Capítulo 777: O Décimo Terceiro Mês (4/9)
Embora a oferta tenha vindo do nada, não era uma má proposta por si só.
Deixando de lado qualquer emoção e olhando apenas de forma realista, a ausência de Versyl havia deixado uma vaga em nosso clã para um mago. Claro, ainda tínhamos Lilith Marrone, mas quando retomássemos as expedições no futuro, o tamanho do clã exigiria que nos dividíssemos em pelo menos dois grupos, então definitivamente precisaríamos de mais magos.
E aqui estava Raven, se oferecendo por conta própria. Ela era uma maga de alto nível, e eu até tentei recrutá-la algumas vezes no passado.
“É claro que vou aceitá-la…”
Mas ainda precisava confirmar uma coisa. Independentemente de ela entrar no clã ou não, eu a considerava uma aliada antes de tudo.
— O que é isso, exatamente? — perguntei gentilmente, deixando de lado o assunto do recrutamento por um momento. — Você… Você está bem?
Talvez fosse porque eu tinha acabado de ouvi-la falar sobre a perda de seu mestre. A mudança repentina de ideia me preocupava.
— Estou bem.
— Então por que está dizendo de repente que quer sair das tropas mágicas…?
Raven hesitou por um momento, parecendo ponderar o que dizer, antes de finalmente responder, amarga — Quero vingança. Com minhas próprias mãos.
— Vingança? Você quer dizer… contra quem matou seu mestre?
— Sim.
“Entendi…”
Era uma motivação compreensível. Não havia muito que os que ficavam para trás pudessem fazer.
— Quem foi? — perguntei.
— Um dos membros da Orcules. Ele se revelou pela primeira vez nesta guerra, e ainda não fez um nome para si.
Ela continuou explicando o pouco que se sabia sobre ele, mas que era extremamente habilidoso, habilidoso demais para ser um novo membro, e que parecia ocupar uma posição elevada dentro da Orcules.
“Um super novato que surgiu do nada…”
Não perdi tempo me perguntando de onde alguém assim poderia ter vindo. Eu já sabia a resposta.
“Igual aos que nos perseguiram na Expedição ao Rochedo Gélido.”
No passado, Noark gastou mais de um ano tentando limpar o oitavo andar, um processo que criou muitos aventureiros de alto nível em um curto período de tempo. Eles usaram essências de alto nível, até mesmo de segundo nível, e demonstraram um poder de fogo esmagador. Claro, suas construções não eram equilibradas, pois não possuíam essências de nível baixo.
De qualquer forma, quem quer que tenha matado o mestre de Raven provavelmente foi criado da mesma forma.
Suspirei e falei com clareza.
— Raven, se vingança é seu objetivo, então acho que você deveria continuar nas tropas mágicas. Nossa prioridade máxima é a sobrevivência. Se o palácio nos mandar para a linha de frente, eu vou fazer o possível para evitar isso. Entende?
— Entendo. Mas não vou mudar de ideia.
O quê?
— Você estava tentando evitar o combate, mas mesmo assim teve que lutar bastante, certo? Até mesmo contra o Olho Demoníaco.
— Uh… Acho que sim, mas…
— Minha intuição está me dizendo que, se eu entrar para o seu grupo, terei uma chance melhor de conseguir minha vingança. E muito mais rápido também. — Tentei dizer algo, mas Raven ergueu a mão para me interromper. — E se eu ficar nas tropas mágicas, terei que seguir as ordens dos superiores, certo? Mesmo que ele apareça, se eu não receber a ordem, não poderei fazer nada além de esperar sentada. Então… que tal?
Não tinha como rebater o raciocínio de Raven depois disso. Tampouco conseguia encontrar um motivo para recusá-la.
Bem, exceto por uma coisa. As palavras que Lyranne Vivian me deixou.
— E-Eu não sei se você sabe, mas há uma magia negra de Primeiro Nível chamada Visão do Futuro, e eu a usei.
Ela me disse que usou Visão do Futuro para ver que, no dia em que a capital imperial de Karnon queimaria, Raven me trairia. No fim, o Palácio da Glória foi destruído por Trovão, mas Karnon nunca chegou a queimar.
“Raven me traindo…”
Se o que Vivian disse era verdade, colocar Raven no clã poderia ser perigoso.
“Não… Acho que isso não mudaria nada.”
Percebi que, se fosse acontecer de qualquer forma, então não importava se eu a aceitasse no clã ou não.
— Certo — disse finalmente. — Você pode entrar. Então vá e entregue sua carta de demissão às tropas mágicas primeiro.
— Vai levar cerca de um mês para resolver tudo.
— Sem problema. Nem sabemos quando o labirinto será reaberto.
E assim, o assunto do recrutamento de Raven foi encerrado.
Olhei para Missha, que já fazia algum tempo que exibia uma expressão de descontentamento.
— Você tem algum problema com a Raven entrando para o clã?
Ela se sobressaltou antes de balançar a cabeça rapidamente.
— Ahaha… De jeito nenhum! Aruru é uma grande maga! E-ela é sempre bem-vinda! Bem-vinda!
— Sério…? — Mas então por que sua risada parecia tão forçada?
A encarei, desconfiado, e Missha sacudiu as mãos, como se quisesse afastar qualquer suspeita.
— Eu realmente não estou nervosa ou preocupada! De verdade!
Nervosa e preocupada…
“Mas tenho certeza de que só perguntei se ela tinha algum problema com isso?”
Depois de terminarmos a refeição, conversamos por mais trinta minutos antes de sair. Não discutimos nada de muito notável além do recrutamento de Raven, mas se eu tivesse que destacar algo mais…
“Ele também tem algo acontecendo…”
Missha não foi a única a reagir estranhamente ao recrutamento da Raven.
O Senhor Urso olhou para Raven e para mim com uma expressão estranha. Parecia que queria dizer algo, mas nunca disse uma palavra, nem mesmo quando nos despedimos. Isso me deixou um pouco inquieto.
“Bem, se fosse algo importante, ele teria dito.”
Não podia simplesmente forçar a questão se ele não queria falar sobre isso. Decidi que revisitaria o assunto caso ele escolhesse compartilhar depois.
— Estamos um pouco atrasados, mas vamos para o próximo lugar!
— Eu guio até lá, então me diga o endereço.
— Mas isso não tem graça…
— Eficiência sempre vence a diversão. Agora, anda logo.
Depois da refeição, seguimos conforme o plano de Missha.
Fomos a uma oficina de cerâmica e tentamos fazer potes. Depois, assistimos a uma peça perto da praça e, em seguida, a um espetáculo de circo. E quando o dia chegou ao fim, fomos a um bar que também funcionava como pousada.
— Você… lembra desse lugar?
A pergunta da Missha veio enquanto terminávamos o jantar, e eu vasculhei minha memória.
— Viemos aqui há muito tempo — respondi.
Não por nada estranho. Viemos vender meu antigo equipamento de aventureiro e acabamos perdendo a última carruagem de volta, então tivemos que pagar uma quantia considerável para passar a noite aqui.
Os quartos tinham salas de estar separadas, dormitórios e banheiros. Muitas janelas, terraços, até Sabonetes Studio Artian1 e outros luxos. O estado impecável da pousada nos deu um choque cultural, e decidimos que, no futuro, precisaríamos ganhar mais dinheiro.
— Hm, Bjorn…?
— O que foi?
— Devíamos dormir aqui esta noite? Já está tarde, e isso me lembra dos velhos tempos…
Do que ela estava falando?
— Não brinque com isso — respondi com firmeza, sem querer correr riscos de mal-entendidos.
Claro, Missha provavelmente só queria dormir aqui, mas eu não podia fazer isso com ela. Talvez se nunca tivesse existido nada entre nós, mas, do jeito que as coisas estavam, duvidava que conseguiria dormir tranquilamente.
— Uh… Eu não estava brincando…
— Não importa. Vamos para casa.
E assim terminamos nosso passeio e voltamos para a terra sagrada.
Demoramos um bom tempo para chegar, e passei esse tempo refletindo sobre os passeios de ontem e hoje, notando algumas diferenças entre eles.
Meu passeio com Amelia foi mais como uma fuga, um momento de liberdade, tempo para mim mesmo… Frases como essas descreviam bem.
Já o passeio com Missha foi sobre memórias e conexões com outras pessoas.
Talvez a diferença estivesse simplesmente na forma como cada uma delas lidava com o estresse. Uma se curava estando sozinha, enquanto a outra se curava rindo e conversando com os outros.
Bem, era engraçado que elas achassem que podiam aplicar a mesma abordagem comigo.
“São como crianças às vezes.”
Crianças pequenas agem assim. Quando a mãe está triste, elas oferecem algo que gostam para ela, um brinquedo, um doce. Mas, no fim das contas, o que alegra a mãe não é o presente, e sim o gesto de carinho.
Thwack!
— Ahhh! Por que você me bateu, seu bárbaro?!
Agora sim, isso parecia com os velhos tempos.
Sorri e disse a ela o que realmente sentia.
— Obrigado pelo dia de hoje.
— Eh? Obrigado?
— Você se esforçou hoje e me trouxe para sair porque achou que eu estaria triste.
— Ok, mas se está agradecido, por que me deu um tapa nas costas?
— Não se preocupe com detalhes pequenos. De qualquer forma, obrigado.
— Bem… Isso é um alívio de ouvir… — Houve um momento de silêncio antes da Missha falar novamente, com cautela. — Mas, hm… Foi tão óbvio assim?
Queria perguntar se ela realmente achava que não estava sendo óbvia, mas me contive.
— Entra logo e dorme. Está frio, puxa o cobertor.
— Tanto faz. Vou entrar primeiro.
— Ah… Certo! Durma bem!
Depois de nos separarmos, entrei, tomei um banho rápido, troquei de roupa e me deitei na cama. No entanto, o sono não veio, e acabei saindo para caminhar, como na noite anterior.
Por acaso, parei no mesmo lugar de antes.
Brown Rotmiller
Versyl Gowland
James Calla
Diante dos túmulos dos três aliados que perdi na guerra.
Diferente de ontem, não vi o anão com sua bebida. Também não vi Shavin ou Sven Parav, que às vezes apareciam por aqui.
Soltei um suspiro e me mexi, desconfortável. Era estranho estar ali sozinho pela primeira vez? Não que isso fosse ruim.
Whoosh!
Senti o vento frio na pele e me sentei em silêncio diante das lápides por um tempo.
Diferente do anão, não tirei nenhuma garrafa de bebida. O álcool embota os sentidos e faz perder a noção da realidade. Além disso, nunca fui do tipo que bebe sozinho. Preferia beber quando estivesse me divertindo com amigos.
“Mas um cigarro… Talvez fosse uma boa ideia.”
Enquanto apenas respirava o ar frio da noite, um pensamento sobre cigarros me atravessou a mente. Nunca fumei na vida.
“Se soubesse que acabaria me tornando um bárbaro, teria fumado pelo menos uma vez.”
— Ei…
De repente, quis perguntar para aqueles que partiram primeiro.
O que vocês queriam fazer acima de qualquer coisa? O que lhes despertava curiosidade? O que lamentaram no final?
“Bem, isso não vai mudar nada agora…”
Eles já se foram.
Rotmiller teve uma chance de deixar algo para trás, mas os outros dois nem isso tiveram. E por causa disso, eu não fazia ideia do que deveria fazer agora.
Soltei outro suspiro profundo.
Tudo parecia sufocante.
Toda vez que eu desviava de uma pergunta difícil, outra que eu vinha evitando há tempos surgia diante de mim.
⟅Um espírito maligno de outro mundo… após perder três de seus aliados, perceberá o caminho que deve seguir…⟆
Isso foi o que a Pedra dos Registros escreveu sobre meu destino, mas, na realidade, eu não tinha percebido nada.
“Decidir que Baekho Lee era meu inimigo?”
Era esse o caminho que a Pedra dos Registros mencionava?
Quanto mais pensava nisso, menos parecia ser a resposta certa.
“Então, tornar-me rei, como o marquês disse?”
Hmm, isso também não fazia sentido para mim. No máximo, era uma fantasia, algo que eu poderia desejar alcançar num futuro distante. Não era uma realização, nem uma resolução.
“Então, o que é, afinal?”
Fiquei ali sentado diante do túmulo sombrio, repetindo a pergunta sem encontrar respostas, enquanto a única coisa que me alcançava era o vento frio da noite.
- Cap. 72[↩]
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