Índice de Capítulo

    A obra atingiu um pequeno ponto de hiato e novos capítulos serão publicados na segunda metade de julho.

    — Então você está dizendo… que o Marquês Tercerion cuspiu sangue, desabou e agora está à beira da morte?

    O desespero que o castelão de Noark sentiu ao receber o relatório era indescritível. Não, o desespero poderia vir depois. Sua primeira reação foi uma total descrença. E quem poderia culpá-lo?

    — Como isso faz sentido?

    Incontáveis cavaleiros e magos faziam parte da guarda pessoal do marquês, todos treinados por ele desde jovens para serem verdadeiros golens humanos, doutrinados de forma a apagar qualquer conceito de traição de suas mentes. Uma vez, o castelão até invejou o marquês e lhe disse que talvez ele não precisasse ter tanto medo se tivesse pessoas como aquelas ao seu redor. E, ainda assim, agora…

    — Eles romperam aquela defesa impenetrável?

    Essa segurança hermética havia sido violada.

    — Mesmo que ele seja um aliado de Yandel, ele não é apenas um navegador de sétimo nível?

    O castelão simplesmente não conseguia acreditar, não importava quantas vezes ouvisse. Mesmo que o suposto navegador de sétimo nível tivesse adquirido uma essência de terceiro nível, o que o marquês estava pensando? Ele trouxe o homem para tão perto de si sem sequer colocar um selador de essência nele!

    — Bem — arriscou o subordinado hesitante. — Suspeito que eles estavam extremamente confiantes em suas próprias informações.

    — Vamos supor que o marquês tenha caído nessa. Nenhum dos guardas ao seu redor questionou essa decisão, nem uma única vez?

    O subordinado calou-se diante da fúria do castelão, não por falta de palavras, mas porque sabia que nada bom viria de uma resposta naquele momento.

    Servindo também a um senhor, ele podia imaginar que os guardas do marquês teriam previsto que o navegador poderia tentar assassiná-lo. Contudo, provavelmente esperavam algo como uma bola de fogo ou uma arma arremessada, no máximo. Com o marquês tão próximo deles, provavelmente assumiram que veriam a tentativa e a impediriam no ato, talvez até conseguindo dizer algo heroico como: ‘Um ato inútil… O senhor está seguro, meu lorde?’

    “Hmm, isso é…”

    Não era um plano ruim. Especialmente se ninguém se machucasse.

    O marquês ficaria satisfeito com as habilidades de seus subordinados e confiante de que seu dinheiro não foi desperdiçado, e seus subordinados se sentiriam mais confiantes ao pedir um aumento no mês seguinte. Mas, infelizmente…

    “Talvez porque sejam os auxiliares mais próximos do marquês? São inteligentes, mas também traiçoeiros. Vou precisar me lembrar disso mais tarde.”

    O castelão de Noark poderia ter simpatizado mais com os sentimentos deles se as coisas não tivessem terminado desse jeito, mas não havia espaço para isso agora. O que deveria ter permanecido como uma ‘tentativa’ havia sido bem-sucedido, o marquês poderia muito bem ter sido assassinado naquele dia.

    “Esses tolos…”

    Os acompanhantes do marquês não passavam agora de um bando de idiotas. Contudo, o castelão não ia se juntar a eles expressando tais pensamentos em voz alta. Por que deveria? O castelão não estava com raiva dele, e nada de bom viria de um superior conhecer os pensamentos de um subordinado como ele.

    Como era de se esperar, o castelão soltou um suspiro profundo. Ele também era um homem inteligente e não descontava sua raiva nas pessoas envolvidas. Em vez disso, permitiu que apenas um vestígio de sua frustração transparecesse ao perguntar ao servo. — Então me diga. Eu entendo que a tentativa de assassinato foi bem-sucedida, mas o que você quer dizer com ele estar à beira da morte?

    Era uma pergunta razoável para o castelão fazer. O marquês não era um plebeu pobre que não tinha acesso à cura dos sacerdotes.

    Estar ‘à beira da morte’ não fazia sentido, ou se estava vivo, ou morto.

    — Bem…

    Diante da pergunta do castelão, o servo fechou os olhos, preparando-se para o que estava por vir.

    — Para ser mais preciso, ele não está à beira da morte.

    Na verdade, ele nunca havia usado exatamente essas palavras. Embora o servo percebesse o mal-entendido, ele não corrigiu o castelão imediatamente. Não havia motivo para fazê-lo, não com o clima já tenso. Mesmo assim, o servo prosseguiu com a explicação antes que o castelão pudesse culpá-lo pelo desconforto causado pelo erro.

    — O marquês possui um artefato que pode salvar sua vida, mas isso o força a ficar inconsciente por dois dias.

    Ele omitiu o número e o nome do artefato porque isso não era importante no momento.

    — Não sei se devo me sentir aliviado… — O superior relativamente inteligente, agora compreendendo a situação, perguntou. — E a autoridade para usar a arma mágica ainda está apenas com o marquês?

    — Sim.

    — Então isso significa que não podemos usar o Trovão por dois dias.

    — Sim…

    A arma antiga, considerada mais valiosa estrategicamente do que até mesmo o capitão de Orcules, havia sido reduzida a um mero monte de sucata, tudo por causa de um único navegador de sétimo nível.

    — E o que acontece com o plano?

    Embora o plano estivesse claramente definido, o subordinado que servia aquele superior havia tempo suficiente para entender o que ele queria dizer.

    — A autoridade para usar a Lança Divina Ainar para capturar Bjorn Yandel foi temporariamente transferida ao filho mais velho, Eltora Tercerion.

    — E se algo acontecer com ele nesse meio-tempo?

    Isso complicaria a situação. Nem mesmo o meticuloso marquês teria selecionado um substituto para seu substituto temporário. A resposta verdadeira seria: ‘Não sabemos’, a menos que, claro, alguém interviesse.

    — Se esse for o caso…

    O castelão ponderou, percebendo que se tratava de um problema externo em vez de um interno, o que significava que o tratado de aliança poderia ser reinterpretado completamente. Sabendo disso, o subordinado resumiu o pensamento em uma frase simples.

    — Então o senhor poderia temporariamente assumir a autoridade, Lorde Castelão.

    — Entendido…

    Ouvindo a resposta que queria, o castelão relaxou visivelmente. Só então fez uma pergunta que o intrigava pessoalmente.

    — E o que aconteceu com aquele navegador?

    — Bem…

    Percebendo que seu superior parecia mais tranquilo, o servo começou a falar com um tom mais descontraído.


    Sua primeira reação ao despertar em uma prisão subterrânea escura foi esta:

    “Por que estou vivo?”

    Em um mundo onde falhar em pagar impostos era uma ofensa punível com a morte, a luta incessante para sobreviver a cada momento era o estado natural das coisas.

    Como residente de tal mundo, Auyen Rockrobe compreendia o valor da vida, ou melhor, sabia como sua vida era preciosa, talvez mais do que qualquer outra pessoa. E ainda assim…

    “Como estou vivo?”

    Mais do que alívio por estar vivo, ele estava confuso.

    É claro que estava aliviado, mas a confusão pairava sobre ele com muito mais intensidade.

    O que fazia sentido, na verdade. Era como assistir a um enorme meteoro cair no chão e, ainda assim, acordar ileso. Os pensamentos de um sobrevivente provavelmente não seriam de alegria surpreendida, mas de pura perplexidade.

    Ele começou a repassar os eventos que levaram à sua perda de consciência.

    O momento em que o marquês desabou, cuspindo sangue.

    — M-Meu senhor…!

    Alguns servos de alta patente, que pareciam ser magos ou sacerdotes, correram até o marquês em estado de pânico.

    — U-Um assassino…!

    Os cavaleiros, cuja única função era usar sua força, correram até ele e o dominaram. Ele então caiu no chão, completamente contido.

    E ‘completamente contido’ não era nenhum exagero. Braços, pernas, pescoço, tornozelos, polegar esquerdo, dedo médio, orelhas, os cavaleiros o prenderam como se estivessem tentando selar um grande demônio.

    Bem, pensando agora, era compreensível. Eles não podiam simplesmente ficar parados enquanto o marquês desabava. A ideia de recuar apenas porque outros cavaleiros estavam presentes nem teria passado por suas mentes.

    Auyen nem conseguia respirar sob o peso esmagador da dúzia de cavaleiros que o contiveram, e sua consciência começou a desvanecer naquele momento. E quando abriu os olhos, estava ali.

    “Sério, por que estou vivo?”

    Um fato curioso sobre a consciência é que, mesmo morrendo de asfixia, a mente consegue absorver informações de forma clara.

    — O marquês perdeu a consciência…!

    — Esse maldito bastardo…!

    — Por que apenas o prenderam? Matem-no agora!

    Raiva e ódio contra ele, o assassino. Esse era o motivo pelo qual ele não conseguia acreditar que estava realmente vivo.

    Apenas um frio cortante permeava aquela prisão subterrânea em resposta à sua confusão.

    Auyen continuou ponderando sobre o motivo de sua sobrevivência, e a questão evoluiu de ‘Por que estou vivo?’ para ‘Por que me mantiveram vivo?’. Logo, sua dúvida foi respondida por um estranho que veio pessoalmente até aquela suposta prisão subterrânea para esclarecer sua confusão.

    — Eu sou Eltora Tercerion.

    O homem revelou-se como filho do marquês.

    — Tenho algo a lhe pedir.

    A princípio, Auyen se perguntou se ele iria pedir que ele suportasse uma morte dolorosa após uma tortura horrível…

    — Por favor, salve-me.

    No entanto, Auyen ficou sem palavras diante do pedido do homem.

    — …Hã?

    O que estava acontecendo?


    O ato de esperar pode parecer passivo à primeira vista, mas carrega nuances dependendo de como se encara.

    Basta olhar no dicionário:

    Passivo: o sujeito é movido por uma força externa.

    Ativo: o sujeito se move por conta própria.

    Se alguém espera por livre e espontânea vontade, então está esperando ativamente. Por outro lado, se alguém é ameaçado com uma faca e forçado a esperar, está esperando de forma passiva.

    Amelia Rainwales fazia parte do primeiro grupo.

    Seu corpo ainda não havia se recuperado completamente e, ao avaliar a situação, percebeu que seu alvo de resgate ainda estava bem. A melhor decisão naquele momento era esperar por uma oportunidade melhor em vez de agir precipitadamente.

    Claro, seria forçada a agir se percebesse algum movimento suspeito antes disso.

    Com sua decisão tomada, Amelia esperou. Não se sentia entediada ou algo do tipo. Com incontáveis experiências em infiltração e assassinato em seu currículo, ela estava acostumada a esperar.

    Hooooonk!

    Sentiu uma pontada de irritação ao ouvir que seu alvo estava tão relaxado que chegou a roncar em seu sono, mas isso não mudava o que precisava fazer.

    Ela controlou sua respiração e apagou sua presença. Abriu os ouvidos, escutou conversas e lentamente acumulou informações em sua mente.

    Embora as informações parecessem triviais, poderiam ser usadas para tomar decisões melhores no futuro. E algumas delas eram, de fato, úteis.

    Como essa informação em particular.

    — Eu não entendo por que mandaram a gente vigiar essa mulher. Em vez de desperdiçar mão de obra assim, por que não a matamos logo?

    — Tsc, você está sendo muito míope.

    — Míope…? O que isso significa?

    — Significa que você só consegue enxergar coisas próximas. Pense bem. Por que acha que os superiores capturaram a Lança Divina viva e a prenderam assim?

    — Só me diga…

    — A Lança Divina é uma isca. Para pegar um peixe ainda maior.

    — Por um peixe maior… Ah! Para pegar o Gigante!

    — Isso mesmo. Se não fosse por isso, não estaríamos desperdiçando tanta força observando apenas uma bárbara capturada.

    Após ouvir essa teoria, o homem não disse mais nada. Apenas olhou para quem lhe explicava antes de perguntar. — Você pensou nisso tudo sozinho?

    — Haha, como se eu pudesse? Só ouvi isso de alguém que foi designado para essa missão. Parece que estiveram no quartel-general antes de nós.

    — E você também ouviu sobre ‘míope’ ou o que seja com ele?

    — Não é óbvio? Esses caras mais letrados sempre usam palavras difíceis…

    Escondida no teto, Amelia não podia ignorar o que acabara de ouvir. Pelo desenrolar da conversa, aquilo não era apenas uma ‘teoria’ inventada pelos dois, mas o plano oficial.

    “Então era uma isca para atrair Yandel…”

    Enquanto estava satisfeita por ter vindo salvar Ainar, mesmo contra o conselho de Auyen, também sentiu o peso do tempo. A situação agora era uma corrida contra o relógio.

    Ela precisava agir antes que Yandel caísse na armadilha. Era óbvio que aquele bárbaro iria correr para salvar sua aliada no momento em que soubesse da situação, mesmo sabendo que era uma armadilha. O melhor seria resolver tudo antes que ele chegasse. Não havia dúvida disso.

    Mas como?

    A resposta para sua dúvida veio de uma fonte inesperada.

    — Saiam por um momento. Tenho um assunto a tratar com essa mulher.

    Os dois guardas, que se vangloriavam da grande segurança do local, se afastaram sob as ordens de um homem, que então entrou na área onde Ainar estava presa.

    “Eltora Tercerion…!”

    Os olhos de Amelia brilharam enquanto ela permanecia agachada na escuridão. Embora não soubesse qual era o propósito daquele homem com Ainar, era evidente que não era nada bom. Ele era o filho do marquês, talvez o maior mal da época. Era óbvio que estava tramando algo…

    “Auyen…?”

    Droga, ele foi capturado.

    Após confirmar quem caminhava ao lado do filho do marquês, Amelia fechou os lábios enquanto simulava cenários em sua mente.

    “Se eu agir agora, enquanto ele nem sabe que estou escondida acima dele…”

    Ela poderia não apenas cortar sua garganta, mas subjugá-lo. E o fato de poder subjugá-lo também significava que poderia ameaçá-lo e controlá-lo.

    “Não haverá oportunidade melhor que esta.”

    Com esse pensamento, não demorou para que ela entrasse em ação. Decisões momentâneas funcionavam melhor quando combinadas com a intuição.

    “Agora.”

    Amelia desfez sua camuflagem, saltou do teto e mergulhou. Seu alvo olhou para cima e a percebeu no momento, mas já era tarde demais para reagir à lâmina dela.

    Após cair do teto, Amelia usou as pernas para prender o pescoço de Eltora. Então, com sua única mão utilizável, golpeou com uma adaga envolta em uma aura azul elétrica…

    Fwip!

    A adaga parou bem em frente às pupilas dilatadas de Eltora.

    — Você morre se fizer barulho. Também morre se se mover. E morre se tentar algo. Se entendeu, ajoelhe-se devagar…

    — S-Srta. Emily!

    — Pode me agradecer depois…

    — E-ele está do nosso lado! Esse homem é…!

    “Huh? Nosso lado?”

    O que ele estava dizendo?

    “Ah, talvez…”

    — Então você já foi vítima de lavagem cerebral…

    — O quê? Lavagem cerebral? N-Não é nada disso…!

    — Esses bastardos malignos…

    — Não, eu estou completamente bem!

    No fim, ele teve que explicar toda a situação para Amelia, e demorou um bom tempo até que ela aceitasse.

    — Então… Ele traiu o pai e está tentando se aliar a nós?

    — Sim! Isso mesmo!

    Auyen acenou com a cabeça tão vigorosamente quanto pôde.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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