Capítulo 766: Colocando as Coisas em Ordem (1/8)
A sugestão de Hyeonbyeol de que o Plano B do marquês poderia ser eu me deixou momentaneamente atordoado.
Mas apenas por um breve instante, é claro.
“Não era algo totalmente fora do reino das possibilidades”, raciocinei comigo mesmo. “Se o marquês perdesse, significava que o palácio venceria, e se o palácio vencesse, havia uma boa chance de que eu tivesse contribuído para essa vitória… Então ele poderia ter presumido que eu teria poder suficiente para, pelo menos, proteger Ragna…”
O marquês definitivamente poderia ter calculado até esse ponto. No entanto, ainda achava difícil acreditar que eu fosse seu Plano B.
Talvez seu Plano C.
“Pensarei mais sobre isso depois…”
— Há mais alguma coisa que eu deva saber? — perguntei.
— Hmm, o fato de que você precisa de mim se quiser ir até a sala secreta onde a Condessa Peprok está?
Assenti. — Entendi.
— Mas sobre a Condessa Peprok… — Hyeonbyeol começou com cautela.
Hmm, por que ela estava hesitando? Não tinha acabado de dizer que não havia mais nada que precisasse me contar?
Quando lhe lancei um olhar desconfiado, Hyeonbyeol encontrou meu olhar, uma expressão indecifrável em seus olhos.
— Ela não é bonita? — completou.
— Bem, acho que sim…?
— Então por que a rejeitou?
O que eu deveria fazer? Me casar com toda mulher bonita que visse? Além disso, se eu tivesse me casado com ela naquela época, teria sido arrastado para os planos do marquês.
“Mas Hyeonbyeol provavelmente não estava perguntando por curiosidade sobre essas razões.”
Com o tempo que passei com Hyeonbyeol, eu sabia. Ela não aceitaria nenhuma das razões políticas que eu pudesse dar. Agora, ela fazia essa pergunta para preparar o terreno para outra.
— Casamento é um evento importante na vida. Preciso ser mais cauteloso do que nunca.
Utilizei minha mentalidade confucionista pela primeira vez em um bom tempo e falei com firmeza. Na verdade, era mais uma maneira de dizer que não queria continuar esse assunto.
Percebendo minhas intenções, Hyeonbyeol não insistiu, mas parecia um pouco contrariada, a julgar por sua próxima provocação.
— Oh? Então você gosta tanto daquela boneca?
Por que isso foi trazido à tona de repente?
— Hyeonbyeol, você sabe que eu não tive escolha a não ser mentir…
— Foi mesmo uma mentira? Cópias daquela boneca que você segurou estão bem populares entre os nobres ultimamente.
Parei.
— Sério?
— Sim, sério. Eles dizem algo como: ‘Oh! Então esta é a boneca que o Gigante, Bjorn Yandel, gosta tanto…’
— Pare.
“Por favor, pare de falar sobre isso. Cara… Por que eu fiz aquilo?”
Nem eu sabia ao certo ao olhar para trás agora, mas decidi parar de pensar nisso. Não era como se eu pudesse voltar no tempo e corrigir.
— Tanto faz, vamos indo. Os outros estão nos esperando.
Eu precisava seguir em frente.
Quando voltamos para a sala onde meus aliados esperavam, Amelia me lançou uma pergunta.
— Então, a conversa foi bem?
Seu tom era o mesmo de sempre, mas, depois de tanto tempo ao lado dela, percebi um leve tom de mágoa em sua voz.
No entanto, antes que eu pudesse responder, Hyeonbyeol se adiantou.
— Sim. Graças a você, tivemos uma boa conversa privada. Obrigada novamente, senhorita Emily.
— Não estava perguntando para você.
— Oh, não estava? Mil desculpas.
Amelia permaneceu em silêncio diante da desculpa nada sincera de Hyeonbyeol. Percebi um súbito frio no ar e rapidamente mudei de assunto.
— Emily, alguma coisa acontecendo lá fora?
— Está quieto. Parece que ele está atraindo atenção o suficiente para que não tenham tempo de se preocupar conosco. E enquanto vocês conversavam, dei uma olhada no prédio, mas não encontrei nada que…
— Ha, veja só — Hyeonbyeol interrompeu. — O que você faria sem mim?
Amelia demorou um instante para responder. — O que quer dizer?
— Há uma área escondida nesta vila. A maioria das pessoas nunca a encontraria, por mais que procurassem.
Ela provavelmente estava se referindo ao local onde Ragna estava adormecida. Embora entendesse que quisesse enfatizar o quanto eu lhe devia, realmente preferia que ela parasse. Amelia estava sorrindo há algum tempo, mas apenas com os lábios, não com os olhos.
— Você é um tipo… interessante de pessoa.
Amelia provavelmente se perguntava a mesma coisa. Essa mulher, que poderia ser morta sem oferecer resistência, apareceu do nada e continuava a provocá-la.
“Não sei por que ela gosta tanto de atormentar os outros quando é tão fraca…”
Fiquei um pouco aliviado por Hyeonbyeol ser uma não combatente e me apressei em concluir minha linha de pensamento.
— Mesmo que os Noarkianos não estejam ativamente nos perseguindo agora, não sabemos o que pode acontecer depois — falei. — Então, Harin Savy. Guie-nos até essa sala onde disse que a Condessa Peprok está.
— Claro.
Apesar da curta conversa, já me sentia exausto. Balançando a cabeça, segui Hyeonbyeol até as paredes externas do prédio.
— Há uma área escondida aqui…? — Amelia perguntou, franzindo a testa. Ela também nos seguiu.
Eu compartilhava da mesma dúvida. Normalmente, áreas escondidas ficavam atrás de estantes ou sob tapetes.
— O jardim não fica atrás desta parede?
Assim como Eltora disse, não havia nenhuma sala atrás desta parede.
No entanto, não duvidei de Hyeonbyeol. Este era outro mundo, onde sonhos, esperanças e magia existiam.
Em vez de responder, Hyeonbyeol estendeu os dedos longos e tocou a parede. O bracelete em seu pulso começou a brilhar e a ressoar com a superfície.
Uma luz azul emanou da parede ressonante. Era algo completamente diferente dos círculos mágicos que eu tinha visto até agora.
Mas não era algo desconhecido para mim.
— Um portal…? — murmurei ao ver o portal cintilante se formar diante de nós, ondulando como se nos chamasse para entrar.
— Parece que o marquês investiu bastante nisso — Amelia comentou, agora com seu tom lógico e direto. — Eu não detectei mana alguma até o portal começar a se formar.
Hyeonbyeol sorriu. Temi que o clima voltasse a esquentar, mas nada aconteceu.
— Eu vou primeiro — declarei.
O espaço dentro do portal era surpreendentemente comum. Eu esperava algo mais místico, considerando que precisávamos de um portal para entrar.
— É só um quarto comum?
Um cômodo aconchegante com cama, mesa e papel de parede.
Olhei ao redor por um momento antes de meus olhos se fixarem na cama. Ragna estava ali, profundamente adormecida, alheia a tudo o que acontecia no mundo. Uma sensação estranha cresceu dentro de mim ao vê-la.
“Eu nunca poderia imaginar que ela fosse uma princesa…”
O destino era realmente misterioso. Quais eram as chances de que a bibliotecária que conheci quando ainda era um aventureiro bárbaro de nono nível acabaria sendo da realeza?
— Há um jeito de acordá-la? — perguntei a Hyeonbyeol, que entrou logo atrás de mim.
— Acho que sim? Ou o marquês a acorda pessoalmente, ou ele morre.
— Então… nada que possamos fazer por enquanto.
— Imagino que não.
Suspirei. Era isso, então.
Enquanto permanecia em silêncio, observando Ragna, Amelia se dirigiu a mim.
— Então confirmamos a segurança da Condessa Peprok. O que vai fazer agora? Vai usar essa mulher para encontrar o marquês?
Tomei um momento para me recompor antes de assentir.
— Algo assim.
— Algo assim? O que quer dizer?
“Uh… Bem…”
Depois de ler o diário, compreendi uma verdade fundamental: o marquês realmente amava sua filha.
— Apenas espere. Ele virá até nós assim que acordar.
E precisávamos nos preparar para sua chegada.
O plano era bem simples, especialmente quando um bárbaro o executava.
Boom!
Balancei meu martelo em meu tamanho de gigantificado e destruí a caixa de recordações do marquês.
O telhado, as paredes, o jardim bem cuidado, as cercas…
Levei apenas dez minutos para reduzir essa vila secreta, aparentemente projetada por algum arquiteto renomado, a escombros.
— Uau, isso foi rápido…
— Hohoh! Mas é claro! — Ainar declarou orgulhosamente. — Bárbaros são especialistas em construção!
— Construção…? Ah, bem. Suponho que demolição também seja parte da construção…
Hyeonbyeol parecia impressionada enquanto observava meu trabalho, e Ainar permanecia ao lado, inflando o peito de orgulho.
Quando o marquês visse sua vila destruída, provavelmente não conseguiria se conter, mas isso não me importava.
Depois de destruir rapidamente o lugar, me aproximei da parede externa, agora coberta de destroços. Tomei um cuidado especial para não danificá-la, já que era onde ficava a entrada do portal.
— Harin Savy, abra o portal.
— Certo.
Abrimos o portal e entramos na sala, completando nossos preparativos.
Como foi Auyen quem o golpeou, o marquês provavelmente acordaria na tarde do dia seguinte e viria até aqui para verificar a situação.
“E assim que descobrisse que esse lugar foi destruído…”
Com o amor que tinha por sua filha, ele certamente mandaria alguém para checar sua segurança, e havia uma boa chance de que viesse pessoalmente. Como o marquês não foi transferido para cá depois de perder a consciência, nem mesmo seus subordinados mais próximos provavelmente sabiam sobre este lugar. Para manter sua segurança e sigilo, ele não teria escolha a não ser vir pessoalmente.
“Mas não importava, mesmo que ele não viesse pessoalmente…”
Se mandasse um subordinado, teríamos uma boa chance de descobrir onde ele estava interrogando essa pessoa.
“Eu só precisava encontrar o marquês.”
É claro que sabia que simplesmente derrotar o marquês não encerraria a guerra, mas e daí? Matando-o, meu acordo com o rei estaria cumprido, e eu não precisaria mais me importar com a guerra.
“Eles que cuidem do resto.”
Matamos o tempo, aguardando na sala apertada.
Embora, para ser justo, não tenha sido um silêncio total.
— Faz tempo que não passamos um tempo juntos assim em um quarto, não é, Lorde Barão?
Por que ela ainda estava fazendo isso? Ela realmente gostava tanto de me provocar?
Hooonk! Hooonk!
Sabendo que ela só insistiria mais se eu reagisse, fingi estar dormindo. Ao perceber, Hyeonbyeol apenas riu e me deixou em paz.
Mas então, Ainar veio com um ataque inesperado.
— Pare de se atrever tanto, humana.
— Humana…?
— Entendo que esteja no cio, mas seu corpo não pode gerar um guerreiro.
— Do que diabos você está falando…?
— Não sei que tipo de relação teve com Bjorn. No entanto, não a ignoraremos. Também não temos intenção de colocá-la na fila. Então não se exiba e apenas fique quieta.
Hyeonbyeol pareceu pega de surpresa e ficou visivelmente desconcertada com a franqueza bárbara. No entanto, logo recuperou o fôlego e abriu a boca para responder.
— Chega — intervim, impedindo que a situação escalasse. — Ainar, você também. Apenas fique quieta e coma isso.
— Hmm? Não estou tentando causar problemas… Oh! E-Esse é charque feito de Ltaspa! Você está me dando algo tão precioso…!
O quê, Ltaspa? Ela nunca me deu isso, nem quando pedi…
Minha boca começou a salivar com o aroma do charque de alta qualidade, mas continuei fingindo que dormia. Em algum momento, acabei dormindo de verdade.
Acordei depois, com fome, e passei o tempo provocando o filho do marquês.
Seis horas, doze horas, um dia…
O período no qual o marquês deveria ter acordado passou.
Dois dias, três dias…
Ainda mais tempo se passou, e comecei a pensar que meu plano tinha dado errado.
Então, uma luz intensa brilhou, e um visitante atravessou o portal.
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