Índice de Capítulo

    A irmã mais nova de Erwen não era nada do que eu tinha imaginado.

    Daria e Erwen, as irmãs mais velhas, eram altas e esguias, então eu esperava que a terceira irmã fosse o mesmo.

    “Mas ela é pequena.”

    Ela mal chegava a um metro e meio de altura, talvez até um pouco mais baixa que Raven. O que diferenciava a maga da elfa à minha frente, no entanto, era sua expressão fria.

    Ela não era gordinha de forma alguma, mas ainda carregava um pouco do peso da infância.

    “Ela parece fofinha, mas provavelmente não posso cutucá-la sem deixá-la irritada, né?”

    De qualquer forma, essa garota pequena não parecia nem um pouco uma jovem de vinte e um anos. Essa foi minha primeira impressão da irmã mais nova de Erwen.

    — Esse olhar dele… Não gosto disso.

    Acabei me encolhendo sem perceber.

    “Ela é do tipo direta e honesta? Com essa aparência?”

    Era um tipo raro de se ver na vida real, mas isso não era o mais importante agora.

    — N-Não fale assim. Aqui, quer se apresentar primeiro? — Erwen sugeriu gentilmente.

    A pequena elfa inflou as bochechas e revelou seu nome.

    — May Forwin di Tersia.

    — Eu sou Bjorn, filho de Yandel. É um prazer conhecê-la, May.

    Eu me preocupava que ela não gostasse que eu dissesse seu nome ou algo assim, mas felizmente, May não reclamou. Aparentemente, estava considerando seu comportamento já que eu era um aliado de sua irmã.

    Embora eu não soubesse exatamente o que se passava em sua cabeça, como um adulto e veterano em anos de aventura, continuei a conversa.

    — May, quantas vezes você já entrou no labirinto?

    — Quatro vezes. Mas então o labirinto foi fechado e não pude mais entrar.

    — Isso deve ter sido frustrante.

    — Nem um pouco… Não há nada de bom em ir para o labirinto.

    — Hã?

    Isso foi inesperado. Presumi que, na idade dela, ela teria interesse em se tornar uma aventureira, e achei que começar a conversa por esse lado seria o melhor para nós dois. Mas sua reação não foi de irritação, e sim de genuíno desprezo pela vida de aventureira.

    — Você… não quer se tornar uma aventureira? — perguntei.

    — Não.

    — Por quê?

    — Por que eu iria querer? Você tem que dormir em lugares sujos, frios e duros todos os dias. A comida é horrível. E tem que passar tempo com outras pessoas, gostando delas ou não…

    Hmm, ela não estava errada.

    Pensando bem, se alguém não precisasse de muito dinheiro ou não tivesse um objetivo específico, não havia grandes razões para se tornar um aventureiro. Era por isso que tão poucos nobres seguiam esse caminho.

    — E o labirinto sempre tira algo de nós… Seria melhor se ele não existisse.

    Como alguém que conhecia a história da família de Erwen, não havia nada que eu pudesse dizer para responder a esse desabafo da garota.

    — Haha, mas ainda assim, alguém precisa entrar lá, certo? — Erwen disse animadamente. — A razão pela qual podemos comer, dormir e vestir o que queremos é graças às pedras de mana que conseguimos no labirinto…

    — Eu sei.

    Erwen parecia não saber o que fazer diante da resposta fria de May. Tive a sensação de que suas transgressões passadas contra sua irmã mais nova significavam que Erwen não podia se dar ao luxo de ser dura com essa pequena criança chamada May.

    No entanto, toda conversa nasce da experiência.

    “Estou acostumado a lidar com crianças assim.”

    Com isso, decidi primeiro atraí-la com algo que despertasse seu interesse. Havia uma grande chance de que ela não se importasse com algo grandioso demais, então escolhi um tópico que fosse mais próximo a ela.

    — Diga, Erwen. Você já contou para ela a história de quando nos conhecemos?

    — Eh? Ah, um pouco. Bem… Naquela época, eu estava em apuros… o Se-Senhor. Yandel me ajudou…

    — Senhor Yandel?

    — Haha… O q-que foi, Senhor Yandel?

    Erwen me lançou outro sorriso sem jeito. Não demorei a entender o que estava acontecendo.

    “Ela está com vergonha de me chamar assim na frente da irmã.”

    Bem, era verdade que ‘Senhor’ havia se tornado mais um apelido a essa altura. E como estávamos aqui para mostrar que eu não era um esquisito, chamando-me só de ‘Senhor’ poderia ser um erro.

    — Tem algo que não me contaram? — May perguntou. Parecia que havia se interessado no assunto ao perceber que talvez houvesse algo sobre o meu primeiro encontro com Erwen que não sabia.

    — Bem, não sei quanto ela te contou… — provoquei, deixando a frase no ar. — Hmm, quer ouvir a história?

    A garota hesitou.

    — Então eu vou contar.

    A partir desse ponto, foi fácil.

    Comecei com meu primeiro encontro com Erwen e continuei contando em ordem todas as aventuras que tivemos. No entanto, ela logo percebeu as lacunas que eu estava deixando.

    — E a Floresta dos Goblins?

    May pediu que eu contasse tudo. Embora muitas coisas tenham acontecido lá, eu sabia que o que ela queria saber era sobre quando a irmã mais velha, Daria, morreu.

    — Pode me contar — insistiu. — Eu já sei a maior parte do que aconteceu.

    Olhei para Erwen, buscando sua permissão, e ela assentiu. Então, contei a história calmamente.

    Foi um relato mais longo e detalhado do que qualquer outro capítulo de nossas aventuras, mas não foi difícil resumir toda a situação em uma única frase:

    Daria salvou sua irmã mais nova, Erwen, e morreu no processo.

    Infelizmente, a sessão de contos bárbaros terminou ali.

    May ficou em silêncio por um longo tempo depois da história, e Erwen e eu esperamos pacientemente até que ela falasse.

    — Se o labirinto não existisse… — murmurou, finalmente. — Daria ainda estaria aqui comigo…

    Apenas concordei com ela. — Talvez fosse esse o caso.

    Se Daria não tivesse se tornado uma aventureira, provavelmente não teria morrido daquela maneira. Mas, em troca, não teria estado lá para proteger Erwen quando ela estava em perigo.

    — Por que todo mundo é tão obcecado pelo labirinto?

    Respondi a próxima pergunta de May de forma simples. — Porque a cidade não é diferente. Eles entram no labirinto porque não querem mais ser roubados. Porque a cidade os tira algo todos os dias.

    Daria e Erwen sabiam disso muito bem. Foi por isso que as duas se tornaram aventureiras.

    Para não terem mais nada tirado delas. Para proteger aqueles que lhes eram preciosos.

    — Não foi por esse motivo que você se tornou aventureira, mesmo dizendo que odeia isso?

    May não disse nada.

    Pela sua expressão, percebi que concordava comigo de alguma forma, mas não queria admitir.

    “Eu entendo. Na idade dela, é difícil saber o que você está sentindo.”

    Não cabia a mim dizer algo assim para May. Eu também não sabia quais eram meus verdadeiros sentimentos sobre minha situação atual.

    Dei um sorriso de lado e lhe dei um conselho em vez disso.

    — May Forwin di Tersia. O labirinto abrirá novamente em breve, então tente entrar lá de novo. Você perceberá que coisas ruins não são as únicas que acontecem no labirinto.

    Um longo período de silêncio se seguiu mais uma vez antes que ela desse sua resposta.

    — Será que vou mesmo…?

    Respondi sem um momento de hesitação.

    — Claro.

    Porque foi o mesmo para mim.


    Erwen, May e eu conversamos sobre muitas coisas para passar o tempo, e, através disso, comecei a entender melhor a dinâmica entre as duas irmãs.

    — Quer mais biscoitos? Eu trouxe alguns daquela padaria famosa da…

    — Não, estou bem.

    Sempre que Erwen tentava fazer algo por May, May tentava recusar.

    Elas estavam longe de serem uma família unida.

    “Isso é sufocante…”

    Eu podia ver claramente que se importavam uma com a outra. Então, por que se tratavam assim?

    Era frustrante para mim, mas não havia muito que pudesse fazer. Eu não tinha experiência suficiente para dar conselhos sobre relações familiares.

    “Vou apenas observar por enquanto.”

    Tomei essa posição e continuei ouvindo.

    Um tempo depois, alguém bateu à porta.

    — May, você está aí? — veio a voz de um homem.

    Soava familiar de alguma forma…

    — Ah, tio!

    May se levantou imediatamente e foi até a porta, e Erwen exibiu um sorriso estranho ao ver isso. Ela também havia notado. A reação de May era completamente diferente de quando a cumprimentou.

    — May, tem estado bem?

    — Heh, você nem ficou fora por tanto tempo assim.

    — Haha… Mas eu não consigo evitar de me preocupar, mesmo que tenha sido só por algumas horas.

    O elfo acariciou a cabeça de May com um sorriso paternal antes de se virar para mim e cumprimentar.

    — Já faz um tempo, Barão Yandel.

    Felizmente, eu já o conhecia.

    — Sim, faz um tempo, Beleg Shucia di Tersia.

    O aventureiro considerado um herói entre os elfos, e o irmão da mãe de Erwen.

    Eu o havia cumprimentado brevemente na última vez que compareci à Cúpula das Raças.

    — A propósito, ouvi que você veio com Erwen… Então é verdade.

    — Você estava me procurando?

    — De certa forma. Eu teria vindo aqui de qualquer forma. Minha sobrinha preciosa voltou para casa depois de tanto tempo. Erwen, tem estado bem?

    — Sim…

    — Fico feliz em ouvir isso. Posso me sentar?

    — Faça o que quiser. A casa não é minha.

    Dei de ombros, e Beleg sorriu antes de se sentar de frente para mim.

    — Ouvi a história do que aconteceu na cidade enquanto vinha para cá.

    Involuntariamente, estremeci.

    “Quero dizer, ele é o tio da Erwen.”

    — Entendo suas intenções ao fazer aquilo… Mas precisava ser daquela maneira?

    — Não tenho nada a dizer.

    Quando abaixei a cabeça, envergonhado, foi Erwen quem me defendeu.

    — Tio, estou bem… — disse. — Na verdade, até agradeci a ele.

    Era uma sensação que eu não sentia há muito tempo como um bárbaro tanque.

    A sensação de ser protegido por alguém.

    — O que aconteceu?

    May arregalou os olhos, mas nenhum de nós respondeu.

    — Vou sair um pouco — disse ela, captando a deixa. — Vocês podem continuar conversando.

    May saiu da casa, nos dando privacidade para falar, e a tensão se dissipou um pouco.

    — Ela é uma boa criança — Beleg comentou, virando-se para mim.

    — Parece que sim. Também me lembra sua irmã mais velha.

    — Não estou falando da May. Estou falando da Erwen.

    Pisquei. — Oh…?

    — Então, por favor, cuide bem dela. Não importa como você tente explicar a situação, ela não terá outra chance de se casar com alguém. Então, assuma a responsabilidade e…

    — T-Tio! — Erwen gritou. — O que está falando?!

    — Erwen, não sei o que você pensa de mim, mas sou o guardião seu e de May. Preciso dizer as coisas que devem ser ditas. Não é verdade?

    Não havia nada que eu pudesse responder além disso.

    — I-Isso é verdade.

    — E imagino que você tenha entendido perfeitamente o que quis dizer?

    — C-Claro.

    — Então fico aliviado. Por favor, não leve isso para o lado pessoal, apenas tome essas palavras como um conselho de um adulto que ama e se preocupa muito com Erwen.

    Não tive escolha senão assentir em silêncio, e, felizmente, Beleg não me pressionou mais sobre o assunto. A conversa então seguiu para tópicos mais comuns.

    — Beleg, quero te perguntar uma coisa. A opinião pública dela está ruim porque ela saiu da unidade de forças especiais?

    — Não posso nem mentir e dizer que está tudo bem, considerando as palavras que saem da boca de alguns anciãos.

    — Você deve ter se esforçado muito. Obrigado.

    — Apenas fiz o que deveria.

    — Quero ajudar um pouco também. Pode me falar sobre a estrutura de poder dos elfos?

    — Hmm… Claro. Não posso mais te considerar um forasteiro, de qualquer forma, Vossa Senhoria.

    Ele jogou algumas indiretas no meio da conversa para tentar me amarrar a algo, mas o papo com Beleg foi útil. Me ajudou a formular um esboço de um plano para restaurar a imagem pública de Erwen e, se eu elaborasse um plano mais detalhado…

    — Erwen, pode sair um momento?

    Hã?

    — Preciso conversar em particular com o barão. Só por um tempo.

    — Ok…

    Quando a conversa estava prestes a terminar, Beleg mandou Erwen para fora.

    Não consegui evitar ficar nervoso. Esse era o cara que falou sobre assumir a responsabilidade bem na frente da Erwen. O que ele queria me dizer agora, depois de tê-la mandado embora?

    — Diga logo. O que quer falar? — perguntei, cauteloso.

    Beleg hesitou por um momento antes de ir direto ao ponto.

    — Lorde Barão, ouvi dizer que você possui uma Pedra da Ressurreição.

    O assunto veio completamente do nada.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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