Capítulo 784: Aprimoramento (2/6)

Beleg Shucia di Tersia.

Tio materno de Erwen e um espírito maligno de outro mundo que atuava como Lua Crescente na Távola Redonda.

Para ser sincero, eu realmente não queria encontrar esse cara.

De certa forma… Não, não havia sentido nisso. Mesmo que eu tentasse justificar minhas ações, isso não mudava o fato de que eu o enganei.

— Essa parte definitivamente é diferente das lendas…

— …Graças a você, posso agora abandonar esse meu sonho tolo.

— No entanto, não consigo sentir nenhuma gratidão por você.¹

No dia em que a Távola Redonda chegou ao fim, revelei as condições para usar a Pedra da Ressurreição, que eu havia deliberadamente escondido dele. Vi uma profunda sensação de vazio nublar seus olhos.

E ainda assim, ele ainda estava à procura da Pedra da Ressurreição, mesmo agora…

“Será que peguei o cara errado?”

Para dissipar essa dúvida repentina, decidi deixá-lo se sentar e confirmar uma coisa primeiro.

— A Pedra da Ressurreição só pode reviver duas pessoas. No entanto, para usá-la em alguém, essa pessoa não pode estar morta há muito tempo e o cadáver precisa estar presente. Você sabia disso?

— Sim.

Hmm, então ele sabia…

Isso praticamente confirmava que ele era o Lua Crescente.

Perguntei diretamente — Quem você está tentando reviver?

— Eu.

— Hã?

— Quero usar a Pedra da Ressurreição em mim mesmo.

O quê?

Minha mente ficou em branco diante daquela declaração absurda. Eu nem conseguia acreditar no que estava ouvindo…

Ele pareceu perceber isso, pois rapidamente acrescentou:

— Como sou eu quem está fazendo o pedido, direi tudo honestamente. As pessoas que eu originalmente queria salvar com a Pedra da Ressurreição eram Belua e Daria.

— Belua?

— A mãe dessas crianças. E minha… Minha irmã mais nova.

— Mas?

— Mas eu não tenho os cadáveres intactos de nenhuma delas. Só por precaução, não cremei o corpo carbonizado de Daria e, em vez disso, a enterrei. Também fui periodicamente desenterrá-la em segredo para aplicar magia de preservação em seu corpo… No entanto, quando descobri que o destinatário não podia estar morto há muito tempo, parei.

Fiquei chocado. Então, até pouco tempo atrás, o corpo de Daria havia sido mantido quase perfeitamente dentro de uma caixa.

“Esse cara tem algum problema na cabeça?”

Ouvir ele falar sobre essas coisas absurdas com uma voz tão calma fez um calafrio percorrer minha espinha.

No entanto, isso e aquilo eram problemas diferentes.

— Entendo que você esteja sofrendo porque não pode trazer nenhuma delas de volta… — comecei. — Mas então, por que chegou à conclusão de que precisa usar a Pedra da Ressurreição em si mesmo?

Minhas faculdades lógicas pareciam prestes a entrar em colapso diante dessa conclusão inacreditável, mas, no final, acabei aceitando sua justificativa.

— Porque ouvi dizer que, quando se usa a Pedra da Ressurreição… perde-se todas as memórias da vida passada.

Ah…

— Eu preciso da Pedra da Ressurreição — ele disse, a voz firme e inabalável. — Se quiser continuar vivendo.

Assenti.

De várias maneiras, era irônico. A Pedra da Ressurreição era necessária para tornar uma pessoa viva…

Mesmo parecendo sem sentido, fazia sentido de alguma forma. Provavelmente porque já passei por algo semelhante antes.

Minha cabeça doía.

Era como se meu cérebro estivesse sobrecarregado.

Eu sabia que a melhor maneira de lidar com algo assim era tornar o problema o mais simples possível. Ele era um homem sofrendo com a própria existência, mas eu continuava sendo apenas eu, sem obrigação nenhuma para com ele.

— Então é por isso que você quer a Pedra da Ressurreição de mim?

— Exato.

— E eu sei que você não está pedindo de graça. O que me dará em troca?

— Como vivi minha vida sem desejos, não há muito que eu possa lhe oferecer. Exceto este meu corpo.

O quê?

Certamente, eu era apenas estranho por achar que havia algo errado na maneira como ele disse isso, certo?

Sim, provavelmente.

— Você pode me comandar como quiser. Seja no labirinto, na cidade ou até mesmo no mundo fora dela. Seguirei você para onde for e farei o que desejar.

Em resumo, ele estava disposto a se submeter em troca da Pedra da Ressurreição.

— Sou confiante em minhas habilidades, mesmo como estou agora. Além de não ser um fardo, acredito que serei de grande ajuda para você.

— Você seria útil, sim. Mas e se isso não valer tanto quanto a Pedra?

Ele não hesitou nem por um instante.

— Ficarei com você até valer.

Foi o suficiente para me deixar envergonhado por perguntar.

Ouvindo sua resposta rápida e determinada, soltei um suspiro interno.

Ele ainda era o mesmo, tanto quando usava a máscara de Lua Crescente quanto agora. Mesmo depois de ser manipulado tantas vezes na Távola Redonda, ainda era capaz de oferecer um acordo inacreditável como esse.

— E o que fará se eu explorar você até o limite e não cumprir minha palavra?

— Eu sei que você não é esse tipo de pessoa. E, mais importante, não importa mesmo que seja.

— Não importa?

Pela primeira vez, ele hesitou em me responder.

No entanto, decidi não pressioná-lo. Já tinha um palpite do porquê.

No mundo, às vezes se encontra pessoas assim. Aquelas que vivem sem propósito, como se não tivessem desejo pela própria vida. A maioria delas tinha um certo olhar nos olhos, assim como ele.

Suspirei.

Isso tornava tudo ainda mais complicado.

Se fosse qualquer outra pessoa, eu nem precisaria pensar tanto, pois teria recusado imediatamente.

Mesmo sem saber o quão poderoso Beleg era, não havia como seu valor se equiparar ao da Pedra da Ressurreição.

Porém, o problema era…

“Ele era o tio da Erwen.”

Quanto mais conversávamos, mais possibilidades sombrias surgiam na minha mente.

Se esse cara de repente se enforcasse, como Erwen reagiria?

E como eu me sentiria? Se aquele que enganei por tanto tempo na Távola Redonda não conseguisse suportar o fracasso de seu objetivo e fechasse os olhos após um último momento de sofrimento…

— Hah…

Não demorei para tomar minha decisão.

A Pedra da Ressurreição era um item para salvar os mortos, não os vivos.

— Certo. Vou deixar você entrar no grupo. Mas, como você disse, serei eu quem decidirá quando lhe darei a Pedra da Ressurreição.

Para salvar os vivos, eu precisava de algo um pouco mais caloroso do que essa pedra.

Levou apenas três dias para que a filiação de Beleg fosse oficializada no papel.

Ele rapidamente cortou todos os laços políticos e emocionais que tinha na terra sagrada e entrou oficialmente para o Clã Anabada.

No entanto, ele também não se mudou para morar conosco.

Seu único pedido foi que, caso não houvesse trabalho urgente, ele queria passar o tempo cuidando de May, que ficaria sozinha na terra sagrada, e eu permiti.

— O tio entrou para o nosso clã?

Só informei Erwen depois que tudo já estava resolvido, e sua reação foi mais calma do que eu esperava.

Para ser mais exato, ela teve uma reação discreta.

— Bem… Ele estará em um time diferente do meu, certo…?

— Provavelmente.

— Então não importa.

Apesar do carinho e da consideração que tinha pelo tio, ela não parecia querer vê-lo com frequência.

Eu tinha um palpite do motivo.

Muitos casais que perdem um filho acabam se divorciando. Mesmo que queiram ficar juntos, a dor se torna ainda mais evidente quando se veem.

No passado, eu não entendia isso, mas agora compreendia um pouco.

Para que a ferida cicatrize, às vezes é necessário não prestar atenção nela. Se você continuar esfregando, pode piorar.

De qualquer forma, decidi observar os dois mais de perto daqui em diante.

— Este é o documento com a lista de todos os itens que foram registrados hoje no Centro Comercial Alminus. Eles serão colocados à venda amanhã de manhã, caso não surja nenhum problema durante as inspeções.

Recentemente, pedi a ajuda de Amelia para monitorar todos os itens que estavam sendo colocados no centro comercial diariamente. O motivo era simples. Ultimamente, haviam aparecido muitos itens raros no centro comercial que nunca haviam surgido antes.

— Ah, obrigado. Só de dar uma olhada rápida, já vi alguns que também me interessaram hoje.

— Achei que fosse algo pontual, mas muitos itens estão sendo colocados no mercado. — Amelia comentou, como se não soubesse o motivo. Mas eu tinha uma teoria.

— Muitos nobres morreram na guerra.

Muitas casas nobres foram destruídas depois que o Trovão caiu sobre o Palácio da Glória. Algumas perderam seus líderes, enquanto outras até mesmo seus sucessores.

Mas, mesmo em meio a tudo isso, as casas sempre escolhiam alguém adequado para assumir o posto.

— Esse é o efeito desse fenômeno.

Este era um período difícil para todas as famílias nobres. E, em uma situação como essa, qual seria a primeira decisão de um novo líder da casa?

Eles venderiam os bens valiosos de que não precisavam para obter dinheiro.

Contudo, como ninguém mais frequentava a Troca Celestial, que costumava ser usada pela elite, todos os bens estavam sendo despejados no Centro Comercial, que ainda operava em grande escala.

Amelia assentiu em compreensão com minha explicação.

— Então algo como o Rubi de Nomilat?

Eu não consegui esconder minha empolgação, mesmo sabendo que isso só encorajaria Amelia a me provocar. — Você encontrou um jeito de consegui-lo? Ouvi dizer que alguém já fez uma oferta por ele.

— Sempre há um jeito se você souber onde procurar. — Ela sorriu, como se já tivesse conseguido o item.

— Como assim? Outro foi registrado?

— Não há chance de outro desse ser registrado. Eu me infiltrei secretamente no centro comercial e verifiquei o registro. Então, encontrei o vendedor e fiz um pedido para que ele nos vendesse o item diretamente. Disse que cobriríamos as taxas para que ele retirasse a oferta.

— E ele aceitou?

Me arrependi de perguntar assim que o fiz. Se o vendedor não tivesse aceitado, Amelia nem teria mencionado isso.

— Eu disse que você precisava dele e usei o seu nome. Ele concordou sem nem perguntar nada. Ah, mas me pediu para lhe dizer seu nome. Visconde Bertan.

— Visconde Bertan…

Apesar de eu nunca ter interagido com ele, conhecia sua casa. A Casa do Visconde Bertan tinha uma longa história, mas não era muito influente ou famosa. Eram parte da nobreza menor.

— Ah, e perguntei por curiosidade… Mas aparentemente o rubi estava sendo usado como peça decorativa no salão do primeiro andar.

— O quê…?

Usar algo tão valioso como decoração?

Tsk, é por isso que os nobres são assim…

“Se a situação não estivesse como está, isso nunca teria aparecido no centro comercial.”

De qualquer forma, eu estava grato.

Encontrar itens consumíveis como esse era uma das tarefas mais difíceis no centro comercial.

— Mas… Para que você vai usá-lo? Ouvi dizer que ele aumenta a força se for ingerido, mas duvido que você estivesse tão animado só por isso.

— Ah, para quê? — Sorri diante da pergunta de Amelia. — Este é o último ingrediente que preciso para o Estágio 8 da Impressão da Alma.

Eu finalmente tinha reunido tudo.

Para alcançar o Estágio 8 da Impressão da Alma, eram necessários quinze materiais. No entanto, a maioria deles podia ser encontrada facilmente na cidade e comprada com dinheiro.

Todos, exceto três.

Os três materiais essenciais do Estágio 8 eram obtidos apenas de monstros de terceiro nível, tornando-os extremamente difíceis de conseguir.

No entanto, tive sorte o suficiente para obter dois deles quando fui além dos muros da cidade…

“Agora, finalmente, eu os tinha todos.”

Com a ajuda da incursão da Amelia, consegui o material final para me tornar um pouco mais forte.

Bem, não era como se fosse uma melhora imensa, mas era muito importante estar apenas um passo de distância do Estágio 9.

“Porque, ao alcançar o Estágio 9, algo se tornaria possível.”

Depois de chegar ao Estágio 9 e consumir mais duas essências, minha preciosa e grandiosa construção de bárbaro de escudo estaria completa…

“Só mais alguns passos para o objetivo final.”

1. Cap. 572[↩]