Índice de Capítulo

    Respirações pesadas infundidas com calor.

    Olhos ferozes, repletos de um espírito de batalha inabalável.

    Dedos tremendo e ombros sacudindo de excitação.

    O desejo bárbaro por imóveis era tão intenso quanto sempre fora. Ou melhor, tão intenso quanto desde que eu atiçara essa obsessão em nossa terra sagrada com a introdução do conceito de propriedade.

    A partir de então, a compreensão de que possuir uma casa equivalia a ser um grande guerreiro ficou gravada na mente de cada um deles. E essa — sabedoria comum — só se aprofundou com o tempo.

    Pensando bem, foi um resultado natural. A maioria dos bárbaros que viviam fora da terra sagrada costumava se estabelecer no distrito mais próximo, o Distrito 7. No entanto, tanto o Distrito 7 quanto o Distrito 8 haviam sido reduzidos a cinzas e escombros, e Kommelby, o próximo lugar viável para morar, ficou tão caro que os guerreiros não conseguiam pagar para viver lá.

    Ainda assim, enquanto o distrito seguinte, o Distrito 9, havia sobrevivido à guerra e, como resultado, era uma opção muito melhor do que o caro Kommelby…

    — S-Se eu tiver uma casa… não vou precisar dormir ao relento!

    — Agora custa cinco vezes mais para morar no Distrito 9!

    — Isso mesmo! E é tão longe da terra sagrada que não tenho amigos por lá!

    Na verdade, a maioria dos bárbaros havia voltado para a terra sagrada, forçados a viver em comunidades improvisadas, pouco melhores do que a completa indigência.

    A guerra havia desalojado inúmeras pessoas, criando um número absurdo de refugiados que lotavam todas as hospedarias da cidade. Com o preço dos quartos disparando e o labirinto ainda fechado, os guerreiros não tinham como pagar aluguel.

    “Eles ao menos conseguem se virar agora porque sabem trabalhar na construção…”

    A maioria dos guerreiros estava apenas conseguindo sobreviver com trabalhos braçais na cidade. E agora, uma casa estava sendo oferecida como prêmio?

    — E-Eu desafio ele primeiro!

    — Não! Eu! Eu vou desafiá-lo!

    As palavras explodiram dos guerreiros em ondas, espalhando rapidamente a notícia para todos os bárbaros na terra sagrada.

    “Se eu disser que não vou participar, a confiança deles em mim vai despencar. E…”

    Se eu fosse honesto comigo mesmo, a aprovação deles definitivamente influenciava minha decisão, mas acima de tudo, eu não queria ver meus guerreiros bárbaros desanimados quando devíamos estar celebrando.

    — Ainar — chamei.

    — N-Não! — ela rejeitou antes que eu pudesse dizer outra palavra. — Você tem que lutar contra eles! E-E Bjorn, você…! Você pode pelo menos nos dar um dia do seu tempo! Você é nosso chefe…!

    — Calma. Não estou dizendo que não vou fazer isso.

    — Hã? Espere, v-você vai mesmo?

    — Sim, mas vamos para outro lugar. O campo aqui é pequeno demais.

    — Oh, então podemos ir para o Campo da Provação!

    Com isso, nos deslocamos com todos os guerreiros para o Campo da Provação.

    “Faz um tempo desde que estive aqui…”

    O Campo da Provação era um enorme fosso no meio da floresta onde os guerreiros batalhavam nobremente entre si, e também o lugar onde eu ascendi ao posto de chefe.

    Soltei minha arma e ergui os punhos.

    — Certo, venham com tudo!

    O olhar nos olhos dos guerreiros mudou de determinação ansiosa para desafio orgulhoso. ‘Sabemos que estamos lutando porque há uma casa em jogo’, pareciam dizer, ‘mas lutar de mãos nuas? Você está nos subestimando?’

    — Nem mesmo o chefe pode vencer com as mãos vazias!

    — Cala a boca e luta!

    — Behel–LAAAH!

    E assim, a competição começou. Mesmo sem usar uma arma, nenhum dos guerreiros ousou pegar leve comigo.

    — O d-desafiante desta vez é Bellikta, filho de Ryuman!

    — O Caçador de Dragões Bellikta!

    — Whooo!

    Os guerreiros que haviam conquistado um nome dentro da tribo foram os primeiros a me desafiar, e eu os enfrentei com tudo que podia. Talvez nem precisasse dizer, mas…

    “Por que é tão difícil me fazer sangrar?”

    As lutas se prolongaram mais do que o esperado porque, embora meus oponentes fossem fortes, não importava quem fosse, ninguém conseguia fazer uma única gota do meu sangue escorrer.

    O cerne da construção do bárbaro escudo era sua alta Resistência Física, então para a maioria dos bárbaros, que dependiam de dano físico, era praticamente impossível me causar sequer um arranhão.

    — Eu perdi. O chefe é um guerreiro formidável!

    — Você lutou bem.

    — Ugh… Ninguém consegue derrotar o chefe!

    — Ele é um monstro! Um monstro!

    Conforme os desafiantes nomeados falhavam um após o outro, os guerreiros que assistiam cheios de expectativa começaram a perder a esperança ao perceberem a futilidade de seu objetivo.

    “E agora? Nem usei a Gigantificação ainda…”

    No entanto, eu não era o único que percebia o clima desmoronando. Quando olhei para Ainar, vi que ela também estava lidando com o mesmo problema.

    Lembrei-me de Ainar após a cerimônia de maioridade, quando se tornou a ‘líder’ de nossa turma de formandos e se perdeu a caminho da cidade. Ela tinha a mesma expressão agora.

    “Hmm, parece que também vou ter que ajudá-la desta vez.”

    — Vamos fazer uma pausa! — anunciei, interrompendo os combates por um momento, e fui até Ainar.

    Quando lhe dei uma ideia para reacender o ânimo dos guerreiros, ela imediatamente a transmitiu com entusiasmo.

    — Vamos parar a luta por aqui! Vamos todos beber!

    — Beber?

    — As regras são simples! Todos vão beber ao mesmo tempo, e quem durar mais vence!

    — Os prêmios são os mesmos?!

    — Claro! Se conseguirem beber mais que Bjorn, todos os guerreiros receberão uma casa cada!

    “Espera, uma casa cada? Mas eu não lembro de ter dito isso…”

    — Uraaaaah!

    — Behel–LAAAH!

    A mudança repentina no prêmio me deixou atordoado, mas já era tarde para voltar atrás.

    — Esta será chamada de Batalha da Bebida! — Ainar declarou. — A sagrada batalha da bebida!

    — Batalha da bebida! Batalha da bebida!

    — Uraaaaah!

    Os guerreiros rugiram de aprovação ao nome que Ainar lançou.

    “Hah, tanto faz…”

    Não me senti confiante o suficiente para estragar a festa deles, então fiquei em silêncio. Depois de uma breve pausa para nos prepararmos, a batalha da bebida, digo, a sagrada batalha da bebida, que tinha potencial para se tornar uma nova tradição bárbara, começou.

    — Certo, primeiro gole!

    Os milhares de guerreiros que haviam descido ao Campo da Provação ergueram suas canecas ao comando de Ainar.

    — Primeiro gole!

    Então, todos esvaziaram seus copos de um só gole.

    Repetimos isso várias vezes.

    Dois goles, três goles, quatro goles, cinco goles…

    Conforme continuávamos bebendo, mais e mais guerreiros começaram a cair.

    — Ugh… Hic! Blergh!

    — Karubo, filho de Bullak, vomitou! Fora!

    — Drogaaaa!

    “Estamos bebendo rápido, e muitos guerreiros já estavam bêbados do festival… posso vencê-los nesse ritmo.”

    O pensamento me animou ainda mais.

    Além disso, se mais de mil bárbaros de alguma forma me derrotassem nesta disputa, a tribo entraria em falência imediata. Como chefe, eu precisava evitar que esse futuro se tornasse realidade a qualquer custo.

    — Certo, bebam!

    Dezesseis, dezessete, dezoito…

    Conforme o volume de líquido em meu estômago aumentava, comecei a sentir a embriaguez tomando conta.

    “Há quanto tempo não fico assim tão bêbado?”

    Na verdade, eu não sabia qual era o meu limite. Nunca tinha ficado completamente apagado de tanto beber com esse corpo. Além disso, depois de aumentar meus atributos de Regeneração Natural e Resistência a Venenos, eu me recuperava muito rápido mesmo quando ficava bêbado, então era ainda mais difícil para eu desmaiar.

    — Certo, esse é o copo setenta e três!

    Cada vez mais guerreiros eram desqualificados porque vomitavam, desmaiavam ou saíam do lugar para se aliviar, e o ritmo da bebedeira só acelerava. Afinal, com menos pessoas, menos tempo era necessário para preparar as bebidas.

    — Sirvam! É o copo cem!

    — Uraaaaaah!

    Hã? Como assim já chegamos ao centésimo copo?

    Olhei ao redor, percebendo que o número de guerreiros segurando suas bebidas havia diminuído significativamente.

    “Acho que vejo cerca de… cem.”

    Não sabia o número exato, mas o que eu sabia era que meu estômago estava ficando estufado. Ele começou a protestar, alegando que não havia mais espaço, e pude sentir seu conteúdo ameaçando voltar.

    “Cem pessoas significam cem casas, e em dinheiro isso dá…”

    O total me trouxe de volta à realidade. Ativei minha habilidade imediatamente.

    Era a decisão mais lógica, na verdade. Se o problema era que meu estômago já estava muito cheio de álcool…

    [Você ativou Gigantificação.]

    Eu só precisava aumentar o tamanho do meu estômago.

    Minha barriga aumentada imediatamente se sentiu melhor, e a pressão na minha bexiga, que estava prestes a explodir, também diminuiu.

    Ainda assim, o segundo obstáculo veio mais cedo do que eu esperava.

    — Copo cento e cinquenta!

    Eu ia morrer.

    “Trinta pessoas?!”

    Quem diabos eram esses caras? Eles tinham um subespaço no estômago? Ou estavam bebendo algo que não era álcool?

    Embora minha mente tenha pulado imediatamente para a suspeita, felizmente percebi que eles não estavam exatamente em seu juízo perfeito.

    — Eh heh heh…

    — M-Mais um… Heehee…

    — Casa! Minha casa…! Urgh!

    Mesmo sem a sanidade intacta, esses guerreiros não conseguiam abandonar seu desejo por uma casa e estavam se segurando.

    Me forcei a me concentrar na visão de seus estados zumbificados.

    Só mais um pouco…

    Eu não era estranho à resistência. Rochedo Gélido foi muito pior do que isso.

    — Cento e cinquenta e um!

    Bebi. Mesmo com minha visão girando, vi alguns guerreiros desmoronarem.

    — Cento e cinquenta e dois!

    Minha intuição, aguçada por incontáveis batalhas, me dizia que esse era o ponto de virada.

    — Cento e cinquenta e três!

    Só mais alguns copos.

    Esses poucos determinariam o vencedor.

    — Cento e cinquenta e quatro!

    Minha intuição não falhou. Muitos mais guerreiros caíram.

    No entanto, o momento seguinte me lembrou de uma verdade fundamental do mundo.

    — Cento e cinquenta e cinco!

    Eles estavam sofrendo tanto quanto eu.

    Nesse mundo frio das competições, o vencedor e o perdedor eram decididos em um único momento de perseverança.

    — Cento e cinquenta e seis!

    E eu sempre precisava ser o vencedor. Porque o perdedor sempre perdia algo.

    — Cento e… cinquenta…!

    Oh, não. Isso estava ficando perigoso.

    Quantas pessoas ainda restavam?

    — Cento… sessenta…!

    Os sons ficaram distantes, e minha visão se estreitou em um túnel de luz.

    — …to oit…!

    Ah…

    No momento em que percebi que havia atingido meu limite, minha visão estreitada focou em um único guerreiro.

    Planejava desabar quando restassem cerca de três pessoas, mas, como eu estava tão bêbado, só agora notei que havia apenas um.

    “Hã?”

    Foi então que percebi algo muito estranho ao observar o último guerreiro restante.

    “Aquele cara…”

    Eu estava me perguntando como ele conseguia segurar tanto líquido em um corpo mortal.

    “Ele está bebendo enquanto se mija?”

    Como alguém assim podia existir? Mesmo os bárbaros tinham limites.

    Minha mandíbula caiu enquanto testemunhava uma ação que violava todas as formas de cultura, civilidade e moralidade construídas ao longo da história da civilização.

    Não de horror, mas de assombro.

    — Ah…

    Choque.

    Choque diante de sua concentração que ignorava todas as leis naturais, apenas pela vitória.

    E escondido dentro disso…

    Pshwooo.

    O fluxo.

    Para não impedir nada de entrar em seu corpo, e deixar tudo sair sem obstáculos.

    — Uh huh…

    Sim, essa era a verdade sublime, o supremo, a última dualidade do homem.

    “Isso…”

    A natureza não sentia vergonha.

    A natureza não se importava com regras.

    A natureza simplesmente existia.

    Assim como as grandes montanhas.

    “Essa era uma batalha perdida desde o começo…”

    Como eu poderia derrotar alguém que alcançou o ponto de se tornar um só com a natureza?

    Aceitei minha derrota com humildade.

    — Eu… perdi…

    Essa foi a última coisa que me lembro.


    Quando acordei, o sol já havia se posto.

    Meu corpo estava rígido, mas não me sentia tão de ressaca quanto esperava. Na verdade, tanto meu corpo quanto minha mente estavam bem.

    Bem, relativamente falando.

    “Preciso ir ao banheiro primeiro…”

    A imagem do céu acima do céu que testemunhei antes de desmaiar permaneceu comigo enquanto seguia para o ‘trono dourado’.

    No entanto, minha ida ao banheiro anunciou ao mundo que eu estava de volta.

    — Parece que você finalmente acordou — comentou uma voz.

    — Emily?

    — Beba isso. É água com mel.

    — Obrigado… Você estava me esperando lá fora?

    — Claro que não — ela respondeu após uma breve hesitação. — Eu suspeitava que você acordaria por volta dessa hora e acabei ouvindo você ao passar.

    Ah, que alívio ouvir isso.

    Bebi rapidamente a água com mel antes de perguntar:

    — Quanto tempo eu dormi?

    — Um dia.

    — Então hoje é o último dia do festival, certo?

    — Está decepcionado? Porque passou o último dia dormindo?

    — Nem um pouco. O festival precisa acabar para que algo novo comece. Na verdade, estou até feliz.

    Amelia me lançou um olhar irritado com isso, e eu rapidamente mudei de assunto. Além disso, eu estava curioso sobre algo.

    — Então, qual o nome do cara que me venceu? — perguntei, fingindo desinteresse. A cena do fluxo interminável ainda estava viva em minha mente, mas, infelizmente, não consegui ver seu rosto durante a competição.

    — Vector. Pelo que ouvi, ele é o terceiro filho de Kiltau.

    — Vector, terceiro filho de Kiltau…

    “Por que esse nome me soa familiar? Onde já ouvi isso antes…?”

    — Oh!

    Agora eu lembrava.

    Eu o vi quando me tornei chefe pela primeira vez e presidi a cerimônia de maioridade. Imediatamente o identifiquei como um novato pelo jeito que ele analisava o ambiente com uma expressão rígida.

    — Não, espera…

    Meu corpo enrijeceu como se tivesse sido envenenado por um basilisco, e um suor frio escorreu pelas minhas costas. Amelia percebeu minha mudança de expressão na hora.

    — O que foi? — ela perguntou, preocupada. — Você está ferido?

    Eu não podia mais evitar a terrível verdade que acabara de perceber.

    Vector, terceiro filho de Kiltau.

    O bárbaro que demonstrou a verdade sublime da suprema dualidade do homem ao se tornar um só com a natureza. O mestre absoluto que havia deixado sua marca na história da beleza.

    “Hmm, sim, só podia ser isso…”

    — Nah, impossível — murmurei para mim mesmo, zombando.

    Talvez eu estivesse errado esse tempo todo.

    “Não tem como ele ser um cara moderno.”

    Não tem como.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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