Capítulo 789: Oceano Vermelho (1/5)

Desta vez, o palácio se esforçou muito para a reabertura do labirinto. Os recursos da cidade estavam começando a se esgotar.

“Bem, os nobres e os ricos podem sustentar seus estilos de vida sem problemas, mas o resto vai morrer de fome.”

Refugiados que perderam suas casas, a disparada dos preços dos bens.

As coisas estavam tão ruins que mendigos começaram a aparecer em todas as esquinas, algo inimaginável um ou dois anos atrás. Afinal, Rafdonia era uma cidade-estado que executava aqueles que consideravam indignos, pessoas que não pagavam impostos.

É claro que essa situação surgiu porque os impostos foram temporariamente suspensos para todos os cidadãos, o que significava que o palácio precisava reabrir o labirinto para poder voltar a cobrar impostos e restaurar alguma estabilidade.

— É Bjorn Yandel…

— Faz sentido que estejam aqui.

— Ainda assim, é impressionante. O grupo deles nem tem doze pessoas, mas ainda assim foram convocados para cá. Pelo que sei, o segundo menor clã ainda tinha cerca de sessenta membros.

— O que há de impressionante nisso? É óbvio. Ele é um aventureiro que gravou seu nome na Pedra da Honra.

— E ouvi dizer que se tornou visconde depois da última cerimônia.

Assim que chegamos ao ponto de encontro, os centenas de aventureiros já presentes nos avaliaram com olhares atentos.

— Então esses são os novos membros.

— O Herói dos Elfos e a Maga Dourada…

— A Maga Dourada já trabalhou com o Visconde Yandel, mas acho que você precisa estar pelo menos no nível dela para poder se juntar a eles.

— Eles lançaram algum tipo de recrutamento? Só de entrar para o Clã Anabada, seu nome se espalharia por toda a cidade.

— Ainda assim, os clãs grandes são melhores. Pense bem, eles são apenas uma unidade de elite pequena, então, se ignorarmos a fama e as habilidades individuais, eles não conseguem fazer o que um clã grande pode.

— Aliás, quem é aquele ali com o capacete? Achei que fossem apenas onze.

Alguns nos observavam com inveja e ciúmes, enquanto outros tinham apenas curiosidade. Em vez de responder a essa atenção, apenas olhei ao redor.

Essa reunião ultrassecreta dos aventureiros que entrariam no labirinto estava acontecendo em um lugar que eu conhecia muito bem.

— Parece que o palácio tem um gosto pervertido, já que nos fizeram reunir na mansão do marquês.

Sorri da observação murmurada pela Amelia.

— Não sei se é pervertido. Acho que é por eficiência. É difícil encontrar um lugar tão grande e seguro na capital imperial.

— Bem… Isso é verdade.

Era um lugar muito bem conservado para ser uma ruína, mas sombrio demais para ser uma residência.

Era estranho.

Olhar ao redor desse lugar me fez pensar mais uma vez sobre a natureza do poder e da autoridade, e, ainda assim, senti um vazio inexplicável.

— Por aqui, Visconde Yandel.

Um pouco mais adiante, um funcionário da rede de guias do labirinto apareceu e nos conduziu a uma tenda militar. Ele parecia velho demais para ser um trabalhador comum, então perguntei qual era seu cargo — e era mais alto do que eu esperava. Em termos modernos, ele seria como um chefe de departamento.

Talvez alguém desse nível precisasse comparecer à reunião por motivos de segurança?

— Ah… Isso é bem melhor.

Assim que entramos na tenda, os membros atrás de mim se jogaram em posições mais confortáveis. Haviam mantido as costas retas o tempo todo, sob os olhares da multidão.

A que parecia ter sofrido mais era Raven.

— Tem mesmo necessidade de usar saltos assim? — Perguntei, genuinamente intrigado. — Vamos entrar no labirinto de qualquer forma.

— Você só diz isso porque não entende, Sr. Yandel. Tudo termina no momento em que você descuida da sua apresentação.

“Hmm… Não sei se saltos realmente ajudam na aparência de alguma forma…”

Mas não disse nada. Cada um tem sua opinião.

— Então vamos descansar aqui um pouco antes de entrar direto no labirinto?

— Não, ficaremos aqui por um tempo. Vamos nos mover à meia-noite. Também há uma Praça Dimensional na capital imperial.

— Você quer dizer a primeira Praça Dimensional, certo? — Perguntou Kaislan. — Aquela que não é usada há muito tempo.

Raven levou a mão ao queixo e murmurou:

— Então ainda estão abrindo à meia-noite. Talvez isso não possa ser alterado, mesmo que eles controlem em que dia o labirinto abre.

— Bom, não sei. Não sou um mago.

— Mas isso levanta outra questão. Se eles podem abrir quando quiserem, em segredo, por que não fizeram isso antes?

Ah, isso?

Eu poderia responder. Também fiquei curioso e perguntei a Astarota sobre isso.

— Não sei os detalhes, mas parece que precisaram de tempo para fazer funcionar. O palácio começou os preparativos no dia em que Noark tomou Bifron, e só agora conseguiram finalizar.

— Hmm… — Raven resmungou. — Talvez Noark também soubesse disso, então tentaram avançar o máximo possível. Por mais secreto que fosse, o primeiro-ministro deveria saber de tudo. As informações devem ter chegado aos noarkianos.

— Pode ser. Seja como for, vamos ficar aqui esperando um tempo, então descansem o máximo possível. Não teremos tempo para isso quando entrarmos no labirinto.

— Ah, mais uma coisa.

Parei.

— Você tem mais?

Raven parecia estar cheia de perguntas hoje.

— Olhei o cronograma da expedição, mas por que precisamos nos mover tão rápido? Você reduziu o tempo para chegar ao quinto andar a um nível absurdo.

— É uma marcha puxada, mas não há escolha. Estamos entrando em um labirinto que ficou fechado por mais de um ano.

O labirinto escondia inúmeros segredos, e a maioria deles tinha um tempo de recarga antes de poderem ser revelados novamente. A fenda do primeiro andar era um desses segredos. Embora fosse possível abrir uma fenda no primeiro andar usando uma pedra de mana de um monstro do segundo andar, ela só podia ser aberta uma vez a cada poucos meses.

E não só isso…

— Quando olhamos para a história, essa não é a primeira vez que o labirinto foi selado. Os principais exemplos foram durante a Rebelião da Muralha de Ferro e quando o décimo terceiro mês foi criado após a ascensão do Rei Novo Mundo.

— E daí?

— Então, ao analisar os registros da época, percebi algo interessante.

— O que foi?

— Quando o labirinto foi reaberto, a frequência das fendas estava anormalmente alta.

— Ah…

— O mais importante disso tudo é que os outros clãs convocados hoje provavelmente também sabem disso.

Sendo uma mulher inteligente, Raven pegou o ponto rapidamente.

— Entendi. Os outros clãs vão lutar para conseguir o máximo que puderem. Digo, todo mundo já está desesperado para ganhar mais uma moeda nesse momento.

— Mesmo que o número de aventureiros entrando no labirinto seja pequeno, a competição será feroz. Muitos vão tentar usar essa oportunidade para também subir para andares mais altos.

Isso finalmente pareceu convencê-la.

— Acho melhor tirar um cochilo então. Duvido que consiga dormir dentro do labirinto.

— Certo.

Com isso, a bola de curiosidade chamada Raven se afastou, mas eu ainda não descansei. O mestre da guilda finalmente conseguiu o que eu havia pedido.

— Esta é a lista de nomes que você pediu. Os clãs e outras partes que entrarão no labirinto estão resumidos aqui.

— Obrigado.

Era um bônus que eu jamais poderia imaginar obter, a menos que tivesse o mestre da guilda, a pessoa que gerenciava todos os aventureiros, no meu grupo.

Fiz questão de ler toda a lista hoje. Afinal, essas pessoas eram nossa concorrência.

“Não há grupos pequenos na lista, assim como o duque me disse.”

Isso não significava que grupos pequenos de aventureiros não estariam presentes, é claro. Pelo que o mestre da guilda me contou, equipes pequenas e de elite aparentemente usaram suas conexões para se juntar a clãs maiores, garantindo assim sua entrada no labirinto.

— Trinta e um clãs, totalizando 2.517 pessoas.

Após revisar toda a lista, havia ainda outros 1.700 membros na força expedicionária convocada pessoalmente pelo palácio.

Cerca de 4.300 pessoas entrariam no labirinto desta vez e, como esperado, as unidades compostas por soldados do palácio eram esmagadoramente maiores do que qualquer outro clã.

No entanto, eu não precisava me preocupar com eles. Seus objetivos eram diferentes demais dos nossos para serem considerados concorrência.

“Pedras de mana.”

O principal objetivo da força expedicionária do palácio era coletar pedras de mana e, segundo as informações que recebi do duque, eles estavam mirando o sexto andar para minerá-las. O problema era que planejavam tomar as três ilhas de cultivo¹, que estavam repletas de grandes clãs, e simplesmente extrair pedras até o labirinto fechar.

Embora isso fosse prejudicial para os grandes clãs que também tinham essas ilhas como alvo, não era um problema meu. O importante era que nossos objetivos eram diferentes, o que significava que não precisaríamos competir com a força expedicionária.

“Nosso objetivo é a fenda no oitavo andar.”

Quantos competidores encontraríamos lá? Essa era uma resposta que eu só descobriria ao chegar.

— Muito bem, agora vamos nos deslocar para a Praça Dimensional! Por favor, embarquem nas carruagens em ordem!

Conforme a meia-noite se aproximava, as carruagens que estavam de prontidão no imenso jardim da mansão do marquês começaram a se mover em direção à Praça Dimensional.

E então…

Shaaa!

O portal finalmente começou a se abrir no coração da praça.

Meu coração disparou ao observar a cena, algo que eu não via há muito tempo.

Assim como lagartas precisam de folhas para se alimentar, aventureiros precisam de aventura para prosperar.

Brilhos intensos iluminavam a Caverna de Cristal.

Respirei o ar fresco e levemente lodoso, finalmente sentindo que estava dentro do labirinto.

“Algo parece… estranho.”

Era uma sensação esquisita, algo que eu não lembrava de ter sentido nas minhas incursões mensais ao labirinto. De alguma forma, parecia que o lugar havia mudado, ainda que de forma sutil.

Ainda assim, havia trabalho a ser feito.

Toquei as paredes incrustadas de cristais, tentando discernir melhor aquela sensação. Era um método que aprendi com Rotmiller, que começou sua vida como batedor nos pontos mais baixos.

Levei um momento para decifrar a sensação. Fazia tempo que não praticava isso.

“Sim, esse sentimento significa…”

— Julgando pela distância entre os portais, parece que derivamos um pouco mais ao norte do ponto de origem. O melhor caminho é seguir para a Floresta dos Goblins.

Ah, certo. Ele era o batedor.

“Apenas pessoas talentosas ao meu redor.”

Senti uma momentânea derrota, mas deixei esse sentimento se dissipar ao ver Beleg abrir sua bússola por um breve segundo e confirmar a direção sem precisar tocar na parede ou sentir o ar.

— Vou à frente.

Segui rapidamente atrás dele enquanto avançava. Não era apropriado que um causador de dano à distância liderasse o grupo.

“Honestamente, é difícil se machucar contra goblins, mesmo que tente.”

Embora eu não conhecesse todas as capacidades de Beleg, tinha a sensação de que ele poderia liderar até o quinto andar sem problemas. A partir daí, dependeria da ilha no sexto andar.

“O sétimo andar será mais complicado para ele.”

Como não precisava me concentrar em encontrar o caminho, aproveitei para observar os membros do Time 1, que seguiam atrás de Beleg. Especificamente, prestei atenção em Raven e no mestre da guilda.

O mestre da guilda corria normalmente, enquanto Raven estava sobre um dispositivo com uma única roda.

— Uh… Aruru? Esse é o veículo que você mencionou?

— Sim. É uma ferramenta mágica criada pelos militares. Pode ser alimentada com pedras de mana, mas também absorve mana do ambiente. Claro, se quiser mais velocidade, pedras de mana são necessárias.

— Aha? O-oh! Entendo?

— Provavelmente será tão rápida quanto você em terreno plano, Srta. Karlstein.

— R-Realmente? I-Isso é impressionante… — Missha gaguejou, parecendo envergonhada por ter perguntado algo tão óbvio. O mestre da guilda continuou de onde ela parou.

— Pode ser usada em terrenos irregulares?

— Sim, desde que não seja muito acidentado. Se for, terei que usar outra coisa.

— Outra coisa?

— Mostro para vocês se for necessário. — Raven cortou o assunto. Diferente de quando explicou tudo para Missha, agora estava respondendo o mínimo possível ao mestre da guilda.

— Haha, entendi…

Havia algo acontecendo entre eles?

Raven sempre foi um pouco defensiva, mas nunca deixava passar a chance de exibir seu equipamento.

“Melhor ficar de olho.”

Depois disso, continuamos correndo pela caverna como se estivéssemos acelerando o progresso.

— Infelizmente, chegamos um passo tarde demais.

Quando finalmente alcançamos a lápide dimensional que conectava à Floresta dos Goblins, descobrimos que alguém já havia aberto o portal.

“Hah, esses aventureiros são rápidos. Achei que estávamos indo bem com o ritmo.”

Mesmo sem saber quem eram, o fato de termos concorrentes à frente elevou nossa motivação, fazendo-nos acelerar ainda mais.

No entanto, no final, nunca conseguimos alcançá-los.

Mais uma vez, usamos um portal já aberto para chegar ao terceiro andar. Como o cenário era um pântano esverdeado, conseguimos ver rapidamente os rastros dos aventureiros que chegaram antes de nós.

— Então são esses que estão na nossa frente.

— Felizmente, parece ser apenas um time.

— Sim. Com a velocidade que mantivemos, se houvesse vários grupos mais rápidos do que nós… eu ficaria puto.

— Então, vamos continuar…

Interrompi Beleg.

— Espere.

— O que foi?

— A direção dessas pegadas… Não é para o quarto andar, é?

Beleg também sentiu algo estranho, franzindo a testa.

— Isso… é esquisito. Só há o Templo das Esculturas naquela direção…

No entanto, como ele não sabia o motivo de alguém ir para lá, ainda não compreendia o problema por completo.

— Ir para o Templo das Esculturas depois de subir para o terceiro andar tão rapidamente…

Só podia significar uma coisa.

Não sabia quem era louco o suficiente para tentar isso, mas alguém estava tentando alcançar ‘aquele’ andar.

O Primeiro Subsolo.

1. Cultivo no sentido de plantações.[↩]