Capítulo 750: Batedor (7/7)

Ele brandiu sua espada longa.

Ele bloqueou com seu escudo.

Ele rolava no chão sempre que uma lâmina voava em sua direção para feri-lo.

— Ack!

E quando uma lâmina letal perfurou sua pele, ele soltou um grito que não conseguiu conter.

Essa história não seria ouvida pelas gerações futuras, pensou Parav consigo mesmo. Porque os protagonistas dessas histórias eram todos indivíduos heroicos e fortes. Não fracos como ele. E o mais importante…

— Bahaha! Ei, paladino! Acho que você está à porta da morte!

— Então, por que você ficou aqui sozinho?

Eles eram os vencedores. Voltariam vivos para compartilhar sua versão da história.

— Isso mesmo, isso mesmo. Agora durma!

Ninguém compartilharia sua história.

— Ack!

Era por isso que ele poderia ser tão desprezível quanto quisesse.

Ele cuspiu o cuspe ensanguentado nos olhos do inimigo, cambaleou com as pernas exaustas e jogou os pedaços de móveis usados para a barricada.

— Ah! Ali!

— Hã? Ack!

Ele usou fintas infantis para esfaquear mais um inimigo no pescoço.

— Seu covarde desgraçado!

— Vocês é quem estão me atacando em grupo — ele bufou.

Curiosamente, o truque funcionou muito bem. Seria porque era tão inesperado? Bem, de qualquer forma, parou de funcionar após a segunda vez.

Inesperadamente, no entanto, estar sozinho tinha muitas vantagens, incluindo um benefício que ele achou supremo acima de todos os outros.

Ba-dum!

— Hah, eu realmente não quero morrer assim…

O medo poderia apertar seu coração com força o quanto quisesse. Mesmo que ele não tivesse um pingo de coragem dentro de si, poderia falar abertamente sobre esse medo sem precisar se importar com o que os outros pensariam.

Quem se importaria se isso não soasse como algo que um herói de uma história diria? Ele não era um herói para começar.

— Apenas morra logo!

Ele tinha medo de morrer, mais do que qualquer outra pessoa.

— Mas o que eu posso fazer sobre isso? — ele refletiu. — Vai ser uma pena se eu morrer sozinho…

— Ele está falando consigo mesmo…?!

— Então eu vou levar você comigo.

E mais do que isso, ele era um estrategista que odiava a ideia de ser o único a morrer.

— Ack!

Era engraçado de certa forma. Em vez de lutar com a determinação de proteger os outros, por que ele se sentia mais energizado para lutar porque não queria morrer sozinho?

Ele não sabia, e não se importava.

— Eu serei seu guia para o além, seus desgraçados!

Ele apenas balançou sua espada.

Ele não se importava com quanto poder divino ainda tinha e apenas usou todos os feitiços sagrados que podia.

Ele usou as chamas dentro do templo sem se importar também. Como o feitiço mágico sagrado no templo só protegia contra chamas externas, ele era vulnerável a chamas internas.

Ah, bem, um paladino não deveria usar essa habilidade específica.

“Eu não sou mais um paladino.”

Mas isso não era algo que pudesse detê-lo, não mais.

— Ack! Esse desgraçado…!

Ele podia usar técnicas que eram proibidas.

— Você mordeu minha orelha!

Ele de repente teve um pensamento.

Quando entrou pela primeira vez no labirinto, um Goblin mordeu seu pescoço assim.

— Porra, isso é salgado.

Como eles podiam morder como se não fosse nada demais?

Ah, para sobreviver. Assim como ele.

Ptui!

Enquanto continuava essa luta brutal até a morte, ele se perguntou, qual era a diferença entre ele e um Goblin?

Goblins eram mortos principalmente por aventureiros iniciantes que pisavam no labirinto pela primeira vez, e também os monstros que mais matavam aventureiros em troca. Um monstro de nono nível humanoide.

Goblins andavam sobre dois pés.

Goblins usavam ferramentas.

Goblins lutavam para sobreviver.

Goblins agiam por instinto.

E…

“Ah, acho que esse é diferente.”

Quando goblins estavam em perigo, eles abandonavam seus aliados e fugiam.

Em algum ponto, o interior do templo havia se coberto com chamas pálidas.

Parav foi atingido na cabeça com um bastão que ele não conseguiu bloquear e caiu no chão. Ele então levou outro golpe enquanto estava prostrado impotente.

— Seu… desgraçado… persistente…!

No momento em que foi atingido, seu cérebro ficou turvo.

— Eu… vou… matar… direito…!

Os sons começaram a cortar.

O fim.

Este era o fim para ele.

Enquanto as pernas de seus inimigos o cercavam, ele viu a estátua meio destruída da deusa através das chamas.

De repente, ficou curioso.

“Onde…?”

Para onde sua alma iria?

Ela iria para a Terra ou para o além que Rafdonia mencionou? Se voltasse para a Terra, iria para o Inferno? Ou ele reencarnaria como os budistas diziam?

O que tomaria sua alma descrente?

Ba-dum!

Seu coração moribundo se contraiu.

↬Eu lhe darei força.↫

Que diabos é isso agora?

Levou-lhe um momento para perceber, mas tudo ao seu redor havia parado. Era diferente de quando o tempo fluía lentamente, como em um foco extremo. As chamas que queimavam já não dançavam, a cinza flutuando no ar congelou, e até mesmo os vagabundos sem nome martelando sua cabeça ficaram imóveis.

↬Eu lhe concederei o poder para destruir aqueles que lhe fizeram mal, para que você consiga alcançar o que quiser.↫

Ele sentiu isso instintivamente. Embora não soubesse quem estava falando com ele, se aceitasse a oferta, ele realmente receberia aquele poder.

“Mas eu me tornaria um monstro.”

Quem estava falando com ele era uma entidade maligna. Uma entidade boa não teria dito para ele abandonar seus aliados e se tornar o único sobrevivente.

Essa entidade também não refutou suas palavras. Ela apenas lhe fez essa pergunta em troca.

↬Quão risível. O que é um monstro?↫

Hmm…

↬Se matar outra pessoa faz de você um monstro, então este mundo já está cheio deles.↫

Isso fazia sentido.

↬Ouça-me. Você é fraco demais para ser chamado de monstro, e malvado demais para ser chamado de humano.↫

Essa voz tinha poder.

↬Ouça-me. Você, que deseja seguir adiante com seu próprio poder, mas também deseja que alguém o guie.↫

Parav não pôde deixar de sorrir com o que ouviu em seguida.

↬Eu o guiarei.↫

Não importava que poder aquela voz possuía, ela não tinha mais nenhuma persuasão. Era muito simples.

↬Eu lhe mostrarei o verdadeiro caminho que você deve seguir.↫

Porque ele reconheceu de quem essa voz era.

“Karui.”

O antigo deus maligno não negou.

↬Agarre minha mão.↫

Outro profundo estrondo ecoou em sua mente, e Parav respondeu em seu coração.

Não.

Porque foi uma recusa mais curta do que qualquer outra, refletiu melhor sua vontade.

↬A única maneira de você sobreviver é se tornar meu servo.↫

Hmm, claro. Realisticamente, isso provavelmente lhe daria a maior chance de sucesso.

↬Mas por quê?↫

O motivo também era bem simples desta vez.

Porque eu simplesmente tive uma sensação.

A sensação de que ele não morreria nem se rejeitasse essa oferta.

Ba-dum!

Uma forte sensação disso floresceu em seu coração. No entanto, não era uma intuição dada por alguém mais. Assim como a intuição das pessoas comuns é baseada na condensação inconsciente de suas experiências e memórias, a dele também era a mesma.

Se você escutasse cuidadosamente o que seus inimigos disseram e fizesse exatamente o oposto, isso o levaria bem longe. Era o que o líder de seu clã lhe dissera no passado, enquanto compartilhavam uma bebida.

Um antigo deus maligno que só traria calamidade e infortúnio se eu o seguisse, ou um herói da cidade que ainda tenta alcançar feitos míticos até este momento, enquanto cuida de seus aliados.

Era óbvio quem desses dois ele deveria ouvir.

“Só cai fora. Suma da minha vida”, declarou Parav, e o antigo deus maligno permaneceu em silêncio. Ele não sabia quanto tempo havia se passado, porque tudo estava parado, mas o silêncio não durou muito.

Acima do mundo parado, como se estivesse quebrando camadas e camadas de vidro, uma rachadura no mundo apareceu. Um raio quente de luz prata se infiltrou.

A luz das estrelas cobriu seu corpo inteiro tão calorosamente.

Parav soubera então.

Essa existência não estava mais ali.

Assim que ele percebeu isso, a voz de bondade, que contrastava com a voz de Karui, ecoou.

❧Que isso seja de ajuda para aquele que deseja trilhar o caminho de meu cavaleiro.☙

Ele já havia ouvido essa voz uma vez, em um sonho.

No momento em que essa voz ressoou em sua cabeça, seu corpo, que quase não respondia, começou a transbordar de energia.

“Uh…”

Ele não tinha certeza, mas parecia que ele acabara de ficar muito mais forte.

“Ah, tanto faz. Vamos apenas desviar disso primeiro.”

O tempo começou a fluir novamente.

Parav rolou para o lado para desviar da arma contundente que estava sendo direcionada à sua cabeça.

— O-O quê!

— Como…?

— O que foi aquela luz…?!

Enquanto a presa que eles achavam que já estava morta se levantava como se nada tivesse acontecido, os Noarkianos ficaram boquiabertos de surpresa.

Parav lhes deu um sorriso relaxado.

“Acho que valeu a pena viver uma boa vida.”

Paladinos e sacerdotes conquistavam feitos para receber feitiços sagrados de seus deuses. Por isso, algumas pessoas podiam usar esses feitiços como magos faziam, enquanto outras nunca experimentaram uma situação onde sequer poderiam usá-los.

De qualquer forma, isso não era importante.

“Um novo feitiço sagrado.”

Paladinos e sacerdotes que recebiam feitiços sagrados sabiam naturalmente o que eram.

Até mesmo o nome da autoridade.

“Agente das Estrelas.”

Que feitiço seria esse? Ele nunca tinha ouvido falar disso antes.

Já que a deusa até falou com ele enquanto o dava, provavelmente era algo bem poderoso, então Parav podia rir até mesmo diante de todos esses inimigos.

— Pfft…

A maioria dos inimigos olhou para ele como se ele tivesse perdido a cabeça, e alguns dos mais perspicazes notaram que algo havia mudado.

“Eles são mais inteligentes que o resto…”

Ele deu um sorriso de lado. — Mas vocês vão pagar pelos seus crimes.

Com isso, Parav lançou o feitiço sagrado. Como era um feitiço novo que ele nunca tinha usado, ele também memorizou o comando ali mesmo.

— Que a bênção da estrela do crepúsculo esteja comigo… Agente das Estrelas.

No momento em que ativou a autoridade com determinação, seu corpo começou a brilhar com uma luz prata intensa. Aquela luz brilhante e sagrada fez a força Noarkiana recuar, com medo.

“Hã?”

Nada aconteceu.

A luz brilhante diminuiu de volta, e os inimigos ainda estavam de pé. Ele também não sentiu como se tivesse ficado mais forte.

O que acabou de acontecer?

Não havia como saber. Ele só podia ter certeza de uma coisa.

Estou acabado…

Ah, a única vantagem parecia ser que seus inimigos também estavam confusos.

Mesmo suando algumas gotas de nervosismo, Parav manteve o foco. Então deu uma risada constrangida enquanto levantava sua espada bem alta.

— Hahaha! Vocês seres malignos, ouçam-me… Eu vou lhes mostrar misericórdia e deixá-los ir apenas desta vez. Então… s-saiam logo daqui!

Apesar de falar com toda a autoridade que conseguia, as expressões dos inimigos eram zero porcento de terror e cem por cento de confusão.

“Será que foi porque eu gaguejei naquela última frase?”

Ele se arrependeu do erro, mas já era tarde demais. Seus inimigos já haviam tirado suas conclusões.

— Acho que algo deu errado?

— Hah… Eu me surpreendi à toa. Achei que seria algo grandioso.

— Eu não sei como ele se recuperou, mas ele ainda é só um cara.

— Mate-o novamente!

Eles avançaram contra ele mais uma vez.

“O que eu faço agora?”

Será que conseguiria escapar se tentasse?

Falando friamente, parecia impossível. Usar a saída do primeiro andar só o faria enfrentar mais inimigos, e havia inimigos demais para passar se quisesse pular pela janela do segundo andar.

“Cara…”

Será que ele realmente morreria após receber um presente da deusa? Se isso ia acontecer de qualquer maneira, ela deveria ter deixado ele morrer uma morte heroica!

Boom!

Uma explosão destruiu a estátua da deusa, quebrando-a e interrompendo sua enxurrada de reclamações enquanto o caminho para o subterrâneo se abria.

— Graaaah!

Algo gigantesco saltou de dentro e pousou ao seu lado com um rugido.

Boom!

Uh… O que é isso?

Parece que estava tentando ajudá-lo.

“Um terian urso montado em um urso gigante…?”

Parav perdeu o foco por um momento, surpreso. As orelhas do terian montado no urso se ergueram.

— Ouvi dizer que minha esposa tem uma dívida com você? Estou aqui para te salvar.

— Ah…?

— Oh, não seja tímido. Mesmo que você não tenha salvo minha esposa, um aliado de Yandel é um aliado meu.

Ele ainda não conseguia entender o que aquele terian quis dizer com isso, mas uma coisa era certa.

— Aqui, vamos logo. Eu vou abrir o caminho.

Ele sobreviveu.

Ele não falava consigo mesmo. A maioria dos diálogos internos eram deprimentes, e dizer essas coisas em voz alta não mudaria a realidade.

Não, isso só o faria ser uma pessoa mais deprimida e melancólica.

Era por isso que ele nunca falava consigo mesmo. Pelo menos, isso era até agora.

— Eu estou ficando maluco.

Pela primeira vez em muito tempo, ele murmurou para si mesmo. À sua frente estava um homem que estava segurando sua vida, mesmo enquanto vomitava litros de sangue.

— Por favor, eu quero que você se levante agora… Mas, estritamente falando, a possibilidade disso é baixa. Mesmo sabendo disso, tenho esses pensamentos duros. Eu… Eu pensei que teria mais histórias… Mas parece que não é mais o caso. Que coisa volúvel é o destino, né? Hah… Não sei por que, mas sempre que estou com você, me sinto como uma pessoa tão ruim.

Ele pediu desculpas para o homem no chão.

— Desculpe. Eu realmente sou diferente de você. Eu sei que você nem teria pensado em algo assim, mas eu ainda não consigo tomar uma decisão. No entanto…

O homem fechou os olhos silenciosamente antes de abri-los novamente.

— Ainda precisa ser feito.

Embora soubesse que o homem não poderia ouvi-lo, continuou a falar.

— Agora, vá.

Ele sentiu como se, se não o fizesse, ele se tornaria fraco novamente. Pensou que sua determinação não vacilaria até o último momento, e isso precisava ser verdade para que ele pudesse ter certeza de suas convicções.

— Parece nostálgico criar outro caminho para você novamente… Mas acho que é esperado. Afinal, eu sou seu batedor.

Mesmo sabendo qual era o caminho certo, ele não poderia tomar outro caminho.

— Que a bênção da estrela do crepúsculo esteja conosco…

Com isso, Rotmiller solidificou sua determinação.