Capítulo 773: Colocando as Coisas em Ordem (8/8)
A resposta de Baekho foi diferente do que eu esperava.
O cenário em que ele admitia abertamente o crime sequer havia passado pela minha cabeça. Achei que ele tentaria inventar desculpas.
“Mas, pensando bem, isso é mesmo tão surpreendente?”
Talvez as coisas fossem diferentes se Baekho nunca tivesse se mostrado. Mas o fato de ele ter vindo por vontade própria significava que sabia que eu suspeitava dele.
Ainda assim, ele não tinha certeza absoluta, então apareceu para confirmar. Esse era o tipo de pessoa que ele era.
— Vou perguntar uma última vez. — Lutei contra o impulso de esmagar o crânio dele ali mesmo e perguntei: — Por que você os matou?
Mesmo tendo certeza de que Baekho era o culpado, eu não fazia ideia de qual era seu motivo.
Por que Baekho Lee atacou meus aliados?
A verdade que saiu da boca dele era inacreditável.
— Você realmente não sabe?
— Não tenho tempo para joguinhos. Responda.
— Você tem que saber, não é? Tudo o que fiz foi por você, mano.
Era impensável.
— Você está dizendo — comecei, reprimindo a fúria borbulhando dentro de mim — que os matou por minha causa?
Baekho apenas assentiu, tão indiferente como sempre.
— Por pura coincidência, ouvi falar sobre o que estava escrito nas Pedras dos Registros. Que você perceberia o caminho que precisa seguir depois de perder três aliados. Mas, sabe, se pensar de outra forma, significa que três pessoas precisam morrer. Para que você encontre o verdadeiro caminho.
“Droga…”
— Então foi por isso…? Você os matou por isso? Porque a guerra só matou um deles?
— Hã? Ah, não. Não é bem isso — Baekho negou inesperadamente, balançando a cabeça. — A Pedra dos Registros disse que três pessoas morreriam. Então, mesmo que eu não fizesse nada, três pessoas teriam morrido de qualquer forma, certo?
— Então por que…
— James Calla — ele me interrompeu. — Aquele cara foi tão ferrado por um mago negro que nem um santo conseguiria restaurar o braço dele. Foi por isso que eu o matei. Se três pessoas precisam morrer de qualquer forma, não seria melhor se morresse quem seria menos útil para você?
— Mas eu nunca esperei que aquela mulher aparecesse. Tipo, sério. O que diabos ela estava fazendo lá, e logo naquela hora? Os dois estavam, sabe… envolvidos ou algo assim?
— Ah, tanto faz… Não importa o que fosse, aquela mulher estragou tudo. Foi por causa dela que você descobriu, não foi? Já que eu deixei aquele buraco enorme no estômago dela. Passamos tanto tempo juntos fora das muralhas da cidade, então eu sabia que você reconheceria. Argh, e eu realmente queria limpar tudo antes de ir embora. Mas ela teve que gritar antes de morrer, então tive que sair antes de terminar o serviço.
— De qualquer forma, eu realmente sinto muito que as coisas tenham acabado assim. Fiz isso com a melhor das intenções… Não tinha ideia de que terminaria desse jeito, tá legal? Quando estava matando ela, me dei conta. Só preciso matar James Calla, percebi, porque se eu fizesse só isso, a outra morreria por acidente ou algo do tipo. Mas parece que o destino decidiu que a terceira pessoa tinha que morrer aqui… Eugh, sério, isso é tão injusto…
A autopiedade de Baekho finalmente me levou ao limite.
Boom!
O martelo disparou em direção à cabeça dele, mas acertou apenas o telhado.
— Uou… Você realmente tá puto, hein, mano?
Não respondi.
‘Conversas’ eram feitas entre seres humanos. Esse cara era apenas uma fera que eu precisava abater.
Vwoong!
Balancei o martelo novamente, mas Baekho saltou alto e pousou no ar.
— Mano, deixa eu te perguntar só mais uma coisa… Ah, qual é. Não faz essa cara, por favor. Beleza? Só me responde isso: a gente… Você acha que a gente pode deixar isso para trás? Fazer as pazes?
Olhei para ele, incrédulo. — Fazer as pazes?
Ele não estava pedindo perdão, mas paz? Só podia estar tirando sarro de mim.
— Sim. Digo, no fim das contas, ainda somos dois coreanos. Talvez você consiga encontrar nesse seu grande coração um espacinho para deixar essa coisinha passar…
Avancei contra ele, girando o martelo para cima, mas ele saltou ainda mais alto e soltou um longo suspiro.
— Cara… O mundo realmente é cruel com os azarados. E parece que eu sou o azarado da vez. Mas tanto faz. Andei investigando essa nova possibilidade que encontrei… Ah, acho que você não sabe sobre ela? — Ele pausou por um instante, antes de continuar. — Sendo sincero com você, achei que você fosse o protagonista dessa história esse tempo todo… Mas agora? Não estou mais tão certo disso.
Com a lua brilhando atrás de si, Baekho Lee me olhou de cima e falou.
— Já que chegamos a esse ponto, decidi. Hoje, eu me demito. Chega de ser o rival que faz o protagonista brilhar. E, sinceramente? Tem sido um saco.
Eu não conseguia entender completamente o que Baekho estava divagando, mas uma coisa estava clara.
【——— lançou Dissolução das Estrelas.】
Nosso relacionamento nunca mais poderia voltar ao que era antes.
Quando abri os olhos, a lembrança de um clarão ofuscante ainda queimava na minha mente. Eu estava deitado no meio de uma cratera enorme.
Baekho já havia desaparecido, e tudo o que restava era a comoção dos soldados correndo e espiando por cima da borda da cratera.
Soltei um longo suspiro e me levantei.
“Argh, isso doeu…”
Meu corpo inteiro doía. Que habilidade trapaceira. Com o quão bom era o meu físico, não deveria ser possível me reduzir a esse estado com um ataque base de uma única essência.
— L-Lorde Barão? V-Você está bem? — chamou um cavaleiro.
— O que aconteceu aqui…? — perguntou outra voz.
De qualquer forma, depois de recuperar os sentidos, informei ao comandante do local que havia sido emboscado e, após relatar essa história absurda, consegui voltar para os braços dos meus aliados.
Amelia já havia se reunido conosco quando voltei, embora eu a tivesse deixado para trás no palácio real. Astarota aparentemente impediu ela e os outros de saírem, depois permitiu que Amelia, Ainar e Auyen viessem até aqui.
— Baekho Lee é o assassino?
A revelação de que Baekho foi quem assassinou James Calla e Versyl Gowland deixou Amelia visivelmente abalada. Fazia muito tempo desde a última vez que a vi assim. Quando contei que ele também me atacou, sua expressão se tornou ainda mais sombria.
— Fizemos um inimigo perigoso.
Eu entendia a preocupação de Amelia, mas havia algo que precisava corrigir.
— Ele não é um novo inimigo. Eu só fui cego demais para perceber antes.
Baekho Lee nunca teve outra intenção além de me usar como uma ferramenta desde o começo.
Claro, eu também vi utilidade nele, e foi por isso que nos mantivemos em termos minimamente amigáveis por tanto tempo.
Mas agora estava claro. O que eu precisava fazer era formular um plano realista para lidar com ele.
— Não sabemos o que Baekho fará a seguir, então precisamos nos manter seguros — concluí.
— Entendido. Assim que terminarmos o que temos para fazer aqui, precisaremos procurar uma residência. Uma que seja difícil para nossos inimigos infiltrarem.
— Sim. Não sabemos quando ou como ele tentará nos atacar.
No entanto, como não havia nada que pudéssemos planejar sem saber quando ou o que ele faria, essa discussão não durou muito.
— Então… Aqueles três ainda estão no palácio? — perguntei.
— São figuras de importância política. Ah, e só para constar, Harin Savy pediu para ser presa. Disse que precisava ficar ao lado da Condessa Peprok caso ela acordasse.
— Entendo…
Eu compreendia a perspectiva de Astarota. Não havia como ele soltar Eltora, o filho do traidor, ou Ragna, o sangue do rei, no mundo, não com as coisas como estavam.
“Precisarei conversar com ele mais tarde sobre Ragna em mais detalhes…”
Soltei um longo suspiro, tentando fazer com que Amelia não percebesse, mas ela apenas deu um tapinha no meu ombro antes de sair da sala.
— Descanse por enquanto. Vou cuidar dos outros membros por ora.
Talvez eu estivesse falhando como líder do clã, mas era grato pela consideração dela. Não era como se eu não estivesse curioso sobre o que aconteceu com Missha, Erwen e os outros membros do clã depois de terem sido teletransportados, mas…
“Depois…”
Por ora, tudo o que eu queria era descansar.
Depois que Amelia saiu, deitei-me na maca militar e fechei os olhos. Minha mente e meu corpo gritavam de exaustão, mas o sono não veio com facilidade.
Brown Rotmiller.
James Calla.
Versyl Gowland.
Minhas emoções se agitavam sempre que pensava neles, oscilando entre tristeza, culpa e fúria.
Baekho Lee.
Quando pensava nele, o arrependimento e a raiva me sufocavam.
Ragna Litaniel Peprok.
E então havia o pedido deixado pelo marquês, que me assombrava. Eu sequer conseguia imaginar o que o palácio faria com ela depois de tudo isso, e não fazia ideia de como detê-los caso tentassem algo.
Havia os guerreiros da minha tribo que caíram ao me seguir.
A guerra ainda continuava.
O rei, que poderia acordar a qualquer momento ou nunca mais.
A organização misteriosa Heerkmuta.
Auril Gavis.
Tudo girava ao meu redor como um torniquete, me sufocando e atormentando. Quando o amanhecer rompeu, eu não tinha dormido nem um segundo.
Ainda assim, talvez por ter fechado os olhos ou por ter passado tanto tempo apenas pensando, consegui organizar meus pensamentos e estabilizar um pouco minhas emoções.
Por algum motivo, me sentia um pouco melhor.
Era um horário estranho para dormir, então decidi apenas levantar e seguir com o dia.
— Bjooorn!
Mas então, ouvi os gritos de Ainar ao longe, se aproximando rapidamente…
— Bjooorn! Acorde!
Sem sequer bater ou avisar, a entrada da tenda foi aberta de supetão e Ainar irrompeu para dentro.
— Grande notícia! Temos uma grande notícia!
Um dos problemas que me atormentaram a noite inteira havia sido resolvido.
Bem, não completamente, mas metade dele.
— A guerra acabou!
Para ser mais preciso, um cessar-fogo foi declarado.
Cessar-fogo.
Ou seja, as duas forças em conflito chegaram a um acordo para pausar a guerra por um período determinado.
Para falar a verdade, porém, era difícil chamar o acordo atual de um cessar-fogo real, já que aparentemente foi forçado.
Os noarkianos repetiram as ações que tomaram ao fortificar Bifron e se entrincheiraram novamente.
Com a morte do marquês, Trovão roubado e a linha de batalha no Distrito 4 sendo empurrada para trás, essa foi uma decisão que eles foram forçados a tomar.
Ainda assim, era engraçado. Da perspectiva de Noark, foram obrigados a se esconder em sua fortaleza, sem outra opção. Mas da perspectiva do palácio, a história era completamente diferente.
Depois de perder Bifron, o Distrito 4 foi tomado, e agora temiam que a capital imperial pudesse ser ocupada no próximo ataque. Esse medo não era restrito apenas à população ignorante, mas compartilhado até mesmo pelos nobres mais instruídos.
“Bem, mesmo sem isso, a situação já era crítica.”
Afinal, o que aconteceu da última vez que Bifron foi tomada? O palácio argumentou que não podíamos permitir que Noark obtivesse mais recursos, e o labirinto foi fechado. O preço das mercadorias disparou, e o número de civis famintos aumentou. O palácio sabia disso e implementou medidas de guerra, como a suspensão da cobrança de impostos. Agora, aqui estávamos, com a guerra temporariamente pausada.
“Ficamos um ano sem minerar pedras de mana, e como o restante do financiamento foi subsidiado pelo tesouro real, até mesmo o palácio deve ter ficado sem margem de manobra.”
Eu sequer conseguia imaginar como as coisas se desenrolariam daqui para frente.
Mas, no momento, isso não era algo com que eu precisava me preocupar.
— Chefe! O chefe voltou!
Com a crise imediata parcialmente resolvida, reuni meus aliados e os corpos dos caídos e voltei para a terra sagrada.
— Você voltou? Como estava a situação lá fora? A guerra realmente acabou?
Shavin Emoor, que gerenciou a terra sagrada enquanto eu estive fora, me bombardeou com perguntas assim que me viu.
Eu não podia culpá-la. Apenas graças ao meu título de barão eu sabia exatamente o que esse ‘cessar-fogo’ significava.
A maioria das pessoas dependia de boatos e rumores.
Naturalmente, Emoor não fazia ideia, já que permaneceu dentro da terra sagrada o tempo todo.
Por que a guerra acabou, como terminou e…
— Mas, espere?
E exatamente quem morreu.
— Não vejo o Sr. Rotmiller com você. Ele está na retaguarda?
Antes que as palavras pesadas pudessem deixar minha boca, olhei para minha palma mais uma vez. Mesmo sem ter lavado as mãos, as palavras haviam quase desaparecido.
Claro, só porque estavam desbotadas, não significava que eu não pudesse lê-las.
Aquelas palavras escritas na minha palma eram a verdade que ele não teve escolha senão rabiscar às pressas enquanto estava naquela carroça.
Por favor, seja gentil com a Srta. Shavin. Ela é uma boa mulher.
Jurei que as lembraria pelo resto da minha vida.
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