Índice de Capítulo

    — Mostrar será mais rápido do que explicar tudo — disse Astarota, pegando uma pilha de documentos e me entregando.

    Era uma pilha bem grande, e, honestamente, não me surpreendeu muito. Havia quase mil pessoas ao meu redor quando Trovão caiu sobre nós.

    “É bem direto…”

    O documento, claramente produzido pelo Departamento de Inteligência do palácio, era impecavelmente organizado, desde a formatação até o estilo.

    Nº 1: Kyeldun Nilteon

    Status: Falecido

    Nota: Corpo não pôde ser recuperado, mas há testemunhos confiáveis que confirmam a morte.

    Cada entrada continha um nome, status e uma breve nota relacionada ao indivíduo. Para aqueles marcados como ‘falecido’, a palavra estava escrita em tinta vermelha, tornando mais fácil localizar os nomes pelo documento.

    Porém, só porque o documento era organizado, não significava que fosse menos angustiante para quem o lia.

    Nº 17: Anthony Bolton

    Status: Falecido

    Nota: Corpo armazenado no 7º necrotério. Pertences sob custódia de um membro do clã.

    Suspirei. Ele parecia ser de um dos clãs médios que deixaram a terra sagrada conosco.

    Nº 19: Gelta Panun

    Status: Falecido

    Nota: Corpo não pôde ser recuperado, mas há testemunhos confiáveis que confirmam a morte.

    Meu coração afundava sempre que eu via um nome de alguém que eu não apenas conhecia, mas que tinha visto várias vezes antes e, ainda assim…

    Meus dedos estalaram quando cerrei o punho. As pessoas listadas estavam sob minha responsabilidade, objetivamente falando. Mas eu precisava reconhecer que essas pessoas não eram os aliados mencionados na Pedra dos Registros.

    Continuei lendo o documento.

    — Espera, o que é isso? — perguntei. — Aqui diz ‘desaparecido’ na seção de status.

    — Significa exatamente isso.

    — Você não disse que obteve informações sobre todos?

    — O fato de o Departamento de Inteligência ainda não ter conseguido confirmar o status deles significa que são considerados mortos. Só estão listados como desaparecidos porque o corpo ainda não foi recuperado ou porque ninguém os viu ainda. E tenho certeza de que esses não são os nomes pelos quais você realmente está interessado.

    Não podia argumentar contra isso.

    Como era inegável, voltei a ler o documento. Logo, encontrei os nomes que realmente queria confirmar.

    Nº 119: Sven Parav

    Status: Vivo

    Nota: Atualmente conscrito no Sétimo Batalhão. Estacionado nas forças de ocupação da Quarta Muralha.

    Suspirei. Ele sobreviveu. Eu estava realmente preocupado porque ouvi que ele desapareceu durante o confronto inicial. Ainda assim, com aquela intuição impressionante dele, teria sido mais surpreendente vê-lo morto só porque uma guerra aconteceu.

    Perguntei o que me veio à mente depois de ler a nota.

    — Você teve algo a ver com a transferência dele para a Quarta Muralha?

    A implicação não dita era que as forças de ocupação da Quarta Muralha estavam posicionadas na barreira que fazia fronteira com a Árvore Gnomo. Elas estavam tecnicamente destacadas, mas, na prática, apenas em espera.

    — Naturalmente — confirmou Astarota. — Sabe quantas pessoas querem ser destacadas para essa unidade? Também transferi os outros para lá, então devem estar se divertindo juntos.

    — Entendo… Obrigado.

    Diante da minha sincera gratidão, a expressão de Astarota se retorceu de uma forma estranha e difícil de decifrar.

    “Hm. Ele ficou… envergonhado?”

    Bem, agora eu também fiquei.

    — É porque você tem um nome bonito? Você é meticuloso.

    Astarota estalou a língua, enojado com a piada. Com o clima mais leve, voltei a ler os documentos.

    Nº 170: Melend Kaislan

    Vivo.

    Nº 242: Lilith Marrone

    Viva.

    Nº 310: Ainar Fenelin

    Como ela havia acabado de chegar à capital imperial, o documento a listava como desaparecida. Mas eu sabia que ela estava viva, então apenas passei direto pelos nomes das pessoas que estavam comigo.

    Nº 381: Versyl Gowland

    Viva.

    Nº 404: James Calla

    Ele foi lançado no meio do campo de batalha, teve o braço decepado e, devido ao socorro tardio, não poderia recuperá-lo…

    Mas estava vivo.

    Minha mandíbula se tensionou sem que eu percebesse. Ainda havia duas pessoas que eu precisava confirmar: Erwen e Missha. As aliadas que estiveram comigo desde o começo, quando eu era apenas um bárbaro qualquer e sem graça.

    As pontas dos meus dedos começaram a tremer levemente enquanto eu virava a página apressadamente.

    Ba-dum, ba-dum, ba-dum…

    Por mais que tentasse acalmar a respiração, meu coração disparava no peito.

    Nº 606: Missha Karlstein

    O momento em que vi o nome que procurava, minha respiração parou por um segundo. E quando li as letras escritas em tinta preta abaixo do nome, soltei um longo suspiro que nem percebi que estava segurando.

    Viva.

    Ela estava viva.

    No entanto, aquele momento de alívio foi curto demais. Rapidamente, passei os olhos pelas listas e folheei várias páginas, procurando o último nome que precisava ver.

    Lá estava.

    Nº 777: Erwen Fornacci di Tersia

    Status: Viva

    Nota: Atualmente conscrita no Sétimo Batalhão. Estacionada nas forças de ocupação da Quarta Muralha.

    No instante em que confirmei seu status, senti toda a força do meu corpo me abandonar de uma vez.

    Ela estava viva. Ninguém havia morrido.

    — Por que essa cara? — Astarota perguntou, curioso. — Todos estão vivos.

    Apesar da euforia, não consegui sorrir. A questão principal não saía da minha cabeça.

    “Mas como…?”

    Como todos estavam vivos? O que eu vi na Pedra dos Registros estava errado, ou talvez eu tenha interpretado mal?

    Não havia como saber. Porém, por isso mesmo, um medo ainda mais profundo e inexplicável começou a se espalhar dentro de mim, deslizando como fumaça pelo meu peito. Então, lentamente, esse medo sem forma começou a tomar contornos, moldado pelo peso das experiências enterradas em minha mente subconsciente.

    “Talvez ainda…”

    Talvez ainda não tenha acabado?

    Toc, toc, toc.

    O som de batidas na porta dissipou esse pensamento no instante em que ele surgiu. O cavaleiro da Ordem dos Guardiões que me guiou até aqui entrou na sala.

    Não havia provas nem evidências. No entanto, o sexto sentido de uma pessoa possuía um atributo misterioso. No momento em que vi o rosto daquele cavaleiro, um pavor sufocante me dominou.

    — O que houve? — perguntei, rouco.

    Mais uma vez, meu instinto estava certo.

    — Houve um incidente na Quarta Muralha — disse o cavaleiro.

    — Que tipo de incidente?

    — Bem, Vossa Senhoria… É…

    — Barão Yandel está bom — interrompi. — Apenas faça o seu relatório.

    O cavaleiro silencioso hesitou mesmo depois de receber permissão, mas então falou cuidadosamente.

    — Dois membros do Clã Anabada morreram.

    Droga.


    Quando me dei conta, eu estava disparando pela rua principal da Capital Imperial, Karnon. Eu até estava usando habilidades que eram proibidas dentro da capital.

    Boom! Boom! Boom!

    Eu corri e corri.

    Ao chegar à muralha oeste de Karnon, na fronteira com o território Noark, um cavaleiro que parecia estar no comando da área se aproximou de mim.

    — Fui informado de sua chegada. Venha por aqui.

    Como saí correndo sozinho, parecia que Astarota havia enviado um aviso prévio às pessoas daqui.

    — Corra.

    — P-Perdão?

    — Não ande — ordenei. — Corra.

    A hesitação e lentidão do cavaleiro me irritaram. Ele imediatamente compreendeu a intenção implícita e passou do passo lento a uma corrida direta.

    Segui o cavaleiro até chegar a uma tenda, onde vi meus aliados reunidos na entrada.

    — Yandel…?

    Melend Kaislan.

    — B-Bjorn?!

    Uma Missha surpresa.

    — S-Senhor!

    Erwen, Sven Parav e os outros…

    Todos pareciam divididos, querendo correr até mim de alegria, mas uma rigidez estranha os impedia de se aproximar. Seus lábios estavam pressionados em linhas finas e sombrias, e seus olhos não sabiam onde pousar.

    — Poderiam sair do caminho um momento? — perguntei, reprimindo a emoção que subia pela minha garganta. Meus aliados, em silêncio, se afastaram.

    — L-Lorde Barão! Ainda estamos conduzindo a investigação inicial…

    “Mas que diabos esse cara está falando?”

    Afastei o cavaleiro do meu caminho sem a menor hesitação e entrei na tenda.

    O interior estava tão bagunçado quanto uma cena de crime, e logo na entrada havia duas macas móveis. Em cada uma, um corpo inteiro coberto por um longo tecido branco.

    — É o barão. Pessoal, está tudo bem, podem interromper a investigação por um momento e sair.

    Os investigadores, surpresos, seguiram as instruções do cavaleiro e lentamente deixaram a tenda.

    Avancei sem demora e puxei o tecido da maca à esquerda. Embora tenha removido apenas o pano da parte superior do corpo, o estado do cadáver era horrível.

    Um braço claramente havia sido arrancado da articulação e depois recolocado de forma grosseira. O pescoço estava mutilado, deixando a cabeça apenas presa por um fio, se é que ainda estava. Era como se o corpo tivesse sido reconstruído como uma miniatura desmontável.

    — James Calla…

    Ele se juntou ao meu clã depois que sobrevivemos à Expedição ao Rochedo Gélido. Embora o tempo que passamos juntos fosse curto em comparação com meus primeiros aliados, todos gostavam dele por sua personalidade afável.

    Eu não era exceção.

    Em silêncio, cobri o corpo novamente e me voltei para a outra maca.

    Dessa vez, movi-me lentamente, quase hesitante, ao descobrir o segundo corpo. Sua pele estava pálida e sem vida, mas eu não tive dificuldade alguma em reconhecer aquele rosto.

    — Versyl Gowland…

    Nos encontramos pela primeira vez na Távola Redonda, ambos usando máscaras para ocultar nossas identidades. Com o tempo, nosso relacionamento evoluiu até que ela entrou para o meu clã.

    Vinda da Terra e possuindo uma ética de trabalho impecável, ela era a aliada em quem mais confiava depois de Amelia para a administração do clã.

    Por isso, deixei a posição de vice-capitã para ela quando precisei partir.

    Fiquei um longo tempo apenas olhando para seu rosto. Então, com delicadeza, puxei o tecido de volta sobre sua cabeça.

    O cavaleiro pareceu interpretar esse gesto como um sinal para finalmente quebrar o silêncio desconfortável.

    — Suspeitamos que seja obra de um assassino de alto nível. Quando encontramos Sir James Calla, ele estava deitado em sua cama, e como não havia nenhum ferimento além da perda de sangue e do corte no pescoço, acreditamos que ele foi morto enquanto dormia.

    Um assassinato…

    Eu sequer conseguia rir da absurda ironia disso.

    “Droga, isso é uma piada? Achei que morrer em batalha era a única possibilidade nesta guerra. Mas isso?”

    Jamais esperei um fim desses para alguém.

    — E quanto a Versyl Gowland?

    — As opiniões dos investigadores ainda estão divididas. A investigação ainda não foi concluída, mas… a causa mais provável é que o assassino mirou primeiro em James Calla e que a Srta. Gowland foi envolvida por azar ao testemunhar o ato.

    — Envolvida?

    — Sim. A primeira evidência que temos é que a cena do crime era dentro da tenda de James Calla. A segunda, que o corpo da Srta. Gowland foi encontrado perto da entrada. A terceira são os sinais de luta dentro da tenda e no corpo dela.

    — Mais alguma coisa que eu deva saber?

    — Bem, a investigação ainda não acabou…

    — Não precisa ter certeza absoluta. Apenas me diga tudo o que descobriram. Se for necessário, pode chamar os investigadores de volta.

    O cavaleiro pareceu captar a seriedade na minha voz e imediatamente aceitou meu pedido.

    Permaneci na cena e fui informado de todas as evidências coletadas, os itens encontrados no local, a análise dos passos suspeitos que o assassino pode ter dado e muito mais.

    — Já chega. Pode voltar ao seu trabalho.

    Então, deixei a tenda e segui em direção à muralha. Os aliados que esperavam do lado de fora perguntaram para onde eu ia, mas apenas inventei uma desculpa sobre querer dar uma olhada na área.

    O que eu realmente precisava era de um tempo sozinho.

    Andei sem rumo pela muralha, subi no telhado de um edifício de altura decente e apenas me deitei de costas, olhando para o céu.

    Mesmo sem fazer nada, o tempo continuava a passar e a cor do céu lentamente mudava. De um cinza opaco que momentaneamente se tornou azul quando as nuvens se dispersaram, depois amarelado ao entardecer, então vermelho…

    Por fim, quando o céu se tingiu de um preto profundo com a chegada da noite, uma voz familiar rompeu o silêncio.

    — Mano, você já comeu?

    Não havia necessidade de me perguntar quem era.

    Sentei-me e virei para encará-lo, cumprimentando-o com um olhar frio em vez de uma recepção calorosa.

    — Uou, não ficou surpreso?

    Eu já imaginava que ele apareceria se esperasse tempo suficiente.

    “Especialmente com a sua personalidade.”

    Fiquei olhando para ele em silêncio, e ele sustentou meu olhar com a mesma quietude.

    Baekho Lee.

    Para ser sincero, já havia refletido muito sobre o que fazer com esse cara.

    Embora soubesse do risco que ele representava para mim, ele era tão útil quanto perigoso. Na verdade, consegui avançar mais um passo em direção ao segredo deste mundo graças a ele. E pensando bem, foi por meio dele que consegui entrar na Távolaa Redonda.

    Por isso, optei por tratá-lo caso a caso, em vez de eliminá-lo logo de cara. Ele também tinha interesses em mim, e eu realmente acreditava que ele não cruzaria o limite. Achei que, se ele não mexesse comigo primeiro, eu também não precisaria mexer com ele.

    “Parece que cometi um erro.”

    Depois de um longo silêncio, finalmente falei.

    — Por que você os matou?

    Nós dois sabíamos exatamente do que eu estava falando.

    Por um momento, ele pareceu ponderar a resposta, antes que um sorriso se abrisse em seu rosto.

    Aquele sorriso me disse exatamente como eu deveria enxergá-lo de agora em diante.

    — Então você percebeu.

    Ele era meu inimigo.

    O inimigo que eu precisava eliminar acima de tudo.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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