Capítulo 793: Oceano Vermelho (5/5)
Os Dez Grandes Clãs, os Cinco Grandes Clãs, os Quatro Grandes Clãs…
No passado, esses clãs famosos e poderosos eram agrupados dessa maneira, mas essa cultura foi desaparecendo com o tempo, um reflexo natural da queda e fusão de inúmeros clãs ao longo dos anos de eventos caóticos.
De qualquer forma, nessa era de grandes mudanças, havia um clã que demonstrava um crescimento extraordinário e começava a construir um novo nome para si: o Clã da Árvore Dourada. Até poucos anos atrás, a única coisa notável sobre eles era seu capitão. No entanto, depois de mostrar grande habilidade durante a guerra, absorveram múltiplos clãs em suas fileiras, resultando em um crescimento exponencial.
A avaliação de Raven sobre o clã foi a seguinte:
— O Clã da Árvore Dourada? Hmm, ouvi dizer que fizeram algumas coisas durante a guerra, mas pelo que sei, só lutaram batalhas fáceis. Ainda assim, sua força de combate é bem equilibrada… Se tivesse que classificá-los nos termos antigos, estariam no nível do mais fraco dos Dez Grandes Clãs?
Virei-me para o mestre da Guilda.
— Adnus, o que acha?
— Há muitos rumores circulando sobre esse clã, mas não se pode negar que possuem um poder imenso. Ah, também ouvi dizer que têm fortes laços com certas figuras do mundo político e financeiro. Um pouco de conexão com o Conde Alminus… E praticamente uma relação simbiótica com o gerente da nossa terceira filial.
— Entendo…
Segundo o mestre da Guilda, um total de noventa pessoas haviam entrado no labirinto sob o Clã da Árvore Dourada, tornando-os o quarto maior clã presente no momento.
Isso só mostrava o quanto eram apoiados pelo palácio e pela Guilda. Caso contrário, não teriam recebido tantas vagas para seus aventureiros.
— Mas o que quer dizer com ‘há muitos rumores sobre eles’? — perguntei.
— Há boatos circulando dentro da organização. Dizem que exploram seus membros de forma severa… No entanto, ninguém jamais se apresentou para confessar algo do tipo. Isso apenas significa que o clã é muito fechado e sabe manter a boca de seus integrantes bem selada.
— Exploração…
Seria esse o motivo pelo qual o Sr. Urso parecia desconfortável sempre que mencionávamos seu clã?
— Ainda assim, sua imagem pública é bastante positiva — continuou Adnus. — Na verdade, são vistos de maneira mais favorável do que a maioria. O pagamento é bom, e suas essências são distribuídas entre os membros em vez de serem vendidas. Parece que investem bastante no crescimento interno.
“Hmm, entendi…”
Pelo que o mestre da Guilda dizia, parecia ser verdade. Antes, já havia notado que o Sr. Urso havia consumido uma nova essência e subido para o terceiro nível graças a essa prática.
— Abman… Ele vai ficar bem, certo?
Embora Missha compartilhasse minha preocupação, Ainar estava simplesmente empolgada por poder encontrar o Sr. Urso novamente na ilha.
— Vamos logo! Encontrar Urikfried aqui é um bom presságio!
Bem, do meu ponto de vista, não parecia um presságio tão bom assim.
— Então, o que vai fazer, Yandel? — Amelia interveio.
— O que mais? Vamos entrar.
— Entendo… Certo.
Parei por um momento, notando que Amelia parecia um pouco hesitante. Era como se estivesse segurando algo que queria dizer.
— Apenas diga. O que foi?
— Bem… Se encontrarmos o Fantasma Dourado, você não deveria subestimá-lo demais.
Inclinei a cabeça em confusão com aquilo. Ela estava me dando esse aviso mesmo sabendo o quão cuidadoso eu era antes de agir.
— Você sabe algo sobre ele? — pressionei, intrigado. No entanto, ela apenas mencionou rumores e feitos passados que ouvira, o que só aumentou ainda mais minha curiosidade sobre o Fantasma Dourado.
“Por que ela está agindo assim? Que tipo de cara ele é?”
Bem, eu descobriria quando o visse.
A opinião das gerações mais recentes sobre o Grande Navegador Pikma era bastante dividida. Alguns diziam que, ao contrário do que suas histórias narravam, ele não havia explorado os segredos de todas as ilhas, mas apenas completado o mapa do Grande Oceano.
Bem, eles não estavam errados. Pikma realmente não conseguiu desvendar todos os mistérios de todas as ilhas durante sua vida.
“Mas quem conseguiria?”
Eu não acreditava que isso diminuía sua grande reputação.
O labirinto só abria uma vez por mês, e o próprio mundo dentro dele colapsava após um determinado período. Somando isso ao fato de que as pessoas só viviam uma vez e que suas vidas eram finitas, era fisicamente impossível desvendar todos os segredos ocultos em cada ilha.
Talvez fosse uma história diferente se dezenas de jogos pudessem ser rodados simultaneamente por meio de um computador.
“Por isso, eu conheço o segredo da Ilha da Caveira.”
A Ilha da Caveira, Catacoma, ficava no extremo leste do oceano. O Grande Navegador Pikma descreveu a ilha da seguinte maneira:
— Fácil, ou talvez mais difícil do que qualquer outra ilha.
Era a descrição perfeita, a melhor possível para aquela ilha.
Na superfície, a dificuldade da Ilha da Caveira era muito baixa, mas isso mudava à medida que se aprofundava. O trecho que Pikma deixou registrado foi o que levou outros a descobrirem o segredo oculto da ilha.
“Bem, acho que eles não sabem disso, no entanto.”
Na verdade, até mesmo a mulher que comprou a informação sobre a Ilha da Caveira nos Caça-Fantasmas sabia apenas sobre o chefe principal.
— O quê? Por que eles são tão fracos?! — Ainar gritou repentinamente, frustrada.
Pelo que pude ouvir, parecia que ela não estava satisfeita com a resistência dos monstros que apareciam na ilha.
Era esperado. A maioria dos monstros ali eram apenas de sexto nível.
— Ugh! Quando é que vamos lutar contra algo forte?!
— Por que, Ainar? Não é melhor se forem fracos?
— Missha! Eu quero lutar contra algo forte o suficiente para colocar na minha biografia!
— Ah… E-Eu entendo? Não sei muito sobre isso, então pergunte ao Bjorn.
— Não quero…
— Por quê?
— Se eu perguntar algo assim ao Bjorn, vou ser punida pela Emily Raines.
— Hã?
Senti um pouco de pena de Ainar ao ver seu humor desabar tão rápido, mesmo enquanto me lançava um olhar suplicante, mas Amelia a havia treinado bem. Se um dia se tornasse mãe, com certeza conseguiria educar…
— Yandel.
— Eu não estava pensando em nada estranho.
— O que você está falando?
Limpei a garganta.
— Então, por que me chamou?
— Acho que entramos no território do Clã da Árvore Dourada.
— Eles estão por perto?
— Não sinto ninguém, mas há vestígios de que passaram por aqui várias vezes.
Bem, isso fazia sentido. Estávamos perto do centro da ilha.
— Ficaremos nesta ilha por alguns dias. Acho que devo ir dar um oi.
Com isso, continuamos em frente, rumo ao coração da ilha. Quando chegamos à entrada da caverna no centro…
— Não há ninguém aqui.
A única coisa que nos recebeu foi um acampamento vazio, repleto de vestígios de pessoas.
No entanto, nossa confusão durou apenas um instante.
— Ora, ora — uma voz suave se fez ouvir. — Que convidado valioso temos aqui.
Dezenas de presenças se revelaram atrás de nós.
Naquele momento, nossa ‘radar humana’, Amelia, também se pronunciou.
— Yandel… Estamos cercados.
Nem precisava me dizer isso.
Estávamos rodeados por um grupo de noventa aventureiros, mas congelei por apenas um breve instante.
— Pedimos desculpas se o surpreendemos, Visconde Yandel.
Um homem na casa dos trinta anos falou no mesmo tom gentil de antes, e quando um loiro apareceu na mesma direção de sua voz, Amelia sussurrou baixinho para mim:
— Isso é tingido, a cor natural do cabelo dele é preta.
Hã? Achei que fosse algo importante. A coloração parecia bem natural para um cabelo tingido, mas enfim…
— Sou o capitão do Clã da Árvore Dourada, Bill Ironlad. Por favor, me chame de Bill.
Ele exibia um sorriso radiante enquanto se apresentava. Talvez fosse esse seu rosto sorridente que o ajudava a se entrosar com os figurões da política e das finanças.
Não podia ter certeza, mas senti que ele não era um qualquer.
— Bom vê-lo, Ironlad. Não esperava uma recepção tão grandiosa — cumprimentei, mas com um tom que também servia de alerta.
Ele riu.
— Peço desculpas mais uma vez se o surpreendemos. Também não sabíamos que estavam aqui, Lorde Visconde.
Era uma mentira tão óbvia.
— Entendo.
Mesmo enquanto assentia, examinei as noventa pessoas que saíam de seus esconderijos. Sua presença só indicava uma coisa: eles nos notaram antes que nós os notássemos. Isso significava que suas habilidades de detecção eram superiores às nossas.
“Eles conseguiram ocultar a presença de todas essas pessoas de nós.”
Eles realmente não sabiam que éramos nós? Não, tinham que saber. Mesmo assim, usaram uma habilidade furtiva em todos os seus membros e se ocultaram ao ar livre, ao nosso redor.
“Eles querem nos esmagar.”
Aventureiros gastavam dinheiro sem pensar e se divertiam bebendo na cidade, mas dentro do labirinto, viravam feras completamente diferentes. Tornavam-se parte da natureza. Para sobreviver, guardavam veneno em seus corpos, pareciam maiores e mais ameaçadores, adornavam-se com penas brilhantes e chamativas.
Porque se parecessem fracos, seriam despedaçados.
— A propósito, isso é um grande problema para nós… Aquele cara também é seu objetivo, Visconde Yandel?
Embora não houvesse uma maneira clara de saber quem era ‘aquele cara’, concordei ao responder:
— E se for?
Apesar do meu tom levemente agressivo, ele não demonstrou irritação. Apenas sorriu.
— Haha, então acho que não há o que fazer.
— Está dizendo que vai desistir?
— A situação não é a ideal, mas não podemos fazer isso. Também temos pessoas pelas quais somos responsáveis.
— Então, teremos que competir.
— Os tesouros do labirinto não têm dono. Achado não é roubado.
Embora algo nessa última frase soasse estranho, eu concordava com a lógica dele.
A competição em si não era errada. O problema era quando um dos lados se recusava a ceder ou atacava o outro grupo cegado pela ganância.
“Mas pelo jeito como ele está agindo, não acho que fariam isso…”
Mesmo com a situação como estava, não estávamos nos antagonizando de imediato. Era por causa da minha posição e reputação?
Provavelmente. Se nosso clã fosse menos famoso, seríamos tratados de forma completamente diferente.
— Que tal fazermos apenas duas promessas antes de começarmos essa competição?
— Diga.
— Não interferimos uns com os outros. E quem abrir a boca da caverna primeiro terá o direito de desafiá-la primeiro… Que tal?
— Fechado.
— Já que estamos de acordo, podemos encerrar a conversa por aqui. Vamos nessa.
— ‘Vamos nessa’ é um pouco casual demais para dizer para mim.
— Hahaha… O Lorde Visconde tem um bom senso de humor.
“Hmm, mas eu não estava brincando quando disse isso.”
— Bem, então, já que virou uma competição, iremos na frente.
Depois disso, ele se afastou primeiro, como um cavalheiro. Raven soltou um resmungo ao vê-lo.
— Hmph, ele é tão irritante quanto dizem.
— O que você não gostou nele?
— Ele nem sequer mencionou trabalhar juntos ou dividir os espólios. Deve estar confiante de que seu lado vai vencer.
Bem, fazia sentido.
— Mas isso é algo ruim?
— Hã? Bem, não exatamente… Mas você não deveria concordar comigo quando eu digo isso? Sou membro do seu clã, e você é o capitão.
Hã? O capitão não precisava estar emocionalmente alinhado com sua equipe.
— Não se preocupe. Entraremos na caverna primeiro.
O que um capitão precisava fazer era trazer a vitória para seu clã.
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