos trinta e sete evacuados atualmente na filial leste. A tarefa não apresentou grandes desafios.
— Olá! Meu nome é Sven Parav. Embora atualmente não seja um praticante ativo, já fui um paladino da Igreja de Reatlas e agora sou um membro ativo do Clã Anabada!
Afinal, ele havia sido clérigo por profissão e agora fazia parte de um clã bastante famoso entre os civis.
— Anabada… Esse é o clã do Barão Yandel!
— Não me importo com isso, mas um paladino! Pela Deusa! Estamos salvos!
— Mas como sabemos que ele está dizendo a verdade…?
— Ei, cale a boca! Não está vendo aquela mulher ao lado dele? Não sei o nome dela, mas lembro de tê-la visto durante a cerimônia. Ela estava com o Barão Yandel!
— E-Estamos salvos!
Não demorou muito para que a cautela cedesse lugar ao alívio. A consequência disso, no entanto, foi que as pessoas começaram a ficar tagarelas assim que o peso do estresse foi retirado de seus ombros.
— Ah, Sr. Paladino! O que está acontecendo lá fora?
— Por acaso você viu um menino mais ou menos desta altura no caminho?
— O que vai acontecer conosco agora?
— O palácio enviou você para nos salvar, certo?
Dezenas de evacuados o bombardearam com inúmeras perguntas. Parav aceitou a nova atmosfera caótica e sem direção, tentando responder ao máximo que podia com a maior paciência possível.
— A guerra ainda está em andamento lá fora. Os soldados do palácio entraram no Distrito Sete, então precisamos esperar para ver como isso vai se desenrolar.
— Desculpe. Acho que não vi ninguém com essa descrição.
— Precisamos permanecer aqui e esperar.
— Infelizmente, o palácio não nos enviou aqui para salvá-los. Acabamos vindo para escapar da batalha, assim como vocês.
A esperança nos olhos dos evacuados diminuiu com suas respostas brutalmente honestas. No entanto, Parav considerou isso melhor do que a alternativa.
Nada era mais cruel do que uma esperança infundada.
— Vocês não foram enviados pelo palácio…?
— Droga!
— Eu já achava estranho. Como o palácio saberia que estamos aqui?
— Eles não enviariam ninguém mesmo que soubessem. Você não viu antes? Aqueles montes de fogo caíram bem onde estávamos! O palácio não se importa se vivemos ou morremos!
A raiva ocupou os espaços deixados pela esperança.
Ainda assim, alguns tinham uma perspectiva diferente.
— Para ser honesto, fico aliviado que você não tenha nada a ver com o palácio.
— Um aliado do Barão Yandel… Vou confiar em você.
— Sim! É um alívio que ambos estejam aqui, Sr. Paladino e Srta. Maga! Estávamos muito assustados sozinhos…
Essas poucas pessoas eram excessivamente otimistas em comparação com os evacuados enfurecidos.
Parav, claro, se perguntou por que essas pessoas, que pareciam tão inquietas e assustadas, nem sequer se deram ao trabalho de trancar a porta da frente.
— Ha, haha…
Mas ele engoliu a pergunta com uma risada desconfortável. Coisas tão pequenas não eram importantes agora.
— Quero entender a situação aqui — anunciou. — Há algum aventureiro entre vocês?
Com sua identidade revelada, Parav assumiu facilmente a liderança da conversa, usando isso para avaliar a força de combate dos outros. No entanto, o que descobriu estava abaixo de suas expectativas.
Os evacuados desviaram os olhos à sua pergunta. Curiosamente, todos eles acabaram olhando na mesma direção, como se estivessem encarando a pessoa que tinha a resposta.
Parav seguiu os olhares e encontrou um homem de meia-idade, que desviou os olhos e soltou uma tosse seca. — E-Eu só tenho experiência em entrar no labirinto algumas vezes! E faz muito tempo que me aposentei!
— Certo, entendi.
Um aventureiro aposentado. Alguém que parecia relutante em se manifestar para não ser forçado a fazer algo perigoso.
— Senhor, o que quer dizer com apenas algumas vezes?! Você nos disse que era bem famoso e poderoso no passado!
— Seu moleque! — o homem ralhou, limpando a garganta. — Mesmo assim, como poderia me comparar ao Barão Yandel e seus aliados?
— Posso perguntar qual era o seu nível antes de se aposentar?
— Eu… Eu estava no sétimo nível.
— Entendi. — Parav assentiu lentamente e pediu ao aventureiro aposentado de sétimo nível que cuidasse dos evacuados. Ele provavelmente estava mais adequado a isso do que ao combate. Com isso resolvido, disse: — Estou planejando criar um acampamento aqui, só por precaução. Posso contar com a ajuda de vocês?
— Apenas diga o que precisamos fazer, Sr. Paladino!
— Então, por favor, juntem qualquer coisa que possa ser usada para bloquear a porta. Cadeiras, mesas, armários… — Ele ajudou os outros evacuados a trancar a entrada e até terminou de criar uma barricada rudimentar na frente dela.
— Sr. Parav — Marrone o chamou. — É bom termos uma linha defensiva aqui, mas isso também não bloquearia nossa saída se algo acontecesse?
— Não poderíamos simplesmente sair pelas janelas nesse caso?
— Mas todas as janelas estão no segundo andar. Nós poderíamos sair, mas seria difícil para essas pessoas deixarem o local conosco. Há crianças e idosos aqui.
— Isso…
Parav se calou. Ela não havia dito nada que ele pudesse refutar, mas não havia muito que pudesse fazer, mesmo que concordasse.
Ainda assim, um pensamento persistente não o deixava em paz. Se tal situação ocorresse, a igreja estaria completamente cercada, de qualquer forma. Seria possível escapar com trinta e sete evacuados, todos não combatentes?
Ali estava ele, um ex-paladino abrigado em um templo que guardava a estátua da deusa Reatlas, mas se ele fosse ficar entre a cruz e a espada, sua escolha era clara: seria impossível levar todos.
“Não sou um monstro como Bjorn Yandel. Não consigo fazer isso.”
— Não há sentido em pensar em fuga neste momento — disse Parav. — O risco de o inimigo nos seguir até aqui já é baixo… Além disso, não precisamos nos preocupar com esse risco se conseguirmos bloquear bem a entrada.
— Suponho que seja verdade… Se conseguirmos defender nossa posição, não teremos motivo para fugir.
Marrone também não parecia ter uma boa razão para refutá-lo. Em vez de responder, começou a inscrever um círculo mágico que ajudaria a defender a porta. Um pequeno suspiro escapou enquanto trabalhava.
Pouco depois, Parav virou-se lentamente e começou a andar sem um destino definido.
— Para onde você vai? — perguntou Marrone por trás dele.
— Vou dar uma olhada na estrutura deste prédio.
— Ah, entendi…
Apesar da desculpa, não havia necessidade de inspecionar o edifício. Afinal, a maioria dos templos era construída de maneira semelhante. O salão de culto no primeiro andar e a localização das escadas para o segundo andar eram familiares para ele, assim como as residências dos sacerdotes e as salas administrativas no andar superior.
Depois de dar uma longa volta por todo o prédio, ele voltou ao salão de culto no primeiro andar. Todas as cadeiras haviam sido movidas para a barricada, então ele apenas se sentou no chão vazio.
Por um motivo que ele não conseguia nomear, queria descansar.
No entanto, os outros aparentemente entenderam mal suas intenções. Os evacuados que vinham falar com ele a todo momento se afastaram, só dessa vez, sem dizer uma palavra.
Por um momento, ele achou estranho.
Ao abrir os olhos e olhar à sua frente, viu a estátua da Deusa Reatlas.
“Eles pensaram que eu estava orando?”
Isso era bem engraçado. Embora ele tivesse passado muito tempo com o título de paladino, estava longe de ser uma pessoa devota.
“A deusa das estrelas…”
Ele olhou para a estátua da deusa, que se dizia governar a aventura e os relacionamentos, e fez uma pergunta silenciosa.
“O que você quer de mim?”
Naturalmente, ele não obteve resposta. O silêncio foi tudo o que seguiu, um silêncio criado pelos evacuados que permaneciam quietos para não interromper sua suposta oração.
Ao espiar por entre os olhos semicerrados, ele pôde ver que todos estavam voltados em sua direção, com os olhos fechados, enquanto alguns repetidamente desenhavam o símbolo da deusa no ar com a mão.
Parav fechou os olhos novamente. Então, murmurando baixinho, como alguém que faz um pedido a uma estrela cadente, ele disse:
“Por favor, salve-nos. Por favor?”
Ele não era diferente dos outros evacuados.
Um total de quinze clãs estavam presentes na terra sagrada dos bárbaros, incluindo o Anabada. Excluindo os aventureiros de sétimo nível em posições especiais, os outros clãs também tinham membros de sexto nível ou superior. No total, eram 207.
Havia originalmente mais pessoas, mas a maioria dos aventureiros de nível mais baixo morreu no caminho até aqui. Assim, os que estavam presentes eram os únicos sobreviventes, pelo que ouvi.
Seja como for, somando Ainar e os 800 guerreiros bárbaros de elite que selecionei cuidadosamente, nosso poder militar ultrapassava mil pessoas.
Considerando a escala do evento, provavelmente não era um grupo tão forte, mas ainda assim.
“Não há o que fazer.”
Aumentar os números só aumentaria as baixas. Por isso, nosso grupo consistia apenas nos elites que desejavam me seguir para a grande batalha e defender a terra sagrada.
— As preparações estão concluídas — anunciou Versyl, interrompendo meus cálculos internos.
— Mesmo? Bom trabalho.
Coloquei-me à frente do portão. Todos os destroços já haviam sido removidos.
“Mesmo estando meio cansado disso, não é algo que eu possa ignorar antes de partirmos.”
Olhei para o exército de mil homens, todos esperando por minha orientação.
— Agora partiremos para o Distrito Sete.
Minha voz não era o brado que poderia ter sido, mas isso não importava, já que todos estavam atentos ao que eu dizia.
— Enquanto lutamos contra nossos inimigos, alguns morrerão e outros sobreviverão.
Minha declaração estoica era realista demais e desmotivadora para ser algo que um general diria antes de uma batalha. Eu sabia disso, mas não havia como evitar.
— Alguns perderão seus cônjuges por causa disso, e outros perderão seus pais.
Quando isso mudou?
Em algum momento, deixei de querer usar palavras doces para enganar e dar falsas esperanças às pessoas.
— Por isso, vocês devem saber disso! Quando matarem seus inimigos, saibam por qual causa estão matando! E se forem mortos por nossos inimigos, saibam por qual causa colocaram suas vidas em risco!
Inexplicavelmente, um fervor cresceu dentro de mim enquanto eu gritava.
— Eu irei ao Distrito Sete para proteger aqueles que me são queridos! Digam-me! Por qual causa vocês vão ao Distrito Sete?
A resposta seria diferente para cada pessoa.
— Porque não podemos deixar o chefe lutar sozinho!
Alguns me seguiam por respeito.
— Porque quero me tornar um grande guerreiro!
Outros buscavam fama e glória.
— Haha! Você disse que esta seria uma oportunidade para conquistar feitos!
Alguns queriam saciar desejos mais simples.
— Aqueles malditos precisam desaparecer para que nossas famílias possam descansar em paz novamente!
E outros iam à guerra para proteger quem amavam, assim como eu.
Então, deixei clara minha posição.
— Mesmo que cada um queira algo diferente, nossos objetivos são os mesmos. Por isso, trilharemos o mesmo caminho e lutaremos confiando nossas vidas uns aos outros.
Prometi a eles:
— Eu caminharei mais longe do que todos. Lembrarei por que vocês lutaram e morreram hoje. Sigam-me. Confie sua esperança a mim.
Não havia mais nada a dizer. Este era um mundo frio e cruel, que não permitia que alguém vivesse sem lutar.
— Behel-LAAAH!
Eu era apenas a pessoa que dava o primeiro passo.
Finalmente, entramos no Distrito Sete.
Podíamos estar no meio de uma guerra, mas as ruas por onde corríamos nos eram todas familiares.
— Behel-LAAAH!
— Raaaaah!
— Conceda-me sua proteção!
— Nia Rafdonia!
Com as armas firmemente empunhadas, cada um de nós soltou seu próprio grito de batalha.
— Ahhhhh!
Enquanto corríamos pelas ruas desertas, logo avistamos um grupo de pessoas à distância, aparentemente noarkianos. Eram apenas cerca de dez deles. Pelo que pude perceber, pareciam estar estacionados ali para vigiar a terra sagrada.
— E-Emergência! Emergência! Cerca de mil pessoas saíram da terra sagrada! Bjorn Yandel está avançando pela frente!
Depois de enviar apressadamente algum tipo de mensagem, eles nem sequer tentaram nos impedir e simplesmente começaram a fugir.
Bem… ‘tentaram’ fugir seria mais preciso.
Havia um ditado:
“Se você vê a besta, já é tarde demais.”
【Erwen Fornacci di Tersia lançou Ruptura.】
【James Calla lançou Luz Penetrante.】
【Versyl Gowland conjurou a magia ofensiva de quarto nível…】
Os atacantes à distância em meus ombros usaram a vantagem da altura para mirar nos soldados que tentavam fugir.
“Vamos chamar isso de Modo Bunker Bárbaro.”
Até Rotmiller estava entre os atacantes à distância do bunker.
“Oh, ele conseguiu um tiro na cabeça com uma flecha a essa distância?”
Parecia que ele não dependia apenas de suas habilidades.
— Parece que você melhorou? — comentei.
— O arco foi o mais fácil de aprender dentro dos limites da cidade.
Verdade, já que treinar a espada exigia a presença de outra pessoa.
— Mas… é certo eu estar aqui?
Rotmiller ainda parecia não acreditar que fazia parte do Modo Bunker Bárbaro. Ou talvez estivesse preocupado?
— Vou me esforçar ao máximo, mas talvez eu só esteja atrapalhando.
— Está tudo bem — respondi. — Já decidi.
Eu fui quem colocou Rotmiller nessa posição.
Não havia escolha. Ele disse que carregaria seu próprio peso e implorou para que eu o deixasse me seguir, então não pude recusar. No fim, não podia deixá-lo vagando sozinho, então o incluí no Modo Bunker.
“Por um lado, estar na linha de frente poderia ser mais perigoso para ele. Mas, por outro, ele estaria ao meu alcance.”
Mesmo que algo inesperado acontecesse, eu poderia lidar com isso.
Além disso, Rotmiller não era apenas decorativo. Ele era genuinamente útil.
— Por ali! Meu Sexto Sentido diz que aquele caminho é perigoso!
Embora eu tivesse esquecido momentaneamente, o atributo Sexto Sentido de Rotmiller era bem alto depois de consumir a essência do Mímico.
Graças ao meu primeiro batedor, Rotmiller, e sua habilidade de navegação, eu não precisava pensar muito para decidir minha rota.
— Então precisaremos ir por aquele caminho.
Ele parou, confuso. — Hmm? Como assim? Acabei de dizer que aquele caminho é perigoso.
Uh…
— Foi por isso que eu disse que devemos ir por ali. Estamos aqui para lutar.
O perigo é onde o inimigo estará.
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