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    O dia em que as pessoas mais faziam resoluções?

    Se alguém fizesse essa pergunta, a maioria apontaria para o mesmo dia.

    O primeiro de janeiro. O dia em que um ano termina e outro começa.

    Nesse dia, todos estavam cheios de esperanças e sonhos.

    Pessoas que sentiam ter engordado planejavam fazer dieta e se exercitar, enquanto aquelas que passavam o tempo em casa sem fazer nada decidiam encontrar um emprego no novo ano.

    No entanto, apenas uma pequena minoria realmente levava essas resoluções adiante.

    O que desejavam era mudança, mas o mundo não era gentil com aqueles que buscavam tal coisa. Se alguém quisesse se libertar de sua casca, precisaria quebrá-la primeiro.

    E, ironicamente, o caminho para a esperança era pavimentado com dor.

    Sim, as palavras ‘resolução passageira’ existiam por um motivo.

    A determinação de uma pessoa era uma coisa frágil, fraca e maleável o suficiente para inevitavelmente ruir com o tempo, por mais firme que parecesse no início.

    Claro, algumas pessoas realmente conseguiam manter sua firme resolução, mas hmm… Essas pessoas precisariam de uma ocasião como o Ano-Novo para realizar sua mudança?

    De qualquer forma.

    — Descansou bem no fim do ano?

    — Mais ou menos.

    Visitei o palácio no primeiro dia do ano para me encontrar com Astarota. Era para cumprir a resolução que fiz na noite anterior.

    Na noite passada, parecia que meu cérebro lento finalmente tinha voltado à vida.

    Não sobreviver, mas viver. O que eu precisava fazer para alcançar esse sonho nesta cidade sem coração?

    Após uma noite inteira de deliberação, tive minha resposta: ou me revoltava e me tornava rei, ou adquiria poder suficiente para rivalizar com o rei. Só então eu poderia negociar com ele, tomar o que queria ou realmente fazer qualquer coisa a partir de uma posição de igualdade.

    Foi por isso que vim a este lugar hoje.

    — Astarota Berun.

    — Você me chamando pelo primeiro nome quase me dá arrepios. O que foi?

    — A condessa Peprok ainda está no mesmo estado?

    — Está.

    Era o que eu esperava, mas ainda assim endureci meu coração ao ouvir sua resposta.

    O marquês me disse que Ragna despertaria por conta própria com o tempo. Foi por isso que ele deixou seu diário para ela.

    “Mas ela ainda não acordou…”

    Essas pessoas definitivamente fizeram algo para mantê-la adormecida. Eu só não tinha provas ainda.

    — Então posso passar para vê-la de novo antes de sair hoje? — perguntei.

    — Claro.

    Mais tarde, precisaria falar com Hyeonbyeol para descobrir o que essas pessoas estavam fazendo com Ragna, embora eu não esperasse uma resposta clara.

    — A propósito… — Astarota começou com um olhar curioso. — Quando você matou o marquês, por acaso viu um anel por perto?

    — Um anel? Acho que não.

    — Hmm, é mesmo…?

    — Que anel seria?

    — Nada de mais. Apenas um dos tesouros do palácio. Mas parece que ele o tirou antes de morrer. Ou alguém o pegou.

    — De qualquer forma, não o vi.

    — Entendo. Se você diz isso… Então, provavelmente, ele está nas mãos de um Noarkiano agora.

    Fiquei um pouco aliviado ao ouvi-lo dizer isso. Significava que o palácio confiava na história que eu lhes havia contado. No entanto, o fato de ele ter mencionado isso agora, sem motivo aparente, indicava que a investigação detalhada deles havia chegado ao fim.

    “Parece que evitei uma crise em potencial…”

    Pensando bem, era natural que acreditassem nas minhas palavras.

    O palácio sabia que o marquês e eu éramos inimigos jurados. Por mais que tivessem suspeitas sobre mim, do ponto de vista deles, não fazia sentido que o marquês tivesse entregue Trovão para mim. Seria mais lógico que ele tivesse disparado Trovão para levar todos com ele.

    Talvez me fixar tanto em Ragna fosse perigoso. Havia uma pequena chance de que eles descobrissem a proposta que o marquês fez ao entregar sua vida.

    — Ah, você soube da notícia? — Astarota perguntou, chamando minha atenção de novo. — Um novo primeiro-ministro foi escolhido na Reunião Palaciana que você perdeu.

    — Quem foi?

    — O duque Kealunus.

    — Entendo.

    — Você não parece surpreso.

    — Para ser honesto, não há ninguém além do duque que se encaixaria no cargo.

    A sociedade nobre era dividida em três grandes facções: a facção do primeiro-ministro, a facção do duque e a facção da pequena nobreza.

    Bem, havia também Melbeth, a facção não humana da qual eu fazia parte, mas sua influência política era pequena demais para ser levada em conta.

    De qualquer forma, a facção do primeiro-ministro havia se dissolvido efetivamente depois que o marquês traiu o país, e grande parte do poder da pequena nobreza foi reduzida a nada porque muitos nobres morreram quando Trovão caiu sobre o Palácio da Glória.

    Diferente da facção do duque, que conseguiu manter seu poder mesmo durante a guerra.

    — Yandel, o que você acha do duque?

    — Acho que ele teve sorte. Não parece que fez nada, mas seu maior concorrente, o marquês, se matou. E também não parece que ele foi muito afetado pela guerra.

    — Sorte. Entendo…

    O jeito que ele murmurou aquilo pareceu estranho.

    — Você tem alguma informação sobre ele? — perguntei, desconfiado.

    — Não, nada disso. É só que, pela minha experiência, pessoas que parecem sortudas costumam ter acordos sujos apodrecendo onde ninguém pode farejar. Mas, bem, talvez ele seja apenas sortudo, como você disse.

    — Me avise se descobrir algo.

    — Claro.

    Nosso assunto sobre o duque terminou ali, e continuei conversando com Astarota sobre algumas outras coisas. Na maior parte do tempo, fui eu quem fez perguntas e reuniu informações por meio dele. Destacando a informação mais importante…

    Seria essa.

    — Ah, Yandel… Sua nobilitação foi decidida.

    A Casa do Barão Yandel agora seria a Casa do Visconde Yandel.

    Não que minha ‘casa’ tivesse alguma mansão ou servos para chamar de seus.

    “Ah, acho que tenho servos, né?”

    Em termos de números, minha casa tinha mais servos do que qualquer outra casa nobre da nação, já que acolhi todos os refugiados de Bifron.

    — O duque comentou algo sobre isso?

    — Mesmo que quisesse, ele não diria nada. Você é o herói que correu sozinho para o meio do território inimigo, matou o marquês e trouxe esta guerra a um fim momentâneo. Ah… Vocês dois têm alguma rixa?

    — Não exatamente. Mas também não somos amigos.

    — Ainda menos motivo para ele impedir sua nobilitação. No entanto, parecia que ele tinha algumas reclamações sobre o evento. Devido à situação, sua cerimônia de nobilitação e a posse dele como primeiro-ministro acontecerão ao mesmo tempo.

    — De que isso importa? — perguntei, confuso. — Não entendo por que ele teria alguma reclamação sobre isso.

    Astarota apenas me encarou por um segundo antes de esboçar um sorriso. — Parece que você realmente não percebeu ainda. Isso é um alívio. Se não fosse genuíno, faria de você um baita de um babaca.

    — Tanto faz. Apenas diga logo.

    — Pense bem. Se os dois eventos acontecerem ao mesmo tempo, quem você acha que será o protagonista?

    — Ah…

    Eu não tinha pensado nisso. Ainda assim, fazia sentido que a estrela do evento não fosse a pessoa que se tornou primeiro-ministro apenas porque a posição ficou vaga, mas sim o herói de guerra, eu.

    — Pelo que ouvi, ele até disse que não se importaria em adiar sua posse para uma data posterior, caso pudéssemos separar os eventos, mas nossa situação não é flexível o suficiente para permitir isso.

    De qualquer forma, isso significava que minha nobilitação e a posse do duque aconteceriam no mesmo lugar e ao mesmo tempo.

    — Você vai visitar a condessa Peprok antes de ir?

    — Só por um instante.

    — Que dedicação.

    Por volta do momento em que a conversa estava chegando ao fim e eu me levantava da cadeira, Astarota de repente me perguntou algo, como se tivesse acabado de se lembrar.

    — Ah, certo. Tenho mais uma coisa que quero perguntar. Você é próximo de Jerome Saintred?

    Por que o chefe da vila foi mencionado aqui?

    — Não particularmente — respondi secamente. — Fizemos parte daquela expedição ao subsolo juntos, mas só isso. Por quê?

    — No dia em que Trovão caiu sobre o Palácio da Glória, Jerome Saintred também desapareceu.

    — E daí?

    — Embora algumas pessoas digam que ele deveria ser registrado como ‘morto em combate’, tenho a sensação de que há outro motivo para isso. Só perguntei para ver se você sabia de algo.

    — Infelizmente, não sei nada sobre ele.

    — Então fiz você perder seu tempo… Pode ir.

    Com isso, deixei Astarota na sala.

    “Desaparecido…”

    Eu também não achava que o chefe da vila tinha morrido na guerra. Ou ele foi envolvido em algo ou decidiu se esconder por vontade própria.

    Pensei em meu último encontro com ele.

    Pouco antes de Trovão cair, o chefe da vila veio até mim na minha prisão subterrânea e me disse algo inquietante.

    — Vai começar em breve. O dia em que tudo queimará.1

    E, de fato, Trovão caiu logo depois, e o chefe da vila saiu às pressas enquanto dizia:

    — Sobreviva. Tenho algo a lhe contar quando fizer isso.1

    Naquele momento, eu estava ocupado demais para pensar muito nisso, mas agora parecia estranho ao relembrar. Diferente do que ele disse, eu não poderia afirmar que tudo queimou durante a guerra…

    “…Suponho que sim?”

    O Distrito 7 e o Distrito 8 foram reduzidos a cinzas pela guerra.

    No entanto, fui eu quem começou o incêndio, e a maneira como o chefe da vila falou apontava para algo além no horizonte. Ele falou como se o mundo inteiro estivesse prestes a acabar.

    “Mas, no fim, o mundo não acabou…”

    A guerra foi interrompida, e eu estava vivo. Porém, mesmo tendo dito que tinha algo para me contar, o chefe da vila nunca me procurou, e agora eu recebia a notícia de que ele havia desaparecido.

    “O que ele sabia para ficar tão inquieto?”

    Eu ainda não sabia, mas de uma coisa eu tinha certeza: precisava encontrar o chefe da vila e, pelo menos, impedir que o Coração de Karui caísse nas mãos do palácio.

    Porque, embora eu não tivesse ideia do que ele pretendia fazer com isso, o chefe da vila era quem estava em posse do Coração de Karui.


    Visitei o quarto onde Ragna estava antes de sair do palácio.

    Ela ainda dormia como uma princesa, e Hyeonbyeol estava ao seu lado, protegendo-a.

    — Você pretende mesmo ficar aqui até ela acordar?

    — Não sabemos o que pode acontecer se eu sair.

    Hmm, mas se o palácio realmente quisesse fazer algo com ela, a presença de Hyeonbyeol não faria muita diferença…

    Claro, não disse isso em voz alta.

    — Aconteceu algo enquanto você estava aqui? — perguntei.

    — Absolutamente nada acontece. Estou morrendo de tédio, sabia? E agora que o filho do primeiro-ministro também foi solto, não tenho mais ninguém para conversar…

    — Isso… Realmente parece entediante.

    O filho do traidor, Eltora Tercerion, havia sido julgado e libertado há pouco tempo.

    Embora seu pai fosse o traidor, o fato de que ele o traiu e me ajudou foi levado em conta… Mas, para ser sincero, Astarota foi o fator mais importante.

    Não que ele tenha intercedido pessoalmente por ele ou algo assim.

    “O que ele fará agora…?”

    Como desejava, Eltora pelo menos conseguiu salvar sua vida.

    Embora tenha perdido toda sua autoridade como nobre, isso já era esperado.

    “Muitas pessoas o odiarão…”

    A guerra criou dezenas de milhares de refugiados, então o sobrenome ‘Tercerion’ apenas despertaria a fúria do povo.

    Talvez fosse mais fácil para ele seguir com sua vida se abandonasse seu sobrenome e passasse a viver apenas como ‘Eltora’.

    “Bom, depois eu visito ele, quando tiver tempo…”

    Deixei meus pensamentos sobre Eltora de lado.

    Era apenas curiosidade pessoal sobre como ele estava. Não era algo particularmente importante para mim.

    — Nos vemos depois.

    — Hein… Já vai?

    — Voltarei em breve.

    — Você diz isso, mas já faz muito tempo desde a última vez que nos visitou.

    — Estou falando sério desta vez. Provavelmente visitarei o palácio com frequência no futuro.

    — O palácio?

    Hyeonbyeol me lançou um olhar curioso. Então, apenas me encarou diretamente.

    — Acho que… algo mudou em você — disse lentamente.

    — Mudou?

    — Não sei explicar direito, é só uma pequena mudança…

    — Mudança boa ou ruim?

    — Claro que é boa! E seu rosto está mais iluminado do que antes. É bom ver isso.

    Mesmo pensando que ela era observadora demais, também concordei com seu ponto. Eu mesmo tinha notado que meu reflexo no espelho não parecia muito bom havia um tempo.

    — Então, estou indo.

    E assim, depois de resolver meus assuntos no palácio e retornar à terra sagrada, percebi que um visitante tinha vindo me procurar.

    — Ah, você finalmente chegou!

    Era o tio da Erwen.

    1. Cap. 715[][]
    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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