Capítulo 778: O Décimo Terceiro Mês (5/9)
Qual era o caminho que eu deveria seguir?
Ainda não encontrei a resposta para essa pergunta, e, no entanto, aqui estava eu, caminhando por um caminho de qualquer forma. Um caminho que não me levava de volta à terra sagrada dos bárbaros, mas sim à terra sagrada de outra raça.
Embora o estilo geral das construções não fosse muito diferente do da cidade, de alguma forma, elas se mesclavam perfeitamente com a natureza ao redor.
Com uma leve inclinação da cabeça, pude ver onde estava ao avistar a imensa árvore à distância.
A terra sagrada dos elfos, Varharium.
Naturalmente, as pessoas aqui também estavam aproveitando o clima festivo, mas sua celebração era bem diferente da dos bárbaros. Como era um festival, não era exatamente silencioso, mas havia uma sensação de ordem em tudo.
Começava com a música de fundo. Os bárbaros geralmente usavam instrumentos de percussão, como tambores, enquanto aqui o ambiente era preenchido pelos sons suaves e cristalinos das cordas.
“Também não tem ninguém brigando…”
Hmm, isso era apenas uma diferença cultural?
Era interessante ver o festival de outra raça. No entanto, Erwen, que caminhava comigo pela rua, parecia bem acostumada com ele.
— Senhor! Não é um lugar incrível? Nada aqui tem cheiro de queimado! — Erwen exclamou, mais animada com esse fato do que com o festival em si.
Bem, não que eu discordasse.
— O ar realmente está limpo… Como conseguiram isso?
Apesar dos festivais acontecendo, o grande incêndio no Distrito 8 ainda fazia com que o cheiro de fumaça impregnasse toda a cidade. O Distrito 5 tinha um círculo mágico de purificação do ar funcionando o tempo todo, mas mesmo isso não conseguia eliminar o cheiro. Então como o ar aqui estava tão puro?
Erwen apontou para a árvore à distância.
— Tudo graças ao Senhor Árvore Divina ali. Os de fora não sabem, mas o Senhor Árvore Divina tem o poder da purificação.
Agora que ela mencionava, eu me lembrava de algo sobre isso.
— Mas chega de olhar ao redor, vamos logo para lá — disse Erwen com firmeza.
— Hmm? Não viemos aqui para o festival?
— O quê? Por que eu faria isso? Não tem nada para fazer num festival chato desses…
— Então por que viemos?
— Apenas me siga!
Erwen disparou à frente, mas como ainda estávamos perto da entrada da terra sagrada, não tivemos escolha a não ser passar por mais ruas lotadas do festival.
— É a Espírito de Sangue…
— Quem é esse humano ao lado dela?
— Um homem que pode caminhar ao lado da Espírito de Sangue… É o Barão Yandel?
— Não é pequeno demais para ser ele?
Diferente do festival na cidade, aqui nós éramos o centro das atenções onde quer que fôssemos, apesar da minha aparência alterada. Havia o fato de que outras raças eram raras na terra sagrada dos elfos, mas o principal motivo era a pessoa ao meu lado, famosa demais para passar despercebida.
— Que mulher venenosa.
— Abandonou seu dever como sangue puro para correr atrás de um homem, não foi?
— Que audácia, mostrar o rosto aqui depois de virar as costas para o próprio povo…
Os sussurros cortavam o ar, todos mirando Erwen.
Traidora, serpente, vergonha da raça…
“Então é por isso que ela não vinha visitando a terra sagrada ultimamente…”
Uma chuva de ataques verbais foi lançada contra ela de todas as direções.
Eu estava debatendo se deveria dizer algo quando senti Erwen segurar minha manga.
— Vamos continuar andando…
Hah, sim. Não fazia sentido eu agir se ela mesma estava escolhendo se manter em silêncio.
Me contive o máximo que pude e continuei seguindo a Erwen.
— Tsc, olha só isso.
Alguns diziam que os elfos eram todos honestos e gentis, enquanto outros afirmavam que eram incapazes da crueldade tão comum entre os humanos. Mas nada disso importava para mim.
Não importava quem fosse, se falasse desse jeito na minha frente, levaria um soco.
— Olha como ela segura a mão daquele homem. Parece uma dessas vadias do distrito da luz ve…
— Behelaaah!
Desativei os efeitos do Traje Escarlate de Gala e soltei um grito enquanto ativava União e Gigantificação ao mesmo tempo.
【Você usou Explosão Selvagem.】
【Seu nível de ameaça aumenta temporariamente em três vezes, e seus atributos físicos aumentam proporcionalmente ao nível de ameaça.】
Meu nível de ameaça também foi amplificado pela Explosão Selvagem.
O grito que soltei ecoou no ar, e nada dentro de um raio de cinquenta metros ousou se mover. As dezenas de pessoas ao redor congelaram no lugar, como se fossem morrer caso fizessem qualquer movimento.
Era irônico. Eu nem sequer usei um atordoamento, apenas aumentei minha presença.
“Se vocês iam agir assim, de onde veio tanta confiança para falar esse tipo de coisa?”
Não entendi, mas sabia que esse comportamento inexplicável era a prova de que os elfos também eram pessoas.
Felizmente, a maior especialidade dos bárbaros era lidar com outras pessoas.
Boom!
Caminhei adiante, empurrando levemente a multidão petrificada, até parar diante de um elfo de meia-idade que me olhava com puro terror.
— Eu…
Parecia que ele queria dizer algo, mas o medo estrangulou suas palavras antes que pudessem sair.
Falei diretamente para ele.
— Repete isso. O que você disse sobre minha aliada?
Nenhuma resposta.
Era melhor assim. Se ele realmente repetisse, minha mão poderia se mover antes que meu cérebro percebesse.
Ainda assim, notando que ele tinha um mínimo de instinto de sobrevivência, lhe dei um conselho.
— Se quiser uma vida longa, é melhor manter essa boca fechada.
— E-Eu… Eu farei isso. — O elfo acenou freneticamente com a cabeça ao receber uma saída, e a situação terminou ali.
Erwen se aproximou cuidadosamente antes de me puxar pela manga novamente. — Senhor…
Mais sussurros se esgueirava por trás de nós.
— Maldição.
— Por que aquele homem está aqui?
— Mas… Será que é certo ele fazer isso na terra sagrada de outro povo?
— Que ignorante… Ele nem se preocupa se isso pode afetar as relações diplomáticas…
— Não liga para eles — disse Erwen, presumindo que eu também responderia. — Vamos continuar. Rápido.
— Certo.
Ela me guiou para longe, me fazendo sentir como um valentão de escola tentando bancar o durão na frente da namorada. Mas não me arrependi.
Foram eles que erraram primeiro. Por que eu deveria me sentir mal com isso? Se iam dizer algo tão insultante diante de um bárbaro, deviam estar prontos para as consequências.
— Mas parece que ele cuida dela porque ela é sua mulher.
— A Espírito de Sangue também é bem peculiar. O que ela vê em um bárbaro como aquele?
“Argh, sério. Parem.”
Senti um verdadeiro pesar pela Erwen, mas parei de segui-la e me virei para encarar as pessoas ao redor. Assim que o fiz, todos interromperam suas conversas e tentaram evitar meu olhar.
“Estão dizendo isso para ela por minha causa. Não posso simplesmente ignorar.”
Tomando uma decisão rápida, ergui a voz para que todos ouvissem:
— Escutem bem! Eu juro neste lugar, com toda a honra que possuo! Eu, Bjorn, filho de Yandel, nunca dormi com Erwen Fornacci di Tersia!
Gritei na esperança de não ouvir mais besteiras da multidão, mas percebi tarde demais que tinha dito isso de um jeito estranho e precisei me corrigir.
— Oh! Deixem-me esclarecer, nós nunca dormimos juntos ‘juntos’! Apenas… Apenas dormimos, sem fazer aquilo! Juro pela honra da minha mãe e do meu pai!
A declaração sincera de um bárbaro. Mas hmm, por que todo mundo ficou quieto? Será que não fui direto o suficiente ao dizer que também não faria isso com ela no futuro? Mas dizer isso abertamente era um pouco demais, até para mim…
— Oh, uh, hm…
Por um instante, até considerei a opção extrema de tirar aquela boneca de novo, mas descartei a ideia imediatamente.
Fui direto para o Plano B.
— E-Erwen é virgem!
Claro, essa também não era a melhor forma de dizer isso. Segundo a teoria da mecânica quântica, como eu nunca presenciei o ato, duas realidades paralelas coexistiam ao mesmo tempo.
— P-Provavelmente…!
Sim, isso provavelmente deu certo.
Depois dessa declaração chocante, um silêncio absoluto tomou conta da rua.
— V-Vamos sair daqui! — gaguejei, segurando o pulso de Erwen para sairmos correndo. Algo me dizia que eu tinha acabado de cometer um grande erro.
— Uh, Erwen…? — perguntei quando já estávamos longe. — Eu não queria que as coisas terminassem assim…
— Não, está tudo bem. Não precisa tentar se explicar.
— Mas…
— Eu disse que está bem.
Hmm, ela estava mesmo bem? Se fosse Missha ou Amelia, eu já teria sido atacado agora. Mas não ouvi nenhuma raiva na voz dela.
— Na verdade, sou grata. Você fez isso por mim, certo? — perguntou.
— Ah… S-Sim?
— Então está tudo bem. Mas… feriu um pouco meu orgulho.
Não tive nada para responder a isso.
Então, rapidamente mudei de assunto.
— Por que não tem ninguém por aqui?
Depois de sair da rua principal, nos encontramos no meio da floresta.
— Aqui não é um distrito residencial ou comercial. Durante o festival, quase ninguém vem para cá.
— Entendi…
— Mas de qualquer forma, era para cá que estávamos indo. Vamos?
— Claro!
Ao entrar na floresta, Erwen diminuiu o ritmo da caminhada, e a coisa acabou se tornando mais uma trilha a pé.
“Mas para onde exatamente estamos indo?”
Essa pergunta apareceu tardiamente na minha mente, mas decidi perguntar outra coisa primeiro.
— Então… Erwen?
— Sim?
— Isso acontece com frequência?
— Ah, aquilo? Bem, não tem como evitar. Mesmo depois de receber o Sangue Puro, eu não me dediquei ao meu povo…
Certo, então a resposta era sim.
Rapidamente, fiz mais uma pergunta, apesar de saber que talvez fosse algo que Erwen não quisesse ouvir.
— Existem pessoas que dizem que precisam te matar para passar o Sangue Puro para outra pessoa?
— Sei que algumas pessoas pensam assim… Dado o momento em que estamos, precisamos desse poder mais do que nunca. Mas não se preocupe com isso. Graças a você, até os anciãos não podem dizer muita coisa para mim.
— Entendi…
Olhei para Erwen, que me lançou um sorriso meio sem jeito, como se quisesse me tranquilizar.
“Talvez eu precise resolver esse problema antes que piore…”
Obviamente, não podíamos devolver o Sangue Puro, então ou eu precisaria oferecer algo de valor equivalente, ou colocar os elfos em dívida comigo ajudando-os em um momento de crise.
— Para onde estamos indo? — perguntei.
— Ah, está logo ali.
— Certo.
Embora eu não soubesse qual era o destino, o fato de Erwen ter me trazido à terra sagrada mesmo passando por aquela recepção significava que havia um bom motivo. Resolvi não perguntar mais nada e apenas apreciar o ambiente ao redor.
Enquanto fazia isso, notei algo interessante.
— Este lugar… Não é uma floresta comum.
Os lábios de Erwen tremeram em um sorriso sem graça.
— Ah… Você percebeu?
— Existem círculos mágicos desenhados nas árvores, o solo é mais macio, dificultando correr, e há estruturas nos galhos que facilitam atacar quem está abaixo. Isso é uma estrutura defensiva?
— Sim. Ou, pelo menos, é agora.
— Agora?
— No passado, esta área também era um distrito residencial. Depois de uma invasão, a terra sagrada foi reduzida a cinzas, e esse lugar foi reconstruído junto com ela.
Uma invasão. Não precisei perguntar qual era o evento.
Ela estava falando do incidente do Matador de Dragões.
Pelo que ouvi, foi nessa época que Erwen também perdeu os pais.
— Nós morávamos aqui… Ainda se parece tanto com o que era antes, mas também mudou muito.
— M-Mudou?
Ela riu baixinho. — Vamos parar de falar disso e continuar andando.
Me perguntei se havia cometido um erro trazendo o assunto à tona, mas não havia mais o que fazer. Depois de caminharmos mais um pouco, finalmente chegamos ao nosso destino, uma pequena casa construída em frente a um lago.
— Esta é minha casa. O lugar onde eu, minha irmã mais velha e minha irmã mais nova morávamos. Bem, não que eu ou minha irmã mais velha moremos mais aqui.
— Então está abandonada?
— Não, minha irmã mais nova ainda vive aqui. O motivo pelo qual passei por tudo aquilo para te trazer até aqui foi por causa dela…
— Você me trouxe aqui por causa da sua irmã?
Pelo que eu lembrava, Erwen não tinha um bom relacionamento com sua irmã mais nova. Depois que Daria morreu e eu desapareci, Erwen se afastou de casa e focou apenas em sua vingança. Foi nessa época que ela ganhou o título de Espírito de Sangue.
— Depois que voltamos do primeiro andar subterrâneo, comecei a visitá-la com frequência. Nosso relacionamento melhorou um pouco… Mas ela está muito curiosa sobre você, senhor.
Hmm, acho que já entendi o que era isso.
— Então ela está preocupada que eu seja um esquisito.
— Bem… Existe uma certa visão pré-concebida sobre você ser um bárbaro… Me desculpe.
— Isso não é algo pelo qual você precise se desculpar. Na verdade, o erro foi meu.
— Como assim?
— Sua família é minha família, e só agora estou conhecendo sua irmã. Ela está lá dentro? Vamos logo.
Não importava que tipo de pessoa a irmã dela fosse, eu precisava conhecê-la o mais rápido possível e sair antes que as notícias do que aconteceu na cidade chegassem até ela.
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