Capítulo 782: O Décimo Terceiro Mês (9/9)
Depois de dizer a Amelia que voltaria a dormir e mandá-la embora, me deitei na cama, mas, como já esperava, o sono nunca veio.
Não era que meu descanso profundo recente tivesse espantado meu cansaço, era apenas… que eu não conseguia dormir bem ultimamente. O tempo passava rápido durante o dia, quando eu conseguia me manter ocupado, mas à noite não era a mesma coisa. Quando a escuridão caía, os pensamentos começavam a pesar sobre mim.
Suspirei e, como já fazia há algum tempo, saí para caminhar e comecei minha patrulha noturna por toda a terra sagrada.
Apesar de ser o último dia do festival, a terra sagrada ainda estava viva com barulho.
— Behel–LAAAH!
— Bahahaha!
Instintivamente, segui na direção oposta aos rugidos dos bárbaros, meus pés me levando naturalmente ao mesmo lugar onde eu sempre acabava.
“Talvez eles fossem outra razão pela qual eu continuava vindo aqui.”
Os ventos frios do décimo terceiro mês sopravam, roçando contra minha pele.
Parei, inclinando a cabeça para trás para olhar o céu. Uma lua crescente pairava acima. Ao encará-la, quase podia me enganar e pensar que estava de volta à Terra, mas a sensação incômoda me dizia que este mundo era completamente diferente daquele que conhecia.
A razão era muito simples. Um olhar mais atento revelava que a forma da lua estava um pouco errada.
“Porque Rafdonia não tem lua cheia.”
Toda noite, o céu mostrava sempre a mesma lua.
Não que a lua cheia estivesse completamente ausente. Em ocasiões raras, ela aparecia, como os eclipses solares totais na Terra.
Eu não era astrônomo, então não fazia ideia de como ou por que isso acontecia, e, sinceramente, não era uma questão que me importava neste mundo mágico e misterioso.
Um crunch suave rompeu o silêncio.
— Quem está aí?
Minha voz saiu agressiva, fazendo um guerreiro bárbaro emergir da floresta, coçando a nuca de forma envergonhada.
Quando vi quem era, fiquei genuinamente surpreso.
— Você… Vector, terceiro filho de Kiltau?
Pelo menos não era Baekho Lee.
Baixei minha guarda, mas ainda assim, nunca esperava encontrar justamente ele por acaso.
— Oh! Eu não achei que você lembraria do meu nome! É uma honra, Chefe! — ele gritou entusiasmado na noite silenciosa, emocionado por eu ter chamado seu nome.
Não havia motivo para culpá-lo pelo volume, claro. Esse era apenas o jeito bárbaro.
Já que o destino nos levou a esse encontro, decidi puxar conversa.
— Claro que lembro. Você foi o guerreiro que me derrotou.
— Hahaha! — Ele riu após uma leve pausa. — Se você bebesse como eu, Chefe, também conseguiria aguentar muito mais!
“É… não, obrigado.”
Se eu fizesse isso, a cidade inteira saberia que o Barão Yandel se mijou de tanto beber.
— Então, por que você está aqui?
Ele hesitou antes de responder. — Aha! Este é o lugar onde minha casa será construída, então vim ver com meus próprios olhos!
— O quê?
— Já que vou ter uma casa agora, estou animado demais para dormir! Vou viver aqui até que minha casa esteja pronta! Porque este é meu lar agora!
— Uhm… C-Certo. Mas por que escolheu este lugar? É perto do cemitério…
— Porque aqui o vento é agradável e refrescante!
Quanto mais conversávamos, mais parecia que eu estava perdendo para ele de alguma forma.
Será que eu realmente o havia interpretado errado esse tempo todo? A sensação só crescia.
“Esse cara é mesmo da era moderna…?”
Talvez fosse assim que os Caçadores de Espíritos Malignos do Ministério da Segurança se sentiam quando me viam. Como não presenciaram meu fracasso durante a cerimônia de maioridade e só viram meu eu atual, provavelmente nem pensavam que eu era um espírito maligno.
O que me lembrou…
— A propósito, você escolheu o escudo durante sua cerimônia de maioridade?
— Oh! Escolhi sim! Eu não achei que você também lembraria disso! É uma honra!
— E como foi? Ainda usa o escudo?
— Troquei pelo machado! Escolhi o escudo porque você escolheu, mas não combinava comigo!
— Você escolheu porque eu escolhi?
— Bjorn, filho de Yandel, é o maior guerreiro da história! Eu queria seguir seus passos! Bem, desisti porque era muito difícil conseguir essências!
Que cara engraçado. Como alguém que abriu os olhos durante a cerimônia de maioridade poderia saber quem eu era?
Sorri, olhando para ele de cima.
“Mas… ainda acho que ele é um jogador.”
Depois de conversar com ele, fiquei ainda mais certo disso.
Como um homem moderno, era meio embaraçoso admitir, mas…
“Eu costumava ser exatamente assim.”
Não no sentido da suprema dualidade do homem, é claro.
Mas, há muito tempo, eu costumava agir exatamente como Vector estava agindo agora. Sempre que cruzava caminho com o chefe, ficava rígido e tentava agir ainda mais como um bárbaro.
Embora não tivéssemos conversado por muito tempo, tive uma sensação.
“Esse cara vai viver muito tempo…”
Perdendo-se no papel de bárbaro, e com aquela determinação obstinada de fazer o que fosse necessário para alcançar seus objetivos, pessoas como ele não morriam facilmente.
— Mas o que você está fazendo aqui, Chefe? — ele perguntou, mudando de assunto antes de perceber algo. — Oh, estava indo para o cemitério de novo?
— Não não. Só estava patrulhando.
— Oh! Então boa sorte! Estou com fome, então vou dormir!
Vector parecia desconfortável na minha presença, mas eu não pretendia deixá-lo escapar tão facilmente.
— Vou te dar um pouco de carne seca, então fique e converse um pouco.
— O-Oh…! Sério! Obrigado! Como eu pensei, o Chefe é um grande e sábio guerreiro!
Um pequeno ponto negativo pela hesitação…
Bem, sua atuação como bárbaro ainda era aceitável.
— Então, sobre o que quer conversar…?
Vector perguntou, tentando sondar mais informações.
Embora tentasse agir como um bárbaro ingênuo, sua curiosidade era evidente.
Não o culpava. Eu simplesmente puxei conversa do nada, então era natural que estivesse ansioso e suspeitoso sobre minhas intenções.
— Nada demais. Só quero saber o que te preocupa.
— O que me preocupa…?
Vector pareceu confuso.
Em vez de falar sobre minhas preocupações, eu estava oferecendo ajuda para as dele, conselhos que ele nem tinha pedido.
— Conte-me! — exigi com entusiasmo. — O que te preocupa?
— Não, eu não tenho nada assim…
— Besteira! Todo mundo tem problemas! Fale! Como seu chefe, eu tenho o direito de ouvir!
— Seu… direito? Não dever? — ele murmurou.
Devo ter escutado errado essa última parte, mas não era importante, então ignorei.
Vector me observou com um olhar estranho, como se estivesse percebendo: ‘Huh, então esse chefe é um bárbaro de verdade…’
Isso me incomodou um pouco. Não queria ser visto como o estranho quando ele era o cara que se mijou.
Limpei a garganta e exigi — Enfim, fale logo!
— Bem…
— Agora!
O peso da minha autoridade como chefe o venceu, e Vector finalmente me contou sua preocupação.
— Bem… Estou preocupado com um amigo.
— Oh? Quem é esse amigo seu?
— Um aliado humano com quem trabalhei antes do labirinto fechar. O nome dele é Hans Eliburn…
— O quê?!
Vector me encarou, surpreso.
— Hã? Por que essa reação? Você o conhece?
— Não, só senti vontade de dizer isso. Então, o que há com esse amigo seu?
— Eu o encontrei na cidade há pouco tempo, e ele me disse que encontrou uma grande oportunidade e que eu deveria começar um negócio com…
— Não faça isso.
— Hã? Mas eu nem disse qual era a oportunidade…
“Cale a boca sobre oportunidades.”
Esse cara tinha algum problema na cabeça? Por que ele estava se envolvendo com um Hans?
— Eu disse que não, então é não.
Infundi minhas palavras com intenção assassina para chocá-lo e forçá-lo a obedecer, e Vector acenou freneticamente em concordância, abalado.
— E-Entendido! Eu não farei!
“Bom. Você deveria ter simplesmente desistido desde o começo.”
— M-Mas pode me dizer o motivo? — ele gaguejou.
— Esse nome dá azar.
Ele me lançou um olhar que dizia claramente: ‘Que diabos esse cara está falando?’
Ainda assim, foi apenas por um instante, então ignorei.
— Certo, então seu primeiro problema está resolvido. Me fale sobre o segundo.
— Segundo? — ele repetiu, confuso. — Mas eu não tenho mais nenhum…
— Não, você definitivamente tem.
— Uh… Dinheiro? Não há muitas maneiras de consegui…
— Isso não conta.
— Então o que conta se…
— Pense bem. Se não conseguir pensar em um, lembre-se. E se não conseguir se lembrar, pergunte ao seu coração. Você realmente não tem nada que te incomoda?
Quando o pressionei novamente, Vector hesitou, provavelmente percebendo que precisava dizer algo para avançar na conversa. Felizmente, quando finalmente falou, seu próximo problema era muito mais interessante.
— Quero que o labirinto reabra.
— Como eu disse, problemas com dinheiro não são problemas…
— Não é isso que quero dizer — ele interrompeu. — Quero ficar mais forte. Essa guerra me fez querer isso ainda mais.
— Oh?
— Muitos dos meus amigos guerreiros… eles morreram nessa guerra. Se eu fosse mais forte, poderia tê-los protegido.
Assenti, ouvindo em silêncio suas emoções genuínas.
Como imaginei, a casa era apenas uma desculpa. Ele estava vagando pelos terrenos do cemitério assim como eu.
— Não foi sua culpa não ter conseguido protegê-los.
— Eu sei disso. Eu sei. Todos precisam fazer o que for necessário para sobreviver neste mundo. Só que tenho muitos arrependimentos. Se eles ainda estivessem vivos, também poderiam rir e aproveitar este festival, e… E nós sempre quisemos ter uma casa.
— E agora você terá uma em breve.
— Sim. Mas não tenho mais amigos para compartilhá-la comigo.
Algo me passou pela cabeça naquele momento.
Talvez, só talvez, essa fosse a razão pela qual ele bebeu até se mijar.
Mesmo quando sentiu que ia explodir, mesmo quando quis desistir ou desmaiar, ele conseguiu aguentar para ver aquele sonho se realizar.
— Esse é meu segundo problema…
— Entendo.
Agora que ele havia revelado seus verdadeiros pensamentos para mim, a expressão de Vector finalmente relaxou.
— O que devo fazer? Me diga, Chefe.
Havia até um leve brilho de expectativa em seus olhos. Ele esperava que eu pudesse dissipar seus problemas com uma resposta clara e engenhosa.
Respondi à sua expectativa.
— Faça novos amigos.
— …Hã?
— E fique mais forte. Para não perdê-los novamente.
Ele não respondeu.
— Certo, seu segundo problema está resolvido. Vou nessa. Estou com fome!
Depois de resolver com sucesso os problemas de um jovem guerreiro que encontrei por acaso, meus passos ficaram um pouco mais leves ao seguir para meu destino.
Os ventos frios uivavam, levantando as folhas secas pelo frio do inverno e fazendo-as dançar no ar.
Os bárbaros costumavam dizer que esse era o espetáculo dos antigos guerreiros, que batalhavam entre si para se entreter após virarem espíritos. Era uma expressão surpreendentemente poética para bárbaros.
Os bárbaros não enterravam seus mortos. Em vez disso, praticavam algo chamado enterro celestial, onde deixavam o vento e a chuva espalharem seus corpos até que nada restasse.
Os restos de um guerreiro se tornavam nutrientes para a terra e para as árvores que cresciam sobre ela.
Não que construir um túmulo impedisse isso de acontecer.
Brown Rotmiller
Versyl Gowland
James Calla
Como todos os dias anteriores, parei diante dessas três lápides, tentando encontrar uma resposta para essa sensação sufocante no meu coração enquanto o vento uivava ao meu redor.
Mas, claro, ficar ali parado não me dava automaticamente uma resposta.
Mesmo neste mundo, onde existiam monstros do tipo fantasma, as vozes dos mortos não falavam através do vento, sussurrando seus últimos desejos de uma maneira que eu pudesse ouvir e finalmente entender.
Não, esses eventos espirituais não existiam. Eu era a prova viva disso.
Eles se foram.
Não existiam mais neste mundo.
E eu fui deixado para trás, assombrado por preocupações que eles nunca mais teriam.
O que eles desejariam para mim, a pessoa que ainda restava?
Riol Warb Dwalkie.
O desejo dele por mim foi simples. Ele apenas me disse para cuidar da Missha.
E ainda assim, no fim, não fiz um bom trabalho em cumprir seu pedido. Ele provavelmente não teria gostado de ver nós dois tão distantes um do outro.
Pelo menos eu consegui vingar sua morte.
Embora, pensando bem, aquilo foi mais por mim do que por ele.
Em vez disso, eu estava ali, diante do túmulo de outro, em silêncio como a própria sepultura.
Enquanto a cidade inteira se enchia com os sons do festival, aqueles que já partiram não tinham como aproveitá-lo.
Festivais eram para os vivos.
O vento uivava.
De repente, lembrei da conversa que tive com Vector há pouco tempo.
— Se eles ainda estivessem vivos, também poderiam rir e aproveitar este festival.
Não poderia concordar mais.
Sempre que algo bom me acontecia, a primeira coisa em que pensava era naqueles que não estavam mais aqui para vivenciá-lo comigo.
Como seria se Dwalkie ainda estivesse aqui?
O anão teria feito alguma pegadinha idiota, e Dwalkie teria ficado vermelho de raiva.
Como seria se Rotmiller ainda estivesse vivo?
Bem, talvez ele usasse o festival como uma chance para aprofundar seu relacionamento com Shavin Emoor.
Se Versyl Gowland, se James Calla, se todos aqueles que partiram antes de mim ainda estivessem aqui…
Como seria?
Fiquei parado ali por um longo tempo, perdido em pensamentos que gritavam que não havia resposta.
Tudo não passava de um produto da minha imaginação. Ninguém poderia saber como teria sido.
Esse futuro já se foi, apagado.
Talvez fosse por isso que sentia tanto arrependimento e decepção sempre que me lembrava deles.
— …Estou cansado disso.
Por fim, dei voz ao ressentimento enterrado dentro do meu coração.
Esse mundo estava errado.
Terra ou Rafdonia, não importava. No fim, os dois eram a mesma coisa.
Talvez fosse apenas o jeito como a vida funcionava, uma verdade fundamental que não podia ser mudada, mas isso não mudava o fato de que era errado.
Humanos, bárbaros, terians, elfos…
— Eu sei disso. Eu sei. Todos precisam fazer o que for necessário para sobreviver neste mundo.
Este era um mundo de sobrevivência.
Eu estava cansado de…
— Ah…
Foi então que me atingiu.
Uma realização do que eu realmente queria.
— Ahhh…
Eu não queria apenas sobreviver.
Eu queria viver.
Viver com as pessoas preciosas para mim.
Um pequeno sorriso irônico surgiu em meus lábios.
Era só um desejo, algo que qualquer pessimista zombaria, dizendo: ‘Um mundo gentil? Como algo assim poderia existir?’
Mas quem se importa com o que eles pensam?
Eu era um bárbaro.
Se meus dentes quebrassem, eu morderia com as gengivas.
Se minha cabeça tivesse um problema, eu simplesmente resolveria.
E se eu quisesse gritar, eu gritaria.
Não havia necessidade de pensar demais, nem mesmo sobre algo dessa magnitude.
Se esse mundo não existia, eu simplesmente o faria existir.
“Há muitas coisas que ainda preciso fazer.”
As lápides permaneciam imóveis diante de mim enquanto minha mente se enchia de planos e possibilidades. Então, de algum lugar distante, gritos de comemoração ecoaram.
Olhei as horas.
【00:00】
Esse ano problemático finalmente havia chegado ao fim.
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