Índice de Capítulo

    O Noarkiano que se aproximou para verificar a carroça não parecia estar agindo por dever ou lealdade ao trabalho. Apesar da aparência intimidadora, sua postura e o jeito como falava revelavam outra intenção.

    — O quê? Por que não diz nada? Está escondendo algo valioso aí dentro?

    Ao ouvir isso, Rotmiller percebeu. Aquele homem só queria satisfazer sua própria ganância.

    — Só tenho comida.

    Disse isso esperando que o homem perdesse o interesse e fosse embora, mas o Noarkiano apenas sorriu diante da desculpa.

    — Comida? Devia ter inventado uma mentira melhor. Ei, parceiro? Não seja mesquinho. Todo mundo só quer viver a vida.

    — O que você quer?

    — Nada de mais. Só compartilhe um pouco comigo. Estamos todos sofrendo aqui, não é?

    Rotmiller suspirou internamente.

    Como havia acabado chamando a atenção de alguém assim? Não, talvez devesse se considerar sortudo por ter sido abordado por um desses.

    “Talvez eu consiga resolver isso só conversando.”

    Com essa conclusão, Rotmiller retirou alguns itens de valor razoável de seu Cofre do Tesouro.

    — Isso é tudo o que posso te dar. Fique satisfeito com isso.

    Os itens eram suas economias preciosas, mas não achava que fosse um desperdício perdê-los dessa forma. Se pudesse salvar Bjorn Yandel com apenas isso, sairia barato.

    — Oh, essas coisas valiosas?

    Havia um problema com a solução que Rotmiller escolheu. Tendo se aposentado como aventureiro e vivido uma vida tranquila ensinando batedores na terra sagrada dos bárbaros, Rotmiller havia esquecido.

    A ganância das bestas era interminável, e havia bestas neste mundo que falavam a língua dos humanos.

    — Mas, parceiro, estive pensando muito sobre isso…

    Se ele parecesse fraco, seria despedaçado.

    — Acho que isso não será o suficiente.

    A voz do Noarkiano agora estava carregada de ainda mais ganância e confiança.

    Era muito simples. Rotmiller parecia um alvo fácil, tendo entregado algo tão precioso ao menor empurrão.

    — O que tem aí? Deve ser algo ainda melhor, se é isso que está me oferecendo. Deixe-me dar uma olhada.

    Na perspectiva do Noarkiano, Rotmiller só poderia ter dado aqueles itens porque havia algo ainda mais valioso sob a lona.

    — Você não ouviu? Eu disse que quero verificar a carroça.

    O homem, que antes mantinha certa distância, agora o avaliava com intenções perigosas e se aproximava para conferir o conteúdo da carroça, nem que fosse à força.

    — Você realmente precisa verificar…?

    — Foi o que eu disse.

    Um sorriso confiante espalhou-se no rosto do Noarkiano, e o coração de Rotmiller afundou.

    No fim, isso era tudo o que podia fazer.

    Tomando uma decisão em frações de segundo, Rotmiller assentiu.

    — Certo, pode olhar. Mas como eu disse, só tem comida aí.

    — Cala a boca. Acha que nasci ontem? Vamos ver o que você escondeu aí.

    O Noarkiano zombou de Rotmiller e se aproximou da carroça. Contudo, no momento em que sua mão de ganância se aproximou da lona, Rotmiller sacou uma adaga do Cofre do Tesouro e a enfiou no pescoço do homem.

    — Ah? — O homem sequer pareceu perceber o que havia acontecido antes de desabar no chão.

    Rotmiller olhou lentamente ao redor.

    Ba-dum!

    Todos os Noarkianos próximos estavam olhando para ele. Uma confusão fora causada e, no fim, uma pessoa havia morrido. Era natural que chamasse atenção.

    Porém, Rotmiller finalmente entendeu.

    Embora nunca tivesse compreendido totalmente quando lhe explicaram, agora sabia que tipo de lugar Noark era.

    Mesmo os Noarkianos que estavam vasculhando a área ao redor não demonstraram suspeita ao olhá-lo. Não havia surpresa ou medo pelo fato de alguém ter morrido. Apenas uma camada densa de ganância.

    Foi por isso que Rotmiller gritou para eles:

    — Que diabos estão olhando? Sumam daqui e façam seu trabalho, a menos que também queiram morrer.

    Ele gritou para não parecer fraco. Contudo, aqueles olhares viscosos não se desviaram.

    Rotmiller arrancou a adaga do pescoço do homem morto.

    “Droga, droga, droga!”

    Ele amaldiçoou repetidamente enquanto serrava o pescoço do cadáver. Cortou a pele, separou os ossos duros e decapitou completamente o homem, espetando a cabeça em um espigão na lateral esquerda da carroça.

    — Por quê? Querem ser colocado no lado direito? — perguntou novamente ao público.

    Os Noarkianos finalmente desviaram a atenção e voltaram ao que faziam antes.

    Rang, rang.

    Com isso, a carroça voltou a se mover, agora em um ritmo notavelmente mais rápido.

    Rang, rang.

    Enquanto continuava, começou a entender por que goblins e orcs usavam ornamentos feitos de ossos. Eles só pareciam desconfortáveis aos olhos de humanos. Para selvagens, eram muito convenientes.

    — Quem é aquele cara?

    — Para onde ele está levando aquela carroça? Devo perguntar?

    — Deixe pra lá. Ele parece fora de si.

    Os que o observavam desviaram a atenção, não querendo se envolver em problemas. Nem sequer suspeitaram que o Bjorn Yandel que procuravam estava sendo levado na carroça daquele homem que passava confiante com uma cabeça espetada em um espigão.

    Rang, rang.

    E assim, após continuar avançando em um ritmo mais rápido, a carroça parou novamente quando as muralhas da cidade se tornaram visíveis ao longe.

    — Quem é você? Acho que temos um passatempo parecido. Que divertido.

    Um mago com um cajado apareceu no caminho da carroça. Ele não parecia se importar com a cabeça exibida, e Rotmiller também não.

    — Mas o que você está tentando esconder para fazer algo tão bonitinho assim…

    Uma forte rajada de vento começou a girar diante dele. A lona que cobria a carroça foi arrancada e arremessada para o alto. Então, o que estava escondido debaixo dela foi exposto ao mundo.

    Foi muito infeliz.

    — É Bjorn Yandel!

    — Bjorn Yandel!

    Todos nesta cidade sabiam quem ele era.


    Graças à ajuda do urso que apareceu de repente, Parav conseguiu escapar para a rua.

    Boom!

    Com a destruição do poço conectado ao túnel secreto, a ameaça de perseguição também foi eliminada. Ele também viu os rostos das pessoas que o aguardavam em frente ao poço.

    — Senhor Parav…!

    Começando por Lilith Marrone, que correu até ele com lágrimas nos olhos, os evacuados, incluindo a esposa do urso, vieram agradecer-lhe.

    — Haha, olá! É a nossa primeira vez nos encontrando? Sou Hikurod Murad. Acho que sou seu superior em termos de senioridade.

    Até mesmo um anão apertou sua mão com uma risada calorosa.

    — Superior…?

    — Ah! O Sr. Murad era um aliado do Sr. Yandel no passado!

    Parav assentiu à explicação de Marrone. Agora que pensava nisso, ele tinha ouvido uma coisa ou outra sobre alguém que parecia com ele… talvez?

    — Oh! — exclamou ao perceber. — Ouvi dizer que você estava trabalhando em uma forja após se aposentar…

    — Isso mesmo! — respondeu o anão alegremente. — Mas agora estou em perigo de perder todas as minhas economias de uma vida! Hahaha!

    — É realmente incrível encontrá-lo assim. Mas por que está aqui…?

    — É por causa daquele amigo ali. Ele disse que iria procurar a esposa por conta própria, mas eu não podia deixar alguém que se perde no próprio quintal ir sozinho. — O anão fez um gesto com o queixo em direção ao urso e sua esposa, e só então Parav cumprimentou o homem adequadamente.

    — Sou Abman Urikfried.

    — Ah! Já ouvi falar de você! Sou Sven Parav.

    — Vou dizer isso novamente, mas, de verdade, muito obrigado. Chame-me sempre que precisar, seja o que for. Eu largarei tudo para vir ajudá-lo.

    Parav sentiu uma emoção estranha diante daquela demonstração genuína de gratidão.

    O destino realmente era misterioso. Era surpreendente que a mulher que ele salvara naquele momento fosse a esposa de um antigo aliado de Yandel, e, pensando bem, parecia que salvar a esposa acabou salvando a sua própria vida.

    — Mas vocês dois já trabalharam juntos antes? Sr. Urikfried, Sr. Murad? — perguntou Marrone.

    O anão respondeu pelos dois. — Ahaha, não, nunca trabalhamos juntos. Sou bem mais antigo que este amigo aqui.

    — É mesmo? É que vocês parecem muito próximos…

    — Nos tornamos amigos por obra do destino. O fato de ambos administrarmos uma loja, de ambos sabermos segurar nossas bebidas… e a conexão em comum com Yandel.

    — Ah, entendi. Eu imaginei que talvez vocês dois tivessem feito parte da mesma equipe antes, mas parece que me enganei.

    Então era isso. Fazia sentido.

    Aquele dia também só estava acontecendo graças à relação de todos serem antigos aliados de Yandel.

    — Então, quem estava na mesma equipe que você, Sr. Murad? Sei que você estava com o Sr. Yandel, a Srta. Karlstein e aquele mago… mas acho que nunca ouvi falar do último.

    — Ah, Brown Rotmiller. Ele era o batedor da equipe. De certa forma, ele é o superior direto deste aqui, não é? Ouvi dizer que estava ensinando os jovens guerreiros a serem batedores na terra sagrada…

    — Ah, é mesmo?

    — Agora que penso nisso, faz muito tempo que não nos vemos porque ambos estivemos tão ocupados. Depois que tudo isso acabar, preciso visitá-lo e tomar uma ou duas bebidas juntos.

    O anão sorriu com um olhar nostálgico.


    Whoosh!

    O vendaval que atravessou a carroça arrancou a lona que a cobria e virou a situação de cabeça para baixo em um instante.

    Todos ficaram em silêncio, incluindo o mago, que anteriormente havia levantado a lona em tom de brincadeira.

    — Bjorn Yandel!

    — É Bjorn Yandel!

    Então, os gritos começaram, como se o tempo voltasse a fluir.

    Contudo, Rotmiller não sentiu medo. Apesar do pânico que nublou sua mente por um breve momento, ele recuperou rapidamente os sentidos e começou a pensar.

    O Distrito Quatro estava sob o controle de Noark. No entanto, isso não significava que eles haviam tomado o controle da muralha entre o Distrito Quatro e a capital imperial. O palácio ainda detinha o domínio das muralhas, e os Noarkianos haviam estabelecido uma linha de batalha a uma distância considerável das muralhas. Além disso, excluindo a área próxima ao portão, a linha de batalha não era muito ampla, então…

    “Se eu conseguir apenas atravessar este lugar…”

    Tudo ficaria bem.

    Os soldados do palácio provavelmente também estavam observando da muralha. Eles enviariam reforços pelos portões ou fariam qualquer coisa para salvar Yandel.

    — Me desculpe.

    Com essa breve desculpa, Rotmiller enfiou uma ponta de flecha no traseiro do cavalo em que estava montado.

    Relincho!

    O cavalo disparou para frente devido à dor.

    O mago, que também havia ficado paralisado ao ver Bjorn Yandel, rapidamente rolou para o lado para evitar ser atropelado, abrindo caminho.

    Claro, a possibilidade de atravessar o restante dos inimigos e alcançar a muralha era próxima de zero.

    “Mas não é zero.”

    Rotmiller havia aprendido isso naturalmente ao viver com os bárbaros. Desistir sem tentar era a coisa mais tola que se podia fazer.

    Era verdade, realmente. Falhar era melhor do que desistir.

    Ba-dum!

    Ainda mais quando não havia nada a perder.

    — Isso mesmo! É Behelaaah!

    Rotmiller soltou o grito de batalha, aquele que seus ouvidos estavam acostumados a ouvir a ponto de enjoar, pela primeira vez de sua vida.

    — Behelaaah!

    Como se respondessem ao seu grito, um verdadeiro brado de batalha ecoou de volta.

    Ao ouvir os gritos de incontáveis bárbaros, Rotmiller reconheceu imediatamente quem era.

    “Hã, essa voz é…”

    Ainar?

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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