Índice de Capítulo

    Sempre que alguém era confrontado com algo a considerar, a primeira coisa que fazia era imaginar cenários. O nível de imersão podia variar entre as pessoas, mas era uma verdade universal que, em algum momento, todos se viam criando esses cenários em suas mentes.

    Minha imaginação, por exemplo, estava correndo solta.

    “Eles estão cinco dias atrasados em relação ao tempo estimado…”

    Nenhuma das equipes era mais rápida que a outra, e definitivamente não o suficiente para justificar uma diferença de tempo tão grande. Algo tinha acontecido com o Grupo Dois. Eu só não fazia ideia do que poderia ser.

    “Espera…”

    Como alguém que vivia com um pessimismo crônico, minha imaginação, naturalmente, me levou primeiro ao pior cenário possível.

    Talvez tivessem encontrado saqueadores, assim como o Clã Meiruta no quinto andar. Alguns aventureiros podiam ter atacado o Grupo Dois enquanto estavam sozinhos.

    O que tornava isso ainda mais angustiante era o fato de que esses cenários imaginários não eram completamente ilógicos. Na verdade, eram bastante prováveis.

    O Clã Meiruta tentou recuar porque não teve coragem de levar o ataque adiante, mas nem todos eram como eles. E se o Grupo Dois tivesse dado azar e encontrado um grupo muito mais decidido? E se esse grupo não se deixasse intimidar pela minha reputação?

    Cerrei os dentes com esse pensamento.

    Foi exatamente por isso que fui um pouco mais duro com o capitão do Clã Meiruta. Independentemente da situação, eu queria eliminar todas as variáveis que poderiam nos ameaçar. Foi por isso que o executei, para fazer dele um exemplo. Também foi por isso que ordenei ao vice-capitão do clã que espalhasse a notícia do incidente assim que saíssem do labirinto.

    — B-Bjorn…?

    Não, talvez eu estivesse pensando de forma muito limitada.

    Talvez eles não tivessem apenas encontrado alguns saqueadores aleatórios. Eu tinha inimigos, Baekho Lee, Auril Gavis. Se não fossem eles, talvez Noark tivesse notado a abertura do labirinto e enviado uma equipe própria…

    — Bjorn!

    Voltei a mim quando senti alguém me dar um tapa nas costas.

    — Missha?

    — Agora me escuta! — ela reclamou.

    Ah, ela estava falando comigo.

    — O que foi? — perguntei, querendo logo saber o que queria para poder voltar a pensar. No entanto, Missha não ia me deixar escapar tão fácil.

    — Por favor! Para de imaginar o pior! Eles estão bem!

    Perguntei cautelosamente — Como você pode ter tanta certeza?

    — Porque eu confio neles. Emily, Erwen, Ainar e o resto… Estou um pouco preocupada com o Sr. Rockrobe, mas ainda assim! Todos são capazes de se cuidar!

    — Não, bem… Não é que eu não confie neles…

    — Bjorn, acho que você está confundindo as coisas. Somos seus aliados, não seus filhos.

    Isso me fez hesitar.

    — Eu só… vou esfriar a cabeça um pouco.

    — Isso, isso. Vá lá.

    Seguindo o conselho preocupado da Missha, me afastei do portal para me acalmar. Mas isso não significava que minha ansiedade tivesse desaparecido.

    Era algo natural. Aceitei o conselho da Missha porque precisava de um momento de tranquilidade. Não seria certo para o capitão de um time demonstrar tamanha preocupação na frente de seus companheiros.

    — Bjorn! — Missha me chamou à distância.

    Quanto tempo eu havia ficado longe?

    — Onde você se meteu? Procurei por você por todo lado…

    — Volte e avise ao time que partiremos em breve.

    — Hã? Vamos sair?

    Ela inclinou a cabeça em confusão, e aproveitei o momento para informá-la do plano que formulei após uma rápida, mas intensa, reflexão.

    — Assim que estivermos preparados, partiremos para o quinto andar. Em vez de esperarmos por eles assim, devemos ir e…

    — Do que você está falando? Não precisamos fazer isso!

    — Eu decido o que precisamos ou não — a repreendi. — Não sabemos exatamente qual é a situação do Grupo Dois, mas se alguém estiver os perseguindo, ou se estiverem escondidos em algum lugar, precisamos ir ajudá-los…

    — Não, seu cabeça-dura! O Grupo Dois acabou de chegar!

    — O quê? — perguntei, atordoado por um momento.

    Vendo minha reação, Missha tratou de esclarecer as perguntas que mais me preocupavam.

    — Estão todos bem! O atraso foi porque tiveram que entrar em uma fenda no quarto andar! Argh, sério. O que foi que eu te disse? Nada aconteceu!

    Por um instante, fui tomado pelo alívio. Então, outra emoção que não consegui nomear surgiu enquanto eu me dirigia ao portal, ao local onde o Grupo Dois estava.

    — Hã? Ei, ainda estou falando com você! — Missha gritou atrás de mim. — Onde você vai?!

    Aproximei-me do portal com passos rápidos, avistando os membros do Grupo Dois parados diante dele. Amelia parecia estar explicando algo calmamente para os outros membros, enquanto Ainar se gabava ruidosamente de algo que havia conseguido.

    Foi só então que percebi o que era essa emoção que estava sentindo: um leve traço de irritação. O que eu não entendia, no entanto, era por que a estava sentindo em primeiro lugar.

    — Oh, Yandel? Você está aqui — Amelia me cumprimentou, um traço de surpresa em sua voz ao me ver me aproximar tão apressadamente. — Ouvi dizer que estava preocupado porque não chegamos a tempo.

    Erwen riu.

    — Senhor! Você estava preocupado com a gente?

    Apesar das saudações, não respondi nada. Temia que, se dissesse algo, essas emoções que sentia acabassem transparecendo.

    Talvez já tivessem.

    — Emily… — comecei lentamente. — Por que demoraram tanto?

    — Ah… Karlstein não te contou? Uma fenda se abriu bem na nossa frente no quarto andar. Discutimos entre nós e decidimos entrar nela. — Percebendo que eu continuava em silêncio, Amelia acrescentou: — Mas isso não foi discutido anteriormente? Concordamos em entrar em qualquer fenda a partir do quarto andar, caso fosse possível.

    Ela estava certa. Nós havíamos concordado com isso. Foi por isso que, mesmo com o atraso do Grupo Dois, meus outros companheiros tentaram me tranquilizar sugerindo que eles poderiam ter entrado em uma fenda. Eles haviam feito o que eu, como capitão, deveria ter feito por eles.

    — Ainda assim… Vocês não demoraram demais?

    Isso significava que o problema provavelmente estava em mim.

    — O quê? — Amelia questionou, surpresa novamente.

    — No nível de vocês, não deveria ter levado mais de cinco dias para limpar uma fenda do quarto andar.

    — Levamos um pouco mais de tempo porque avançamos com o máximo de cautela possível. Você está realmente nos culpando por isso agora?

    Uma leve ruga se formou na testa da Amelia ao perceber a emoção oculta por trás do meu questionamento, e foi só então que minha mente pareceu clarear.

    Definitivamente, havia algo de errado comigo.

    Não, para ser mais preciso…

    — Yandel… Por que está tão impaciente?

    Havia algo errado com a minha cabeça.


    Vinte e um dias após entrarmos no labirinto, tivemos um incidente ao chegarmos ao sexto andar, mas foi resolvido sem problemas e finalmente conseguimos embarcar em um barco rumo ao oceano aberto. Também nos separamos do Clã Meiruta aqui.

    — Finalmente estamos navegando…

    — Parece que as equipes do palácio também estão começando a zarpar.

    Ao olharmos para trás, podíamos ver a força expedicionária do palácio lentamente organizando alguns navios militares. A visão, para ser honesto, me frustrava um pouco.

    “Parece que esses caras vão conseguir partir até amanhã.”

    Eu tinha que admitir, estava um pouco desapontado com o tempo que levamos. Movemo-nos tão rapidamente, e mesmo assim estávamos partindo apenas um dia antes da lenta força expedicionária. Para piorar, todos os barcos que ainda estavam na ilha pertenciam às forças palacianas, com exceção de alguns poucos de clãs selecionados que permaneceram para trás.

    — Estamos mais lentos do que o planejado, mas não se preocupe tanto. Ganhamos bastante e até já limpamos uma fenda — Amelia disse, tentando me consolar. Pelo visto, eu havia deixado transparecer meus pensamentos no rosto.

    Ainda assim, havia uma atmosfera estranha entre nós, provavelmente por causa do incidente anterior. Nem eu nem Amelia havíamos tocado no assunto desde então.

    — Sim, isso mesmo! De certa forma, ganhamos mais do que se tivéssemos caçado nesses cinco dias, certo? Não se preocupe tanto com isso, senhor!

    Suspirei.

    “Erwen está preocupada comigo. O que eu estou fazendo?”

    Enquanto me sentia decepcionado comigo mesmo, essa sensação me fez pensar com mais clareza, e, se eu queria fazer isso, precisava lidar com o problema na minha mente.

    Respirei a brisa do oceano enquanto observava a água batendo no casco, tirando um momento para refletir.

    Naquele momento, eu não havia sido eu mesmo. Não, olhando para trás, algo estava errado desde que lidei com o Clã Meiruta. Era como se um dos mecanismos que mantinham minha mente funcionando tivesse sido danificado. Minhas emoções tomaram a dianteira sobre minha razão, e me tornei muito mais sensível e agressivo do que o necessário.

    Era o tipo de coisa que acontecia com qualquer pessoa, até mesmo com aquelas que pareciam estáveis, até que um determinado gatilho fosse acionado.

    “Talvez eu esteja muito estressado…”

    Essa poderia ser uma explicação simples, mas eu não podia simplesmente me contentar com isso.

    Se o capitão perdesse sua racionalidade e agisse movido por emoções, todo o grupo estaria em perigo. Isso poderia levar alguém a se machucar.

    Então, como eu poderia consertar isso? Não tínhamos um psicólogo aqui. Será que eu precisaria administrar minha própria ‘cura física’?

    — Yandel — Amelia me chamou, interrompendo meus pensamentos.

    — Oh, Emily…

    — Está tudo bem. Isso é natural.

    Ela parecia ter identificado a raiz do meu problema. Com certeza, era uma mulher observadora.

    O silêncio se instalou entre nós, mas a tensão de antes desapareceu.

    “Ah”, percebi alguns minutos depois. “Eu nunca perguntei a ela sobre isso. Trazer o assunto à tona agora seria meio estranho.”

    De repente, me lembrando do que queria perguntar, falei em voz alta:

    — Então, em qual fenda vocês entraram no quarto andar?

    — Na Floresta dos Doppelgängers.

    — Sério? É uma pena que não tenha sido a Ruína Dourada.

    — Pelo que ouvi, você não disse à Raven que tinha certeza de que era a Floresta dos Doppelgängers?

    “Isso porque eu não sabia que era a nossa equipe que tinha entrado nela.”

    Hah, talvez fosse por isso que as pessoas precisassem ter pensamentos mais gentis sobre os outros.


    Vinte e nove dias após entrarmos no labirinto e nove dias depois de partirmos da costa de Laemia, finalmente desembarcamos em outra ilha, a primeira após cruzarmos o oceano. Era nosso primeiro destino na rota da expedição.

    Claro, nosso cronograma estava atrasado em cinco dias, então considerei a possibilidade de simplesmente ignorá-la.

    “Seria um desperdício pular, e está no caminho de qualquer forma. Só precisamos limpar tudo rapidamente e seguir em frente.”

    — Ugh… Eu já tinha ouvido falar disso antes, mas é muito mais assustador do que imaginei. A ilha inteira é feita de ossos…

    — Oooooh! A Ilha da Caveira! Ilha da Caveira!

    — O nome oficial é Catacoma, Srta. Fenelin.

    Ilha da Caveira, Catacoma.

    Embora essa fosse nossa primeira visita como equipe, eu tinha uma relação peculiar com a ilha. Quando visitei os Caça-Fantasmas pela primeira vez, uma das informações que vendi por GP foi sobre a Ilha da Caveira. Também compartilhei detalhes sobre ela na Távola Redonda.

    — Hã… Capitão?

    Assim que descemos do barco, Sven Parav se aproximou de mim.

    — Você sabia? Ouvi dizer que se derrotarmos o monstro-chefe da Ilha da Caveira e alcançarmos o décimo andar, podemos experimentar algo especial…

    Nossa, olha só esse membro óbvio da Távola Redonda. Essa era a informação que eu havia compartilhado.

    Fingindo que não sabia, respondi:

    — Uma experiência especial?

    — Sim. Eu também não sei muito sobre isso… mas ouvi de uma fonte confiável. Quer dizer, sei que não vamos para o décimo andar desta vez, mas achei que seria bom você saber…

    — É mesmo? Vou me lembrar disso. Mas, como disse, não vamos para o décimo andar.

    Encerramos a conversa ali e desembarcamos na ilha. Assim que o fizemos, Beleg, que havia saído do barco antes de nós, veio até mim com uma informação.

    — Alguém chegou aqui antes de nós.

    — Alguém mais…

    Era algo esperado. Nesse momento, cada andar do labirinto era uma mina de ouro. Esses encontros não estavam acontecendo apenas nesta ilha, mas por todo o labirinto.

    Onde havia tesouro, havia competição.

    — Quantos são? — perguntei.

    — Não sei ao certo… Mas pelo menos um outro clã já está na ilha. Olhe ali na entrada. A bandeira de um clã está fincada como se quisessem deixar um aviso.

    — Eu conheço esse tipo.

    — Parece um aviso, dizendo para os outros ficarem longe, já que chegaram primeiro… O que acha?

    De qualquer forma, gastamos um tempo precioso para chegar aqui, então, no mínimo, daríamos uma olhada. Ainda assim, verificamos os detalhes necessários antes de entrarmos sem pensar.

    — Adnus, essa é a insígnia do Clã da Árvore Dourada?

    — É sim. O clã cujo capitão é um dos Sete Poderosos, o Fantasma Dourado.

    Eu já suspeitava quando vi a insígnia, mas agora tinha certeza.

    O Clã da Árvore Dourada era um clã com o qual eu estava bastante familiarizado. Primeiro, porque seu capitão era um dos Sete Poderosos, assim como Erwen e Ainar.

    — Hã? Árvore Dourada? Esse não é o clã do…?!

    Quando Missha me olhou em busca de confirmação, assenti.

    — Isso mesmo.

    Era o clã ao qual o Sr. Urso pertencia.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (6 votos)

    Nota