Capítulo 786: Aprimoramento (4/6)
A economia de Rafdonia dependia das pedras de mana extraídas pelos aventureiros que arriscavam suas vidas no labirinto. Nesse sistema abominável, a importância dos aventureiros na cidade não podia ser subestimada e, naturalmente, a influência, o poder e o tamanho da guilda que supervisionava essas expedições não eram comparáveis a nenhuma outra organização.
Milhares e milhares de membros da guilda.
Centenas de gerentes de filiais.
E gerentes regionais que supervisionavam esses gerentes de filiais.
E, no topo de todos eles, um mestre da guilda.
Até mesmo a maioria dos nobres deveria se curvar diante do nome desse mestre da guilda, uma figura que, para mim, era mais difícil de encontrar do que qualquer outro nobre de alto escalão.
“Ainda assim, esse cara tão difícil de ver veio até aqui por conta própria…”
Ele era importante demais para simplesmente ser mandado embora por aparecer sem um convite.
Minha curiosidade foi despertada, e enviei o guerreiro que me trouxe a mensagem para buscá-lo.
Para ser sincero, eu já fazia tempo que queria ter uma conversa decente com esse homem. Sem mencionar que nosso relacionamento era um tanto delicado.
— Para quem você está trabalhando?
— Illya Adnus…
Durante a Expedição ao Rochedo Gélido, um dos membros, Pyke Neldine, havia recebido ordens do mestre da guilda para sabotar a expedição, fazendo tudo ao seu alcance para garantir o fracasso. Ele sabotou nossos suprimentos e nossa comida, e, na época, achei que era um movimento político para garantir que a expedição falhasse, impedindo que o marquês recebesse o crédito pelo sucesso.
No entanto…
“A expedição em si era uma farsa.”
No fim, quando percebi que o marquês pretendia nos abandonar desde o início, minha avaliação do mestre da guilda também teve que mudar.
Talvez o objetivo dele não fosse sabotar a expedição, mas simplesmente salvar aqueles que estavam nela?
Essa era apenas uma hipótese, claro. Nada havia sido confirmado.
Bom, se eu tivesse sorte, poderia descobrir a verdade dessa vez.
— Ainar, vá brincar lá fora.
— Certo!
Depois de mandar Ainar embora, o convidado que eu esperava chegou logo em seguida.
— Faz tempo, Barão Yandel. Antes de mais nada, deixe-me agradecer por conceder esta audiência mesmo sem um aviso prévio.
— Eu tinha tempo livre, então não se preocupe com isso.
— Obrigado.
Na verdade, essa não era a primeira vez que encontrava o mestre da guilda.
Dada sua posição, não era estranho vê-lo em eventos oficiais do palácio.
Nós até trocamos cumprimentos na cerimônia realizada após a conclusão da Expedição ao Rochedo Gélido.
— Então, o que é? — perguntei diretamente assim que ele se sentou. — Uma visita tão repentina…
O mestre da guilda pareceu um pouco surpreso, aparentemente não acostumado a ir direto ao assunto sem sequer ser servido com uma xícara de chá.
— Apenas fale livremente. Do contrário, vou acabar ficando com fome.
Foi só então que ele pareceu se lembrar de quem eu era, esboçando um sorriso e entrando no ritmo da conversa.
— Peço desculpas por não poder fazer mais durante a Expedição ao Rochedo Gélido.
Ele estava praticamente admitindo que sabia exatamente quais eram as intenções do marquês naquela expedição. Também dava para perceber que ele estava tentando medir o quanto eu sabia sobre a situação.
Embora estivesse longe da troca de palavras direta que eu queria, não tinha jeito.
Comparado às pessoas que passavam meia hora apenas com cortesias, isso já era bem direto.
Falei de forma indireta também, para acompanhar seu ritmo.
— Não, você fez tudo o que pôde. E considerando o poder que o marquês detinha, acredito que já tenha arriscado o suficiente.
Minhas palavras deixavam claro que eu sabia do envolvimento de Pyke Neldine e que tinha uma noção geral do que aconteceu nos bastidores.
O mestre da guilda acenou com a cabeça, um tanto amargo.
— Agradeço que pense assim.
Quantas vezes mais esse cara iria me agradecer?
— Não preciso disso. Apenas fale. — Disse, acenando para ele seguir em frente. — Qual o motivo da sua visita hoje?
O mestre da guilda finalmente começou a falar, embora parecesse mais um prelúdio para o verdadeiro assunto.
— Ouvi dizer que, como recompensa por lidar com aquele traidor, seu status nobre será elevado para visconde…
— E daí?
— Serei direto. O labirinto será reaberto a partir do próximo mês.
— Hmm, entendo.
Ele fez uma pausa. — Você já sabia disso?
— Ouvi que abriria em breve, mas não a data exata.
— Bem, considerando sua posição, suponho que não seja estranho que tenha sido informado antecipadamente.
— Está dizendo que você não está nessa posição?
— Mesmo sendo o mestre da Guilda dos Aventureiros, não tenho autoridade absoluta, tampouco sou tratado como se tivesse. — Ele respondeu humildemente. — Apenas recebo informações sobre o labirinto antes da maioria.
— Pelo jeito como falou, suspeito que tenha mais informações além da reabertura.
— Não sabemos por quanto tempo isso será mantido, mas o labirinto não será aberto no primeiro dia do mês.
— Não no primeiro dia?
A conversa, no geral, era entediante, mas não pude esconder minha surpresa com essa revelação. Até agora, o labirinto sempre abria à meia-noite do primeiro dia do mês, e fechava ao meio-dia do dia seguinte, expulsando todos os aventureiros.
Bom, como o palácio tinha controle total sobre os portais, eles podiam alterar os horários de abertura. Mas isso só levantava mais perguntas.
— Por que estão fazendo isso?
— Por causa de Noark. Para impedir que eles possam se preparar e entrar no labirinto. O palácio abrirá o portal em horários aleatórios e permitirá que apenas um pequeno grupo de aventureiros, cujas habilidades e identidades tenham sido verificadas, entre no labirinto.
— Oh?
— Como isso deve ser mantido em sigilo, o portal também não será aberto nas Praças Dimensionais, mas apenas na capital imperial de Karnon.
— Agora isso eu não sabia.
— Nós apenas recebemos essa informação primeiro porque precisávamos nos preparar antecipadamente para selecionar os aventureiros. Você teria sido informado em breve de qualquer forma. Nem mesmo os nobres são tolos o suficiente para deixá-lo de fora das discussões.
Tolos…
O uso dessa palavra me dizia que o mestre da guilda não tinha uma visão muito favorável dos nobres. Como eu era um bárbaro, sua percepção sobre mim como nobre devia ser diferente.
Mas o que importava aqui não era a personalidade dele.
— Então, o que você está tentando dizer? — insisti. — Não acho que tenha vindo pessoalmente até aqui apenas para me dar essa notícia.
O mestre da guilda finalmente revelou sua verdadeira intenção.
— Ouvi dizer que o Clã Anabada tem onze membros divididos em duas equipes e que ainda há uma vaga aberta.
— E…?
— Quero ocupar essa vaga.
O que tinha na água ultimamente?
Illya Adnus era, na verdade, uma figura bem conhecida até entre os cidadãos comuns.
Antes desta onda de colapsos dimensionais, durante a chamada Era Dourada, ele foi um famoso aventureiro de alto escalão, mas sua verdadeira fama surgiu durante sua segunda vida, após a aposentadoria.
Eu também havia investigado esse homem.
Aos trinta e sete anos, ingressou na guilda como conselheiro. Aos trinta e oito, tornou-se gerente de filial e implementou várias políticas bem-sucedidas que beneficiaram os aventureiros, demonstrando sua competência ao ser promovido a gerente regional aos quarenta e um. Aos quarenta e sete, derrotou o antigo mestre da guilda e foi eleito para o cargo mais alto da organização, mantendo essa posição desde então.
“Mestre da guilda em apenas dez anos…”
Seu histórico por si só já provava que ele era uma pessoa de talento extraordinário.
Mas e daí?
— Por que eu deveria lhe dar uma vaga no meu clã?
— Talvez você não saiba… Mas fui aventureiro por muito tempo. Não serei um peso para você…
— Eu sei disso. Illya Adnus, você era um aventureiro de terceiro nível antes de se aposentar, certo? Seu apelido era Caçador Negro. Sei que começou como batedor antes de se tornar um combatente no meio da carreira.
Illya Adnus seria uma adição valiosa para um grupo de exploração. Claro, apenas por ser habilidoso não significava que eu confiaria nele o suficiente para entrar no labirinto ao seu lado.
— Você investigou bastante. Poucos sabem que comecei como batedor.
— Você deveria esperar isso. Afinal, você é o mestre da única Guilda de Aventureiros.
Ele soltou um suspiro profundo.
Provavelmente, não estava acostumado a esse tipo de situação. Normalmente, sua posição de mestre da guilda lhe garantiria a vantagem em qualquer conversa, mas títulos como esse não tinham peso algum comigo.
O chefe dos bárbaros.
Um barão de Rafdonia.
Um aventureiro cujo nome estava gravado na Pedra da Honra, Bjorn, filho de Yandel.
Só esses três títulos já eram suficientes para que eu não precisasse me curvar diante de um simples mestre da guilda.
E, além disso, era ele quem estava me pedindo algo.
— Não esconda nada e fale diretamente. Só assim considerarei seriamente seu pedido. — Cruzei os braços. — Por que quer se juntar ao meu clã?
Se ele tentasse contornar o assunto ou adicionar alguma condição, eu encerraria a conversa ali mesmo. Mas parece que ele entendeu a situação, pois respirou fundo algumas vezes antes de começar a falar.
— Eu preciso de uma conquista.
— Uma conquista?
— A posição da guilda enfraqueceu bastante devido ao labirinto ter ficado fechado por tanto tempo. Não é culpa da guilda que o labirinto tenha sido selado, mas estão procurando alguém para culpar.
Procurando alguém para culpar…
Um sorriso se formou no meu rosto.
— Mas não estão culpando a guilda, e sim você. Acertei?
O mestre da guilda não respondeu.
“Parece que entendi a situação.”
A ascensão meteórica de Illya Adnus finalmente havia atingido um obstáculo.
As pessoas que sempre cobiçaram seu cargo estavam aproveitando essa situação como um catalisador para derrubá-lo. E por isso ele mesmo estava tentando superar isso de forma direta.
— Então, no fim, concluiu que o meu clã é a única chance que tem de conseguir esse feito.
— Exato…
Fiquei um pouco decepcionado com a facilidade com que ele confirmou minha dedução.
A imagem que eu tinha desse homem era diferente da realidade. O fato de ele ter infiltrado um espião na expedição, mesmo correndo o risco de antagonizar o marquês, me fazia pensar que ele era alguém que trabalhava por um objetivo maior.
“Talvez ele estivesse apenas em uma situação política que o obrigou a agir daquela forma…”
Se eu desse tempo, talvez pudesse enxergar melhor os diversos lados desse homem.
Por enquanto, o que eu via nele era apenas um mestre da guilda, e nada além disso.
— E o que eu ganho se aceitar esse pedido?
— Primeiro, o nível do Clã Anabada será elevado ao mais alto nível sob minha autoridade, e além disso, seu tratamento dentro da guilda…
— Pode parar por aí. — Interrompi rapidamente.
Perguntei por perguntar, mas nada ali me interessava. Aumentar o nível do clã não era algo puramente positivo. Mesmo que ele prometesse um tratamento melhor dentro da guilda, isso só mudaria a forma como os outros nos viam, e eu poderia fazer isso sozinho se quisesse.
— Vamos encerrar por aqui. É uma pena, mas você terá que procurar outro lugar para conseguir sua conquista.
Foi uma recusa limpa e direta. No entanto, o mestre da guilda não queria desistir tão facilmente.
— O que você quer?
Ele falava como se estivesse disposto a me dar qualquer coisa que eu pedisse. Se fosse o rei, talvez eu levasse a sério, mas ouvir isso de alguém que estava prestes a ser rebaixado era quase cômico.
— Um Coração de Dragão. — Falei casualmente, jogando isso no ar. — Se me der um, deixarei você entrar.
— O quê?
— Não tem um? Então vamos encerrar isso e…
Antes que eu pudesse mandá-lo embora, o mestre da guilda me interrompeu.
— Certo. Eu lhe darei um.
— Hã?
Ele tinha um?
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